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Uma das primeiras preocupações com as nossas reservas naturais relacionadas a construções de reservatórios foi com a proteção da migração dos peixes. Influenciados pelas medidas americanas na construção de escada de peixes em represas para garantir a subida dos salmões, cuja pesca representava um valor de grande importância na economia do país, o Governo do Estado de São Paulo sancionou a Lei 2.250 de 28 de dezembro de 1927, regulamentada pelo Decreto nº 4.390, de 14 de Março de 1928 que determinava no Artigo 21

º

a construção de escadas para migração dos peixes em represas e reservatórios paulistas.

Desde a década de 30 quando o Governo Federal sancionou o Código das Águas e depois o primeiro Código de Pesca, Decreto-lei 794 de 19 de Outubro de 1938 que inclui os preceitos para a proteção da migração reprodutiva dos peixes ao longo dos rios represados.

Em 1965 o Congresso Nacional decreta o Código Florestal através da Lei 4.771 de 1965 que determina a área de preservação permanente situada ao longo dos rios, lagos natural e artificial. No caso dos reservatórios das usinas hidrelétricas a lei se aplica na área do entorno do reservatório, onde a área destinada à área de preservação permanente será determinada em função da largura do reservatório.

Em 1969 foi publicado no Boletim Informativo Nº 4 da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza a necessidade da criação em cada empresa vinculada ao MME - Ministério de Minas e Energia de um Setor de Recursos Naturais, com o objetivo de aplicar as modernas técnicas de conservação da natureza e dos recursos naturais nas áreas de jurisdição do MME.

Na década de 1970 o Brasil se deparou com um problema muito sério com a falta de planejamento para a preservação ambiental nas construções das usinas hidrelétricas como o caso da usina hidrelétrica de Ilha Solteira, do Complexo de Urubupungá. Na formação do reservatório não foram previstos medidas para a retirada dos animais que habitavam nessa área, causando o confinamento dos mesmos em pequenas ilhas não alagadas. Para resolver o problema foi solicitada, em caráter de urgência, a orientação da Fundação Parque Zoológico de São Paulo para o salvamento da fauna silvestre daquela região (MÜLLER, 1995).

Para SÁNCHEZ (2008) os estudos ambientais produzidos no Brasil para alguns projetos de grandes usinas hidrelétricas na década de 1970, em grande parte foram realizados por

influências externas e não por pressões internas no país para a preservação ambiental, como o caso do estudo do impacto ambiental da usina hidrelétrica de Tucuruí. O "estudo de impacto ambiental- (EIA)" não influenciou em nada na execução do projeto em 1977, pois as obras já haviam sido iniciadas no ano anterior da elaboração do estudo. Este estudo foi feito por apenas um profissional que basicamente compilou dados disponíveis e identificou os principais impactos ambientais. Entretanto, no meio acadêmico já se iniciavam vários estudos e pesquisas sobre impactos ambientais de grandes obras.

Somente em 1981, a avaliação de impactos ambientais (AIA) foi incorporada à legislação brasileira com a aprovação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, fortalecida posteriormente com o art. 225 da Constituição Federal de 1988:

Art. 225 - Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencialmente à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Publico e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e as futuras gerações.

1º Para assegurar a efetividade deste direito, incumbe ao Poder Público: >...@

IV - exigir, na forma da lei para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade (BRASIL, 2008, p. 139).

O Plano de Conservação e Usos Múltiplos do Reservatório da UHE Lajeado, elaborado em 2003, cumpre uma das exigências da Resolução CONAMA nº 302/2002 (CONAMA, 2012, p 70) e da Instrução Normativa do IBAMA nº184/2008 (IBAMA, 2008), que busca compatibilizar o aproveitamento das potencialidades do reservatório à preservação do entorno, utilizando, principalmente, o zoneamento da faixa de proteção do reservatório. Esta área, de acordo com a resolução acima citada, constitui área de preservação permanente (APP), respeitando a largura de trinta metros para os reservatórios artificiais situados em áreas urbanas consolidadas e cem metros para áreas rurais.

A legislação brasileira de proteção ambiental teve o inicio a partir do SEMA-Secretaria do Meio Ambiente em 1973, como resultado da participação do Brasil na Conferência de Estocolmo - UNEP em 1972, porém outras leis foram fundamentais para a composição da legislação, tais como: Código de Águas (ANA), de 1934; Código Florestal, de 1935; Decreto- lei de proteção ao Patrimônio Histórico, Artístico e Arqueológico (IPHAN) de 1937; Código de Pesca (SUDEP), de 1938; Estatuto da Terra, de 1964 e Lei de proteção à fauna (IBAMA), de 1967 (SOBRAL et al., 1994).

