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Leituras da linha de frente,

No documento A Biblioteca Esquecida de Hitler (páginas 104-116)

O fato de que Guilherme II tolerava ouvir a verdade, e também a valorizava, fica evidente numa declaração que fez no leito de morte sobre seu antigo ajudante geral, o marechal de campo Wilhelm von Hahnke, em 8 de fevereiro de 1912. “O único homem que sempre me contou a verdade.”

Schlieffen: Um estudo de sua vida e caráter para o povo alemão, de Hugo Rochs, 1921

Esse volume fino de 92 páginas, do médico pessoal de Alfred Graf von Schlieffen,

evidentemente pretendia impressionar, com sua solene dignidade teutônica. O nome “Schlieffen” está impresso em fonte Fraktur carmesim negrito, sobre um campo âmbar de linho texturizado, com o nome do autor e o subtítulo impressos, também em Fraktur, em verde-floresta vivo. Publicado em 1921, Schlieffen é um “estudo de caráter” do lendário conde prussiano conhecido pela sabedoria humana tanto quanto pela genialidade estratégica. Quando instado a bombardear Paris durante a Guerra Franco-Prussiana, Schlieffen se recusou a submeter civis a um sofrimento desnecessário para fins militares.

Schlieffen também alertou os alemães contra uma guerra em duas frentes, e foi um defensor da retirada estratégica: às vezes era necessário sacrificar temporariamente uma província para salvar um país. Sobretudo foi autor do “Plano Schlieffen”, que permitiu a invasão da França por meio da eficientíssima manobra de flanqueamento impressionante através dos Países Baixos, o modelo para os grandes avanços iniciais da Alemanha em 1914, um ano após sua morte, e de novo, de forma modificada, em 1939, com mais eficácia ainda.

Além de fornecer uma breve biografia de seu ex-paciente, Hugo Rochs pretendia que seu livro servisse como “estudo do caráter do povo alemão”, apresentando o conde imponente, de monóculo, como a corporificação das virtudes prussianas: diligência, modéstia, humanidade. Rochs recorda que Schlieffen, após sua vitória em Königgrätz, fez uma mesura para os generais austríacos que se

renderam, em reconhecimento de uma batalha bem travada. Seu principal aforismo era: “Seja mais do que parece, tenha sucesso, vanglorie-se pouco”. Como que enfatizando esse ponto, Rochs omite o título de nobreza do conde Schlieffen na capa e no texto do livro.

personalidade” visando infundir orgulho, inspirar e instruir, lembrar os leitores alemães da humanidade e dignidade essenciais no cerne das tradições militares prussianas. Parece portanto desconcertante abrir esse volume fino de militarismo moderado e encontrar a seguinte dedicatória escrevinhada na contracapa:

Meinem Führer gewidmet Motto: “so-oder-so”

Sieg Heil, Kannenberg, 19.5.1940

Tudo na dedicatória de Artur “Willy” Kannenberg desagrada. A letra grosseira e irregular, o vermelho brilhante do lápis litográfico, a brutalidade implícita no lema “so-oder-so” (“de uma forma ou de outra”) — a despeito dos meios, dos custos ou das consequências — e em especial a saudação final ideologicamente carregada “Sieg Heil”, aquela saudação emblemática do movimento nazista, de tom militar mas com intenções políticas.

A maioria das dedicatórias nos livros de Hitler reflete uma mão experiente e pretende expressar a admiração, até reverência, que transmitem em forma e conteúdo. Leni Riefenstahl expressa

“profunda admiração” numa letra tão feminina e sedutora quanto a sua pessoa. Heinrich Himmler afirma sua “obediência leal” em letra cuidadosa e experiente. Hermann Goering oferece uma biografia de si “ao meu Führer” com “lealdade e admiração”.

Em contraste, a dedicatória de Kannenberg é descontraída, jocosa, levemente pretensiosa. O lema não pertence a ele, mas a Hitler, uma expressão típica que costumava invocar para exprimir sua obstinação de propósito. Quer na política ou nos assuntos pessoais, através de bondade e

generosidade ou de logro, suborno e brutalidade, tudo era válido para alcançar os objetivos: so-

oder-so. Outro adágio de que Hitler gostava: “wenn schon, denn schon”. Se fizer algo, faça sem

hesitação ou consideração, plena, vigorosa e implacavelmente.

