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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.3 LEITURA E ESCRITA DIGITAL

As tecnologias digitais, além de indicarem novos modos de estar na sociedade, trouxeram também novas linguagens, como a reconfiguração da linguagem escrita através de novos modos, tempos e gêneros. Como exemplo, temos a escrita em blogs, e-mails, chats, wikis em tempos síncronos e assíncronos. Os aprendizes, utilizando essas tecnologias, tornam-se sujeitos de práticas letradas, criando blogs, sites, acessando salas de bate-papo e novos recursos, constituindo-se nesses novos espaços de escrita e colaboração. O sujeito que produz também pode editar, alterar e publicar suas produções com criticidade.

O texto eletrônico traz inúmeras possibilidades, o leitor pode escolher o seu percurso, fazer uma leitura não linear e abrir vários links ao mesmo tempo. A escrita digital, diferente da escrita no papel, passou a provocar novas aprendizagens nos estudantes e professores. Essas aprendizagens relacionadas tanto à leitura e escrita, como à apropriação dos softwares e do sistema operacional das tecnologias estão sendo usadas na escola. A produção de um texto e o desenvolvimento de uma atividade no laptop pelos estudantes configuram-se diferentemente de uma produção no papel. Surge uma nova forma de pensar, de conhecer, uma nova relação com o saber. Segundo Lévy (1993, p.7),

as relações entre homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada.

Conforme o Quadro 1, a categoria Leitura e escrita digital apresenta duas subcategorias: Apropriação de recursos e Leitura e escrita hipertextual.

Na sequência, expomos essas subcategorias, com uma breve descrição, e os extratos que correspondem a cada uma, considerando a definição dos indicadores.

4.3.1 Apropriação dos recursos

O processo de apropriação exige tempo e acontece de forma gradativa. Valente (2007) refere que, da mesma forma como adquirimos a escrita, precisamos também nos apropriar das tecnologias digitais. A apropriação dos recursos é de fundamental importância, pois se o estudante e o professor não conhecerem e/ou não souberem fazer uso deles, fica muito difícil integrar a tecnologia digital às práticas pedagógicas. As tecnologias digitais possibilitam novas formas de comunicação e expressão, como o uso de imagens, sons, vídeos, links, numa organização hipermidiática além do linear. Com isso, surge a necessidade de familiarizar-se com esses novos recursos disponíveis nos laptops e nos diferentes softwares, fazendo uso significativo da TD, desenvolvendo ações sociais e cognitivas.

Considerando esses aspectos, definimos como indicadores dessa subcategoria os movimentos de facilidade no uso dos softwares e suas funcionalidades, e do sistema operacional do laptop.

Apropriação dos softwares e suas funcionalidades

No contexto dessa pesquisa, a apropriação de softwares e suas funcionalidades foram entendidas como: trabalhar de forma autônoma, explicitando e justificando suas escolhas; possibilidade e capacidade de explicitar os caminhos da realização das ações; e compreensão e uso da combinação de comandos.

A seguir, alguns extratos representativos:

Pes: tu já estás separando em parágrafos ou faz isso depois? An: já to separando

Pes: ta fazendo vários parágrafos? An: haam

Pes: como tu fazes para arrumar a fonte e o tamanho da letra, arrumas agora ou no final?

An: eu arrumo agora. (TF – TB – S3 – An)

Escreveu o texto já com a formatação de justificado, separou o texto em parágrafos. Também modificou o tipo e tamanho da letra. (DB – TA – S2 – Mi)

Alterou a fonte e tamanho da letra. Também organizou o texto em parágrafos usando o recurso da tabulação. E, para inserir a imagem, usava o mouse para copiar e depois o control V. Ele vai organizando as imagens para alinhar o texto. (DB – TA – S3 – Ro)

Apropriação do sistema operacional do laptop.

Em alguns registros, podemos perceber uma compreensão das questões relacionadas à apropriação do sistema operacional do laptop: organização e localização de arquivos, localização direta de programas e aplicativos, exploração das configurações do laptop com intencionalidade.

Para exemplificar esses argumentos, apresentamos os seguintes extratos:

Quando já tinha acabado a atividade, ficou explorando o laptop, mudou a configuração de hora e data. Ficou mexendo em outras coisas, segundo ele, são coisas técnicas e o objetivo era melhorar o laptop, fazer com que ele ficasse mais rápido, pois eles são muito lentos. (DB – TA – S3 – Ro)

Alguns computadores estavam sem bateria, Ro tomava a frente da resolução dos problemas dos computadores, trocando as baterias e identificando o problema do carregamento, como uma espécie de “técnico” da turma, auxiliando e sendo requisitado em diversos momentos para auxiliar os colegas com dificuldades em relação aos laptops. Quando algum laptop estava apresentando algum problema, a professora pedia para Ro dar uma olhada e ver qual era o problema. (DB – TA – S1 – Ro)

Jo explicou que em vez de enviar para a lixeira os arquivos para excluir, clica no texto e deleta, pois assim exclui de vez e não ocupa mais espaço no laptop. (DB – TA – S2 – Jo)

