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LEITORES SUFICIENTEMENTE HONESTOS (a ética da refutação)

LEITORES SUFICIENTEMENTE HONESTOS (a ética da refutação)

“Descrições igualmente pitorescas de cenas militares e de ações do Etado formam no contexto geral do trabalho da memória po assim dizer os pontos altos da história, que cambaleia cegamente de uma desgraça a outra. O cronista que esteve presente e mais uma vez recorda tudo o que viu anota suas experiência em um ato de mutilação em seu próprio corpo. Com esse registro torna-se mártir exemplar daquilo que a Providência nos destina, ainda vivo já está na sepultura que são suas memórias.”

W.G. Sebald

“...regra geral, a mais fundamental da ironia é o tornar-se esta cansativa ao sermos repetidamente confrontados com ela. Mas aquilo a que queremos nos referir essencialmente como a ironia da ironia ocorre por mais de uma via. Quando falamos sem ironia acerca da ironia, como é muitas vezes o caso; quando falamos com ironia acerca da ironia, sem reparar que caimos numa ironia muito mais notória; quando já não podemos nos desvencilhar da ironia, como parece estar acontecendo neste ensaio sobre a incompreensibilidade; quando a ironia se transforma em maneirismo e como que ironiza o seu autor, quando prometemos a nossa ironia a um pasquim qualquer sem nos termos antecipadamente certificado das existências e somos assim forçados a fazer ironia contra a vontade , como um ator cheio de dores de barriga; quando a ironia se escapa e não se deixa já controlar.

Que deuses poderão nos salvar de todas essas ironias?” Friedrich Schlegel

“He had a ‘kingdom of evil’ book under a German history book…” Mark E. Smith/ The Fall

Em uma calorenta tarde de trabalho, quando a sonolência estampada sobre os rostos já tornava praticamente impossível não olhar o relógio a cada minuto, um jovem professor de Filosofia, durante uma de sua últimas aulas em um curso preparatório para o vestibular, viu-se de súbito interrompido pela voz de um aluno, que lhe pediu que explicasse em poucas palavras o sentido daquilo que Heidegger entende por “diferença ontológica”. Surpreso pela impertinência desse interesse, no que até então parecia apenas o cumprimento de um cansativo e mal-remunerado dever burocrático, o professor replicou repetindo a primeira definição formulaica de que se lembrou – 3 ou 4 frases vagamente pomposas a respeito da irredutibilidade do ser às suas determinações ônticas – para depois arrematar com uma daquelas alegorias galhofeiras que lhe faziam a fama, desta vez tendo como protagonista o indivíduo que, indo certa tarde à quitanda comprar frutas, nada mais encontrou além de pêras, maçãs e abacates. Satisfeito com as

gargalhadas que conseguiu assim provocar – resultado de certo menos do aumento de inteligibilidade que da inesperada mudança de tom – o professor acreditou então poder dar por saciada a curiosidade do garoto, até que, mais tarde, já em casa, correndo os olhos distraidamente sobre a sua coleção de discos, acabou por ter mais uma de suas idéias heterodoxas, que tratou de pôr em prática logo na primeira oportunidade. E, na aula seguinte, ao reencontrar de novo na primeira fileira o mesmo aluno inquieto, entregou-lhe então ( apenas emprestado, evidentemente) seu exemplar de Ascension, de John Coltrane, acompanhado de fotocópia do capítulo sobre Heidegger da história da filosofia que tinha em casa, convidando-o a embarcar num pequeno experimento sinestésico cuidadosamente elaborado por ele próprio: tendo como pano de fundo o referido disco, pedia-se ao aspirante a universitário que tentasse escrever uma digressão de uma lauda onde as duas coisas se juntassem; sugestão que, poucas horas depois, tão logo iniciada a tempestade cerebral, acarretou compreensível incômodo para a heróica vizinhança do aluno em questão. Mas que teve também consequências no mínimo inesperadas.