Kannenberg cita Hitler para Hitler com a mesma segurança despreocupada, a mesma intimidade fácil, com que escreve o próprio nome: simplesmente “Kannenberg”. E quando Kannenberg escreve “meu Führer”, quer dizer isso mesmo, no sentido mais pessoal da palavra: seu amigo, o Führer.

Kannenberg não pertencia ao grupo de lugares-tenentes e confidentes como Goebbels, Goering, Bormann, Speer e Himmler, ou à meia dúzia de outros colegas próximos cuja companhia e conselhos informais Hitler cultivava. Pertencia, em vez disso, ao círculo íntimo que conhecia Hitler como “der

Linge e Hans Junge; seu quarteto de secretárias, Johanna Wolf, Gerda Daranowski, Christa Schröder e Traudl Junge; seu piloto particular, Hans Baur; e seu motorista, Erich Kempka.

Essas são as figuras vistosas que povoam a periferia das fotos da época, anônimos e

insignificantes para a história, mas indivíduos que Hitler considerava da “família”, sobre cuja vida pessoal constantemente indagava e na qual de vez em quando interferia. Ele insistiu que seu

administrador de Berghof, Herbert Döring, casasse com uma empregada que engravidara. Insistiu que Traudl Humps casasse com Hans Junge, e foi o padrinho do casamento de Erich Kempka. Tratava-os como família, mas era capaz de demiti-los no ato. Em meio a esse círculo fechado, incestuoso e nauseante, Kannenberg era único.

Como Hausintendant da Chancelaria do Reich, o diretor dos assuntos sociais de Hitler, Kannenberg estava incumbido de organizar eventos de gala para visitas oficiais e recepções

artísticas, mas seu campo de ação era mais amplo. Em 1936, quando Hitler expulsou sua meia-irmã, Angela Raubal, como governanta e anfitriã residente em Berghof, trouxe regularmente Kannenberg e a esposa para preparar a residência alpina para as visitas de dignitários. No Natal, Hitler mandou Kannenberg percorrer as melhores lojas de Berlim em busca de presentes, que este então exibiu, para serem examinados, na mesa da sala de jantar do apartamento de Hitler na Chancelaria do Reich.

Kannenberg era um homem corpulento, pescoço grosso, rubicundo, de meia-idade, dotado de uma arrogância ocasional, modos insinuantes e afáveis e um raciocínio rápido. Sua mulher, uma beldade coquete, de cabelos escuros, mantinha uma floricultura no elegante hotel Adlon de Berlim. Hitler conheceu Kannenberg no princípio da década de 1930, na Cabana do Pai Tomás, um pequeno restaurante que Kannenberg dirigia, perto da estação ferroviária Anhalter de Berlim, frequentado por Goering e Goebbels. Hitler ficou tão encantado com a culinária vegetariana e o estilo sociável de Kannenberg que o contratou para ajudar a administrar a sede do Partido Nazista em Munique e, após a tomada do poder, instalou-o em Berlim para organizar as grandes recepções e jantares oficiais. A atenção de Kannenberg aos detalhes era famosa. Certa vez, despachou um avião a Dresden para trazer um simples ganso, e combinava os arranjos de flores, fornecidas pela esposa, com as obras de arte nas paredes. Dotado de uma confiança natural, sentia-se tão à vontade de smoking como de avental. Sabia também como entreter um salão. Costumava interromper Hitler com uma brincadeira ou comentário, fazer um público rir com uma piada ou encher uma sala de alegria com suas canções.

“Kannenberg, além de excelente mestre-cuca, também era um ótimo showman literalmente abençoado com aquele senso de humor berlinense”, Christa Schröder certa vez recordou. “Ele encantava o público com suas rodadas de canções populares e palhaçadas, muitas vezes

acompanhadas ao acordeão.” Schröder o comparou a um bobo da corte dotado da “liberdade do tolo” — Narrenfreiheit — na presença de Hitler. “Noite com o Führer no jantar”, Goebbels certa vez escreveu no seu diário. “Discutimos questões político-militares. Kannenberg conta suas histórias da guerra. São bem estranhas.” Mas Hitler apreciava o estilo de Kannenberg, e também confiava implicitamente no seu bom senso. Quando Kannenberg se queixou de um dos auxiliares de Hitler, o homem foi demitido no ato. Quando o principal auxiliar de Hitler, Wilhelm Brückner, protestou,

insistindo que as queixas de Kannenberg não se justificavam, Hitler despediu Brückner, apesar de mais de uma década de serviço fiel.

