• Nenhum resultado encontrado

Legislação europeia da rotulagem de produtos alimentares

No documento TESE DE MESTRADO EM MARKETING (páginas 36-40)

PARTE I: REVISÃO DA LITERATURA

CAPÍTULO 4 DIFERENCIAÇÃO E PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA

4.4 Legislação europeia da rotulagem de produtos alimentares

A diretiva 2000/13/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de março de 2000, relativa à aproximação das legislações dos Estados-Membros no que diz respeito à rotulagem, apresentação e publicidade dos géneros alimentícios, inclui disposições gerais em matéria de rotulagem, proibindo de uma forma geral, a utilização de informações que induzam em erro o comprador ou que atribuam propriedades medicinais aos alimentos. A designação gourmet embora contenha um conjunto de estímulos associados capazes de induzir a compra, não figura nesta diretiva, restringindo esta a sua abrangência apenas às alegações nutricionais e de saúde. Deste modo as marcas são livres de colocar a alegação gourmet sem que esta possa ser criticadas do ponto de vista legislativo.

Todavia, fazendo um paralelismo com esta legislação, que pressupõe que todas as alegações presentes na rotulagem em matéria de nutrição ou saúde têm de ser cientificamente fundamentadas, também é de exigir que a rotulagem dos produtos da categoria gourmet corresponda efetivamente a uma qualidade de excelência, não lesando o consumidor unicamente pelo efeito simbólico e emocional que o produto transmite.

Se mais uma vez recorrermos ao exemplo do mercado do Reino Unido, verificamos que este assunto tem sido alvo de discussão por diversas entidades, encontrando-se diversas guidelines relativas ao uso de alguns designativos como: “handmade”, “style”, “farmhouse”, “premium”, “finest”, “best”, “quality” ou “selected”. Estas guidelines embora não sejam vinculativas, abordam a problemática relativa às expectativas criadas nos consumidores, em resultado do uso destas palavras nas embalagens de certos produtos. Esta ideia é igualmente suportada por um estudo realizado em 2004 pela Associação de Consumidores Australiana Choice, no qual a perceção de 800 consumidores sobre uma listagem de palavras (e.g., premium, finest, best, quality, selected) sugere um forte impacto sobre as expectativas de qualidade do produto, induzindo no consumidor a ideia de elevada qualidade e elevados níveis de controlo.

4.4 Síntese conclusiva

A revisão da literatura revela que a decisão de compra de produtos alimentares é complexa ao ponto dos benefícios emocionais prevalecerem sobre os benefícios funcionais. Os consumidores escolhem os produtos de acordo com os atributos que mais valorizam e que funcionam como ferramentas para alcançar os seus desejos finais (Barrena e Sanchez 2009).

Atributos extrínsecos como a embalagem, constituem importantes ferramentas de diferenciação no local de compra, de tal forma que, um fabricante que tenha por objetivo alcançar um segmento de mercado muito específico, deve procurar conhecer a hierarquia das características que mais são valorizadas pelo consumidor (Barrena e Sanchez 2009).

Neste enquadramento encontram-se os produtos alimentares da categoria gourmet. O desconhecimento do consumidor relativamente ao produto e a elevada expectativa gerada pelo seu marketing mix, implicam que o produto deva que justificar o preço prémio, correspondendo às expectativas e gerando satisfação, para que a compra se repita.

Por outro lado, como não há uma definição clara, e muito menos legal, para a designação gourmet, é necessário desenvolver uma atitude credível perante os consumidores, sendo igualmente pertinente conhecer o controlo que produtores e distribuidores fazem e exigem sobre estes produtos.

CAPÍTULO

5

PRODUTOSALIMENTARESGOURMETDE MARCAPRÓPRIA

5.1 Introdução

A primeira parte deste estudo pretendeu fazer um enquadramento teórico sobre o processo e decisão de compra de produtos alimentares e em particular de categoria gourmet. Prossegue-se agora nos próximos capítulos uma abordagem sobre a estratégia de penetração dos grupos de distribuição no segmento premium, com a oferta de marca própria na categoria gourmet.

Durante algum tempo defendeu-se que uma estratégia para as marcas de fabricante fazerem frente às marcas da distribuição seria pelo aumento da qualidade, distanciando os seus produtos pela qualidade e preço (Anselmsson, Johansson e Persson 2007). Contudo, o tempo veio a revelar que as marcas de distribuição viriam a contrariar essa tendência apostando também elas, na qualidade das suas marcas próprias, aproximando-se cada vez mais das marcas de fabricante. As marcas próprias deixaram de concorrer através da simplicidade e baixo preço, procurando, em vez disso, reforçar a confiança nos seus produtos através de uma qualidade similar a melhor preço (Burt 2000, Laaksonen e Reynolds 1994).

Mais recente é a estratégia de extensões de gama marca própria ao segmento gourmet, com o objetivo de captar, junto do público de massas, um público que quer experiência superior a preços acessíveis. Trata-se de atingir um perfil de consumo sob o qual os segmentos de classe média procuram paradoxalmente produtos de massas baratos e produtos de prestígio a preços altos, mas não proibitivos (Silverstein e Fiske 2008).

Como referido por muitos autores que estudaram o fenómeno trading up em mercados internacionais, os grandes pilares deste modelo de negócio assentam na ideia de que, apesar de mais caros, estes produtos não o são,

para uma franja da classe média e, como tal podem gerar um interessante volume de vendas e uma boa margem de lucro. Recorrendo à citação de Yeoman e McMahon-Beattie (2006) para ilustrar este fenómeno: “a partir do momento em que o poder de compra das classes médias aumentou, a luxúria tornou-se mais comum, e poderemos até designá-lo por um luxo acessível”. Os consumidores começaram a negociar a níveis mais altos demonstrando alguma disponibilidade a pagar mais por produtos que lhes ofereçam um maior nível de qualidade, sabor e satisfação, comparativamente com outros produtos da mesma categoria (Yeoman e McMahon-Beattie 2006).

Uma vez conhecidos estes potenciais consumidores, o desafio para os profissionais de marketing da grande distribuição passa por desenvolver capital de marca ou, criar valor no produto marca própria, para o qual o consumidor esteja disposto a pagar um valor extra (Yeoman e McMahon-Beattie 2006). Significa isto que os distribuidores têm que conhecer os fatores determinantes na perspetiva do consumidor, para criar o “valor extra” no produto, de acordo com o acréscimo que o consumidor está disposto a pagar.

Antes de avançar nesta abordagem segue-se um enquadramento teórico ao tema “marcas próprias”.

No documento TESE DE MESTRADO EM MARKETING (páginas 36-40)

Documentos relacionados