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As manchas leitosas da pleura foram descritas pela primeira vez por von Recklinghausen como "milchflecke" em 1863 nas cavidades peritoneal e pleural de coelhos jovens A sua

No documento Bases anatómicas da depuração pleural (páginas 107-111)

presença noutros animais foi referida por Maximow em 1927 e por Mixter em 1941, que

estendeu as suas observações ao Homem onde também encontrou estas estruturas. A

capacidade tagocítica das manchas leitosas, suspeitada com base numa composição celular

maioritariamente macrofágica, foi postulada pela primeira vez por Marchand em 1901 e

posteriormente confirmada (Figura 6.5) por numerosos outros estudos em que incluímos os

nossos (Pereira e Grande, 1992). Apesar de conhecidos e estudados em várias espécies

animais só em 1949 lhes seria atribuída importância em termos fisiopatológicos (Cooray,

Fig. 6.5 - Prega pleural retrocardiaco-rediastímica de cão injectado com CaWo^ na cavidade pleural 3 dias antes do sacrifício. São visíveis numerosas manchas leitosas contendo inclusões de tungstato de cálcio.

1949). Para este autor seriam as manchas leitosas da pleura as responsáveis pela baixa incidência de mediastinites que observou em séries de autópsias quando comparadas com a elevada frequência de patologia pleuro-pulmonar. Na sequência de um trabalho de investigação em que vários agentes patogénicos foram introduzidos na cavidade pleural do rato, Cooray (1949), conclui que as manchas leitosas da pleura seriam estruturas de defesa do mediastino. Recentemente vários autores se tem dedicado à anatomofisiologia das manchas leitosas, em particular daquelas existentes na cavidade peritoneal. Nesta serosa as manchas leitosas estão localizadas preferencialmente no grande epiplon e, de acordo com Shimotsuma (1989), no Homem, o seu número decresce acentuadamente com a idade variando de 44/cm2 aos 7 meses de idade até 1,7/cm2 aos 78 anos. Este decréscimo no numero de milky spots presentes no grande epiplon é no entanto mais acentuado nos primeiros dois anos de vida, em que há uma redução de cerca de 50% (cerca de 20 milky spots por cm2 são encontrados aos dois anos de idade). Quanto às manchas leitosas da cavidade pleural não existem estudos quantitativos. Nas amostras por nós estudadas obtidas

quer ao cão quer ao raio também observamos uma redução com a idade do número de manchas leitosas por unidade de área pleural.

A composição celular destes corpúsculos tem sido também estudada, principalmente nos últimos anos e em particular a das manchas leitosas do peritoneu. No grande epiplon humano as manchas leitosas são constituídos por macrófagos (47.5%+7.5), linfócitos B (29.1 %+5.2) linfócitos T (11.7%+2.4) e mastócitos (6.1 %+2.6) (Shimotsuma e col., 1991 ). Os macrófagos que (azem parte das manchas leitosas tem uma localização preferencialmente submesotelial (Shimotsuma e col., 1990). Na cavidade abdominal Beelen ( 1980) propôs que os macrófagos peritonea is seriam originados a partir de células das manchas leitosas. A função postulada para as manchas leitosas do peritoneu é a de protecção local e participação na resposta imune contra antigénios que chegam pela via do tubo digestivo. A composição celular destes corpúsculos na pleura apresenta semelhanças com a composição das manchas leitosas do peritoneu, nomeadamente o predomínio de linfócitos B sobre células T (Inoue e Otsulci, 1992). No entanto, em contraste com as manchas leitosas do peritoneu, as manchas leitosas da pleura mostraram uma clara zonação, com localização preferencial de linfócitos T CD4+ e CD8+ e linfócitos B CD5+ na basal do corpúsculo e linfócitos Ig M+ dispersos no corpúsculo difusamente mas não na basal. Este tipo de distribuição torna as manchas leitosas da cavidade pleural mais próximas do conceito clássico de MALT proposto por Bienenstoclce Befus em 1980. Em nosso entender este tipo de distribuição tem, no entanto, a ver com a capacidade funcional das manchas leitosas nomeadamente com a hipotética capacidade de os plasmócitos contidos no corpúsculo poderem segregar imunoglobulinas para o interior da cavidade pleural.

Com o objectivo de caracterizar a resposta das manchas leitosas da pleura a vários tipos de substâncias com acção conhecida sobre o sistema imune efectuámos uma série de experências em que essas substâncias eram introduzidas na cavidade pleural por punção torácica. Utilizámos o adjuvante incompleto de Freund (óleo mineral) que causa uma forte reação inflamatória com uma estimulação não específica da imunidade humoral, o adjuvante

completo de Freund (óleo mineral com micobactérias mortas pelo calor) que causa uma forte reação inflamatória com estimulação da imunidade de tipo celular e um corticoesteróide (betametasona) que causa uma depressão geral do sistema imune.

Assim retomámos os estudos originais de Cooray (1949) e estudamos as modificações histológicas e citológicas das manchas leitosas pleurais provocadas por substâncias de diferente acção imunomodeladora introduzidas na cavidade pleural. Os nossos resultados documentam que as manchas leitosas são estruturas com grande capacidade plástica e que respondem de forma diferente consoante a natureza do estímulo a que são sujeitas (Capítulo 5). Contrariamente ao defendido por alguns autores (Koten e Otter, 1991 ) não encontramos nas manchas leitosas pleurais arranjos em zonação característica dos órgãos linfóides organizados, havendo sim zonas em que são predominantes determinados tipos celulares. As manchas leitosas da pleura apresentavam características histológicas consistentes com uma potente resposta imune de tipo humoral após injecção de adjuvante incompleto de Freund e com uma potente reacção de natureza celular após injecção de adjuvante completo de Freund. Com base nestas características reaccionais é pois, correcto aceitar que estas estruturas tenham um papel importante na defesa do mediastino contra agressões oriundas do espaço pleural. Dado não existirem diferenças significativas entre as manchas leitosas da pleura e do peritoneu propomos que a designação de OALT ("omentum associated lymphoid tissue") sugerida por Beelen e Col. em 1991 seja alterada para SALT ("serosal associated lymphoid tissue") de modo a incluir as manchas leitosas de ambas as cavidades serosas.

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IMPLICAÇÕES CLÍNICAS E

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