Ao final da atividade, todos os sujeitos da pesquisa salvavam as atividades no seu laptop, dentro da pasta correspondente aquela disciplina. E na aula seguinte localizavam esta pasta e o arquivo para dar continuidade à atividade. (DB – Registros Pes)

Para fins de registros da pesquisadora, solicitamos a todos os sujeitos da pesquisa para salvarem as suas produções em um pendrive. Percebemos que ninguém teve dificuldades para fazer esse processo, ou seja, salvar seu texto no pendrive da pesquisadora. (DB – Registros Pes)

A partir dos registros acima, podemos perceber um movimento de reconhecimento do laptop, de seus recursos e softwares. Os sujeitos da pesquisa sabem fazer uso de diversos recursos e comandos do laptop, como salvar e localizar arquivos, aplicativos e programas e explorar as configurações do laptop.

Notamos, também, que especialmente dois dos sujeitos participantes dessa pesquisa têm conhecimentos mais avançados em relação ao sistema operacional. Sabem usar diversos comandos e resolver problemas técnicos dos laptops. A partir de seus relatos durante a pesquisa, sabemos que são sujeitos que utilizam as tecnologias digitais também fora do contexto escolar, em suas casas e momentos de lazer. Ficou evidente, também, entre esses dois sujeitos, a interação entre eles: um aprende com o outro, e aquele que sabe ou descobre algo, logo compartilha o conhecimento com o outro.

4.3.2 Leitura e escrita hipertextual

Definimos essa subcategoria de leitura e escrita hipertextual a partir do que Soares (2002) destaca, ou seja, a leitura e escrita do texto na tela de forma multilinear, multissequencial, sem que haja uma ordem predefinida. O texto na tela é escrito e lido de outra forma que da leitura e escrita realizada no papel. Assim, consideramos leitura e escrita hipertextual como a escrita do texto na tela de forma multilinear, multissequencial.

O texto digital é diferente de um texto escrito no papel, uma vez que este já impõe uma linearidade, estrutura e sequência. O leitor da era digital, definido por Santaella (2004) como imersivo, sabe lidar com a diversidade de informações, com a velocidade e a não linearidade, fazendo uso de uma variedade de linguagem (verbal, não verbal, sonora, visual) simultaneamente.

Segundo Santaella (2004, p.182), “observar, absorver, entender, reconhecer, buscar, escolher e agir ocorrem em simultaneidade”. Nesse sentido, Rojo (2009) menciona os multiletramentos, que são multimodalidades e multidimialidades, como o letramento digital, letramento visual e outros novos letramentos. São práticas de letramento que envolvem uma multiplicidade de linguagens e mídias. Nesse contexto, nosso estudo focou-se em aprofundar e desenvolver a pesquisa a partir do conceito de letramento digital.

A partir de alguns registros, pudemos perceber que os sujeitos realizaram as atividades propostas de diferentes formas:

a) Criação e digitação de um novo texto no laptop, definindo parágrafo, fonte e corrigindo digitação, alterando a ordem das ideias e qualificando o texto durante a escrita.

b) Criação do texto no caderno e, posteriormente, digitação desse mesmo texto no laptop, inserindo imagens, definindo parágrafo e fonte, corrigindo digitação, alterando a ordem das ideias e qualificando o texto durante a escrita no laptop.

c) Criação e digitação do texto diretamente no laptop, definindo aspectos de formatação durante a digitação do texto e qualificando e revisando a escrita ao final da produção.

Na sequência, alguns extratos representativos:

Jo fez o texto no caderno e depois digitou no editor de texto. Primeiro ele digitou o texto que tinha escrito no caderno e depois ele inseriu as imagens no texto. Foi mudando o texto no laptop durante o processo, apagou algumas partes do texto e refez. Jo formatava o texto em parágrafos e alterava a fonte durante a construção do texto. (DB – TA – S3 - Jo)

Mi fez o texto em parágrafos. Quando finalizou o texto revisou a sua escrita e modificou algumas palavras, corrigindo, acrescentando frases quando considerou necessário. (DB – TB – S2 - Mi)

Ro mudou diversas vezes o texto enquanto digitava, escrevia e apagava algumas palavras que achava que não tinham ficando bem. O texto não era o mesmo do caderno. Inventou na hora outro texto em que ficava melhor inserir imagens. Mudou também a fonte e tamanho da letra. Também organizou o texto em parágrafos. (DB – TA – S3 - Ro)

Analisando os registros, percebemos que os estudantes, ao produzirem seus textos, trabalharam de forma multilinear e multissequencial quando utilizavam o laptop, mesmo quando a orientação era passar a limpo no laptop o texto produzido no caderno. Parece que as possibilidades de escrita e leitura configuram uma outra interação do sujeito com sua produção, que não a relação de produção linear. Ao mesmo tempo, percebemos que o uso dos recursos de leitura e escrita digital ficou reduzido, pois outras possibilidades poderiam ter sido exploradas nas atividades propostas. Além disso, houve pouca socialização na promoção das práticas de leitura e escrita digital. O laptop, na maioria das vezes, foi pensado apenas como uma ferramenta, à semelhança da máquina de escrever, sem mudanças na metodologia de ensino.

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