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Legislação e regulamentação

Bases históricas

Segundo Ronald O. Hamburger, 2003, em [7], o propósito dos códigos de construção é promover e proteger o bem-estar público. Este propósito é alcançado definindo normas mínimas para os materiais de construção, consoante o tipo e a categoria de utilização da estrutura e pela quantidade de deformação tolerada pela carga de dimensionamento considerada. Por forma a evitar a diversidade de práticas de construção e dimensionamento, podendo levar ao colapso de estruturas mal dimensionadas ou construídas, é necessário os Governos converterem os códigos em padrões legais.

As disposições dos códigos de construção usualmente exigem o dimensionamento para que uma determinada carga cumpra dois objetivos fundamentais. O primeiro, estabelecendo um nível mínimo de resistência estrutural, objetiva promover uma baixa probabilidade de falha sob qualquer possível tipo de carregamento. O segundo, visa conservar o estado de serviço da estrutura, fornecendo rigidez suficiente, para prevenir deflexões ou fissuras na estrutura.

Os edifícios raramente colapsam completamente sob o efeito de ações permanentes, de sobrecargas, do vento ou da neve. As disposições construtivas dos códigos para resistência a sismos são únicas, contrariamente a disposições para outras condições de carga; isto significa que não se pretende que as estruturas sejam capazes de resistir às cargas de projeto dentro do domínio elástico ou quase elástico da resposta, i.e., algum nível de dano é permitido. Os códigos de construção a nível de resistência a sismos, visam que os edifícios apenas resistam a grande parte da carga, evitando danos de vidas humanas e, em particular, sem o colapso da estrutura ou criação de grandes riscos de queda de detritos.

As prescrições dos códigos de construção para resistência a sismos, geralmente podem ser assentes em três bases. Na base experimental, que consiste na observação de estruturas reais submetidas a sismos, desenvolvendo regras, de modo a evitar construções que exibam um desempenho negativo. Na base teórica, percebendo o comportamento das estruturas, através de análises e investigações laboratoriais, desenvolvida maioritariamente pela comunidade académica. E por fim a base onde impera a avaliação do engenheiro ou projetista, composta pela comunidade de dimensionamento de edifícios, viz., os engenheiros de estruturas nas diversas associações, e.g., a Structural Engineers Association of California (SEAOC), a American Society of Civil Engineers (ASCE), a Building Seismic Safety Council (BSSC), a Ordem dos Engenheiros (OE) e a Ordem dos Engenheiros Técnicos (OET) em Portugal, e outras associações ou grupos equivalentes.

Como referido no subcapítulo anterior, as primeiras disposições dos códigos de construção que regem o projeto de resistência a sismos, remontam a Lisboa, Portugal,

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resistência sísmica objetivavam a proibição de certos tipos de construção, que se observavam (base experimental) ter um mau comportamento a sismos, e exigiam o uso de determinadas técnicas e características de construção, que observadas proporcionavam um bom desempenho face aos sismos. Estas características continuam a ser uma parte importante dos códigos modernos. Nos inícios do séc. XX os códigos de construção por todo o mundo introduziram requisitos nas estruturas destinadas a resistir a sismos devendo ser dotadas de força resistente suficiente para resistir a uma força lateral especificada. Estes requisitos nos códigos modernos são conhecidos pelo método básico de dimensionamento e frequentemente designado por Força Lateral Equivalente (ELF).

Estes requisitos surgiram possivelmente pela primeira vez num código de construção publicado pela cidade de San Francisco, na sequência do grande sismo de 1906. Em Itália no ano de 1908, após o sismo de Messina, que causou a morte a 80 000 pessoas, uma comissão especial de engenharia e professores de engenharia foram nomeados pelo Governo de Itália, com o objetivo de formular as recomendações para requerimentos de construção. Na sequência do sismo de Great Kanto (Tóquio, Japão) em 1923, que causou a morte a 140 000 pessoas, verificou-se que que edifícios projetados pelo Engenheiro Tachu Naito, para resistir a forças horizontais, tiveram um melhor desempenho do que a maioria dos restantes. Assim, estabeleceu-se no Regulamento dos Edifícios Urbanos do Japão, que os edifícios deveriam ser dimensionados para forças horizontais iguais a um décimo do peso do edifício, constituindo isto um marco no progresso da regulamentação técnica na área da Engenharia Sísmica. Medidas do género, foram implementadas nos Estados Unidos no seguimento do sismo de Long Beach em 1933. Sendo obtidos os primeiros conjuntos de registos sísmicos, provenientes de uma rede de sismógrafos instalados.

