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CAPÍTULO II – O CONTEXTO DAS SETE IGREJAS DA ÁSIA MENOR

2. A mensagem de Cristo a cada uma das Igrejas

2.7. Laodiceia

14

Ao anjo da igreja de Laodiceia, escreve: «Isto diz o Ámen, a Testemunha fiel e

verdadeira, o Princípio da Criação de Deus: 15Conheço as tuas obras: não és frio nem

quente. Oxalá fosses frio ou quente. 16Assim, porque és morno - e não és frio nem quente

- vou vomitar-te da minha boca. 17Porque dizes: ‘Sou rico, enriqueci e nada me falta’ – e

não te dás conta de que és um infeliz, um miserável, um pobre, um cego, um nu –

18

aconselho-te a que me compres ouro purificado no fogo, para enriqueceres, vestes brancas para te vestires, a fim de não aparecer a vergonha da tua nudez e, finalmente, o

colírio para ungir os teus olhos e recobrares a vista. 19Aos que amo, eu os repreendo e

castigo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. 20Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele

comigo.’ 21Ao que vencer, farei que se sente comigo no meu trono, assim como Eu venci

e estou sentado com meu Pai, no seu trono. 22Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito

diz às igrejas.»

119

Cf. ROWLAND, C. C., «The Book of Revelation…», 585.

120

Cf. CHARLIER, J.-P., Comprender, 111.

121

Cf. BARR, D. L., Tales of the End, 59 e BIGUZZI, G., Gli splendori, 47.

122

Cf. BIGUZZI, G., Gli splendori, 48, VANNI, U., Apocalipsis, 36-37 e CHARLIER, J.-P., Comprender, 111.

À Igreja de Laodiceia, Cristo tece a sua apresentação com os títulos de «Amen», «Testemunha fiel e verdadeira» e «o Princípio da Criação de Deus». O primeiro título poderá evocar o texto de Is 65,16 (no qual aparece a expressão “Deus fiel”), significando a veracidade de algo que é dito123, mas também uma adesão firme a Deus e à Sua Palavra, sendo Cristo a personificação desta adesão plena124. O título seguinte – «Testemunha fiel e verdadeira» – tem paralelo com Ap 1,5 e 22,20, estando em consonância com o anterior, clarificando-o e definindo o seu real significado, uma vez que o «Amen» hebraico pode significar, simultaneamente, fiel e verdadeiro125. Assim, Cristo é o «Amen», ou seja, esta adesão a Deus que se concretiza na Cruz, esta testemunha fiel (firme) e verdadeira (cuja “prova” se encontra na sua doação até à morte) de Deus126. O terceiro título evoca o hino de Col 1, 15-20 (já que Colosso e Laodiceia eram cidades adjacentes), no qual se apresenta Cristo como «o primogénito de toda a criatura» – a cristologia joanina do prólogo (Jo 1, 1-5) – em que Cristo é a fonte da criação, pondo em realce a ligação e continuidade com a tradição sapiencial de Prov 8, 22, na qual se refere a Sabedoria como a primeira criatura de Deus127. Talvez se queira salientar com este título que a Ressurreição de Cristo marcou o início de uma nova era, da Nova Criação128, não excluindo o significado de Cristo como fonte e origem de todas as criaturas.

Paradoxalmente, diante da firmeza do «Amen», que é Jesus, aparece a frouxidão e tibieza de uma Igreja que não é “fria nem quente”, mas “morna” (cf. v.15). Aqui evoca-se a imagem da água tépida que chegava de Hierápolis e que provocava náuseas a quem a bebesse129. Tal seria a situação desta Igreja: para além da sua tibieza130, que se traduzia por uma não tomada de posição, por um viver na mediocridade e na auto-satisfação, ainda se arrogava a enaltecer-se com a sua situação de riqueza, ao ponto de prescindir dos outros (cf.

123

Cf. AUNE, D. E., The World, 255 e GIBLIN, C. H., The Book of Revelation, 66.

124

CHARLIER, J.-P., Comprender, 115.

125

Cf. AUNE, D. E., The World, 255.

126

Cf. BARR, D. L., Tales of the End, 60.

127

Cf. AUNE, D. E., The World, 256, ROWLAND, C. C. «The Book of Revelation…», 586-587, CHARLIER, J.-P., Comprender, 116, GIBLIN, C. H., The Book of Revelation, 66 e RUIZ, J. M. G., Apocalipsis

de Juan, 105-106.

128

Cf. BIGUZZI, G., Gli splendori, 49 e BARR, D. L., Tales of the End, 60.

129

Cf. GIBLIN, C. H., The Book of Revelation, 65.

130

RUIZ sugere que esta tibieza se poderia traduzir por uma conivência com a idolatria circundante; por conseguinte, a opção de Laodiceia por Cristo ficava afectada – cf. RUIZ, J. M. G., Apocalipsis de Juan, 106.

v.17). Por isso, o Senhor está a ponto131 de “vomitar” aquela Igreja da sua boca, ou seja, de a rejeitar completamente132. A esta Igreja, Jesus apenas profere a censura; não há o habitual louvor às obras. Diante da sua suposta grandeza, o Senhor faz-lhe ver a sua verdadeira e real situação: apesar de rica materialmente, é pobre; apesar da sua fama ao nível da medicina oftalmológica, é cega; apesar da ostentação das suas vestes, encontra-se nua, desprovida da sua dignidade cristã. Por isso tem que comprar a Deus aquilo que, na realidade não tem: ouro puro, que se refere à glória de Deus, vestes brancas, enquanto vestes da nova criatura, e o colírio, que lhe irá permitir ver segundo a perspectiva de Deus133.

Toda esta repreensão, por parte do Senhor, expressa o seu amor por aquela Igreja, pois

“aos que amo eu os repreendo e castigo” (v.19). Além do mais, tem como objectivo fazer

revivescer a vida espiritual e o fervor daquela Igreja, bem como levar ao arrependimento134. De seguida, aparece a imagem de Cristo que bate à porta (cf. v.20), que pode ter várias procedências e explicações: (1) poderá ser uma alusão a Cant 5,2, em que o amado está à porta e chama pela amada; (2) ou então uma evocação da parábola daquele que bate à porta de Lc 12, 35-38 (e paralelos), com a imagem do banquete escatológico e o convite à vigilância; (3) ou uma referência a tradições greco-romanas; (4) poder-se-á considerar, ainda, uma referência à Última Ceia de Jesus135. No entanto, o que é importante salientar é que Cristo não força a sua presença àquela Igreja, embora seja insistente no chamamento136.

Ao vencedor Cristo promete o lugar no Seu Trono, imagem que expressa a realeza, o lugar do juízo e a intimidade com Cristo e com Deus137.

Em todas as cartas ressoa a mesma frase: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” – imperativo a escutar uma mensagem concreta: a mensagem de Cristo à sua

Igreja. Esta frase constitui como que um eixo do pensamento de todas as Cartas e é a partir dele que a mensagem assume e ganha relevância.

131

me,llw – “estou a ponto de”; cf. BibleWorks, Version 7.0.012g, 2006.

132

Cf. AUNE, D. E., The World, 258.

133

Cf. CHARLIER, J.-P., Comprender, 116.

134

Cf. VANNI, U., Apocalipsis, 37.

135

Cf. AUNE, D. E., The World, 250-254.

136

Cf. VANNI, U., Apocalipsis, 37 e CHARLIER, J.-P., Comprender, 117.

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