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IRINEÓPOLIS

4. SISTEMAS DE PRODUÇÃO E LEGISLAÇÃO APÍCOLA: Divergências e implicações das normas para a produção orgânica de mel

4.2. A LEGISLAÇÃO PARA A PRODUÇÃO APÍCOLA

4.2.3. Legislação para a apicultura convencional

Neste item procuramos fazer uma síntese dos comentários e análises feitos por

SORIANI (2002) e REGIS (2003), que tratam das várias legislações que regem os sistemas apícolas e seus produtos.

A legislação brasileira que regulamenta o sistema de produção apícola teve seu início em 1952, com a publicação do RISPOA- Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, através do Decreto 30.691 de 29 de março de 1952, que regulamenta todas as principais diretrizes referentes a produtos de origem animal, incluindo cárneos, lácteos, pescados e produtos apícolas e institui o DIPOA – Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal e o SIF – Serviço de Inspeção Federal, departamentos do Ministério da Agricultura responsáveis por tais produtos (SORIANI, 2002). Em 1962, ocorre uma revisão do RISPOA, através do Decreto 1.255 a fim de aprimorar e melhor qualificar sanitária e tecnicamente o parque industrial de produtos de origem animal no Brasil, constituindo-se em fonte de orientação e ensinamentos para a indústria, profissionais e instituições do setor do ensino e pesquisa (REGIS, 2003).

Em seu Título II, capítulo V, o RISPOA faz a clara distinção entre apiário - local destinado à produção de mel e seus derivados, e entreposto de mel e cera de abelhas - local destinado ao recebimento e industrialização desses produtos. Percebe-se nesse ponto que o regulamento restringe-se apenas ao mel e a cera de abelha, não contemplando os demais produtos apícolas. O Título X, capítulo I, trata exclusivamente de mel, porém já foi quase que totalmente revogado por legislações mais recentes, assim como o capítulo II do mesmo título, que trata de cera de abelhas. O RISPOA regulamenta também as instalações dos estabelecimentos e suas condições de funcionamento, além de instituir modelos de carimbos oficiais obrigatórios e dar outras orientações sobre rotulagem (SORIANI, 2002).

No entanto, o mel, a cera e outros produtos das abelhas tiveram seu documento normativo mais específico, em complementação à Lei N.° 1.283/50 e ao Decreto N.° 30.691 editado através da Portaria N.° 001/1980 da Secretaria de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, que institui as normas higiênico sanitárias e tecnológicas para mel, cera de abelha e derivados, abrangendo as condições de localização do

apiário e do entreposto de mel e cera de abelhas; as características da construção; as características e natureza dos equipamentos e das seções; o abastecimento de água; a rede de esgotos; as dependências auxiliares; as particularidades da produção; a embalagem e rotulagem; o transporte da matéria prima e dos produtos; a higiene das dependências, dos equipamentos e do pessoal; o controle de qualidade, as análises e os índices respectivos; os critérios de inspeção e as disposições gerais. A mesma foi revista e modificada em 1985, através da Portaria SIPA N.° 006/85 (REGIS, 2003).

Mas foi somente em 1997 que se deu o primeiro grande passo no sentido de regulamentar os produtos apícolas, com a publicação da Portaria N.º 367 de 04 de setembro de 1997, que aprovou o Regulamento Técnico para a Fixação de Identidade e Qualidade de Mel, com base em normas aprovadas pelo Mercosul. Este regulamento foi revisto e republicado com algumas alterações importantes como Instrução Normativa N.º11 de 20 de outubro de 2000, e permanece em vigência atualmente (SORIANI, 2002).

Com o crescimento do mercado de outros produtos apícolas, surgiu a necessidade de regulamentar também tais produtos. Assim, após um longo período de discussões e reuniões técnicas, em 19 de janeiro de 2001 foi publicada a Instrução Normativa N.º 03, que aprova os Regulamentos Técnicos para a Fixação de Identidade e Qualidade de Apitoxina, Cera de Abelhas, Geléia Real, Geléia Real Liofilizada; Pólen Apícola, Pólen Apícola Desidratado; Própolis e Extrato de Própolis. A publicação desses regulamentos representa um marco histórico no setor e cria parâmetros de qualidade mínimos que devem ser seguidos por todos os produtores de derivados apícolas (SORIANI, 2002).

