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CAPÍTULO 3: REEE EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DE SÃO PAULO

3.2. R ESULTADOS E D ISCUSSÃO

3.2.1 Legislação e universidade

A categoria legislação e universidade relaciona-se com a questão central da dissertação, que é “qual a relação existente entre regulação e o comportamento das Instituições de Ensino Superior?”. Dessa forma, foram consideradas principalmente a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305), o Acordo setorial de eletroeletrônicos, a Politica Estadual de Resíduos Sólidos (12.300), a decisão de diretoria da CETESB, e o Decreto de Administração pública (Decreto 99.658 e Decreto 9.373). A partir das práticas das universidades ao longo dos anos, podemos compreender o quanto a regulação pode influenciar os procedimentos adotados por elas.

É importante ressaltar que o CEDIR da USP, projeto 3RC da Unicamp e a Recicl@tesc foram criados pouco tempo antes da instituição da PNRS. A Política Estadual de Resíduos Sólidos, mencionada no Capítulo 1, já havia sido instituída e o seu respectivo decreto regulamentador (54.645) é de 2009, e já havia discussões tramitando no congresso nacional a respeito dos resíduos sólidos desde a década de 1990. Ou seja, o contexto político já era de discussão sobre a temática, mas cada uma das Universidades tiveram suas motivações e seu devido tempo para se adequarem a tais regulações.

O CEDIR (USP) foi criado em 2009, com o auxílio do S-Lab do MIT, época em que a USP possuía 40.000 computadores em uso, sendo que aproximadamente 10% desse valor era retirado de circulação ao ano (Bomhomme et al, 2008). Segundo Carvalho e Xavier (2014), o CEDIR foi criado diante da preocupação em fornecer alternativas para o descarte ambientalmente correto de resíduos eletroeletrônico, com o objetivo de atender a demanda de tratamento sustentável do lixo eletrônico.

Já, o projeto 3RC foi criado na UNICAMP, em 2008, diante de uma situação em que a universidade possuía 16.000 microcomputadores que eram substituídos em uma taxa de 6% ao ano, e a maioria desses bens obsoletos ou inservíveis, após serem recolhidos pela

DGA, eram alienados como sucata, segundo dados do Projeto

(https://www.ccuec.unicamp.br/gepro/pdf/tcc_gepro_reciclagem.pdf). Por isso, a implantação deste projeto se justificou com o propósito de aumentar a vida útil dos equipamentos, tanto visando o maior uso interno, na universidade, como para atender instituições que recebem doações por necessitarem dos mesmos.

Apesar de a UNICAMP ter criado o projeto 3RC, é necessário ressaltar que até 2012, a universidade não exigia nenhum documento ou certificação como pré-requisito para uma empresa ou pessoa física poder participar do processo de licitação dos bens de informática e de equipamentos eletroeletrônicos. E como pode ser observado no Apêndice III sobre vencedoras das licitações de equipamentos diversos de informática da UNICAMP, nos meses de março e agosto de 2010 e novembro de 2012, pessoas físicas venceram o processo. É sabido que nos procedimentos de agosto de 2010 e novembro de 2012, os bens recolhidos foram repassados para empresas da área. Contudo, na licitação de março de 2010, 6.282 unidades de equipamentos de informática foram vendidos para uma pessoa física, sendo que em pesquisa anterior de Sadalla (2015) não foi possível identificar a destinação dada a esse material.

Após 2012, a UNICAMP passou a exigir alguns pré-requisitos para os participantes das licitações, como já dito anteriormente: licença de operação emitida pela CETESB ou autorização de uma empresa que tenha aval do bombeiro e cadastro técnico no IBAMA. Com a mudança do procedimento para licitação por contrato, a partir de 2016, a universidade continuou exigindo essas certificações para que os seus REEE e bens de informática patrimoniados e para as empresas participantes das licitações de EEE.

A UFSCar, por sua vez, seguia o Decreto 99.658/90 revogado pelo Decreto 9.373/18, que regulamenta os bens móveis no Âmbito da Administração Pública Federal. Por isso, todo o procedimento realizado pela universidade é com base nesses Decretos, ou seja,

assim como estabelecido, toda alienação pode ocorrer por meio de transferência de propriedade, venda, permuta ou doação. Dessa forma, antes da parceria da UFSCar com a Recicl@tesc, o procedimento praticado era de leilão (até 2011) dos equipamentos, e segundo o entrevistado UFSCar 1, qual o percurso percorrido por tais bens assim como a sua destinação, após o encerramento do processo.

Após 2011, a UFSCar mudou seu procedimento de leilão para doação com a parceria com a Recli@tesc, sendo que apenas em 2016 esses bens foram recolhidos do depósito da Universidade. Dessa maneira, por meio da “alocação de resíduos dos equipamentos de informática ao Recicl@tesc, a UFSCar passa a assegurar destino adequado dos materiais inaproveitáveis” (documento fornecido pela Universidade do Parecer da Comissão Especial – Portaria GR 1831/16). Segundo o Plano de desenvolvimento institucional da UFSCar de 201345, uma das diretrizes era de “Implantar sistema de gestão eficiente de resíduos urbanos, encaminhando os resíduos sólidos e materiais eletrônicos para reciclagem, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos”.

As três Universidades seguem a regulação buscando apontar que todas as empresas que recolhem seus bens patrimoniados precisam ter licença de operação da CETESB e cadastro técnico do IBAMA, como pré-requisitos para seus REEE serem direcionados a eles. Contudo, a ausência de um acordo setorial nacional, por anos, contribuiu para que as Universidades tivessem atitudes menos ambientalmente corretas ao longo do tempo, considerando principalmente a UNICAMP e a UFSCar, enquanto a USP implantou o CEDIR, considerado exemplo para a sociedade e para outras IES, mas sendo pouco valorizado pela instituição após os cortes de verbas.

O Capítulo 2 desta dissertação trouxe exemplos de gestão de REEE em universidades internacionais e assim, como mencionado anteriormente por Babbitti et al (2012) referente aos EUA, ele afirma que a legislação federal necessita ser melhor definida com relação aos eletroeletrônicos, para que as IES possam ter uma referência de práticas para destinar o e-lixo produzido dentro da própria universidade. Tal afirmação também pode aplicar-se à realidade brasileira, pois com a ausência de um acordo setorial nacional para esses resíduos, contribuiu para que as universidades tivessem atitudes menos ambientalmente corretas ao longo dos anos, principalmente no caso da UNICAMP e a UFSCar.

45 Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI - Disponível em: http://www.pdi.ufscar.br/diretrizes-gerais-

O CEDIR, assim como o projeto 3RC, assim como cita Davis e Wolski (2009) sobre a Universidade de Griffith na Austrália, se sobressai à legislação do país, pois tanto na Austrália quanto no Brasil, ainda não havia uma regulação nacional especificamente para os eletroeletrônicos. A atitude mais sustentável nasceu de dentro dessas Universidades com essas práticas mencionadas.

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