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Os legados de Dermeval Saviani ao Mestrado em Filosofia da Educação e ao Doutorado em Educação da PUC-SP.

4 “O filósofo da educação”

4.4 Os legados de Dermeval Saviani ao Mestrado em Filosofia da Educação e ao Doutorado em Educação da PUC-SP.

Conforme já apontado anteriormente, o mestrado em Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), começou a funcionar em caráter experimental em 1970 e em caráter efetivo em 1971. Neste contexto, a coordenação geral deste e de outros Programas de Estudos Pós-Graduados da PUC-SP estava a cargo do professor Joel Martins, que acabou delegando, posteriormente, mas, ainda na fase de implantação, a coordenação do Mestrado em Filosofia da Educação ao professor Newton Aquiles Von Zuben. Desde 1972, Dermeval Saviani já atuava neste programa, ministrando a disciplina “Problemas da Educação” (a mesma que ministrava no Mestrado em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba), e que consistia em discutir seis problemas da área da educação, organizados a partir de dois critérios: potencial existencial e alcance teórico; e sob três níveis: constatação, caracterização e tentativa de solução (SAVANI, 1992, s/n).

Segundo Saviani (1987, p.26-27), os seis problemas, por ele trabalhados na disciplina “Problemas da Educação”, que era de caráter obrigatório, no Mestrado em Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), eram cinco os seguintes:

 Problema nº 1: Como formar o educador?;

 Problema nº 2: Flutuações da consciência pedagógica;

 Problema nº 3: Confusão entre Filosofia da Educação e ideologia educacional;  Problema nº 4: Educador ou pedagogo? Homem prático ou teórico?;

 Problema nº 5: como unificar teoria e prática? (em busca de um método);  Problema nº 6: Necessidade de compreender a educação no contexto.

Observa-se que os cinco primeiros problemas eram propostos em forma de pergunta e o sexto problema é uma afirmação, o que indica a busca por apresentar uma conclusão das discussões, uma síntese das discussões realizadas ao longo da disciplina “Problemas da Educação”, ministrada do Mestrado em Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Além de “Problemas da Educação”, a partir de 1973, Saviani passou a ministrar, no Mestrado em Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a disciplina “Problemas da Educação II”, que era caráter optativo. O objetivo da disciplina “Problemas da Educação II”, era de tratar, de forma aprofundada, determinado problema que poderia variar conforme o semestre e a necessidade de que tal discussão fosse realizada no âmbito da pós-graduação (SAVIANI, 1992, s/n). Data também deste momento, o início do processo de orientação de dissertações na trajetória acadêmica de Saviani. Foi também neste ínterim, que Saviani, a partir do segundo semestre de 1978, depois de retornar da Europa, assumiu a coordenação do Mestrado em Filosofia da Educação e do Doutorado em Educação da PUC-SP (GATTI, 1994).

O processo que levou Dermeval Saviani à coordenação dos programas de Mestrado em Filosofia da Educação e do Doutorado em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), evidencia dois aspectos: primeiro, o reconhecimento de que, mesmo ainda sendo um jovem professor, na fase dos 35 anos em 1978, seus méritos acadêmico-profissionais eram reconhecidos por seus pares; segundo: a rede de sociabilidade que havia na PUC-SP, se fortalecia, desde então, em torno de Saviani. Em entrevista a Vidal (2011), Saviani descreve esse processo:

Em março de 1978 deixe a UFSCar, para reassumir contrato em tempo integral na PUC-SP. O professor Casemiro dos Reis Filho, que era vice-reitor acadêmico, me disse: “Que bom que você volta ao tempo integral. Assim você pode assumir a coordenação da pós-graduação e reorganizar o programa”. Eu lhe respondi: “Casemiro, se for para exercer cargos administrativos prefiro não assumir tempo integral; fico com contrato de 10 horas”. Ele, com aquela sabedoria que o caracterizava, retrucou: “Você não vai fazer o que não quiser; meu entendimento é que, para a instituição, seria muito bom que você assumisse a coordenação. Mas, se você não quer, não há problema. Não é por isso que você vai deixar de reassumir tempo integral”. Retomei meu contrato, e, em julho, o Prof. Antonio Joaquim Severino, que vinha acumulando a coordenação com a direção do Centro de Educação, me chamou e disse: “Estou deixando a coordenação e propondo seu nome”. Eu lhe disse: “Severino, não faça isso comigo”. Ele respondeu: “Vou indicar seu nome; cabe a você aceitar ou não”. Obviamente, avaliei que seria até um tanto egoísta de minha parte recusar a indicação, pois naquele momento eu era o único em tempo integral vinculado apenas ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia da Educação. Assumi, então, a coordenação e promovi a reestruturação curricular e a reorganização da forma de funcionamento do programa. Daí em diante não tive mais como não estar quase que continuamente à testa do programa (SAVIANI, 15 de maio de 2009 – entrevista a Diana Gonçalves Vidal. In: VIDAL, 2011, p.46-47).

Já foi apontado neste trabalho, que a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), teve um papel importante no processo de implantação da pós-graduação no Brasil, em um contexto de ingerência do Estado (final da década de 1960 e início da década

de 1970). As ingerências do Estado se faziam, no contexto da Ditadura Militar, em vários âmbitos da vida social, incluindo a educação. No que se refere especificamente ao ensino superior, foi neste contexto que ocorreu a Reforma Universitária e a regulamentação da pós- graduação – temas já tratados neste trabalho. No que se refere à pós-graduação, esta passou a ser vista como mais um instrumento de controle do Estado, tendo em vista a formação de cientistas e intelectuais que pudessem contribuir para o projeto de “Brasil grande”, encabeçado pelos presidentes militares do referido período. Neste sentido é que foram regulamentados os Pareceres 977/65 e 77/69. Ainda assim, a PUC-SP conseguiu formar, na sua pós-graduação, um conjunto de docentes que assumiram uma posição crítica em relação aos ditames do Estado e em relação às teorias educacionais. Foi neste contexto, que se deu a atuação direta de Saviani em programas de estudos pós-graduados, não apenas na PUC-SP, mas, em outras universidades do Estado de São Paulo, como já apontado anteriormente.

Para o governo, durante todo o período da ditadura militar, no meio universitário de São Paulo, a PUC-SP, com certeza foi sempre a pedra no seu caminho. As pressões dos órgãos de segurança do governo eram constantes e de todo tipo. Nunca a autonomia da Universidade esteve tão permanentemente ameaçada, mas ao mesmo tempo defendida. Com coragem, cautela e discernimento pelas várias gestões da Reitoria, com todos os riscos de enquadramento pessoal nas leis repressivas do regime (NAGAMINE, 1997, p.141).

Em uma conferência proferida em São Paulo em 11 de maio de 1982, publicada na obra “Ensino Público e algumas falas sobre a universidade”, cuja primeira edição data de 1984, Saviani explicita a condição da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no contexto do final da década de 1970 e início da década de 1980, quando ele coordenava o Programa de Mestrado em Filosofia da Educação e o Programa de Doutorado em Educação desta instituição cujo mérito já era reconhecido no que se referia aos Estudos Pós-Graduados:

Parece-me que a PUC-SP ocupa um papel peculiar no quadro do ensino superior brasileiro. Na verdade, a PUC tem muito em comum com as demais Universidades. O que a diferencia é o fato de que, embora em todas as Universidades haja grupos de vanguarda, grupos críticos, preocupados com a inserção da Universidade na sociedade, na PUC-SP têm hegemonia aqueles que estão preocupados com as camadas populares (SAVIANI, 1991b, p.95).

E complementa acerca do projeto educacional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP): “Esse projeto educacional, à medida que está apontando na direção dos interesses populares, implica na formação de uma massa crítica. Gostaria de enfatizar que a massa crítica envolve também a qualificação dos professores das escolas de 1º

grau” (SAVIANI, 1991b, p. 101). Assim é que, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com a liderança de professores como Joel Martins, Casemiro dos Reis Filho, Newton Aquiles Von Zuben e, a partir de meados da década de 1970, contando também com a liderança do jovem professor Dermeval Saviani, foi se fortalecendo na pós-graduação em educação no país e se tornando uma importante referência na formação de professores tanto para o ensino superior como para a educação básica – professores cuja formação docente tinha um caráter eminentemente político.