Outras legislações regulamentam o setor apícola e devem ser consideradas com grande atenção, entre elas o Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Elaboradores / Industrializadores de Alimentos (Portaria N.º 368 de 04 de setembro de 1997), que, complementando o que dispõe o RISPOA, institui as Boas Práticas de Fabricação na produção de alimentos. Essa legislação é complementada por vários outros regulamentos federais, estaduais e municipais, que trazem importantes informações sobre as condições sanitárias dos estabelecimentos (SORIANI, 2002).

4.2.3. Legislação para a apicultura orgânica

Se a apicultura convencional há muito tempo feita no país, só recentemente vem recebendo atenção por parte dos legisladores, órgãos governamentais e regulatórios, o sistema

de produção apícola orgânico, que é mais recente ainda, não é contemplado por leis específicas tanto em nível federal como em nível estadual (Santa Catarina).

A apicultura orgânica é praticada com base em leis para a produção orgânica de alimentos, principalmente com base na legislação européia (Regulamento sobre produtos e produções orgânicas da Comunidade Européia – CEE 2092/91). Este regulamento apresenta em seu Anexo 1, Capítulo C (ANEXO 04), princípios e normas específicas para a prática da apicultura. No Brasil, temos a Instrução Normativa N.° 007, de 17 de maio de 1999 (ANEXO 05), que, com base na Portaria MA n.° 505 , de 16 de outubro de 1998, dispõe sobre as normas para a produção de produtos orgânicos vegetais e animais. Mais recentemente temos a Lei Federal N.°10.831, de 23 de dezembro de 2003 (ANEXO 06) que estabelece o sistema orgânico de produção agropecuária, suas finalidades e dá outras providências. No entanto, não há nestas, uma especificação para o sistema de produção apícola. Em Santa Catarina, existe um boletim técnico elaborado pela Epagri e que traça algumas normas para a Apicultura Orgânica (EPAGRI, 2001) (ANEXO 07).

O que determina, sobretudo, os critérios para a produção orgânica de mel e outros produtos apícolas, é principalmente, diretrizes de certificadoras de produtos orgânicos. As principais certificadoras que possuem diretrizes para a produção de mel orgânico no Brasil são o IMO - Instituto de Mercado Ecológico, que é um departamento da Swiss Bio- Foundation, fundação sem fins lucrativos que visa dar suporte ao desenvolvimento da agricultura orgânica e a formação do consumidor, o IBD - Instituto Biodinâmico, que é um órgão brasileiro credenciado internacionalmente pela IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Moviments) e pelo DAP na Alemanha (Credenciadora de certificadoras que operam com o sistema ISO 65), a AAOCERT – Associação de Agricultura Orgânica Certificadora, a APAN - Associação de Produtores de Agricultura Natural, a qual é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1990, por um grupo de agricultores de Mairinque/SP.

Apresentamos na Figura 23 uma síntese das bases das normas das certificadoras e a seguir uma descrição sucinta destas legislações.

Figura 23: Normas que baseiam as diretrizes de algumas certificadoras.

As diretrizes estabelecidas para a certificação do mel orgânico pelo IMO e IBD (ANEXO 08 E 09) estão baseadas no Regulamento da Comunidade Européia CEE 2092/91 e nas normas básicas para produção e processamento de alimentos orgânicos da IFOAM. A

APAN tem suas normas (ANEXO 10) de produção padronizadas e embasadas na Instrução Normativa n.º 007 de 17 de maio de 1999, com base na Portaria – MAA n.º 505, de 16 de outubro de 1998, além das normas internacionais de produção da IFOAM (ANEXO 11). A

AAOCERT tem suas normas de produção (ANEXO 12) baseadas na IN nº 007 do MAPA

(Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

O boletim da EPAGRI (2001) é uma síntese de normas técnicas para a produção e processamento de mel orgânico em Santa Catarina, onde são apresentadas algumas diretrizes básicas elaboradas a partir de discussões e consultas bibliográficas.

4.3. DIVERGÊNCIAS E IMPLICAÇÕES DAS NORMAS PARA A PRODUÇÃO

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