Kannenberg talvez fosse arrogante, tagarela, calculista e implacável, mas jamais imprudente. Sabia quando interromper e roubar o espetáculo de Hitler, mas também quando devia agradar. Desse modo, quando escreveu a dedicatória “ao meu Führer” na biografia de Schlieffen e citou Hitler para ele mesmo, espertamente repetiu o “lema” deles, dessa feita em lápis litográfico azul, com a mesma letra grosseira, na última página do livro, após sublinhar a frase de encerramento de Rochs:

“Encontrarás teu caminho de novo, povo alemão, e um grande homem do domínio dos gênios tornar- se-á de novo teu líder — das trevas à luz — e tudo acabará bem”. A forma de Kannenberg de

transmitir a Hitler que estava plenamente cônscio de seu lugar na vida de Hitler e do lugar dele no mundo.

Em sua pesquisa da biblioteca privada de Hitler, Frederick Oechsner informou que quase

metade da coleção do líder nazista, “cerca de 7 mil volumes”, era dedicada a questões militares. De acordo com Oechsner, Hitler tinha livros sobre as “campanhas de Napoleão, os reis prussianos, a vida de todos os potentados alemães e prussianos que chegaram a desempenhar um papel militar e livros sobre praticamente todas as campanhas militares famosas da história registrada”. Oechsner observa que os livros sobre as campanhas napoleônicas “estão cheios de marcações nas margens com sua própria letra” e que uma coleção de “quatrocentos livros, folhetos e monografias sobre as forças armadas dos Estados Unidos” que Hitler ganhou do general Werner von Blomberg também parece ter sido estudada. Especificamente, Oechsner menciona a presença do relato de Theodore Roosevelt da Guerra Hispano-Americana e um livro do general Friedrich Wilhelm von Steuben sobre suas experiências no treinamento de tropas de George Washington durante a Revolução Americana. “Existem obras exaustivas sobre uniformes, armas, suprimento, mobilização, o

fortalecimento de exércitos em tempos de paz, moral e balística”, Oechsner diz. “Na verdade, talvez não haja uma única fase do conhecimento militar, antigo ou moderno, que não seja abordada nesses 7 mil volumes, e obviamente Hitler leu muitos deles do início ao fim.”

Segundo relatos do próprio Hitler, seu interesse por questões militares remonta à juventude, quando topou com um exemplar da história ilustrada, em dois volumes, de Heinrich Gerling da Guerra Franco-Prussiana, como explica à página 7 de Mein Kampf:

Revolvendo a biblioteca paterna, deparei com diversos livros sobre assuntos militares, entre os quais uma edição popular da guerra franco-alemã de 1870-1. Eram dois volumes de uma revista ilustrada daquele tempo. Tornaram-se a minha leitura favorita. Não tardou para que a grande luta de heróis se transformasse para mim em um acontecimento da mais alta significação. Daí em diante eu me entusiasmava cada vez mais por tudo que, de um modo ou de outro, se relacionasse com guerra ou com a vida militar.

Hermann Esser, uma das primeiras pessoas recrutadas por Dietrich Eckart para a causa nazista, recordou que, durante a década de 1920, as compras de livros de Hitler mudaram, especialmente após sua soltura da penitenciária Landsberg. “Naqueles anos Hitler gastou mais dinheiro do que antes para adquirir livros sobre a história militar [...] não apenas da história prussiana, mas em particular a

história militar austríaca e francesa”, Esser recordou. “Ele comprava quase tudo que houvesse disponível em Munique, tudo de que ouvia falar ou com que topava nas livrarias por onde passava nos passeios ocasionais ou nas idas ao Café Heck.” Naqueles anos antes que o Partido Nazista criasse sua sede na rua Schelling, em Schwabing, o bairro de estudantes em Munique, Hitler

raramente visitava as inúmeras livrarias perto da universidade, preferindo olhar os sebos perto do Café Heck. Hitler tinha uma paixão especial, Esser recordou, por “almanaques” anuais de

equipamentos militares. “Comprou de todos os anos”, Esser observou. “Depois, para comparar, adquiriu os ingleses, depois os franceses e russos.”