Como se sabe, embora particularmente estimado pelos fãs mais aventureiros,

Ascension está longe de ser uma obra de fruição fácil, assinalando talvez a mais radical

virada estílistica de toda a trajetória de Coltrane, quando, sob a influência de Coleman, Ayler e outros, ele embarcava intrepidamente no mais alucinado free. Com resultados tão impressionantes quanto polêmicos. No entanto, tendo como ponto de chegada o arrazoado didático pedido, o que, para um ouvinte tão pouco familiarizado como o nosso aluno correria o risco de soar, num primeiro contato, como uma mera massa amorfa, acabou por se mostrar estranhamente compreensível e inspirador; efeito para que de certo muito concorreu, antes de iniciada a escuta, a leitura do texto incluído no libreto do cd. Nesse libreto, lhe foi dado saber, entre outras coisas, que a obra conhecida como Ascension – para alguns uma composição de pleno direito, para outros, uma maçaroca caótica e até vagamente indigesta – era na verdade nada mais que o rastro deixado por duas únicas e intensas sessões, ocorridas no mesmo 28 de junho de 1965. Curiosamente ainda, como veio anos depois a descobrir o nosso aluno, considerando a lendária segurança e autoridade do Coltrane maduro – que, como conta seu fiel engenheiro de som Rudy Van Gelder, raramente hesitava em dizer qual era o melhor

take de uma faixa – esse era um disco que, em sua originalidade e radicalidade, parecia

ser capaz de fazer titubear até quem o forjara, efeito que, de certa forma, até antecipava a recepção cindida que Ascension viria a ter. E é assim que, às circunstâncias altamente

experimentais de sua gravação – na qual, a partir de um pequeno tema dado pelo sax tenor, tratava-se de entremear a rapsódia de solos de cada participante pelos ataques intermitentes do combo em crescendo-decrescendo – sucedeu-se um lançamento comercial dos mais atribulados; haja vista a forma como, passados poucos meses, a versão tida de início como a Ascension definitiva se via concorrendo com uma segunda edição da supostamente mesma faixa, tudo por conta de uma alteração no juízo de seu não menos suposto autor. E isso numa altura em que, para complicar ainda mais as coisas, a primeira edição da mesma obra – que não era senão o primeiro dos dois únicos

takes que dela se fizeram – já se encontrava em todas as prateleiras das boas lojas do

ramo. No conflito sutil mas cerrado que assim se armava – entre a evanescência e a transitoriedade que marcava a experiência original e a reivindicação de autoridade realizada em simultâneo pelos dois pedaços de acetato; uma reivindicação aí inevitavelmente enfraquecida pela proliferação insólita – o empenhado aluno, após toda uma tarde imerso nessa espécie de hipálage inter-semiótica, acreditou ver objetivado numa epifania tudo o que na primeira explicação do professor era só vaguidez e ininteligibilidade – pelo que se sentiu, com certo exagero, eternamente grato ao jovem mestre. Parar as coisas por aqui, no entanto, seria contar somente metade da história, mesmo porque, tão ou até mais importante para o que ora nos interessa foi aquilo que o tal aluno começou a ruminar poucos minutos depois – sob o influxo de leituras ainda mais mal digeridas que a primeira. Mais precisamente quando, num salto que acreditava exorbitar completando a pergunta original, a impossibilidade de fazer coincidir

Ascension consigo própria deu então lugar a uma dúvida, para ele, ao mesmo tempo

muito mais prosaica e muito mais diabólica, e graças a que, aliás, supunha conseguir fazer jus à recém-adquirida fama de inquisidor. Dúvida que depois se transformou na seguinte pergunta-desafio: tendo em vista que as duas únicas edições originais de

