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4.5 LIÇÕES APRENDIDAS

4.5.3 Lição Aprendida 3 – Abertura de Dados

Benefícios pela abertura de dados governamentais podem ser potencializados por estruturas como a do MobiLab ao favorecer a inovação aberta, a participação de startups e o desenvolvimento de soluções não proprietárias.

A estruturação do MobiLab esteve fortemente relacionada ao processo de abertura de dados de órgãos municipais e seu aproveitamento no desenvolvimento de soluções, especialmente no que diz respeito às tecnologias abertas, as quais o setor público local detinha grandes expectativas e interesse de consumo (D. Swiatek, comunicação pessoal, 8 de novembro, 2018; J. Tatto, comunicação pessoal, 7 de dezembro, 2018).

R. S. Cardoso (comunicação pessoal, 20 de dezembro, 2018) depõe que a abertura de dados da SMT abre a possibilidade para que a sociedade civil desenvolva soluções que impactem beneficamente a mobilidade urbana. Esta declaração é coerente com a afirmação de Vaz et al. (2010), que descreve que a acessibilidade aos dados governamentais propicia à sociedade civil a capacidade de reaproveita-los e, com isso, desenvolver novas soluções, assim como criar ou aprimorar serviços públicos em colaboração com o Estado.

A diversificação de abordagens e técnicas criativas e modernas, possibilitada pela abertura e uso coletivo de dados governamentais, vão na direção do postulado por Scaringella (2001), uma vez que o autor destaca que, no intuito de aprimorar a mobilidade urbana da cidade de São Paulo, a administração pública deve priorizar o uso racional e eficiente das infraestruturas já existentes. No caso de São Paulo e com relação ao trabalho do MobiLab, a abertura de dados voltava-se também para a otimização de certos hardwares instalados, como os controles semafóricos (J. Tatto, comunicação pessoal, 7 de dezembro, 2018) ou receptores GPS instalados nos ônibus municipais, os quais produziam grandes quantidades de dados brutos, mas que não eram devidamente aproveitados (R. Tartaroti, comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019).

Ainda, Scaringella (2001) destaca que dentre os serviços que não podem permanecer estáticos e que necessitam de abordagens tecnológicas atuais e redesenhos constantes estão aqueles que impactam a mobilidade urbana. Isto vai de encontro aos benefícios produzidos pela abertura de dados governamentais, o qual torna possível o desenvolvimento de soluções tecnológicas mais eficientes pela sociedade, aliando-se aos esforços do Estado (Janssen et al., 2012; Vaz et al., 2010).

Conforme R. S. Cardoso (comunicação pessoal, 20 de dezembro, 2018) e R. Tartaroti (comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019), estes dados abertos, ao serem empregados em aplicações que impactem positivamente a inteligência urbana e a mobilidade da cidade, acabam

por favorecer a gestão administrativa do ente estatal, mesmo quando a solução não tem o propósito direto de provocar a melhoria de algum serviço público ou da própria gestão.

Este mesmo raciocínio encontra-se no trabalho de Vaz et al. (2010), os quais defendem que quando dados governamentais abertos são utilizados pela sociedade e sua criatividade coletiva, estes geram oportunidades para o surgimento de abordagens mais inovadoras, alcançando ganhos públicos, que ora não seriam explorados pela atuação isolada do Estado. Enquanto que para Janssen et al. (2012), o corpo político-administrativo governamental pode beneficiar-se com as redes de desenvolvimento formadas a partir da abertura de dados públicos, mesmo diante de uma situação aos quais estes têm menos controle.

Ademais, a abertura de dados, ao ser facilitado pelo laboratório MobiLab, é vista por F. A. Nogueira (comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019) como uma forma importante de estimular a inovação aberta. Neste sentido, entende-se que o acesso aos dados e a colaboração intermediada pelo laboratório, aproximando governo e parceiros externos, caracteriza-se como um modelo de inovação aberta (open innovation), na forma como Lee et al. (2012) descrevem em seu trabalho.

