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3.2.1 Amnésias Topográficas: vazios urbanos, novos espaços para o teatro

O Bairro Buritis está localizado, exatam ente, para fora da antiga zona suburbana. A topografia irregular dificultou a sua ocupação por alguns anos, m as a cidade se expandiu e a necessidade de novos bairros residenciais transform ou o Buritis em um dos principais bairros residenciais, p rincip alm ente p elos seus p equenos edifícios voltados p ara a classe m édia. Em decorrência de um a rígida Lei de Uso e Ocup ação do Solo, aos edifícios do b airro só foram p erm itidos a construção de quatro p avim entos, sem nenhum a restrição, contudo, ao im p ac- to causado pelas estruturas de concreto resultantes da im plantação em terrenos com declives bastante acentuados.

O resultado foi um a paisagem desconexa, com posta por prédios anões, construídos sob palafitas de concreto e por um a seqüência de resíduos urbanos decorrentes da falta de integração da arquitetura, do urbanism o e da topografia.

“... esses prédios refletem fatores de dom ínio m ais am plo: o crescim ento urbano descontrolado, a justa- posição aleatória de interesses m últiplos (da prefeitura, dos especuladores do setor im obiliário, das em presas urbanizadoras),a discrepância entre arquitetura e infra-estrutura e,principalm ente,o desperdí- cio típico das sociedades não planejadas.” (TEIXEIRA,2001).

Contudo, nos vazios existentes, está a liberdade de exploração e de superação das defi- ciências urbanas das m etrópoles, através da busca pelo equilíbrio entre “as forças do urbanism o e da arquitetura.” (TEIXEIRA, 1999). Sugere, assim , o autor um olhar criativo para o futuro desses resíduos, afirm ando que, quanto m aior o núm ero de áreas residuais e vazias na sua extensão urbana, m aior a vantagem da cidade em conquistar essa transform ação.

Foto 64: Bairro Buritis ao fundo. Fonte: PINHEIRO, 2004.

Foto 65: Vazios urbanos. Fonte: TEIXEIRA, 2004.

Capítulo 3. Os Lugares Teatrais de Belo Horizonte, pelo Grupo Galpão e Armatrux 119

“A paisagem das grandes cidades é com posta por m uitos elem entos residuais: terrenos baldios, vazios ociosos, lacunas ilhadas; áreas subutilizadas esperando ser ativadas, reservatórios de oportunidades abertos às pressões das dem andas cívicas e sociais.” (TEIXEIRA,2001).

No caso de Belo Horizonte,é visível o triunfo do não-planejado sobre o planejado.A cidade cresceu e se espalhou por todos os lados, ultrapassando limites, invadindo áreas verdes reservadas, suprimindo espaços públicos e criando os vazios urbanos.

Os vazios das palafitas de concreto dos edifícios do bairro Buritis representam,exatamente, áreas com esse potencial para exploração,que TEIXEIRA (2001) define como “Amnésias Topográficas”, uma situação recorrente,não só naquele bairro,mas em toda a paisagem da capital mineira.

Foto 66: Local próximo da peça, no Bairro Buritis. Fonte: TEIXEIRA, maio 2004.

Foto 67: Entorno do local da peça. Fonte: TEIXEIRA, 2004.

3.2.2 O Grupo de Teatro Armatrux

O Grupo de Teatro Armatrux surgiu em 1991,da parceria de um grupo de atores principian- tes com profissionais de teatro para a realização do espetáculo “Acorda Aderbal”.Este espetáculo foi concebido como proposta final de curso de uma escola particular de artes integradas conhecida por Centro Artístico Tangram. Com uma formação multidisciplinar a escola tinha como característica o ensino das diferentes linguagens artísticas e a sua aplicação na prática, em montagens teatrais. Foi nesta escola artística que estudou Paula Manata e outros componentes fundadores do Grupo Armatrux,que na sua origem foram primeiro conhecidos por Grupo Tangram.Da primeira formação apenas a atriz Paula Manata permanece no grupo. A peça “Acorda Aderbal” foi importante por ter na sua montagem todas as linguagens artísticas que influenciaram a construção do conceito artísti- co do Armatrux.Elementos do teatro físico,do teatro de imagens,do teatro de bonecos,do canto e da dança,foram estudados e explorados nesta primeira montagem,e permanecem como base para as pesquisas teatrais dos espetáculos do Grupo até hoje.

A rua foi naturalmente o espaço escolhido para apresentação da peça, por ser um grupo desconhecido era difícil alcançar um público nos espaço fechados das salas de teatro. A escola de arte acabou logo após a montagem de “Acorda Aderbal”, e o grupo de atores juntamente com o diretor de teatro Paulinho Polika fundaram o Grupo de Teatro Armatrux.

Com dezesseis anos de carreira o Armatrux,tem quatorze espetáculos de teatro produzidos, sendo oito deles apresentados em espaços da cidade, como: nas ruas, praças, parques e espaços alternativos. A rica formação artística de seus componentes traduz por pesquisar sempre uma lin- guagem artística na fase de concepção de uma montagem.Razão pela qual,os espetáculos sempre apresentam diferentes expressões artísticas, ora do teatro de boneco com teatro de imagem, ora o teatro físico com arquitetura,ou o teatro mambembe com os clowns e a pesquisa circense.O impor-

Foto 68: O grupo Armatrux. Fonte: Acervo GrupoArmatrux.

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tante na visão de Paula Manata, em entrevista cedida em julho de 2007,“é estar sempre pesquisan- do,buscando novas relações da arte cênica com outros segmentos culturais,pois são todas expres- sões teatrais,tudo é teatro”.

À vontade de trabalhar a partir do espaço da cidade surgiu em um momento de questio- namento sobre qual deveria ser a marca do grupo,se o grupo era um grupo de teatro de rua,ou um grupo que se apresentava na rua? Todas as montagens até então,ocupavam o espaço da rua com seus palcos e cenários, mas ainda não haviam criado um teatro a partir da rua, da cena cotidiana e da vida na cidade. Este conflito gerou uma busca por criar um teatro que trabalhasse no ambiente urbano,fizesse da cidade o cenário e também parte da peça.