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Le Corbusier e o Novo Mundo do Espaço: a exposição no MASP

O presente capítulo examina detalhadamente a exposição ocorrida no Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1950: Le Corbusier - Novo Mundo do Espaço, organizada pelo The Institute of Contemporary Art – Boston (ICA) em 1948. Inicialmente falaremos da relação do MASP com a arquitetura e, na sequência, a exposição será descrita e reconstituída a partir de documentos dispersos que reunimos pela primeira vez nesta pesquisa.

A exposição, fartamente documentada, nos permite entender a importância dos eventos de arquitetura para o Museu. Além do registro fotográico da época, a troca de correspondência entre as instituições envolvidas, principalmente entre o MASP e o ICA, assim como entre o diretor do museu, Pietro Maria Bardi e o próprio arquiteto Le Corbusier, nos oferece informações importantes não apenas sobre as condições materiais da vinda da exposição ao Brasil, como também sobre a rede de relações dos personagens e instituições envolvidas neste projeto. A condição da exposição, efêmera, impossibilita que o pesquisador tenha acesso direto a ela, a não ser através da documentação, da iconograia, dos registros de época divulgados pela imprensa.

Comparação entre os catálogos relacionados às duas mostras assim como a comparação entre algumas publicações – uma lançada também em 1948, e outra compreendendo quase a totalidade do trabalho de Le Corbusier, nos permite entender que obra de Le Corbusier se queria apresentar, tanto nos EUA quanto no Brasil.

A pesquisa nos mostrou que a vinda da exposição fez parte do processo de consolidação da arquitetura moderna brasileira no cenário internacional e que naquele momento o país iniciava seu papel de protagonista na área.

2.1 O MASP e a arquitetura

O Museu de Arte de São Paulo foi oicialmente fundado em 10 de março de 1947, trazendo uma nova ideia de museu para os brasileiros, uma instituição dinâmica em ressonância com o Museu de Arte Moderna de Nova York, contribuindo para a difusão da arquitetura moderna através de mostras temáticas e individuais, cursos e palestras (cf. LOURENÇO, 1999, p. 15, MOTTA, 2003, p. 21 e SCHINCARIOL, 2000, p. 159).

Primeiro museu de arte moderna brasileiro, o MASP foi criado pela iniciativa de Assis Chateaubriand com o suporte de Pietro Maria Bardi e funcionou inicialmente na rua Sete de Abril, centro de São Paulo, edifício recém-construído para ser a sede das empresas de comunicações reunidas sob o nome de Diários Associados – um império poderoso do qual Chateaubriand era o dono. Bardi, recém-chegado da Itália, trouxe consigo sua experiência como crítico de arte e proprietário de uma galeria naquele país. Ele foi o diretor do museu por muitos anos e esteve ligado a ele até o inal de sua longeva vida. Em 1968 o Museu mudou-se para sua nova e deinitiva sede na avenida Paulista, projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi, esposa de P. M. Bardi. Valores positivos como coragem, entusiasmo e progresso, associados à arte moderna, atraíram o poder político e o econômico para a criação de museus como esse (LOURENÇO, 1999, p. 12).

A exposição Le Corbusier - Novo Mundo do Espaço foi uma das mostras de arquitetura realizadas nos dez primeiros anos de existência do MASP, antes mesmo da realização de eventos relacionados à arquitetura no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e da realização das Exposições Internacionais de Arquitetura, que ocorreram em paralelo à então denominada Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Nesse período, o MASP realizou ou organizou diversas exposições relacionadas à arquitetura, tais como: 1a Exposição Internacional de Arquitetura Contemporânea (1948), realizada pelos alunos da Escola Nacional de Arquitetura, promovida pelo Museu e ocorrida na Biblioteca Pública Municipal; Arquitetura Hospitalar (1948), exposição de projetos com programa arquitetônico especíico e sintonizados com as demandas da época organizada em conjunto com a Associação Paulista de Medicina, apresentando os projetos da Maternidade Universitária do Hospital Antônio Cândido de Camargo, do Instituto Paulista de Combate ao Câncer e, Arquitetura Escolar (1951), além da exposição Le Corbusier – Mundo novo do espaço

indicaram que outras estavam programadas para serem realizadas nesse período mas não se concretizaram por motivos que não pudemos levantar: Lucio Costa (1947); 1a Exposição de Arquitetura Brasileira (1948); Planos de Londres (1948); Arquitetura Naval (1951) e, Richard Neutra (1950). Essa última tem uma fase preparatória extensivamente documentada com catálogo publicado, Richard Neutra – Residências/Residences (MUSEU, 1950). A obra do arquiteto seria exposta por meio de grandes fotograias, provavelmente de autoria de Julius Shulmann, que constam no catálogo, além de plantas completas das obras e explicações do próprio Neutra (cf. MOTTA, 2003, p. 119 - 121 e informações do Arquivo Histórico da Biblioteca do MASP).

O MASP obteve maior destaque entre os novos museus brasileiros modernos na difusão da arquitetura para além de uma minoria de iniciados, mesmo ela não tendo sido objeto de acervo. O MASP não comprava as fotograias como o MoMA de Nova York, por exemplo. Pudemos observar que a arquitetura ganhou bastante espaço, maior mesmo que no MAM/SP, museu constituído praticamente ao mesmo tempo, também na cidade de São Paulo, e que abrigava ativo grupo de arquitetos no início de suas atividades, mas que contou com poucos eventos ligados à arquitetura nesse período (Cf. MOTTA, 2003, p. 124 e NASCIMENTO, 2003, p. 177). Encontramos nas palavras de Pietro Maria Bardi a explicitação desse papel de difusão:

É por esse motivo que nosso Museu promoverá [...] um grande número de exposições de arquitetura, em proporções talvez jamais planejadas por qualquer outro museu existente: cumpre acostumar nosso público a saber ver a arquitetura e avaliá-la em seus múltiplos aspectos, funções e caracteres […] (MUSEU, 1950, p. 10).

Há também menção a esse papel do MASP, o de museu educativo e de formação do público de arquitetura moderna, em reportagem publicada na imprensa, sobre a recepção de estudantes que preparavam uma exposição:

No museu de arte, organizadores da I Exposição Internacional de Arquitetura – Precedente do Rio de Janeiro, chegou a São Paulo um grupo de estudantes da Faculdade Nacional de Arquitetura, a im de organizar, em colaboração com o Instituto de Arquitetos do Brasil e com a Prefeitura Municipal, a I Exposição Internacional de Arquitetura Contemporânea que será inaugurada, no próximo dia 7 [1948], no saguão da Biblioteca Pública. Ontem, durante a visita feita ao Museu de Arte, os estudantes externaram suas esperanças no sucesso da exposição, porque esta contará com a presença de um público que, através do Museu, vem recebendo esclarecimentos sobre a importância da arquitetura contemporânea (DIARIO, 1948).

Além das exposições mencionadas podemos encontrar muitos outros eventos relacionados à arquitetura no MASP. São palestras, cursos, conferências e preparação de material para publicação. Existe uma agenda muita intensa que se rarefaz a seguir, considerando como recorte temporal os primeiros dez anos de história do Museu. Le Corbusier - Novo Mundo do Espaço, ocorrida em 1950, é uma das exposições de destaque desse período inicial (cf. tabela Arquitetura no MASP – dez primeiros anos).

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