É importante apontar que, em todo o processo tanto de reforma interna da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), quanto de adequação desta instituição àquilo que a Reforma Universitária (Lei 5.540/68) previa, foi importante não apenas o papel de professores e de alunos, como também das lideranças católicas que compunham os quadros da PUC-SP, merecendo destaque a figura de Dom Paulo Evaristo Arns e seus bispos auxiliares e, vale lembrar, que neste contexto da década de 1960, ocorria um processo de rearticulação da Igreja Católica, tendo em vista uma instituição mais atuante na sociedade, é derivada do Concílio Vaticano II, em termos do catolicismo mundial e, no que se refere especificamente ao contexto da América Latina, se deve à realização da II Conferência Geral do Episcopado Latino Americano (CELAM).

[...] o Papa João XXIII convocou XXI Concílio da Igreja Católica, o Vaticano II, realizado de 1962 a 1965. A abertura da Igreja diante de si mesma, do mundo moderno e da própria História foi a tarefa central desse Concílio [...]. Cerca de um ano e pouco depois de encerrado o Concílio, alguns bispos, tendo à frente Dom Helder Câmara, começaram a pensar sobre a necessidade da convocação de uma reunião dos bispos da América Latina, buscando a aplicação das conclusões do Concílio às realidades do Continente. [...] Assim, de 26 de agosto a 06 de setembro de 1968, em Medellin, na Colômbia, realizou-se a II Conferência Geral do Episcopado Americano – Celam. O tema foi a “Igreja na Atual Transformação da América Latina à Luz do Concílio”. O produto final dessa Conferência foi vital para o povo católico, pois quebrava alguns tabus de fundo político-ideológico, iniciava um processo de esclarecimento das contradições doutrinárias, e a própria Hierarquia da Igreja começava a posicionar-se oficialmente frente às realidades políticas, econômicas e sociais do Continente. Com isso rompia-se a tradição de cooptação da Igreja ao poder, mormente com os regimes autoritários que assumiam nos países da América Latina, por meio de sucessivos golpes militares (NAGAMINE, 1997, p. 47, 48).

Foi neste contexto e com base nos compromissos assumidos pelas lideranças católicas progressistas que se processou a reforma na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que permitiu a instalação do Ciclo Básico de Ciências Humanas e Educação e o avanço na implantação de Programas de Pós-Graduação, a partir do final da década de 1960 e início da década de 1970. O Ciclo Básico de Ciências Humanas e Educação e os Programas de Pós-Graduação instalados na PUC-SP estavam articulados ao projeto de

reforma desta instituição, que, segundo Nagamine (1997), tinha como desafios básicos: a introdução da pesquisa como atividade essencial da universidade e a ampliação de vagas no ensino superior, tendo em vista tanto a expansão demográfica quanto o compromisso com o direito à educação dos jovens brasileiros. Em síntese, o Ciclo Básico de Ciências Humanas e Educação da PUC-SP se propunha a sanar as lacunas de conhecimentos dos alunos ingressantes no Ensino Superior, tendo em vista as exigências dos estudos da graduação e da pós-graduação.

Sobre o Ciclo Básico de Ciências Humanas e Educação, Nagamine (1997), afirma que nenhum projeto do plano de reforma da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foi objeto de tanta discussão e avaliação, estando inserido no processo das contradições e tensões entre a visão da Igreja Católica arraigada no conservadorismo e a visão progressista de membros do clero católico pós Concílio Vaticano II, se configurando também em um elemento de resistência político-educacional no contexto da Ditadura Militar, bem como de identificação de jovens com potencial para prosseguimento na carreira acadêmica – algo muito presente na história da PUC-SP, que tinha forte compromisso com a formação de quadros entre o seu próprio alunado. Portanto, além de sanar as lacunas de conhecimento dos ingressantes no Ensino Superior, o Ciclo Básico de Ciências Humanas e Educação, atuava como um elemento inicial para a formação de futuros professores e pesquisadores. Casemiro dos Reis Filho foi o grande articulador do Ciclo Básico de Ciências Humanas e Educação e Dermeval Saviani também deu sua contribuição, como já apontado anteriormente, participando da disciplina “Introdução à Educação”, para a qual elaborou os textos “Dimensão filosófica da educação”, “Valores e objetivos na educação” e “Para uma pedagogia coerente e eficaz”.