Atualmente a biblioteca de Hitler preserva essa sua paixão específica em quase uma dúzia de “almanaques” sobre navios de guerra, bem como aeronaves e viaturas blindadas — vários

publicados por Julius Lehmann. Alguns datam daqueles anos iniciais, como uma edição de 1920 de A

conquista do ar: Um manual do transporte aéreo e técnicas de voo, com uma introdução do conde

Ferdinand von Zeppelin; outros são aquisições mais tardias, como o exemplar de 1935 do Manual

dos tanques de Heigl, que fornece uma análise detalhada das “origens” dos carros blindados, bem

como um “guia de identificação”; diversos livros sobre navios de guerra, inclusive um compêndio de 1935, As marinhas do mundo e seu poder de combate, com introdução do almirante reformado

Walter Gladisch; e uma edição de 1940 do Manual de frotas de guerra de Weyer, escrito por Alexander Bredt. Este último volume foi bem manuseado.

O volume militar mais antigo remanescente de Hitler é um apelo ao nacionalismo militante de 111 páginas, escrito pelo antigo patriota alemão Ernst Moritz Arndt e publicado em 1815, intitulado

Catecismo para o guerreiro e defensor teutônico, onde se ensina como ser um guerreiro cristão e como entrar em combate em companhia de Deus, com uma dedicatória pessoal a Hitler da bisneta

de Arndt. Existe também uma história muito manuseada de 1902 das fortificações de Estrasburgo, “da reconstrução da cidade após as grandes migrações até o ano 1681”.

A biblioteca de Hitler também abriga algumas biografias, incluindo um perfil de 1921 de Júlio César por Matthias Gelzer, cerca de uma dúzia de livros sobre Frederico, o Grande, e as histórias de dois heróis militares prussianos da era napoleônica, Karl von Stein e Friedrich Wilhelm von Bülow, mas nenhum livro sobre Napoleão ou suas campanhas. Uma coletânea de ensaios de Karl von

Clausewitz, Guerra e Estado, cujo subtítulo é Filosofia da guerra e escritos políticos, numa edição de 1936, traz uma dedicatória do editor a Hitler, mas parece nunca ter sido folheada. No livro sobre Helmuth von Moltke (o Velho), as páginas estão intactas. Da mesma forma, um livro de Karl Justrow sobre Alfred von Schlieffen, O marechal de campo e as técnicas de guerra: Estudos sobre os

planos operacionais do conde Von Schlieffen e lições para nosso rearmamento e defesa nacional,

publicado em 1933, também não mostra sinal de leitura. Porém, outro livro sobre o lendário general prussiano, aquele que Hitler ganhou de Kannenberg, além de ter sido lido, traz numerosas marcações nas margens.

o “ninho do rochedo” —, um posto de comando de madeira no alto do morro nas profundezas das florestas do Eifel, 32 quilômetros a sudoeste de Bonn e a menos de vinte quilômetros da fronteira belga. Chegou lá após uma viagem noturna de trem intencionalmente diversionária: o trem partiu de Berlim para o norte rumo a Hamburgo e, pouco antes da meia-noite, mudou de rumo para sudoeste, chegando à cidade de Euskirchen, perto da fronteira belga, às 4h25 da madrugada. Ali foi recebido por uma coluna de veículos militares, que então viajaram por meia hora até o Felsennest. O posto, um aglomerado de cabanas de madeira e casamatas subterrâneas, mais parecia uma colônia de férias do que um quartel-general militar. A “sala de comando de emergência” era uma estrutura de madeira de um andar com um telhado pontudo camuflado, um pequeno terraço com uma balaustrada de madeira e uma janela com persianas do comprimento da sala que podia ser aberta para deixar entrar a luz

natural quando fazia bom tempo. Hitler foi alojado num bunker subterrâneo com um telhado verde e uma entrada inclinada, que se abria para fora como portas de adega.