Ascension encontravam-se décadas depois reunidas em um só cd, tratava-se de tentar

saber até que ponto, uma vez consumado o casamento, a especificidade material desse meio – que funcionaria pelo menos à primeira vista, quase como uma edição filológica – seria de fato tão exaustivamente neutra como se pretendia. Ou então, se mais do que simplesmente alegorizar o ponto destacado pelo professor – qual seja, o caráter inapelavelmente redutivo de toda a tentativa de pensar o ser como uma presença em relação a si mesmo –, ela não acabaria por também engendrar uma nova criatura – em última análise, nada mais que o inesperado produto desse mesmo e isento zelo bibliográfico. O que a seu ver resultava tanto em déficits quanto em ganhos: afinal, se o

admirador de Coltrane, antes do advento do cd, tinha que assistir a integridade da obra fraturada pela cotidiana obrigação de mudar o vinil de lado – cisão talvez em parte compensada pela miragem de possuí-la inteira em um só objeto –, o proprietário do cd, por outro lado, se se via certamente poupado de tão anti-climática parábase, acabava porém inevitavelmente confrontado com uma certa desordem cognitiva, um pouco como um filólogo diante de duas versões comprovadamente não apócrifas do mesmo poema. Nessa medida, porém, naquilo que, para o jovem, poderia parecer então uma interessante linha de fuga em relação ao seu arco teórico fornecido pelo seu heterodoxo mestre, era possível perceber também uma usurpação furtiva, onde a mudança da entidade Ascension de um meio para outro acabava por dar lugar a um novo evento por si mesmo, a algo que, em sua mistura de prosaísmo e fantasmagoria, talvez merecesse certas reservas dos heideggerianos mais literais: quase como se, de um momento para outro, a própria materialidade da técnica começasse a fazer as vezes de demiurgo, num amálgama de sobre-determinação e prosopopéia. Daí, enfim, que toda a pretensão de exaustividade do cd que tinha em mãos – concebido com o inocente propósito de salvaguardar uma experiência em toda a integridade possível – pairasse agora numa espécie de zona fantasma entre a peripécia e o ato performativo, desestabilizando a autoria exatamente daquilo que pretendia monumentalizar. No efeito de desfiguração assim gerado – na sensação de um conflito latente entre o que parecia apenas uma soma paratática – não seria difícil identificar, sem muito esforço – embora não seja isso evidentemente o que o tal aluno viu – algo muito parecido com o incômodo gerado por aqueles livros póstumos, reunindo textos que o próprio signatário jamais poderia sonhar em colocar juntos. Um tema aliás particularmente caro aos leitores de Paul de Man, que, diga-se de passagem, mesmo se não mencionado explicitamente até agora, foi quem forneceu quase todos os tropos para a narração acima. E que, por isso mesmo, melhor que qualquer um, não teria por certo dificuldade, a essa altura, em isolar o problema em que caímos quando o evocamos – e gostando-se ou não, abrimos assim um abismo insaneável entre narrativa e teoria, abismo que é tanto uma dívida quanto uma coerção. Em mais de um sentido, é esse exatamente o momento também em que, à força de contemplar e esgotar todas as possibilidades, nos defrontamos de novo com outra encruzilhada disjuntiva e disruptiva, onde, a alternativa mais responsável, à primeira vista, assumiria com toda força a tarefa de se haver com a dissonância criada pela alegoria do exórdio. Ao passo que, no caminho que sobra, esta se veria relegada a condição de uma simples quebra sintática, desvelando assim a total precariedade

daquilo que o texto reivindica como seu fundamento. Dúvida em que os leitores de De Man certamente reconhecerão estranhas familiaridades.

Com efeito, sendo De Man um autor caracterizável, entre outras coisas como um teórico do luto e da autobiografia – ou antes, parafraseando Derrida, do próprio gesto autobiográfico enquanto um tipo de luto em vida, que ao mesmo tempo restitui e destitui –, não deixa de ser curioso como, de uma forma não de todo dissimilar a um dispositivo como Ascension em versão cd, a imagem a se formar de sua obra foi sendo também pouco a pouco alterada-distorcida pelo dedo de seus editores, responsáveis pelas edições póstumas de algo que em vida totalizava não mais que 3 volumes. Nesse percurso, porém, entre a organização e a forma final, se em alguns dos livros depois atribuídos a Paul de Man – como, por exemplo, A resistência à teoria e Aesthetics

