• Nenhum resultado encontrado

Nesta nossa ida à escola, no dia 4 de Março de 2010, o propósito foi o de assistirmos a uma leitura realizada pela mãe de um aluno, o T.M., que foi ler a história ‗O rato e a arca‘ (anexo 23) de António Torrado.

Convém salientar que estas nossas idas à sala, para assistir a este tipo de actividade, são aleatórias, realizando-se conforme a disponibilidade de tempo, quer da nossa parte quer da parte da dinâmica da turma e dos pais.

Entre a nossa última visita à sala e esta, já estiveram presentes outros pais na escola a lerem, noutros momentos, aos quais não pudemos assistir por motivos profissionais e de disponibilidade de horário.

A mãe do T. M. é vendedora no ramo imobiliário e é de origem brasileira, o que gerou uma reacção muito positiva na sala, entre os alunos, pois as crianças adoram a sua pronúncia. Tal como aconteceu na descrição anterior, também aqui foi evidente o cuidado com a preparação da vinda à escola, por parte da mãe do T. M., como veremos de seguida na transcrição da gravação da conversa tida com ela.

Desta vez, por conveniência de horário da própria mãe, conversámos com ela antes da sua entrada, na sala, para realizar a leitura da história.

Transcrevemos, de seguida, a conversa que gravámos.

Eu: Gostava que me desse a sua opinião sobre o método de trabalho da professora Olga e, também, sobre esta ideia de chamar os pais, à escola, para ler histórias aos meninos.

M.M.: É assim, eu, da professora Olga acho que, pelo menos pela experiência que tenho com o meu filho, funcionou a cem por cento. O meu filho tem muito interesse de vir para a escola, aprendeu muito rápido. Tenho conhecimento de outras crianças com o método normal e vejo uma evolução muito grande com o meu filho, tou muito satisfeita, ele próprio vem muito contente para a escola, fica muito radiante!

E a ligação da escola com os pais, eu acho muito importante. É assim, eu, em si, tenho muita ligação, tento estar sempre presente, com o que o meu filho faz e tudo. Por isso, acho muito interessante isso dos pais poderem vir e participar para eles. Além deles próprios gostarem imenso, acho que eu, pelo menos, como mãe, gosto muito dessa participação.

Eu: Em termos da leitura das histórias, como é que fez a escolha da história para trazer para ler à turma?

88

M.M.: É assim, eu me baseei pelo autor que eles trabalharam. Na história, o meu filho não quis saber, quis ser surpresa.

Eu: Ah foi? Engraçado! Ele não quis participar, quis que a mãe escolhesse sem ele saber?

M.M.: Ainda ontem falei, oh filho, queres que eu te leia a história, primeiro? Ele disse assim: não, eu quero ser surpresa. Ele não quis. Só queria saber o título e mais ou menos… aí eu falei, filho, eu leio tudo ou não. Ele falou assim, não, só quero saber do que é que trata. Eu disse-lhe o título da história e mais nada, ele não quis saber.

Li algumas histórias e tentei a que fosse assim a mais engraçada, para despertar a atenção, como eles são pequeninos. Se fosse uma história muito comprida e assim, acho que eles iriam dispersar um pouco. Assim, é uma história não muito pequenininha, mas também não grande e achei engraçada, de várias que eu li, achei aquela interessante.

Eu: Em termos de aprendizagem e do interesse pela leitura, acha que esta actividade pode ajudar o T., por exemplo, a aumentar o seu gosto pela leitura ou, apesar desta actividade, ele continuaria a gostar de ler?

M.M.: Acho interessante o eles sentirem que os pais estão ligados na leitura também. É assim, o meu filho, por natureza, gostou da ideia de ler. Primeiro era eu que lia as histórias à noite, agora é ele que lê as histórias para mim. Em vez de ser uma história inteira, vai lendo, um dia uma página, outro dia, quando um parágrafo é maior, pronto vai lendo assim aos pouquinhos. E ele ficou muito interessado. Então hoje ele estava radiante: ―É hoje! É hoje!‖ Estava muito interessado em saber que eu ia contar uma história para os amiguinhos dele e para ele, por isso eu acho que ele gostou muito da ideia.

