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PARTE II PROJETO DE PESQUISA: Composição mineral do leite humano em

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Leite humano

O leite humano pode ser definido como o produto das glândulas mamárias produzido pela mulher a partir do final da gestação com o objetivo de suprir as necessidades nutricionais da criança. Representa o primeiro alimento para a maioria dos recém-nascidos, sendo fonte principal de nutrientes requeridos para as funções biológicas que garantem a promoção do crescimento e desenvolvimento durante os primeiros meses de vida (COSTA et al., 2002). Pela sua complexidade biológica é uma substância viva, ativamente protetora e imunomoduladora, proporcionando proteção contra infecções e alergias e estimulando o desenvolvimento adequado do sistema imunológico além de ser um importante fator de redução de morbidade nas crianças (PICCIANO, 2001; LAMOUNIER et al., 2002; LAMOUNIER e LEÃO, 2008).

O leite humano é um fluído extremamente complexo que contém não apenas nutrientes em quantidades ajustadas às necessidades nutricionais e à capacidade digestiva e metabólica da criança, como também fatores protetores e substâncias bioativas que garantem sua saúde e desenvolvimento pleno. Ele é capaz de exercer certo grau de controle sobre o metabolismo, que se estende da sutileza das divisões celulares até o comportamento da criança, assim como o desenvolvimento e manutenção da função mamária (AKRÉ, 1994; EUCLYDES, 2005).

O papel básico do leite humano é fornecer a nutrição adequada ao começo da vida pós-parto até que a criança possa utilizar outro tipo de alimento. É considerado o melhor alimento, por sua composição química, atuação na defesa imunológica contra doenças infecciosas, e no estímulo ao relacionamento mãe-filho. Entre as vantagens do leite humano estão: melhor digestibilidade, absorção, desenvolvimento do intestino e do cérebro, além de proteger as crianças do sobrepeso (BRASIL, 1988).

A amamentação é conceituada como um conjunto de processos (nutricionais, comportamentais e fisiológicos) envolvidos no consumo, pela criança, do leite

produzido pela própria mãe, seja diretamente no peito ou por extração artificial (WHO, 1998).

A importância do aleitamento materno no combate à desnutrição e à redução da mortalidade das crianças tem se fortalecido, na medida em que suas vantagens se tornam conhecidas como alimento ideal nos primeiros seis meses de vida. Estudos clínicos sugerem redução da taxa de várias infecções em recém-nascidos de baixo peso alimentados com leite humano, em comparação àqueles alimentados com fórmulas infantis (BORTOLOZO, 2004).

A prática da amamentação é considerada como protetora contra diarréia; enterocolite, doença de Crohn, colite ulcerativa e doença cardiovascular na vida adulta, infecções respiratórias e otite, infecções do trato urinário, linfomas e leucemia, alergia, reduzindo o tempo de internação hospitalar além de proporcionar melhor resposta as imunizações e prevenir defeitos ortodônticos (LAMOUNIER et al., 2002).

Crianças alimentadas exclusivamente ao peito nos 6 primeiros meses de vida apresentaram ganho ponderal adequado quando comparadas aos padrões existentes, sendo acentuado nos primeiros 4 meses e desacelerando posteriormente. Em sua maioria, as crianças dobram seu peso de nascimento antes do quarto mês de vida, chegando aos 6 meses eutróficas, com médias de peso superiores às relatadas nas referências utilizadas para comparação (MARQUES, 2006).

No Brasil, Venâncio e Monteiro (1998) observaram o retorno à prática da amamentação nas décadas de 1970 e 1980, em todos os estratos da população, ou seja, entre as crianças residentes em áreas urbanas e rurais, de qualquer região do País, filhos de mães analfabetas e das que atingiram graus maiores de escolaridade, de famílias pobres e ricas.

Na literatura observa-se ainda que, apesar das mulheres com renda familiar

amamentação foi mais acentuado entre mulheres de melhor situação socioeconômica. Em 1989, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançaram um documento sobre o Papel

dos Serviços de Saúde e Maternidades, em que são incluídas 10 ações destinadas a

incentivar o aleitamento materno, os quais foram fundamentais para o redirecionamento de rotinas hospitalares, visando a promoção e apoio ao aleitamento materno (REA, 2003).

A extração artificial tornou-se uma estratégia eficiente para atender casos especiais e atualmente o banco de leite humano constitui-se uma alternativa importante para os casos de recém-nascidos impossibilitados de amamentar.

