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No âmbito educativo, Portugal tem procurado acompanhar as mudanças preconizadas pela Europa e definidas pelas principais organizações (OCDE, Comissão Europeia) que decretam normas de inovação de sistemas e práticas letivas apelando mesmo a transformações nos paradigmas educativos vigentes. O Processo de Bolonha e os diferentes acordos resultantes vieram declarar a importância da mudança de paradigma educativo, consagrada nos diferentes diplomas europeus e patente no discurso legislativo nacional que os concretizam: “questão central no Processo de Bolonha é o da mudança do paradigma de ensino de um modelo passivo, baseado na aquisição de conhecimentos, para um modelo baseado no desenvolvimento de competências […]” (Decreto-Lei n.º 74/2006 de 24 de Março). A utilização das tecnologias nos processos educativos e o incentivo ao desenvolvimento de práticas letivas tecnologicamente enriquecidas, ao nível do Ensino Superior, é um aspeto central nas normativas europeias. Nesta lógica, as IES em Portugal têm sofrido, “influências externas no sentido de recorrer à utilização das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) […] nomeadamente para acompanharem os desafios tecnológicos do mundo pós-moderno […]” (Leite, Lima & Monteiro, 2009, p.72).

A integração das TIC em contexto educativo e a sua utilização na promoção de formas inovadoras de formação são, atualmente, uma realidade no contexto europeu, com linhas orientadoras bem definidas e reforçadas pelas diretrizes introduzidas pelo processo de Bolonha, ao nível do Ensino Superior (Lemos, Pedro & Matos, 2010). A adoção do e-learning é uma realidade recente em alguns países, mas implementada em

diferentes partes do mundo, “mesmo em Portugal a generalidade das IES apresenta já iniciativas de e-learning (…). (Magano, Castro & Carvalho, 2008). O facto do Ministério da Educação ter decidido, desde o ano letivo 2006/2007, adotar estratégias e disponibilizar plataformas de gestão de aprendizagem (o Moodle) em todas as escolas dos Ensinos Básicos e Secundários (Pedro, Soares, Matos & Santos., 2008), reforça a necessidade das IES se adaptarem e criarem condições para a receção de estudantes com hábitos de trabalho digitais. Em Portugal, várias Instituições do Ensino Superior (IES) apresentam iniciativas de educação a distância, apesar da maioria se centrar essencialmente no uso de plataformas de gestão de aprendizagem como repositório de material de apoio às unidades curriculares ministradas em regime presencial (Magano, Castro & Carvalho, 2008).

As iniciativas de e-learning são ainda escassas e abrangem apenas cerca de 3% do universo dos alunos inscritos (Bielschowsky, Laaser, Mason, Sangra & Hasan, 2009) no contexto nacional. No entanto, é notório o esforço de alargamento da oferta de formação em e-learning, por parte das IES, que procuram (a) maior aproximação às necessidades acuais do seu público, (b) modernização das suas instituições, (c) extensão e internacionalização da oferta educativa, perseguindo igualmente (d) um aumento da qualidade formativa, (e) do sucesso académico e (f) do nível de empregabilidade dos estudantes. Um outro facto apontado pelo estudo “Reforming Distance Learning Higher Education in Portugal” (Bielschowsky, Laaser, Mason, Sangra & Hasan, 2009) é o de que mais de 90% do ensino superior a distância em Portugal está a cargo da Universidade Aberta (UAb), considerada como a única instituição perita em EaD em Portugal e o maior repositório de especialistas da área. Tendo em conta o baixo custo por estudante, a ajustada correspondência às crescentes necessidades da aprendizagem ao longo da vida, a vasta quantidade de adultos de diferentes regiões geográficas que podem beneficiar do e-learning, o painel de especialistas que assumiram o estudo em causa recomendam um crescimento de cinco a dez vezes mais, num período de cinco anos. Para tal, são necessárias mudanças sérias ao nível do funcionamento das IES e dos seus processos pedagógicos e organizacionais. Assim, torna-se importante assumir que

The major challenge for the online university […] is the maintenance of high standards across these functions in an environment characterized by a complex community of students and faculty spanning multiple time zones, cultures, nationalities

and varying levels of technological capability and availability. (Sixl-Daniell, Williams & Wong, 2006, p.2)

O Processo de Bolonha veio alterar o modelo pedagógico que tem vindo a ser praticado nas IES portuguesas, com o reconhecimento do “potencial do e-learning na implementação de práticas pedagógicas que contribuam para operacionalizar e maximizar alguns dos princípios associados ao processo de Bolonha” (Gomes, 2006). A Declaração de Bolonha valoriza uma efetiva dimensão europeia do Ensino Superior, promovendo a aprendizagem ao longo da vida e o alargamento da mobilidade entre estudantes e docentes. Pretende-se uma mudança de paradigma que exige a adaptação do processo de aprendizagem aos meios tecnológicos e às perspetivas e interesses acuais da sociedade; a necessidade de tornar o Ensino Superior mais atrativo; e o reconhecimento de que o conhecimento é um bem universal. O e-learning afigura-se como um contributo essencial no desenvolvimento das linhas de ação do Processo de Bolonha: (a) promoção da mobilidade, (b) promoção da dimensão europeia do Ensino Superior; (c) promoção da aprendizagem ao longo da vida (Gomes, 2006).

De acordo com o relatório da OCDE Review of Nacional Policies for Education – Tertiary Education in Portugal (2007) deve-se investir na disponibilização de oportunidades de aprendizagem formais e informais, que utilizem suportes de aprendizagem inovadores e novas modalidades e formatos ajustados às necessidades e interesses dos estudantes (OCDE, 2007).

Em Portugal, o Programa do XVII Governo estabeleceu objetivos concretos da política para o ensino superior em concordância com o definido a nível europeu. O recurso ao e-learning é consagrado no artigo 8º (Ensino a distância) do Decreto-Lei n.º42/2005, de 22 de Fevereiro, sendo reconhecido como um contributo fundamental no acompanhamento das transformações socioeconómicas registadas, procurando ajustar- se ao que é definido como a mudança de paradigma subjacente ao Processo de Bolonha. Esta situação encontra indícios no “facto de ser cada vez maior o número de instituições de ensino superior que possui um projeto de e-learning suportado por uma plataforma” (PAOL, 2007, citado por Leite, Lima & Monteiro, 2009, p.72). Parte da sua justificação encontra fundamento no “Contrato de Confiança no Ensino Superior para o futuro de Portugal” (MCTES, 2010) que visou o “aumento dos níveis de qualificação superior na sociedade portuguesa” (MCTES, 2010, p.2). Foram realizados contratos de confiança com todas as IES públicas portuguesas com objetivos concretamente determinados, prevendo-se atingir as principais metas europeias relativas a este nível de Ensino. O e-

learning encontra eco nos principais objetivos do contrato de confiança, sendo que “promover e reforçar o ensino a distância, [com vista a] atrair adultos para o ensino superior e reforçar a empregabilidade” (MCTES, 2010, p.15) corresponde a um dos objetivos globais dos programas de desenvolvimento associados ao contrato de confiança no Ensino Superior Público. Estes programas de desenvolvimento “apontam ainda para o aumento do número de estudantes em ensino a distância […]” (MCTES, 2010, p.2), sendo um dos objetivos específicos do sistema universitário o aumento em 15% de novos diplomados em ensino a distância.

O contrato de confiança assinado com a Universidade de Lisboa teve também um papel fundamental na oficialização de metas relevantes que envolvem o ensino a distância. Este ponto merecerá maior desenvolvimento já adiante.

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