3. Leitura e Biblioteca Escolar
3.1 Leitura na Biblioteca Escolar
A leitura na BECRE faz-se de várias formas, em diversos suportes, com ou sem a orientação do professor bibliotecário.
Quando a criança se dirige à BECRE para ler encontra um espaço livre de censuras, que permite o recurso ao livro de forma livre, quer como repositório de conhecimentos e instrumento de pesquisa, quer como fonte de prazer (Gomes,
1996:35). Aqui o pequeno leitor não se vê obrigado a dar conta, nem ao professor, nem
aos colegas, do que lê. Pelo contrário, lê o que quer, como quer e com quem quer, podendo folhear o livro a seu bel-prazer e, se o desejar, requisitar para ler em casa.
Por aquilo que vimos observando, garantimos que ver pequenos usuários a lerem, folhearem, partilharem livros numa biblioteca escolar é uma imagem deliciosa e que encanta qualquer amante da leitura.
Dentro deste espaço a criança pode escolher ler livros de fantasias ou outros que lhe proporcionem conhecimentos mais científicos ou que lhe transmitam meras curiosidades. Mas à criança é também dada a oportunidade de ler outros suportes, que nem sempre se lhe encontram disponíveis fora deste espaço: jornais, revistas, filmes vídeo, áudio-livros, todos eles também em suporte informático:
“A respeito da leitura (… ) a biblioteca escolar apresenta-se como espaço idóneo que oferece um multiplicidade de textos (informativos, periódicos, literários… ) e uma grande variedade de formas de ler: para encontrar uma notícia, para realizar um trabalho em profundidade, para apresentar uma notícia, para justificar uma opinião.” (nossa tradução, Guerrero, 2002: 45)
No entanto, o professor bibliotecário não é isento neste processo de selecção de leituras.
Embora se pretenda a neutralidade do professor bibliotecário face às escolhas dos utilizadores da BECRE, este acaba por ter um papel decisivo (e subtil, ao mesmo tempo) nas escolhas das crianças. O que acontece na realidade é que as escolhas do professor bibliotecário, a promoção dos livros e das leituras que este escolhe, a forma como guia a criança através da cultura do material impresso e dos valores que esse material exibe (Azevedo, 2006:19), influi, consideravelmente, nas decisões dos mais pequenos. Acontece, frequentemente, após uma actividade de animação da leitura, o
livro, ou os livros, abordados viajarem de leitor em leitor, sem grandes momentos de pausa entre uma mão e outra. Este facto, consideramos nós, é dos mais relevantes no papel desempenhado pelo professor bibliotecário – dar a conhecer variedades de leitura e aconselhar o leitor, mas fazendo-o com subtileza, sem que o espectro da obrigatoriedade interrompa este processo.
“A biblioteca escolar promove a literacia através do desenvolvimento e do encorajamento da leitura para fins educativos e de divertimento. A leitura, as actividades de observação e de escuta, tudo estimula o interesse da criança pela leitura.” (Vitorino,
1998:27)24
Desta forma a biblioteca da escola apresenta-se como um espaço de encontros felizes com os livros e as histórias que eles contam, num ambiente favorável à leitura
(Sequeira, 2000:16). Este espaço possibilita experiências de leitura agradáveis, num
ambiente livre de constrangimentos. Daí a importância da forma como se organiza, gere e apresenta uma BECRE.
Os responsáveis pela BECRE, neste aspecto, devem ter em mente três condições básicas: quantidade, qualidade e conforto:
Quantidade, no que concerne a fundos abundantes que consigam dar resposta aos
interesses das crianças com idades e “quereres” diversos.
Qualidade, uma vez que há que apresentar e oferecer bons livros. Aqui é fundamental
que o professor bibliotecário e restante equipa se reciclem, façam formação, visitem livrarias, se aconselhem.
Conforto, mantendo a biblioteca como um espaço acolhedor, estimulante, aberto, não
só no que respeita ao espaço físico, mas também ao ambiente emocional.
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Rede de Bibliotecas Escolares (RBE): http://www.rbe.min-
edu.pt/np4/?newsId=74&fileName=mjvfoco.pdf, [consultado em 25 de Março de 2008, às 17 horas].
Documento da autoria de Maria José Vitorino, BIBLIOTECAS, MEDIATECAS, CENTROS DE
RECURSOS NAS ESCOLAS – COM QUEM? Orientações de apoio à concepção e gestão de formação contínua de professores, Lisboa, Julho de 1998
Consideramos aqui aspectos fundamentais para uma boa organização e gestão da BECRE:
A biblioteca escolar deve, em primeira instância, funcionar em regime de livre acesso, de forma a encorajar a procura autónoma de informação.
A biblioteca escolar deve facultar leitura presencial, empréstimo domiciliário, para as aulas, interescolar.
A equipa da BECRE deve elaborar com fundamento, decorrente da observação e da avaliação do funcionamento deste espaço, uma Política de Desenvolvimento da Colecção. Neste documento estão presentes um desenvolvimento equilibrado e programado, um planeamento de prioridades / orçamento, uma selecção e um relacionamento com a comunidade educativa e público em geral.
Esta mesma equipa deve procurar também responder às propostas apresentadas no plano de acção da BECRE, renovando-o regularmente e vencendo os obstáculos, que surgem naturalmente, do seu funcionamento.
A biblioteca escolar deve voltar-se para fora das suas paredes em diversas ocasiões: Semanas da Leitura enriquecidas com exposições abertas à comunidade; visitas de pais, avós e familiares próximos para a leitura ou conto de histórias; Feiras do Livro; Encontros com escritores abertos à restante comunidade.
A BECRE deve ser o centro de animação da leitura, dotada de todos os recursos necessários (espaço, pessoas, horário, normas, etc.) quer para uma animação literária, quer para uma animação de carácter científico e/ou informativo (não ficcional, portanto).
A Biblioteca Escolar é um espaço privilegiado para a formação de leitores e, por consequência, escritores. Para tal é preciso tornar-se também um espaço que funcione, permanentemente em construção e actualização, onde se permita a negociação de ideias entre todos os intervenientes: equipa, professores, alunos, funcionários, comunidade em geral.
“São requisitos indispensáveis das novas bibliotecas a existência de espaços funcionais adequados e devidamente equipados; a constituição de colecções documentais coerentes, pluralistas, isentas de qualquer forma de censura, regularmente actualizadas e
renovadas, que cubram todas as áreas de conhecimento, organizadas em livre acesso e que permitam o empréstimo (… )” (Henrique Barreto Nunes, in Lopes, 2007: 32)