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As leishmanioses são comuns na bacia mediterrânica e conhecidas desde o século XIX. As principais espécies de Leishmania que se encontram na bacia mediterrânica são L. infantum, L. major e L. tropica. L. infantum é responsável pela LV e está distribuída por todo o Mediterrâneo, afectando humanos e cães, sendo o cão o principal reservatório. L. major causa LC e está distribuída por todo o Norte de África e Médio Oriente, tendo várias espécies de roedores como reservatório. Também L. tropica está presente no Médio Oriente, Norte de África e em algumas regiões do Sul da Grécia, sendo responsável por LC antroponótica. Em alguns países, como a Tunísia, Marrocos e Israel, podem encontrar-se as três entidades (Gradoni et al., 1984).

Os primeiros registos são da Grécia, onde, actualmente, as duas formas da doença, LV e LC, estão presentes. O principal agente etiológico da LV é L. infantum, (Papadopoulou et al., 2005). De 1994-2001 Papadopoulou et al. (2005) observaram, na região noroeste da Grécia, uma prevalência de leishmaniose nas populações humanas sintomática e assintomática de 12.6% e 0.5%, respectivamente.

Relativamente aos países do Médio Oriente, a Turquia é um dos países em que, desde há muito, se conhecem casos de LV em adultos, crianças e cães causada por L. infantum e LC antroponótica causada por L. tropica, nas regiões oeste e sudeste, respectivamente. De 2000 a 2005 foram reportados 183 casos de LV e 16162 de LC, tendo a leishmaniose canina (Lcan) uma prevalência global de 15,8% (Dujardin et al., 2007). Na Síria foi já detectada uma elevada percentagem de cães infectados por L. infantum (Dereure et al., 1998), e nos distritos de Aleppo e Damasco L. tropica e L. major são, respectivamente, endémicas (Khiami et al., 1991; Tayeh et al., 1997). Em Israel, a maioria dos casos de LC tem como agente etiológico L. major. Recentemente foi descrito um novo foco de LC causada por L. tropica em Tiberias e nas regiões do Norte de Israel (Shani-Adir et al., 2005). Na Tunísia, ocorrem casos de LC em focos antigos, devido a L. major e L. infantum (Zakraoui et al., 1995; Chaffai et al., 1988). Na região Norte, ao contrário do carácter esporádico da LC causada por L. infantum MON- 1 e MON-24, tem-se registado um aumento considerável no número de casos (Aoun et al., 2000; Belhadj et al., 2003). Desde 1995 que em Taza, no Norte de Marrocos, se começou a observar um foco emergente de LC; até então a leishmaniose ocorria

essencialmente no Sul do país causada por L. major e L. tropica (Guessous-Idrissi et al., 1997). Num estudo efectuado no Líbano, entre 1993 e 1997, observou-se uma prevalência de LC de 0.18% em áreas rurais e de 0.41% em áreas urbanas, enquanto que a LV era praticamente inexistente em ambas as zonas (Nuwayri-Salti et al., 2000).

No continente Europeu, a Espanha, França, Itália e Portugal, apresentam um quadro semelhante relativamente às leishmanioses. Tanto as populações humanas como caninas são infectadas por L. infantum. Nestes países a LV é mais frequente que a LC. Em Espanha, a distribuição geográfica de L. infantum não é homogénea, no entanto a transmissão parece atingir todo o país excepto a região noroeste e as ilhas Canárias. Algumas regiões de Espanha são consideradas focos endémicos como é o caso da Costa do Sol e Ilhas Baleares. Neste país o parasita apresenta um elevado polimorfismo enzimático, no entanto, o zimodeme MON-1 surge com maior frequência, ocorrendo em 42 % dos imunocompetentes e em 44,8% dos imunodeprimidos (Chicharro et al., 2003). Relativamente aos países do Sul da Europa, Espanha é o país onde estão declarados a maioria dos casos de co-infecção com VIH (57,9%), sendo as cidades com mais casos Barcelona, Granada, Madrid, Sevilha e Palma de Maiorca (Desjeux & Alvar, 2003). O cão é considerado o principal reservatório doméstico. Um estudo relativamente recente realizado na Ilha de Maiorca (Baleares) revelou uma prevalência de Lcan de 67%, tendo por base os animais seropositivos e/ou os animais com medula positiva pela técnica de PCR (Solano-Gallego et al., 2001).

Em França, a leishmaniose causada por L. infantum ocorre no Sul do país em cinco focos endémicos: Pirinéus Orientais, Cévennes, Provença, Costa Azul e na Ilha de Córsega. Em todos eles, à excepção dos Pirinéus orientais onde a LC ocorre na maioria dos casos, a LV é a forma predominante da doença. No país foram identificados diversos zimodemes (MON-1, MON-11, MON-24, MON-29, MON-33, MON-34 e MON-108), no entanto, o zimodeme MON-1 foi identificado em 88,48 % no total dos isolados (Pratlong et al., 2004). De 1995 a 1998 observou-se um aumento do número de casos de co-infecção Leishmania/VIH, nomeadamente na Provença, Costa Azul e Pirineus Orientais, observando-se uma distribuição mais rural e maior dispersão nestas regiões (WHO, 2000). Presentemente, nos Alpes Marítimos, encontra-se a Lcan com prevalência de 7% a 10%. Relativamente à leishmaniose humana os casos são esporádicos e frequentemen ou indivíduos VIH positivos (31%) (Marty et al., 2007).

Em Itália, tal como noutros países da bacia mediterrânica, a leishmaniose é causada por L. infantum e essencialmente visceral. A LV tem vindo a aumentar nas crianças e em adultos imunocompetentes. Um estudo epidemiológico infantil realizado nos últimos 15 anos, na região de Campania, revelou 255 casos, dos quais 134 foram tipados como zimodeme MON-1 (55%) e zimodeme MON-72 (45%) (di Martino et al., 2004). Por outro lado, com a introdução da terapia HAART, a incidência anual da LV teve uma marcada redução no número de doentes VIH+ (Russo et al., 2003). A Lcan é endémica em diversas regiões de Itália nomeadamente no centro e sul, onde a prevalência atinge os 48% (Paradies et al., 2006). Existe actualmente um novo foco emergente de LV no Norte para além dos Alpes (Maroli et al., 2007).

Em Portugal, a leishmaniose também é endémica, sendo causada por L. infantum e predominantemente visceral. A sua situação actual será abordada no sub-capítulo seguinte (1.6).

De 1993 e 1995 foi diagnosticada leishmaniose importada em 132 cães na Alemanha. Destes, 35 terão sido infectados em viagens para países endémicos e 97 foram adquiridos em Espanha, França, Portugal ou Turquia (Gothe et al., 1997).

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