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3 DISCUSSÕES SOBRE LAZER E EDUCAÇÃO

4 EDUCAÇÃO ESPECIAL SOB A ÓTICA DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS PAUTADAS NO LAZER

4.3 LAZER PARA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Nesta seção a reflexão é centrada na discussão do lazer para as pessoas com deficiência, trazendo um resgate histórico acerca do lazer destinado a essas pessoas ao longo do tempo. Entretanto, ao realizar uma revisão na literatura acerca das problemáticas que estão atreladas às pessoas com deficiência é comum encontramos pesquisas que são da área de saúde e educação, porém, os estudos que se dedicam a pesquisar acerca da educação na perspectiva do lazer para os alunos com deficiência intelectual que freqüentam escolas especiais são escassos. Isso também justifica a dificuldade em fazer uma análise histórica acerca do lazer para essas pessoas.

Em linhas gerais, pode-se afirmar que o lazer para as pessoas com deficiência surgiu em meados da década de 50 e 60 quando alguns hospitais e centros de reabilitação física começaram a proporcionar programas de lazer e recreação para seus pacientes. (CRUZ; BARRETO, 2010).

As discussões do lazer e as tentativas de democratizá-lo para as classes minoritárias, e aqui estão incluídas as pessoas com deficiência, servem para exemplificar as estruturas de funcionamento da sociedade que acabam criando e reproduzindo a marginalização de grupos peculiares no corpo de uma sociedade mais ampla. (CANTARELI, 1998).

Segundo Guedes (2007), existem documentos (DECLARAÇÃO CAVE HILL, 1983; DECLARAÇÃO DE PEQUIM, 2000; DECLARAÇÃO DE SAPPORO, 2002) a favor dos interesses das pessoas com deficiência, sendo que o conteúdo mencionado nesses documentos versa acerca da exclusão social desses indivíduos, a falta de acesso aos direitos básicos, acusa a existência de barreiras atitudinais, adverte o valor de humanidade inerente a todo cidadão, além de destacar as potencialidades das pessoas com deficiência e a necessidade de uma vida digna com participação plena em todos os segmentos da sociedade

Porém, embora existam documentos que garantam a participação dessas pessoas em todos os ambientes, percebe-se que essa não é uma realidade, inclusive ao

referir-se aos espaços de lazer, pois segundo Cantareli (1998) as pessoas com deficiência enfrentam além das barreiras arquitetônicas e físicas, as sócio-culturais que são provenientes da divisão de classes sociais e que podem ser agravadas com atitudes de preconceito em relação às pessoas que apresentam alguma deficiência. Em um trabalho de Guedes (2007) é realizada uma revisão de literatura sobre as principais barreiras existentes no cotidiano das pessoas com deficiência, ficando claro que as barreiras atitudinais são as que fortalecem os mecanismos de exclusão social das pessoas com deficiência. E uma sociedade que é construída sobre barreiras atitudinais em relação a seus membros, sejam eles com deficiência ou não, inviabiliza a participação plena desses membros na plenitude da sociedade.

Para permitir que seja concretizado o princípio da equiparação de igualdade para que todas as pessoas com deficiência tenham acesso à escola, ao trabalho e ao lazer, Cantareli (1998) menciona que algumas providências, como a eliminação das barreiras arquitetônicas, precisam ser realizadas pela administração pública.

A escola deve se constituir em um ambiente que deve ser estruturado adequadamente com uma gama de intervenções e planejados para despertar a iniciativa e o questionamento dos usuários. Além disso, os educadores que agem na intenção da democratização das atividades de lazer necessitam democratizar o espaço, já que democratizar o lazer implica em democratizar o espaço.

Ao se fazer um resgate do lazer no ensino especial percebe-se que o mesmo é escasso na literatura, talvez por não se constituir em objeto de estudos de muitos pesquisadores da área ou até mesmo por não ser prioridade dentro do ambiente escolar para alunos com deficiência mental.

Sabe-se que a escola necessita desempenhar uma função de grande relevância na vida da pessoa com deficiência intelectual no sentido de oferecer uma educação para o lazer e uma educação pelo lazer, pois é dentro do ambiente escolar que o aprendiz leva sua bagagem cultural e avança para amplos conhecimentos e conteúdos diversificados. (BLASCOVI-ASSIS, 1995).

A escola até propõe algumas situações de lazer durante o ano letivo, momentos como passeio e acampamentos, além de festas em função de datas comemorativas,

como as famosas festas juninas e natalinas. O acampamento realizado por uma escola especial foi uma das ocasiões de lazer analisadas por Blascovi-Assis (1995) a qual descreve ser o acampamento um momento capaz de promover a autonomia, interação e convívio social entre os alunos fora do ambiente escolar, além de se constituir como uma possibilidade de atividades de lazer.

Entretanto, pelo exposto acima observa-se uma problemática atrelada à concepção de se pensar numa proposta de ensino voltada para o lazer, pois muitos professores, bem como toda a comunidade escolar, ainda podem acreditar numa redução simplista acerca do lazer o qual constitui apenas no oferecimento de momentos comemorativos como dia do índio, dia da bandeira, festejos do São João e do Natal.

É relevante mencionar que as atividades de lazer têm um papel de suma importância para a realização pessoal e para a participação na criação de uma nova cultura, por isso é inadmissível aceitar que uma educação na perspectiva do lazer se reduza a comemorações esporádicas e passeios no decorrer do ano, mas é preciso que o mesmo abarque os interesses artísticos, intelectuais, físicos, manuais, turísticos e sociais que estão imbricados no lazer e que são defendidos por Marcellino (2006) e Dumazedier (2008).

Uma das análises realizadas na tese do doutorado de Blascovi-Assis (1995) foi entender, através de entrevistas, a concepção que 07 profissionais (04 pedagogas, 01 fisioterapeuta, 01 fonoaudióloga e 01 estudante de pedagogia) que trabalhavam diretamente com turmas especiais apresentavam acerca do recreio, já que o mesmo pode ser considerado como o “tempo livre” do aluno na escola, no sentido de escolher livremente as atividades. Como resultado percebeu-se objetivos distintos sobre o momento do lazer: desobrigar os alunos das solicitações dos professores; momento para as atividades livres organizadas pelas próprias crianças; espaço para o descanso das tarefas dirigidas e hora de brincar; liberdade de escolha e período de relaxamento.

É perceptível que embora os objetivos sejam “distintos” todos seguem à mesma lógica de que o horário do recreio é o momento do “tempo livre” no qual os alunos têm liberdade de escolha para realizarem o que quiserem. Entretanto, observa-se

que essa realidade do recreio vem sendo modificada, pois já não se constitui mais como uma prática corrente nos dias atuais, visto que ao analisarmos o recreio de algumas escolas encontrarmos o chamado “recreio dirigido” que são as atividades propostas pelos educadores durante o horário de intervalo das escolas, fazendo com que muitos alunos se privem em fazer o que desejam durante o seu tempo livre para participarem das atividades dirigidas. Portanto, nesse momento, o aluno escolhe espontânea e deliberadamente atividades, através do qual ele se satisfaz seus anseios voltados ao seu lazer.