[...] o Básico constituiu, sem dúvida, uma das mais importantes opções políticas de resistência à reprodução institucional do sistema previsto no modelo de reforma imposto à universidade brasileira. Outra expectativa que se tinha era de que a construção da nova Universidade tivesse, no aluno e no professor do Básico, seus principais agentes inovadores, à medida que levassem sua formação e sua experiência de ser na Universidade e de produzi-la ao longo do respectivo plano curricular (graduação) e demais atividades de pesquisa e extensão. [...] Desse modo, o Básico, seja pelo seu alunado, seja pelo seu corpo de auxiliares de ensino, deveria transformar-se em campo fecundo para a observação, o estímulo e a descoberta dos jovens valores para o trabalho universitário. Daí a exigência de alta qualificação dos responsáveis pelas disciplinas comuns e de seus “assistentes’, porque, além do processo educativo dos seus alunos e desses auxiliares de ensino, deveriam se transformar no elo de ligação do sistema educacional da PUC-SP, Graduação/Pós- graduação, começando pela unidade curricular denominada Básico (NAGAMINE, p.101,102,103).

A implantação do Mestrado em Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – processo transcorrido entre 1970/71 – está inserida neste contexto de reforma da PUC e de funcionamento do Ciclo Básico. Saviani, que, no início da década de 1980, passou a ser “[...] taxado de ‘memória viva’ do Programa por Maria Luísa Ribeiro (RIBEIRO, 1987, p. 7), em uma conferência proferida em 23 de outubro de 1984, em uma série de encontros cujo objetivo era resgatar a história da pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que a ideia inicial era que o programa fosse centrado em três áreas: Filosofia, Educação e Psicologia, envolvendo as seguintes disciplinas obrigatórias: Metodologia do Trabalho Científico, que no começo tinha o nome de Metodologia Filosófica, Antropologia Filosófica, Teoria do Conhecimento, Problemas da Educação, Fenomenologia e Psicologia, e Filosofia da Educação, havendo a possibilidade de serem cursadas mais duas disciplinas optativas. Entre os professores que assumiram o trabalho no Mestrado em Filosofia da Educação, quando no início de suas atividades, Saviani (1987), cita: Newton Aquiles Von Zuben, responsável pela disciplina de “Antropologia Filosófica” e pela a coordenação do programa; Geraldo Tonacco, que assumiu a disciplina “Teoria do Conhecimento”; Antonio Joaquim Severino, assim como Saviani, recém doutorado, assumiu, a partir do segundo semestre de 1972, a disciplina “Filosofia da Educação”, enquanto Saviani, no mesmo ínterim assumiu a disciplina “Problemas da Educação”; ficando a disciplina de “Fenomenologia e Psicologia” a cargo da professora Maria Fernanda Beirão, que se doutorara também na PUC.

Vê-se nesta estrutura curricular dois elementos importantes: a rede de sociabilidade já por várias vezes citada neste trabalho, como algo que contribui para a projeção do intelectuais e como algo muito presente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), nos idos das décadas de 1960 e 1970; a predominância de professores formados em Filosofia, entre os que compunham o quadro docente do Mestrado em Filosofia da Educação da PUC-SP – só Dermeval Saviani tinha formação em áreas da Pedagogia – processo que teve início quando foi convidado, pelo professor Joel Martins, para a monitoria em Filosofia da Educação, em fins do ano de 1965, o que o levou a cursar disciplinas do curso de Pedagogia – os demais docentes tinham formação apenas em Filosofia. Segundo Saviani (1987) a estrutura curricular exposta acima e o quadro de professores se manteve de 1972 a 1974, quando, o programa, por ocasião do processo de credenciamento, passou por algumas alterações curriculares em razão, de alterações no quadro docente, pois, alguns professores passaram a atuar em outras universidades: o professor Newton Aquiles Von Zuben se transferiu para a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Dermeval Saviani

assumiu um contrato com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Neste contexto, também houve alterações na distribuição das disciplinas obrigatórias e optativas e a composição do alunado era de cerca de 50% oriundo da Filosofia e 50% da Pedagogia.

