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2. O COMPOSTO RESIDUAL DA PRODUÇÃO DE COGUMELOS

2.1. UTILIZAÇÃO NA AGRICULTURA

2.1.1. Lactuca sativa L (ALFACE) E A UTILIZAÇÃO DO COMPOSTO RESIDUAL NA

A produção de hortaliças no Brasil vem aumentando ao longo dos anos, assim como sua produtividade. De acordo com a FAO-FAOSTAT7, a área cultivada de hortaliças no Brasil entre 1984-2004, praticamente se manteve constante, em cerca de 800 mil hectares (EMBRAPA, 2005a). Contudo, a produção aumentou aproximadamente 1,6 vezes no mesmo período, chegando, em 2004, a 16.086 mil toneladas (EMBRAPA, 2005b). Esta estatística mostra um aumento na produtividade das hortaliças de 12,4 t/ha em 1984 para 20,7 t/ha em

7 FAO-FAOSTAT Database Results. Disponível em:<http://www.apps.fao.org>. Acesso em: fev. 2005

2004 (EMBRAPA, 2005c), resultado do desenvolvimento de sistemas de cultivos mais produtivos.

A alface (Lactuca sativa L.), pertencente à família Asteraceae (Composta), está entre as dez hortaliças mais apreciadas para consumo “in natura” no Brasil. Estima-se que são plantados anualmente 110 mil hectares de alface, com uma produção aproximada de 91 toneladas (EMBRAPA, 2005d). A alface é a hortaliça folhosa de maior valor comercial no Brasil, e as regiões Sul e Sudeste são as maiores consumidoras. A maioria dos cultivares é adaptada a clima ameno, sendo apropriadas para cultivos no outono e inverno (MOREIRA; FONTES; CAMARGOS, 2001).

A alface é uma hortaliça folhosa, herbácea, que apresenta diversidade de formas: o tipo asparagus é caracterizado pelo talo grosso e folhas pontudas; o tipo romana possui folhas em formato oblongo, dispostas perpendicularmente em posição vertical, enquanto e o tipo “manteiga” apresenta folhas que se prendem ao caule fechando-se na forma de cabeça (CONTI, 1994 apud MAISTRO, 2001). A alface é classificada comercialmente, segundo o “Programa Horti & Fruti Padrão” da Secretaria e Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em Americana, Crespa e Lisa, além de Mimosa e Romana. De acordo com dados do CEAGESP para 2000-2004, o tipo Crespa foi o mais comercializado no Estado de São Paulo (TRANI et al., 2005).

Existem diversos cultivares de alface, como Gizele, Grand Rapids, Hortência, Marisa, PiraRoxa, Red Fire, Renata, Vera, Verônica, Vanda (crespas); Elisa, Karla, Lídia, Regina (lisas); Irene, Laurel, Lorca, Raider, Tainá (americanas); Roxane, Salad Bowl (mimosas); Lent a Monter, Mirella, Paris Island Cós (romanas) (TRANI et al., 2005). Existem diversos outros cultivares, como Brasil 48, Grand Rapids, Vitória Verde Clara, Brasil 303, Maravilha das Quatro Estações, Great Lakes China (SANTOS; CASALI; MIRANDA, 1998), “Babá-de-Verão”, entre outros.

De acordo com Figueira (1982), o preparo das mudas para o cultivo de alface normalmente é realizado em sementeiras, sendo estas transplantadas 20 a 30 dias após a semeadura, quando já apresentam de 4 a 6 folhas e uma altura média de 8 a 10cm. O pH do solo de cultivo deve ser corrigido previamente para um valor entre 6 e 6,8, em virtude de ser a faixa de pH ótima para o desenvolvimento de L. sativa. Já a colheita da alface é realizada após 70-90 dias de cultivo, quando a “cabeça” atinge o seu máximo de desenvolvimento, desde a semeadura.

De acordo com Barros (1979), a qualidade da alface varia de acordo com características do solo, tanto em relação aos seus aspectos químicos como físicos. A fertilização resulta em maiores rendimentos e num produto mais uniforme e de maior valor comercial. Contudo, o crescimento da alface e como conseqüência o acúmulo de nutrientes é lento até cerca de 30 dias após a emergência, aumentando rapidamente após este período. Apesar de absorver quantidades relativamente pequenas de nutrientes quando comparada com outras culturas, por apresentar um ciclo de cultivo curto, a alface pode ser considerada exigente em termos nutricionais, especialmente na fase final do ciclo. Sendo a produção composta basicamente por folhas, a cultura responde à fertilização nitrogenada, nutriente que requer um manejo especial por ser facilmente lixiviável e pelo fato da cultura absorver cerca de 80% do total extraído nas últimas quatro semanas de crescimento (KATAYAMA, 1993; SMITH; HADLEY, 1989). A cultura também responde a elevados teores de umidade no solo (MACIEL, 1968 apud SANTOS et al., 2001).

O cultivo de hortaliças com adubos orgânicos vem aumentado nos últimos anos, devido principalmente ao aumento da demanda de produtos orgânicos pela população, como também pelos elevados custos dos adubos minerais e pelos efeitos benéficos da matéria orgânica em solos intensivamente cultivados por métodos convencionais (ASANO, 1984 apud SANTOS et al., 2001; RODRIGUES, 1990).

A adubação orgânica, além de melhorar a estrutura do solo, apresenta um elevado efeito residual, ao contrário da fertilização química. Aumentos de produtividade de alface em função do aumento de níveis de matéria orgânica são relatados por diversos autores. No entanto, há também estudos que comprovam que elevadas adições de composto orgânico podem conduzir à salinização do solo, limitando a produção devido à excessiva concentração de íons (SANTOS; CASALI; MIRANDA, 1998).

O fornecimento excessivo de nitrogênio em forma disponível, embora possa promover um adequado crescimento vegetativo, pode ser prejudicial à qualidade nutricional da alface, devido ao acúmulo de nitrato nas folhas, o que pode causar problemas à saúde humana quando ingerido em excesso (MAYNARD et al., 1976 apud KATAYAMA, 1993). De acordo com Rodrigues (1990), a utilização de composto orgânico na cultura da alface propicia um menor acúmulo de nitrato na planta pelo fato da liberação do N do composto ser mais gradual. Por outro lado, a adição de uma fonte de N prontamente disponível facilita a absorção e o acúmulo de nitratos na planta.

Normalmente a adubação orgânica é realizada com esterco de animais. De acordo com Raiz et al. (1997), recomenda-se para o plantio de alface uma adubação orgânica com 60- 80 t/ha de esterco de curral ou um quarto dessa quantidade de esterco de galinha. Como alternativa, o CR apresenta potencial para ser empregado como um adubo em culturas agrícolas orgânicas, desde que adequadamente produzido e manejado.

De acordo com a Instrução Normativa No 7 (1999) do Ministério da Agricultura, que dispõe sobre as normas para a produção de produtos orgânicos vegetais e animais no Brasil, entre os adubos e condicionadores permitidos, quando adquiridos fora da unidade produtora, poderia se destacar o esterco composto, a biomassa vegetal, alguns resíduos industriais, microorganismos – desde que não sejam organismos geneticamente modificados (OGMs) –, assim como aminoácidos e enzimas não oriundas de OGMs. Dentro deste

contexto, o CR da produção de cogumelos poderia perfeitamente se enquadrar dentro do grupo dos fertilizantes visando uma produção agrícola orgânica. Evidentemente que o manejo dos produtores de cogumelos durante o cultivo deverá seguir moldes orgânicos, como a não utilização de agrotóxicos, objetivando evitar contaminações do CR.

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