De acordo com Lopes et al. [3], o primeiro regulamento moderno português que continha uma filosofia de projeto sismo-resistente das construções, o Regulamento de Segurança das Construções Contra os Sismos (RSCCS), foi publicado em 1958 fruto do debate técnico e do Simpósio sobre a Ação dos Sismos. As prescrições do RSCCS tinham como objetivo fundamental a proteção da vida humana, vindo em 1961 a incorporar o Regulamento de Solicitações em Edifícios e Pontes (RSEP). No ano de 1967 o RSEP foi complementado pelo Regulamento de Estruturas de Betão Armado (REBA), aplicado às estruturas construídas com este material, i.e., a maioria dos edifícios dessa época construídos em Portugal.

Com o apoio do LNEC e do Instituto da Meteorologia (IM), foi fundada em 1973, a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica, cujo principal objetivo é promover a prevenção e defesa contra os sismos em Portugal, representando-o nas instituições internacionais similares, a IAEE e a EAEE.

Em 1983, o RSEP foi substituído pelo Regulamento de Segurança e Ações em Estruturas de Edifícios e Pontes (RSA) e o REBA foi substituído pelo Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado (REBAP). Introduzindo um maior nível de rigor e exigência nos objetivos de cálculo sísmico de edifícios e pontes, aumentando consequentemente o nível de resistência contra os sismos.

Desde os finais da década dos anos 80, que está em desenvolvimento um conjunto de regulamentos para o setor da construção a nível europeu, os Eurocódigos, que em breve substituirão os regulamentos nacionais. O Eurocódigo 8 (EC8), vem complementar todos os regulamentos anteriores, a nível do projeto de estruturas de diversos materiais em

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Engenheiros portugueses do LNEC, por decisão da Comissão Europeias e do Comité Europeu de Normalização (CEN).

No período entre 1993 e 1998, foi realizada a publicação dos Eurocódigos como Pré- Normas Europeias. E só em 2002, se deu início à publicação pelo CEN dos Eurocódigos como Normas Europeias. No ano a seguir saiu uma recomendação da Comissão Europeia, com o objetivo de incentivar a adoção dos Eurocódigos pelos Estados-Membros. Em 2005 designou-se a Joint Research Centre (JRC) para apoiar a promoção e divulgação, a harmonização e o desenvolvimento futuro dos Eurocódigos; e em 2007 concluiu-se a publicação, como Normas Europeias, das 58 partes que estão na sua constituição. Em 2010 e 2012 publicou-se, respetivamente, o mandato M/466 ao CEN para iniciação do processo de evolução dos Eurocódigos Estruturais, e o mandato M/515 ao CEN para revisão dos Eurocódigos existentes e alargamento do âmbito dos mesmos. Em 2015 deu- se o lançamento do concurso para a constituição das equipas, com o objetivo de elaborar a próxima geração de Eurocódigos Estruturais. Prevendo-se que, a partir de 2016 possam vir a ser publicados, quer Partes adicionais aos Eurocódigos já existentes (nomeadamente, pela incorporação de normas ISO na “família” dos Eurocódigos), quer novos Eurocódigos. Por fim, o LNEC elaborou uma proposta de decreto-lei que visa revogar os regulamentos em vigor (o RSA, o REBAP e o Regulamento de Estruturas de Aço para Edifícios REAE), concedendo aos Eurocódigos enquadramento legal para a sua utilização em Portugal; aguardando atualmente aprovação da referida proposta.

Atualmente, a maioria dos países desenvolvidos desenvolve e reforça os seus próprios códigos de construção. As disposições sísmicas atualmente utilizadas em todo o mundo seguem, geralmente, um dos quatro modelos básicos: NEHRP Recommended Provisions, desenvolvida pela Building Seismic Safety Council nos Estados Unidos; Building Standards Law of Japan; New Zealand Building Standards Law e o Eurocódigo 8 [7].

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