Banco de leite humano no Brasil

O primeiro banco de leite humano (BLH) do Brasil foi implantado em outubro de 1943, no então Instituto Nacional de Puericultura, atualmente Instituto Fernandes Figueira (IFF). O seu principal objetivo era coletar e distribuir leite humano visando atender os casos considerados especiais, a exemplo da prematuridade, perturbações nutricionais e problemas alérgicos.

Com o desenvolvimento do Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno, a partir de 1985, os BLH passaram ter um novo papel para a saúde pública brasileira, como elementos estratégicos para as ações de promoção, proteção e apoio à amamentação. Este novo modelo induziu a um período de expansão fazendo do Brasil a maior rede mundial de bancos de leite humano, com mais de 180 unidades em operação em todo país (MAIA, 2006). Os Bancos de Leite Humano no Brasil se configuram num motivo de perplexidade e orgulho, cujo valor se faz reconhecido internacionalmente (ALMEIDA, 1999).

2.1.1 Classificação do leite humano

Nos primeiros dias após o parto, as glândulas mamárias produzem um líquido de coloração amarelada mais viscoso que o leite maduro, denominado colostro. Esta primeira secreção elaborada para suprir as necessidades do lactente na primeira semana de vida possui teores mais elevados de proteínas, lactoferrina, carotenóides e minerais, especialmente sódio, potássio e cloro do que o leite maduro, bem como menor teor de gorduras e carboidratos em comparação aos leites de transição e maduro (EUCLYDES, 2005; LAMOUNIER e LEÃO, 2008).

O colostro, além de proteínas e minerais, também apresenta maiores teores de β - Caroteno (o que lhe dá a coloração amarelada), e demais vitaminas lipossolúveis. A concentração de vitamina A é maior no leite humano do que no leite de vaca, sendo sua quantidade no colostro o dobro do leite maduro. A vitamina D está presente no soro e na fração lipídica do leite. O teor de vitamina E (dado pelo tocoferol), se associa diretamente com o teor de lipídios e ácido linoléico presente no leite humano. A razão tocoferol/ácido linoleico no leite maduro é de 0,79 mg/g (MOURA, 2001).

A freqüência e a eficiência com que as crianças sugam o leite são fatores que determinam o volume produzido em cada mama. Até 30 horas após o nascimento as mamas enchem-se de colostro. A produção do colostro varia de 10 a 100 mL/dia com média de 30 mL/dia. Entre 30 e 40 horas após o parto acontecem rápidas mudanças na composição do leite, com aumento do volume e maior concentração de lactose, entretanto, até o 7º dia a secreção é considerada colostro (AKRÉ, 1994; LAMOUNIER e LEÃO, 2008).

A concentração de muitos nutrientes varia com a progressão da lactação, com grandes mudanças na primeira semana pós-parto, e mesmo durante a mesma mamada. Para uma mesma mulher, são registradas variações no decorrer da lactação, ao longo do dia e durante a mesma mamada, havendo diferenças do início ao final da mamada, com alterações na concentração dos macro e dos micro nutrientes (AKRÉ, 1994; OLIVEIRA, 2003; EUCLYDES, 2005; MASTROENI et al., 2006). A composição do leite humano ainda pode ser influenciada por diversos

fatores como individualidade genética e período de lactação. Ocorrem também, variações entre grupos étnicos e entre mulheres (AL-AWADI, 2000; PICIANO, 2001).

Em um período intermediário entre a produção do colostro e do leite maduro, as glândulas mamárias produzem o leite chamado de transição, cuja composição varia progressivamente com decorrer do tempo. Alguns autores consideram que só a partir do 7º até o 14º dia o leite pode ser considerado de transição, passando a leite maduro após a segunda semana, quando sua composição torna-se mais estável (AKRÉ 1994; EUCLYDES, 2005; LAMOUNIER e LEÃO, 2008).

O estado nutricional materno não interfere no valor calórico total do leite produzido, uma vez que as informações disponíveis indicam que as crianças de mães desnutridas e eutróficas aleitadas ao peito crescem de maneira similar. Deste modo, o valor calórico do leite humano é similar entre as mulheres de diferentes partes do mundo, não mudando substancialmente em função da alimentação e/ou do estado nutricional materno (WHO, 1998).

À luz do atual estágio do conhecimento, verifica-se que não há vantagem sobre o ganho de peso e do comprimento, com a substituição em todo ou em parte do leite humano por outros alimentos antes dos 6 meses de idade (WHO, 2007). Nesse contexto, o oferecimento precoce dos alimentos complementares à criança tende a constranger o crescimento e o desenvolvimento, uma vez que normalmente tem baixa densidade energética e passam a substituir em todo ou em parte o leite materno nutricionalmente completo, e de adequado valor energético às necessidades nutricionais da criança.

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