Em 2002 a legislação brasileira sanciona a lei que se aplica diretamente aos reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno, como a Resolução nº 302 de março de 2002, que dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de áreas de preservação

permanente de reservatórios artificiais. Em 2010 foi sancionada a Lei nº 12.334, que estabelece a política nacional de segurança de barragens.

De acordo com MÜLLER (1995) um ano depois de firmada a Declaração de Estocolmo, na cidade Dubrovnik, Croácia, ocorreu a 11º International Congress on Large

Dams (1973), onde um dos temas abordados foi "As Consequências da Construção de

Barragens sobre o Meio Ambiente". Esse evento se tornou um marco na história, pois pela primeira vez s foi discutido o impacto ambiental causado pelas construções de barragens. No mesmo ano em Madri na Espanha, foi realizado outro congresso onde foram apresentados trabalhos que abordavam os impactos ambientais positivos e negativo causados pela construção de reservatório de hidrelétrica.

De acordo com Takeuchi (2009), o despertar ecológico em relação as usina hidrelétricas surgido na década de 1970 está relacionado com o número de represas construídas naquele momento ao redor do mundo, e como também, aos desastres ambientais ocorridos em barragens no mesmo período. Até 1900 já haviam 427 barragens construídas em todo mundo e cerca de 29.900 barragens foram construídas durante 1951-1982.

Ainda segundo Takeuchi (2009), os grandes reservatórios construídos desde 1950 até a década de 70, principalmente os reservatórios de usinas hidrelétricas tais como, a usina de Bratsk e Krasnoyarsk (Russia), Akosombo (Africa), Kariba (Zâmbia) e Cahora Bassa (Moçanbique), são reservatórios de baixa eficiência energética e de grande impacto ambiental. Nos países desenvolvidos, a preocupação ambiental é crescente sendo que não existem novos reservatórios em construção e mesmo os existentes, como o caso dos reservatórios de Elwha (1913) e Glines (1927), foram derrubados em setembro de 2011 para restaurar o fluxo original do rio e restabelecer o habitat natural dos peixes no rio Elwha, em Washington, USA.

Da década de 70 até os dias de hoje, vários eventos têm sido realizados pelo mundo com o intuito de abordar e aprofundar o conhecimento dos impactos dos reservatórios sobre os recursos naturais buscando desenvolver medidas preventivas e mitigatórias para os efeitos impactantes das grandes barragens ao meio ambiente e à sociedade. Baseado neste tema, formada em 1995 com o apoio da ONU e da UNESCO a IHA- International Hydropower

Association que também tem como objetivo promover e divulgar boas práticas e

conhecimento da energia hidrelétrica sustentável como fonte de energia renovável.

Juntamente com o Brasil mais 70 países são membros da IHA, que promove bienalmente o "World Congress on Advancing Sustainable Hydropower". No ano passado (2011) este evento foi realizado no Brasil na cidade de Foz do Iguaçu com a participação dos 71 países, representantes da indústria de energia hidrelétrica, que são membros da IHA,

incluindo utilitários e operadores, bem como representantes das comunidades sociais e organizações ambientais não-governamentais (ONGs), comunidades indígenas, instituições financeiras multilaterais e centros de pesquisa.

Neste congresso (IHA, 2011) foi lançado o Protocolo de Avaliação de Sustentabilidade da Hidroeletricidade que avalia novos projetos em quatro áreas vitais: social, econômica, ambiental e técnica. Em parceria com organizações nacionais e internacionais em conjunto com as construtoras de usinas hidrelétricas e indústrias de energia hidrelétrica que são atualmente responsáveis por 16% de toda a eletricidade produzida no mundo e 83% da energia elétrica no Brasil. O Protocolo de Avaliação de Sustentabilidade de Hidrelétricas tem como meta avaliar novos projetos em quatro áreas vitais: social, econômica, ambiental e técnica.

A IHA tem parceria com organizações como Transparência Internacional, WWF,

Oxfam e Nature Conservancy, com o intuito de despertar mais engajamento no setor privado,

para que ele se comprometa em projetos que possam ocasionar tenham o menor impacto possível sobre o ecossistema e sobre as comunidades sociais.

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