Eu: Pois eles trabalharam o António Torrado comigo, fui eu que lhes contei a história do ‗Macaco de Rabo Cortado‘

M.M.: Ah! Então foi isso. E foi daí que, na altura, pedi a uma amiga que ela também é professora, se ela tinha algum livro, e ela me emprestou esse e tem várias histórias e algumas tinham um final muito triste. E eu escolhi essa do rato que fica preso numa arca, não é triste, mas é uma lição porque ele foi guloso e quis entrar para dentro da arca. E é importante que as histórias lhes dêem alguma lição para eles aprenderem. Das várias que lemos, que li quase todas, só não li uma ou duas, achei essa mais interessante, e é essa que eles vão ouvir hoje.

89

M.M.: De nada!

Entrámos, então, na sala. A Olga já tinha arranjado o espaço com os alunos. Os alunos estavam, como de costume, sentados em almofadas, A M.M. (mãe do T.M.) sentou-se numa almofada, ao lado do filho. Cumprimentou os meninos e preparou-se para fazer a leitura da história às crianças.

Leu a história com muita expressividade. No final resultaram os seguintes comentários: M.M.: Então o que é que vocês acharam da história? Gostaram?

O grupo: Gostámos!

L.: O rato era muito comilão!

J.A.: Ele devia ter ouvido o que a arca lhe disse! Ela bem o avisou para ele não comer tanto!

B.: Quem é o autor da história?

M.M.: Olha, eu vou-vos dar uma pista, é o mesmo daquela história que a professora Sónia vos leu do ‗Macaco de Rabo Cortado‘.

T.M.: É do António Torrado.

Olga: Esta história faz-vos lembrar outra que ouvimos ler, por uma mãe? O grupo: Sim!

J.: ‗A rã e o boi‘ que a F. veio ler.

A.: Ela também comeu muito e rebentou.

M.M.: Vocês gostaram da história que eu vos trouxe? O grupo: Sim!

L.: Eu adorei! Foi espectacular! Obrigada! O grupo: Obrigada!

M.M.: De nada! Eu é que gostei muito de cá vir! O Grupo: Obrigada M!

90

O T. M. esteve sentado ao lado da mãe, sossegado e calado durante todo o tempo com um ar muito concentrado. Sorriu quando os outros disseram que gostaram da história. O orgulho era patente na sua expressão.

Esta envolvência dos pais, no tempo da leitura, feita pela professora, abrindo as portas da sala à comunidade, promove, como se pôde ver, uma relação muito positiva e de proximidade com a turma e com a própria professora.

Também desta vez, podemos constatar a preocupação da mãe na escolha e preparação da leitura do texto. É curioso observar que as intenções nas escolhas variaram das da M.J..

A mãe do T.M., a M.M., preocupou-se com a extensão do texto, em procurar um autor que eles já tivessem trabalhado, um texto ‗engraçado‘, ou seja, a presença do humor, mas ao mesmo tempo há a manifesta preocupação com a existência de uma lição, de um ensinamento que considerou, como vimos na conversa anterior, importante.

Podemos então verificar que, perante a presença do património de filiação familiar, a escola não diverge: aceita, respeita, para depois complementar, como podemos verificar com os exemplos de trabalhos realizados pelos alunos, em sala de aula, e até pelo próprio respeito pelas diferenças existentes.

Também é curioso que enquanto a mãe da descrição anterior envolveu a filha na escolha, esta respeitou a vontade do filho em não querer saber. Podemos depreender que o T.M. quereria estar numa posição idêntica à dos colegas, ou seja, ouvir ao mesmo tempo, usufruir da leitura da própria mãe, nas mesmas condições dos colegas.

De seguida, a Olga pediu aos alunos:

Olga: Então agora vamos decidir se queremos fazer algum trabalho sobre a história e o quê.

Alguns queriam fazer desenhos. O T.C. queria fazer um ditado. Mas os outros não concordaram. O J.A. propôs que inventassem problemas matemáticos, mas esta opção também não foi unânime. Como o A. tinha perguntado à Olga o que era uma arca, propôs-se que se descobrisse o que era uma arca.

Deste trabalho surgiram descobertas muito interessantes, pois os alunos descobriram, em pesquisas realizadas também com a ajuda dos pais, que havia muitas espécies de arcas e com diferentes utilidades como se pode ver pelas fotografias tiradas ao cartaz de registo (anexo 24).

91

Neste Modelo, o trabalho cooperativo estende-se por toda a comunidade e é comum verificar uma efectiva cooperação em práticas efectivas em que os pais, conjuntamente com os alunos e outros elementos da família ou da comunidade, participando no desenvolvimento da aprendizagem dos seus educandos. Neste caso, podemos verificá -lo na recolha de exemplos, em casa, de diferentes tipos de imagens que representam diversos tipos de arcas.

92