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CAPÍTULO III – A PROTEÇÃO JURÍDICA DA

3.2. Legislação ambiental brasileira: a questão ecológica de proteção da natureza e o

3.2.4. Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação

A Lei no 9.985/2000 institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), adotado pelo Brasil como política de preservação e conservação da natureza e da diversidade biológica.

Segundo Cristiane Derani, o SNUC “é uma racionalização do espaço a partir de conhecimentos relevados pela ciência”.239

A instituição desse sistema não cria as unidades de Conservação, ele estabelece diretrizes para sua criação, bem como, define competências,

238

Entende-se por bacia hidrográfica toda a área de captação natural da água da chuva que escoa superficialmente para um corpo de água ou seu contribuinte. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: <http://www.sema.rs.gov.br/conteudo.asp?cod_menu=54> Acesso em: 01 jun. 2014.

239

DERANI, Cristiane. A Estrutura do sistema Nacional de Unidades de Conservação – Lei no 9..985/2000. In: BENJAMIN. Anônio Herman (Coord.). Direito Ambiental das áreas protegidas. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 234.

conteúdos e denominações. Objetivando uma recomposição da relação do homem com seu meio, e não, simplesmente impõe limites a atividade humana degradante.

Destarte, a Lei 9.985/2000 surge de um “conflito de interesses”, conforme explica Cristiane Derani, que de um lado encontra-se a atividade humana, degradante e ilimitada diante dos recursos naturais, sob o codinome do desenvolvimento, e de outro, a necessidade de se proteger áreas biodiversas, para garantir as bases naturais para todos.240 Tanto para a existência do homem, como para manter a atividade econômica, que está intimamente ligada a esta relação, é necessário que se preserve a biodiversidade e o meio ambiente.

A regência dos recursos naturais deve ocorrer de forma sustentável, ou seja, de forma que as modificações no meio ambiente reflitam diretamente o futuro desenvolvimento econômico e social. Sendo assim, percebe-se que o meio ambiente equilibrado ganha uma dimensão e consequente responsabilidade indiscutível atualmente.241

No Brasil, quando falamos em áreas protegidas, nos referimos aos espaços territoriais que têm a função de proteger e conservar a biodiversidade e a sociodiversidade e de garantir o uso sustentável de seus recursos naturais242. Ademias, o quadro atual de degradação da biodiversidade é fruto do comportamento da sociedade de muitos anos atrás. Entretanto, a proteção de alguns espaços com alta concentração de biodiversidade vem sendo delimitados como áreas de proteção ambiental desde 1872, com a instituição do Yellowstone NAtional Park, nas Montanhas Rochosas, Estados Unidos. Com Yellowstone “é que os primeiros genuínos Parques Nacionais e Estaduais, precursores do nosso modelo de unidade de conservação, foram estabelecidos em várias partes do globo (...)”.243

Assim sendo, destaca-se a primeira Unidade de Conservação oficialmente criada no Brasil, o Parque Nacional de Itatiaia244, em 1937. A categoria Parque é considerada a mais popular e antiga das Unidades de Conservação.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a princípio, demonstra-se eficaz e seguro na garantia da conservação da biodiversidade. Para tanto, a Lei pontuou incisos que descrevem conceitos245 imprescindíveis para a compreensão não só do funcionamento do

240 Ibid., p. 240. 241

Ibid., p. 240.

242 VELASQUEZ; Cristina. Áreas protegidas. In CAMPANILI, Maura; RICARDO, Beto (editores). Almanaque

Brasil Socioambiental, São Paulo: ISA, 2008, p. 261

243

BENJAMIN, Antônio Herman, Introdução à Lei do sistema Nacional de Unidas de Conservação. In: BENJAMIN. Anônio Herman (Coord.). Direito Ambiental das áreas protegidas. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 284.

244 O parque está localizado no Maciço do Itatiaia, na Serra da Mantiqueira na divisa entre os estados do Rio de

Janeiro e Minas Gerais.

245 Artigo 2º. BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII

Sistema Nacional de Unidades de Conservação como também para inúmeras questões relacionadas com o Meio Ambiente. Destaca-se a expressão “conservação da natureza”, definida como:

O manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral. 246

Importante também a definição de “manejo”, definido como “todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas”247. Por sua vez, preservação é descrito como “o conjunto de métodos,

procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais”.248

A atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora, são recursos ambientais que devem ser preservados. “A exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável”249

, é o conceito de uso sustentável.