ideology – havia pelo menos de saída uma intenção de todo, em outros, tal intenção era

tão somente uma ficção ad hoc. Isso para não falar, claro, do efeito virtualmente calamitoso provocado por um “livro” como Wartime journalism, que, pelo menos enquanto vivo Paul de Man, deveria existir somente nos seus piores pesadelos. Polêmicas à parte, contudo, se ainda assim isso não é suficiente para validar a aproximação com Coltrane, outro possível ponto de contato entre os dois nomes pode ser estabelecido a partir da própria metáfora do take recusado, bem como a curiosidade algo genealógica que este desperta – tanto nos ouvintes de Coltrane quanto de De Man. Em meio à proliferação editorial que os assola, tais ouvintes têm nisso ao mesmo tempo uma chave e um atenuante para a versão depois tida como definitiva – a que se pode também contrapor, heurística ou especulativamente, a hipótese de ver nesse mesmo texto definitivo apenas uma versão. Dentro desse mesmo espírito, por sinal – se nos pusermos a rastrear em De Man aquele texto que mais se pareceria com uma gravação de ensaio –, talvez não haja nenhum ponto de partida mais apropriado que Romanticism

and contemporary criticism, coletânea organizada por Kevin Newmark, Andrej

Warminsky e E.S. Ward, mas até segunda ordem, inscrita em todos os catálogos de livros como o último lançamento de Paul de Man.

Reunindo os textos de um seminário ministrado por De Man em Princeton, em 1967, o livro em questão, no qual, além de dois ensaios inacabados, há a curiosidade de uma resenha sobre Roland Barthes recusada pelo New York Review of Books, e de duas pequenas intervenções polêmicas diante de Murray Krieger e Frank Kermode, parece a princípio muito mais uma curiosidade filológica do que uma inflexão relevante;

impressão, logo de início, que bastaria para fazer a evocação de Ascension soar totalmente sem propósito, se pensarmos no impacto inestimável desta obra sobre muito do que se seguiu. No que concerne a De Man, contudo, a leitura sequenciada dos ensaios aí reunidos – descritos pelos próprios organizadores, na breve introdução, como versões embrionárias daquilo em que depois se transformaria Blindness and insight,– sugere, talvez, algo mais próximo das faixas bônus da deluxe edition de um velho lp. Ou ainda, se é o caso de persistir no mesmo diapasão tropológico, uma faixa do Miles elétrico sem as intervenções cirúrgicas de um Teo Macero – mesmo se, em De Man, evidentemente, edição e improvisação sejam ambos atributos de uma só entidade, por mais diversa que essa entidade (sempre-já) seja em relação a si própria. Vale destacar ainda que, se o caráter algo tateante de muitos desses ensaios tende a limitar sua abrangência apenas ao restrito círculo de especialistas, a leitura desses mesmos textos um depois de outro desenha algumas surpresas bastante ponderáveis. Num certo sentido, aliás, quase como uma soma que se torna mais interminável a cada novo acréscimo, ela não deixa de ser levemente intrigante para os acostumados com as elipses e generalizações abruptas de Paul de Man – e que, nesses esboços, funcionam numa clave em aparência muito menos ambiciosa. Ao aparecerem sob a moldura de uma contextualização específica – no caso, a singularidade do evento romantismo em relação a episteme crítica de então; que para este De Man de Princeton, aliás, nada mais era que uma resposta defensiva em relação a esse evento –, assertivas de início lidas como tentativas algo prometéicas de ontologização, como quase proclamações a respeito da natureza última da literatura, vêem-se como que devolvidas a uma escala mais humana, graças à textura criada pelo seu fundo polêmico. E isso justo num momento em que, embora jamais de forma unívoca, o estruturalismo entrava com máxima força na universidade americana, na convalescença do seminário ocorrido na Johns Hopkins, em 66. Ao mesmo tempo, se há um evidente ganho de inteligibilidade na contextualização, interessante é notar também, a uma leitura ligeira, como a aparição de frases e sintagmas já lidos e/ou reconhecíveis, ao ricochetear sobre o texto suposto definitivo de Paul de Man, parece também perturbar um pouco a autoridade do que por elas responde, trazendo à tona crispações mais ou menos dissimuladas na forma acabada do livro. E nessa exata medida, mostrando também o que há de arbitrário em tal fechamento. Da mesma forma, se na dicção dos ensaios aí reunidos, não há propriamente conflito ou estranhamento com aquilo em que nos acostumamos a reconhecer o primeiro De Man – em sua alternância de imersões em close reading sobre detalhes textuais e o pathos