Esta composição do alunado no Mestrado em Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), começaria a mudar, porque entre 1976 e 1977, passou a funcionar nesta instituição, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia, o que acabou por atrair a clientela específica desta área do conhecimento, o que, somado às aspirações de parte dos alunos que consideravam que o Mestrado em Filosofia da Educação era carente de maior aprofundamento na área da Educação, o programa passaria por uma nova reestruturação. Nas palavras de Saviani em entrevista a Maria Luísa Ribeiro: “nós corríamos o risco de estar formando mestres em Filosofia da Educação que não tinham o domínio da área de Filosofia da Educação ou, em outros termos, estarmos formando mestres em Filosofia da Educação mas que não estavam familiarizados com a produção teórica na área de Filosofia da Educação” (GATTI, 1994, p. 79). Tal reestruturação, sob a coordenação de Dermeval Saviani, ocorreu a partir de 1978.

Alguns fatores já começavam a alterar as necessidades curriculares desse programa face ao seu desenvolvimento: mudança do alunado que passa a compor-se de clientela predominantemente interessada em educação e mudanças no corpo docente por absorção de vários destes por universidades públicas. É nesse momento que se encaminhará alterações curriculares e estruturais nesse mestrado e em seguida no doutorado que os transformarão num dos programas de pós-graduação dos mais conceituados e do qual emergirão vários grupos de novos doutores e mestres cuja contribuição para a literatura educacional do país é das mais relevantes. Essa mudança foi alavancada sem dúvida por Dermeval Saviani que na coordenação do programa e agindo cooperativamente com o grupo de docentes e a participação dos alunos, propiciou sua reformulação imprimindo uma linha de trabalho clara e organicamente articulada (GATTI, 1994, p.78).

Por ocasião do projeto de reestruturação do Mestrado em Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Saviani participou da 1ª Reunião Anual promovida pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd) em Fortaleza, no ano de 1978, onde se discutiu a questão da concepção de mestrado em educação no país. Por esta ocasião, Saviani elaborou um texto para ser discutido junto com seus pares, denominado “Uma concepção de mestrado em educação”, que, foi publicado, posteriormente em sua obra “Educação: do senso comum à consciência filosófica”, cuja primeira edição data de 1980. Neste texto, Saviani não apenas apresenta a sua concepção de mestrado, como expressa a sua concepção de educação como uma “atividade mediadora”, cujo espaço próprio encontra-se “[...] na intersecção do individual e do social, do particular e

do geral, do teórico e do prático, da reflexão e da ação” (SAVIANI, 1981, p. 92). Tal concepção acompanha a trajetória do pensamento de Saviani cuja obra, em uma visão de conjunto, não perde de vista que a educação tem um papel de mediação da transformação social. Retomando a questão da concepção de mestrado, o referido texto apresenta uma proposta que tinha em vista corrigir uma distorção muito comum nos Programas de Pós- Graduação em Educação daquele contexto: de um lado, a centralização em determinadas áreas do conhecimento; de outro, a centralização em determinadas habilitações profissionais.

Para corrigir essas distorções, estamos propondo uma nova concepção de Mestrado em Educação que implica também uma nova concepção de “especialista em educação”. Para nós, o verdadeiro especialista em educação será aquele que, tomando como centro e ponto de referência básico a educação enquanto fenômeno concreto (isto é, a educação considerada no modo próprio como ela se estabelece mediatizando as relações características de uma sociedade historicamente determinada), seja capaz de transitar com desenvoltura do plano teórico (avaliando, reelaborando e assimilando criticamente as contribuições das diferentes áreas do conhecimento) ao plano prático (elaborando, reformulando e criticando as técnicas de intervenção pedagógica) e vice-versa (SAVIANI, 1981, p. 92).

Assim, para Saviani (1981), os princípios que deveriam orientar a formação do especialista em educação eram: concreticidade, criticidade, objetividade, especialidade e