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Transformações Urbanas de Aracaju sob a Ótica da Sintaxe Espacial

3.4. Uma Leitura à Cidade

Cidade significa ao mesmo tempo, uma maneira de organizar o território e uma relação política. Assim, ser habitante de uma cidade significa participar de alguma forma de sua vida pública, regras e regulamentos desta cidade.

Para Lefrebvre24 o direito à cidade não se reduz somente a resolver os problemas de necessidade básica como habitação, saneamento, transporte entre outros, mas, além disso, é a busca da cidade como espaço a ser usado coletivamente, como um lugar da pluralidade, da simultaneidade, do encontro, do intercâmbio, da mistura social e funcional. É o direito a não ser excluído da centralidade e do movimento, é o direito de fazer parte do todo, de viver e de fazer da história da cidade.

No paradigma da Sintaxe Espacial, o meio ambiente construído não é tratado apenas como o fundo do comportamento humano, mas como produto e agente ativo construtor desse comportamento, e dessa forma, são encontradas relações claras entre o comportamento humano e o ambiente construído.

Uma forma de analisar como os processos sociais interagem com a configuração espacial da cidade, pode ser obtida pelos desdobramentos da Sintaxe Espacial em diversos níveis analíticos, são eles: padrão espacial (características unicamente do espaço), sistemas de encontros interpessoais

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(presença de pessoas em locais públicos e privados) e características socioeconômicas gerais (e.g., economia, religião, cultura, etc.). 25

Segundo Holanda, muitas categorias analíticas têm sido propostas e efetivamente testadas em Sintaxe Espacial desde seus primórdios. Algumas dessas categorias são quantificáveis, outras podem ser tratadas somente por meio de uma abordagem qualitativa. Em alguns casos, isso pode se dar em virtude do nível de desenvolvimento da própria metodologia, em outros casos em razão da própria categoria que pode ser, por sua natureza, refratária a tratamentos quantitativos. Ele afirma, ainda, que o uso de todo o potencial de tais categorias, entretanto, depende da base de dados dos estudos de caso sob análise.26

Mediante a confecção de mapa axiais, entrevistas, observações in locu e dados censitários foi revelado a situação socioeconômica das famílias e os atributos morfológicos de sua localização.

Nesta categoria de análise e através de mapas, podemos afirmar que essas famílias, por muitos anos viveram excluídas das partes mais acessíveis da configuração espacial de Aracaju, mediante a dificuldade de acessibilidade e do direito de ir e vir à cidade.

A exclusão sofrida pelas famílias, que a primeira vista parece estar, apenas, no contexto urbano, é desmentida ao analisarmos a Figura 20, abaixo, que nos revela também uma exclusão ao direito de uma residência digna com total infraestrutura.

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HOLANDA, Frederico de. O Espaço de Exceção. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002. pag. 48

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HOLANDA, Frederico de. O Espaço de Exceção. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002. pag. 96

Figura 20 – Ausência na configuração casa e rua

A relação de convívio intimo, também é outro fator, que é bastante reduzido por meio da configuração urbana. As famílias viviam em barracos com pouca privacidade, o interior de suas residências, se misturam com as passarelas, que era o único acesso de locomoção de todos os moradores. Os espaços internos da residência, muitas vezes, se confundiam na ausência de espaços de lazer comum, onde as relações sociais e os encontros interpessoais costumam acontecer.

Porém estas afinidades criadas entre as famílias, à proximidade com os locais de trabalhos foram um grande incentivo no processo de reurbanização, à permanência das famílias no mesmo bairro.

São pessoas que têm sua realidade, sua economia, sua sustentabilidade vinculadas ao local, por meio de retirada de diversos mariscos para venda do mangue, como Carangueiro, sururu e etc.

Todas essas transformações urbanas e domésticas reforçam a ideia de urbanidade do lugar, por meio de relações de interior e exterior, como também da identificação das famílias com o novo local de moradia, revelado na Figura 21.

Figura 21 – Após a transformação Urbana, um novo local onde a relação interior e exterior fica melhor visível

Fonte: SEPLAN; 2006

Após as transformações urbanas ocorridas e a garantia da permanência das famílias no mesmo local pode-se criar um ambiente saudável, criados mediante identificação pelos projetistas de uma identidade do bairro. Afinal como afirma KOHLDORF27 às cidades falam. Contam-nos histórias e suas histórias, evocam nossas lembranças, despertam expectativas e nos convidam a dialogar com os lugares por onde passamos. A esse convite, respondemos por meio de emoções diversificadas.

A linguagem mais abrangente na cidade é falada pela forma física de seus lugares. Ainda que se mantenha limitada pela pluralidade de significados que é capaz de adquirir sempre que interpretada por alguém, a configuração dos espaços, oferecendo a todos, uma mesma visão. Assim, qualquer indivíduo apreende certas características morfológicas do lugar onde se encontra, a partir de informações sobre que lugar é aquele, orientando-o e identificando-se com ele.

Essa identidade com o “novo ambiente” perfaz o contexto local, afinal as famílias hoje passaram a ter um endereço e uma referência de residência digna com total infra-estrutura básica interna e externamente, além da integração do

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bairro à cidade de forma mais igualitária e acessível, após a abertura de uma das vias de acesso rápido ao bairro e ampliação de outra via já existente.

O próximo capítulo tratará especificamente este contexto de segregação socioespacial vivido pelas famílias residentes no Bairro Coroa do Meio.

CAPÍTULO IV.

Contexto da Segregação socioespacial

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