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Analisando o código mais a fundo, em particular o artigo 49 do CDC: “o consumidor pode desistir do contrato no prazo de 7 dias, a contar da sua assinatura ou do ato do recebimento ou serviço [...].”38

Claudia Marques esclarece quanto a existência do contrato:

Tanto no caput do art.49 como em seu parágrafo, o CDC, refere-se à desistência do contrato, no prazo de sete dias, a contar da assinatura do contrato ou do recebimento do produto ou serviço (execução da prestação principal). Parece claro, portanto que o sistema brasileiro pressupões a

existência de contrato. 39

O Código prevê sete dias de reflexão, o entendimento é que a venda só se conclui de fato e direito quando decorrido este prazo. Neste prazo, o consumidor não pode fazer uso do produto. O uso do bem adquirido significa que o contrato foi concluído. Não se deve imaginar que o código vá permitir que o consumidor faça uso do bem e após quase uma semana o devolva, alegando ter se arrependido. Com a utilização do bem supõe-se que ele o aprovou, e o contrato restou concluído com o fornecedor. Contudo a retirada do produto da caixa ou da embalagem não quer dizer que houve o uso do produto, muitas vezes é necessário a abertura da embalagem ou lacre para que possa se atestar o produto. O artigo 49 não é muito claro quanto ao inicio da contagem do prazo para desistência, se é a partir da compra ou da entrega do produto. Tampouco é fácil materializar o arrependimento após a finalização do serviço contratado.

Ronaldo Alves de Andrade nos ensina:

38BRASIL. Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Dispõe

sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Art. 49.

39BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Cláudia Lima; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao

O Código de Defesa do Consumidor brasileiro não regulou minuciosamente os contratos de venda à distância, não estabelecendo os requisitos necessários para tal modalidade de contratação; tampouco ditou os tipos de contrato que poderiam legalmente ser celebrados dessa forma e nem fixou seus respectivos objetivos. Em realidade limitou-se a instituir, no art. 49, o direito de recesso, ou seja, o direito de arrependimento, permitindo ao consumidor desistir dentro de sete dias, recebendo de volta, corrigida monetariamente, a importância despendida com a aquisição. O dispositivo legal mencionado é extremamente abrangente e por certo constitui um tipo

aberto, cabendo ao juiz preenchê-lo. 40

Cabe, portanto, ao juiz decidir nos casos em que a lei é omissa, decidindo pela aplicação ou não do direito de arrependimento nestes casos.

4.4.1 Projeto de Lei 281/2013

Com a evolução das relações consumeristas, e o surgimento de novos meios de compras em especial os feitos por meio da internet, e por não possuir uma legislação adequada mais específica no ordenamento, criou-se em 2010, uma comissão de juristas, presidida pelo ministro Herman Benjamin do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a fim de estabelecer novas regras a partir do Código de Defesa do Consumidor. Esta comissão se reuniu diversas vezes durante dois anos, a fim de criar um esboço do que deveria ser atualizado no CDC. Assim em 2012, foram apresentados ao Senado Federal, três projetos de lei que atualizam o Código de Defesa do Consumidor. O objetivo é trazer o CDC para nossa realidade atual, afinal já haviam transcorridos 22 anos da sua edição São os PLS 281/1241, PLS 282/12 42,

e PLS 283/12 43, que abordam respectivamente os seguintes assuntos: comércio

eletrônico, ações coletivas e superendividamento da população. Vamos ater principalmente ao PLS 281/12, que tem como assunto principal o comércio eletrônico criando uma nova seção no CDC. Ele aborda de arrependimento e práticas abusivas no comércio eletrônico. O PLS 282/12 visa a preencher a lacuna referente às ações coletivas, a fim de que se tenha prioridade e se tenha eficácia nacionalmente. Já o PLS 283/12 se refere ao crédito e ao superendividamento, cria

40ANDRADE, Ronaldo Alves de. Contrato eletrônico no novo Código Civil e no Código de

Defesa do Consumidor. Barueri, SP: Manole, 2004.

41BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei 283 de 2012. Brasília. Disponível em:

<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/106768>. Acesso em 03 de junho de

2018, às 15:00.

42 Ibid., Projeto de Lei 282 de 2012.

mecanismos para evitar que as pessoas utilizem o crédito de maneira danosa. Todos eles são importantes, pois através de uma atualização da lei, visam dar uma proteção adequada ao consumidor. O PLS 281/12, por estar inserido no objeto deste trabalho será analisado com mais atenção. O projeto normatiza o comércio eletrônico, a fim de promover uma compra segura, como a preservação dos dados do consumidor, regulamentar a propaganda eletrônica, além de reforçar o direito de arrependimento no comércio virtual.

Projeto de lei alterando o CDC. Ementa:

Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), para aperfeiçoar as disposições gerais do Capítulo I do Título I e dispor sobre o comércio eletrônico. Explicação da Ementa: Altera a Lei nº 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor – para aperfeiçoar as disposições gerais constantes do Capítulo I do Título I, estabelecendo que as normas e os negócios jurídicos devem ser interpretados e integrados da maneira mais favorável ao consumidor e dispor sobre normas gerais de proteção do consumidor no comércio eletrônico, visando a fortalecer a sua confiança e assegurar tutela efetiva, preservar a segurança nas transações, a proteção da autodeterminação e da privacidade dos dados pessoais; as normas aplicam-se às atividades desenvolvidas pelos fornecedores de produtos ou serviços por meio eletrônico ou similar; estabelece que o consumidor pode desistir da contratação a distância, no prazo de sete dias a contar da aceitação da oferta ou do recebimento ou disponibilidade do produto ou serviço; dispõe que caso o consumidor exerça o direito de arrependimento, os contratos acessórios de crédito são automaticamente rescindidos, sem qualquer custo para o consumidor; tipifica como infração penal o ato de veicular, hospedar, exibir, licenciar, alienar, utilizar, compartilhar, doar ou de qualquer forma ceder ou transferir dados, informações ou identificadores pessoais, sem a expressa autorização de

seu titular e consentimento informado, salvo exceções legais.44

De acordo com o PLS 281/2012, o artigo 49 do CDC passará a ter uma redação mais extensa e adequada.

4.4.2 Decreto 7.962/13

Devido ao CDC não ter a resposta para muitos problemas que o consumidor tinha ao fazer compras por meio eletrônico, foi assinado no dia 15 de março de 2013 pela então presidenta Dilma Rousseff o Decreto 7.962/2013.45 Tem

44BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei 283 de 2012. Brasília. Disponível em:

<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/106768>. Acesso em: 03 jun. 2018.

45 BRASIL. Decreto Lei 7.962 de 15 de março de 2013. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7962.htm>. Acesso em: 03 jun. 2018.

por finalidade fortalecer as normas referente ao comércio eletrônico. Ele previa um prazo para adaptação das empresas que se utilizavam deste tipo de comércio para fazer suas vendas. O principal objetivo é assegurar que seja feita a interpretação do ordenamento jurídico de maneira mais favorável ao consumidor.

Quanto ao direito de arrependimento, criou-se a possibilidade de ele ser exercido pela própria internet, evitando-se ligações telefônicas, e consequentemente sem gerar custos ao consumidor. O site do fornecedor deve aparecer a informação de recebimento da manifestação de vontade do consumidor com relação ao direito de arrependimento. O fornecedor deve avisar imediatamente a instituição financeira que processou o para a realização da compra, buscando o estorno do valor pago. Objetiva-se que por meio do Decreto 7962/2013 tenha uma proteção mais eficaz do direito de arrependimento, como também um equilíbrio nas relações consumeristas.

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