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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.3 Aspectos Legais dos Recursos Hídricos Visando o Reaproveitamento de Efluentes

3.3.3 Legislação Internacional – Exemplo da Legislação Norte Americana

A USEPA, United States Environmental Protection Agency, órgão de Proteção Ambiental Federal dos Estados Unidos, regulamenta o tratamento geral dos efluentes e a qualidade da água para consumo humano. Em 1992, a USEPA desenvolveu um documento técnico intitulado “Guidelines for Water Reuse” tratando de recomendações para o reaproveitamento de águas residuárias.

Esse documento aborda questões sobre a substituição de fontes, considerações sobre os tipos de tratamento e qualidade da água, e as questões técnicas sobre o planejamento e aplicação dos sistemas de reúso. Também relata todos os tipos de reúso conhecidos e utilizados no mundo e traz alguns estudos de caso dentro e fora dos Estados Unidos, e apresenta limites bem especificados para os indicadores de contaminação biológica mostrados no Quadro 5.

Quadro 5. Critérios de Proteção contra microorganismos patogênicos em reúso de águas.

Fonte: USEPA, 1992 apud Blum, 2003 e Tchobanoglous, 1991.

Tipo de reúso Requisitos Mínimos de segurança bacteriológica para água tratada

Padrões Tratamento Monitoramento

Urbano Col.f.: ausentes

Tub. Max: 2 UNT CRL: mínimo 1mg/L Secundário + Filtração + Desinfecção Coli: diário. Turb.: contínuo CRL: contínuo Agrícola para irrigação de

plantas consumidas cruas

Col.f.: ausentes Tub. Max: 2 UNT CRL: mínimo 1mg/L Secundário + Filtração + Desinfecção Coli: diário. Turb.: contínuo CRL: contínuo Agrícola para irrigação de

plantas consumidas cozidas

Col.f.: max. 200/100mL CRL: mínimo 1mg/L

Secundário + Desinfecção Coli: diário.

CRL: contínuo Agrícola para irrigação de

plantas não comestíveis

Col.f.: max. 200/100mL CRL: mínimo 1mg/L

Secundário + Desinfecção Coli: diário.

CRL: contínuo Recreacional para

enchimento de lagoas de contato primário

Col.f.: ausentes Tub. Max: 2 UNT CRL: mínimo 1mg/L Secundário + Filtração + Desinfecção Coli: diário. Turb.: contínuo CRL: contínuo Recreacional para enchimento de lagos paisagísticos Col.f.: max. 200/100mL CRL: mínimo 1mg/L

Secundário + Desinfecção Coli: diário.

CRL: contínuo Industrial para resfriamento

sem recirculação

Col.f.: Max. 200/100mL CRL: mínimo 1mg/L

Secundário + Desinfecção Coli: diário.

CRL: contínuo Industrial para resfriamento

com recirculação

Variáveis, dependendo da taxa de recirculação.

Secundário + Desinfecção. Pode ser necessário incluir coagulação química e filtração.

Coli: diário. CRL: contínuo

Industrial para outros usos Depende dos tipos de uso

Reúso para melhoria ambiental (paisagismo e preservação da vida selvagem)

Col.f.: Max. 200/100mL Secundário + Desinfecção.

Pode ser necessário incluir uma decloração.

Coli: diário. CRL: contínuo

Recarga de aqüíferos subterrâneos para uso não potável

Variáveis dependendo do local e dos usos da água

Primário para infilt./percol. Primário + Secundário para injeção.

Pode ser necessário incluir tratamento adicional, dependendo do caso.

Depende do tipo do tratamento dos usos.

Recarga de aqüíferos subterrâneos para uso potável com injeção direta

Deve atender aos padrões de

potabilidade após a

percolação da água pela zona insaturada.

Secundário + Desinfecção. Dependendo do caso, pode ser necessário incluir filtração e tratamento avançado. Coli: diário. CRL: contínuo Potabilidade: 3 em 3 meses. Col. F.: ausentes Turb.: Max 2 UNT CRL.: mínimo 1mg/L Padrões de potabilidade Secundário + Filtração + Desinfecção + tratamento avançado. Coli: diário. Turb.: contínuo CRL: contínuo Potabildade: 3 em 3 meses

Aumento de vazão para abastecimento público.

Col. F.: ausentes Turb.: Max 2 UNT CRL.: mínimo 1mg/L Padrões de potabilidade Secundário + Filtração + Desinfecção + Tratamento avançado. Coli: diário. Turb.: contínuo CRL: contínuo Potabilidade de 3 em 3 meses.

No entanto, apesar das recomendações, nos EUA cada estado possui sua própria regulamentação, bem específica, tratando dos assuntos ligados ao meio ambiente, saúde e segurança da população, incluindo o reúso e reciclagem de águas (ASANO, 2002).

No estado da Califórnia, por exemplo, por se encontrar em área de grande escassez de recursos hídricos, as cidades foram forçadas a desenvolver tecnologias para suprir a demanda de água. O Water Code, inserido no California Code of Regulations, trata além de toda a questão da água, do reaproveitamento e reúso de água residuária. Baseado no Water

Reuse Law de 1974, nesse código são aprovados usos para irrigação de praças, áreas de

recreação, pátios escolares, paisagismo residencial, plantações, campo de golfe, áreas públicas e pastos; regulamenta também o uso para atividades recreacionais como pesca, navegação, piscicultura; e ainda, para usos em processos industriais, lavanderias comerciais e construção civil. Por questões de segurança e saúde, como já exposto, não são permitidos os usos potáveis da água de reúso.

Se for aproximada a legislação para a regulamentação das cidades, serão encontrados códigos tão específicos quanto os dos estados. A cidade de San Diego é um grande exemplo disso, já citada dentro das experiências encontradas, possui uma legislação específica Rules and Regulations for Recycled Water Use and Distribution within the City of

San Diego.

Mesmo com uma disponibilidade hídrica superior aos demais estados dos EUA, a Virginia também traz exemplos do caminho legislativo para implantação do reaproveitamento de efluentes como fonte de recurso hídrico. Em 2002, iniciou-se o primeiro rascunho para a regulamentação do Reúso e Reaproveitamento de águas residuárias, desenvolvida, segundo VA AWWA (2003), com o propósito de encorajar e promover a utilização de águas residuárias a fim de proteger o meio ambiente e estabelecer requerimentos para a proteção da saúde pública também.

Ainda que a estrutura desse rascunho de regulamentos seja baseada em outros, tais como Virginia Pollution Abatement que trata da diminuição da poluição e a Virginia

Pollutant Discharge Elimination System que regulamenta sistemas para a minoração da

descarga de poluentes, ela não estabelece padrões para as técnicas envolvidas no reúso e reaproveitamento de águas. Apenas exige níveis de tratamento para cada uso determinado, visando a proteção da saúde pública e do meio ambiente (VA AWWA, 2003).

Com essa análise, pode-se perceber que mesmo dentro de um país com o conceito de reúso bem delimitado, há diferenças entre as leis de cada estado oriundas da maior ou menor necessidade de se ter a água de reúso como fonte de abastecimento. E, como

mostram os estudos brasileiros, as leis sobre reúso caminham como a legislação americana, surgindo de uma releitura da legislação existente, especificando conforme emerge a necessidade de regulamentação do uso de novas tecnologias.

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