gerado por afirmações tão categóricas quanto aparentemente vagas, abruptas e infundadas – o efeito criado pela somatória, na falta de um daqueles prefácios irônicos para reconhecer e antecipar a impressão dispersiva, não deixa de criar um atrito com a sinédoque-livro que deveria contê-lo. A ponto de poder até fazer, quase numa hipérbole retórica, com que o nome de Paul de Man na capa do livro soe ligeiramente desproporcionado em relação ao dos organizadores elencado logo abaixo, aos quais talvez se devesse conceder maior responsabilidade do que a diminuta estatura das letras nos faz crer. Ou talvez seja isso apenas uma pura questão de modéstia. Contudo, em que pese a relativa pouca abrangência do material reunido, o que aqui se verifica, em não pouco aspectos – na tensão do rascunho de Princeton com o livro popularmente conhecido como Blindness and insight – não está muito longe daquilo que o nosso aluno-alegoria acreditou experimentar ouvindo Coltrane, assinaladas é claro as diferenças devidas: quase como se, nos 2 casos, o gesto de reunir cada respectiva dispersão num dispositivo apto a unificá-la terminasse produzindo a certa altura um atrito imprevisto, que pode aliás também, para muitos auditórios, jamais verificar-se. Afinal, como incontornável condição de possibilidade desse tipo de insight, é preciso também pressupor, logo de saída, um olhar tão convenientemente pouco afeito à pressa quanto sensível à fratura que enfeixa cada decisão, o que poderia levá-lo a embaçar irrevogavelmente a fronteira entre o provisório e o definitivo. Ou então pensar no próprio definitivo como uma espécie de provisoriedade instituída, e por isso mesmo retificável. Situação que não deixa de ter por certo algo de jazzístico, mesmo que a falta de uma partitura a priori para minimizar a contingência não suscite em muitos senão desespero. Numa aproximação menos afoita, contudo, a elevação dessa mesma contingência ao estatuto de obra surge aqui também muito menos um processo orgânico que como uma descontinuidade; coisa que – um pouco como quando Coltrane precisa decidir urgentemente qual é o take certo – depende muito menos da fidelidade do resultado obtido em relação ao que se planejou do que do ato de força de quem isola uma forma entre outras tantas possíveis.

Com o perdão de mais uma analogia, contudo, se é certo que a performance oral de um professor pode se aproximar à do jazzista na necessidade de se mostrar maleável e atento às instigações externas – ao invés de se repetir ipsis literis ao estilo do livro- personagem do Fedro –, um dado que cabe considerar, nesse entremeio – no contrapelo da miragem de um sujeito forte criada por uma improvisação bem sucedida – diz

respeito à alteração produzida pela inscrição do contingente em materialidades aptas a preservá-lo – seja ela um disco digital ou uma página branca. Não sendo outra coisa que não o congelamento provisório de um jogo de forças, tal inscrição, como se vê, pode funcionar também como uma via alternativa a muitas das ficções mais aceitáveis produzidas sobre a intenção do autor, intenção acintosamente desobedecida, por exemplo, quando, no cd que o aluno tinha em mãos, vemos a Ascension predileta de Coltrane separada apenas por uns poucos segundos daquela que ele mesmo rejeitou. O “mesmo” podendo se dizer, por exemplo, do velho manuscrito na gaveta, posto em coexistência involuntária e forçada com o texto enviado ao NYReview. Ao mesmo

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