Uma foto do quarto de Hitler mostra um espaço apertado e espartano, equipado de um sofá-cama listrado e uma escrivaninha simples. Um aquecedor elétrico divide o espaço junto à parede com um banco de vime de quatro pés. Várias pilhas totalizando mais de trinta livros ocupam o espaço atrás do leito; duas pilhas arrumadas, uma com quatro volumes e outra com três, estão na frente. Uma grande lente de aumento repousa sobre a escrivaninha. O marechal de campo Wilhelm Keitel

recordou que as paredes internas eram tão finas — hellhörig — que conseguia ouvir Hitler virando as páginas à noite.

Exatamente às 5h35 da madrugada do dia 10 a invasão começou. Reunindo sua comitiva diante de seu bunker, com pássaros chilreando nas árvores em volta, Hitler anunciou: “Cavalheiros, a ofensiva contra os aliados ocidentais começou agora”. Nos nove dias seguintes, Hitler monitorou o progresso de sua operação militar, muitas vezes ao ar livre, acompanhando um triunfo alemão após o outro.

No domingo, 19 de maio, chegaram “boas notícias” de todas as frentes. “Após a eliminação da resistência final na ilha de Walcheren, toda a Holanda, incluindo suas ilhas, está agora sob controle”, registra o diário do Alto Comando Alemão. “No norte da Bélgica, nossas tropas, que já capturaram Antuérpia como foi informado, estão empurrando as tropas inimigas remanescentes, que continuam lutando, mais para oeste.” A oeste de Antuérpia, as forças alemãs haviam cruzado o rio Schelde, tendo alcançado a margem leste do rio Dendre, a oeste de Bruxelas. As notícias do norte da França também eram encorajadoras. Os rios Oise e Sambre haviam sido transpostos. Le Cateau e Saint- Quentin estavam em mãos alemãs. Ao longo da Linha Maginot, um importante baluarte francês se rendera, a Posição 505, a noroeste de Montmédy. “O número de prisioneiros e armas capturadas continua aumentando”, conclui o diário. “Até agora 110 mil capturadas, sem contar o exército

holandês e numerosas peças de artilharia de calibre até 28.” Kannenberg pontilhou o espírito daquele domingo com sua saudação triunfante: “Sieg Heil!”.

Quando Kannenberg escreveu a dedicatória na biografia de Schlieffen, faltavam poucas semanas para Hitler ser aclamado pelo chefe do estado-maior da Wehrmacht, Wilhelm Keitel, como o “maior

marechal de campo de todos os tempos”. Em sete breves meses, Hitler havia desencadeado uma série de ataques-relâmpago contra a Polônia e a Escandinávia, e agora França, Bélgica e Holanda,

arrebatando Luxemburgo no caminho. Suas vitórias espetaculares deixaram amigos e inimigos temendo o rolo compressor alemão e metade da Europa sob o domínio nazista.

À primeira vista, a dedicatória de domingo de Kannenberg pode ser vista como uma saudação à vitória alemã, um assentimento ao talento de seu chefe no campo de batalha, mas também pode ser indício de falsidade sutil, um sinal da tensão subjacente à euforia daquele fim de semana. Na sexta- feira, Hitler havia entrado em choque com Franz Halder após fazer algo que nunca havia feito:

intervir numa decisão militar tática. Até então, o papel de Hitler nas operações do campo de batalha havia sido basicamente decorativo. Ele era onipresente no campo de batalha e ao olhar público, especialmente quando as câmeras dos cinejornais estavam em ação: reunido com seus generais, examinando mapas, inspecionando o campo de batalha, percorrendo as linhas de frente, conversando com soldados extenuados pela guerra, mas empolgados. Porém, quando se tratava de questões

operacionais, os generais ignoravam seu envolvimento ou resistiam a ele.

No verão de 1938, Hitler discordara de Halder a respeito do plano de invasão da

Tchecoslováquia. Em vez de um ataque coordenado sobre Praga, como Halder recomendara, Hitler propôs dividir o exército alemão para ataques simultâneos contra Praga e Pilsen. Halder argumentou que as forças alemãs não eram fortes o bastante para um ataque duplo. Como Hitler insistiu, Halder entregou-lhe os mapas e pediu que ele próprio fizesse as mudanças. Hitler retornou a Berlim, fez as

No documento A Biblioteca Esquecida de Hitler (páginas 104-116)

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