O SNUC se sobressai como uma medida mitigatória da degradação ambiental pretende proteger o imprescindível recurso ambiental da biodiversidade. A America Latina e principalmente o Brasil, em especial pela sua extensão territorial, são apontados como países ricos em biodiversidade e por esse motivo necessitam de medidas de conservação da natureza

providências. Diário Oficial da União. Brasília, 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso em: 10 jun. 2014.

246 Artigo 2o, inciso II. BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,

III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso em: 10 jun. 2014.

247 Artigo 2o, inciso VIII. BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I,

II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso em: 10 jun. 2014.

248 Artigo 2o, inciso V. BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,

III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso em: 10 jun. 2014.

249 Artigo 2o, inciso VI. BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I,

II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso em: 10 jun. 2014.

para garantir as condições peculiares de seus recursos naturais. Aqui encontram amparo nas Unidades de conservação.

O conceito de unidades de conservação esta descrito no artigo 2º, inciso I, da Lei 9.985/2000:

“I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.250

As Unidades de Conservação são divididas em duas categorias, as Unidades de Conservação de Proteção Integral e as de Usos sustentável. Aquelas objetivam a preservação da natureza, sendo admitido o uso indireto de seus recursos, já a última, objetiva compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de seus recursos naturais, conforme explicação do artigo 7o da Lei n o 9.985/2000.

O artigo 8o especifica quais são as Unidades de Conservação de Proteção Integral, ou seja, cita a Estação Ecológica, a Reserva Biológica, o Parque Nacional, o Monumento Natural, e o Refúgio de Vida Silvestre. O Artigo 14 elenca os tipos de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, que são a Área de Proteção Ambiental, a Área de Relevante Interesse Ecológico, a Floresta Nacional, a Reserva Extrativista, a Reserva de Fauna, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável, e a Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Para fins desta pesquisa importa as definições da categoria Parque Nacional, das Unidades de conservação de Proteção Integral, pois se trata dos fatos reais que ocorrem no Parque Estadual do Turvo, cerne da pesquisa. Nesse sentido, define o artigo 11 da Lei no 9.985/2000, que o objetivo básico dos Parques Nacionais é a preservação dos “ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica”, ficando permitidas pesquisas e desenvolvimento de atividades voltadas para educação ambiental, como o turismo ecológico.

251

Nos parágrafos do próprio artigo 11, da Lei do SNUC são feitas ressalvas quanto às pesquisas e visitações nos Parques. A visitação pública fica sujeita as regras do plano de manejo e regulamento de cada unidade. Por sua vez, as pesquisas científicas dependem de

250 Artigo 2o, inciso I. BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,

III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso em: 10 jun. 2014.

251 Artigo 11. BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII

da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm> Acesso em: 10 jun. 2014.

autorização prévia da administração do Parque, também se sujeita as condições e restrições do regulamento e administração.

Convém, além disso, destacar que, há quase quinze anos o SNUC funciona, direcionando os locais de relevantes áreas naturais, com grande variedade de fauna e flora, de valor intrínseco, ecológico, genético, social e cultural, para serem preservados na forma de unidades de conservação.

Com o passar do tempo, a ocupação humana vem sucumbindo muitas áreas de extensa biodiversidade, principalmente na região dos trópicos. As pressões econômicas e o crescimento da população acabam por ilhar essas regiões, formando um mosaico de ambientes, divididos e incapacitados de regenerar-se a longo prazo.

No cenário do desenvolvimento econômico buscam-se alternativas para inserção do conceito de sustentabilidade e sociobiodiversidade nas relações humanas, objetivando a preservação da vital biodiversidade, começando pelo estabelecimento da proteção a locais como o Parque Estadual do Turvo.

No viés da sociobiodiversidade, a biodiversidade, compreendendo a total variedade de formas de vida na Terra, é uma das propriedades fundamentais da natureza, devendo ser preservada porque é imprescindível para o equilíbrio e estabilização dos ecossistemas. A própria decomposição da palavra indica que devemos preservar a multiplicidade da vida, pois “Bio” significa vida e “diversidade” significa variedade.

3.3 A decisão judicial de suspensão do processo de licenciamento ambiental da UHE

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