Esta abertura de dados por meio do MobiLab é também percebida por R. S. Cardoso (comunicação pessoal, 20 de dezembro, 2018) como uma oportunidade de aproximação da sociedade civil e administração pública, fazendo com que uma possa compreender melhor os anseios, dificuldades e capacidades da outra, contribuindo para o desenvolvimento de soluções mais eficazes e eficientes. Lee et al. (2012) apontam que os governos passaram a entender que os cidadãos são importantes stakeholders e que os agentes do Estado sozinhos são insuficientes para o processo de resolução das questões públicas.

Ainda, Lee et al. (2012) observam que este atual cenário de maior participação dos cidadãos foi impulsionado pela rápida expansão das TICs, as quais liberaram recursos de acesso à dados e a possibilidade de formação de redes virtuais para discussão e desenvolvimento de soluções para problemas complexos. Isto fez com que governos percebessem os benefícios de criar estruturas de governança para a colaboração ativa entre o ente estatal e a sociedade, como no caso do laboratório de inovação dinamarquês MindLab (Lee et al., 2012).

Tendo em vista os proveitos da relação de cooperação dos cidadãos com o Estado e seus dados governamentais, a qual possibilita o desenvolvimento de soluções com maior precisão (Janssen et al., 2012; Lee et al., 2012; Vaz et al., 2010), J. Tatto (comunicação pessoal, 7 de dezembro, 2018) e R. Tartaroti (comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019) destacam a oportunidade desta parceria produzir tecnologias abertas. Este modelo de produção, segundo estes entrevistados, é de grande interesse do poder público, uma vez que se configura como alternativa para o consumo estatal de soluções de baixo custo, ágeis e com maior potencial de aproveitamento e interoperabilidade, ao fazer uso de padrões (códigos, protocolos, etc.) não proprietários.

Neste sentido, o MobiLab tornou-se uma estrutura de conexão entre poder público, cidadãos, instituições acadêmicas e empresas, como as startups, em prol da melhoria e sustentabilidade da mobilidade urbana. F. A. Nogueira (comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019) e R. Tartaroti (comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019) apontam duas estratégias que o MobiLab tem para lidar com startups, os concursos (hackthons) para aquisição de tecnologia pela administração municipal e o programa de residência e coworking, que visam um acompanhamento mais dinâmico, envolvendo mentoria, apoio técnico e acesso facilitado aos dados públicos.

Assim, é possível entender uma natural compreensibilidade entre estas duas estruturas, o que simplifica seu relacionamento, uma vez que, segundo Schuurman e Tõnurist (2017), laboratórios de inovação são estruturas que trabalham de forma bastante semelhante às startups, com a diferença de que estas unidades públicas têm o seu foco voltado para o redesenho de serviços governamentais.

R. S. Cardoso (comunicação pessoal, 20 de dezembro, 2018), F. A. Nogueira (comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019), L. R. M. Matos (comunicação pessoal, 26 de janeiro, 2019) e R. Tartaroti (comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019) reconhecem que a incorporação de tecnologias pelo ente estatal e por meio dos concursos promovidos pelo MobiLab não alcançou o resultado ou a escala esperada. Segundo R. S. Cardoso (comunicação pessoal, 20 de dezembro, 2018), L. R. M. Matos (comunicação pessoal, 26 de janeiro, 2019) e R. Tartaroti (comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019), isto ocorreu pela falta de investimentos, limitando a ação a poucos projetos pilotos que visavam a mobilidade inteligente. Estes mesmos entrevistados afirmam que

tal impacto não afetou da mesma maneira o programa de residência, uma vez que sua necessidade de recursos financeiros é diminuta.

Os entrevistados (R. S. Cardoso, comunicação pessoal, 20 de dezembro, 2018; F. A. Nogueira, comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019; L. R. M. Matos, comunicação pessoal, 26 de janeiro, 2019; R. Tartaroti, comunicação pessoal, 4 de janeiro, 2019; J. Tatto, comunicação pessoal, 7 de dezembro, 2018) concordam quanto a capacidade das startups em produzirem soluções de maneira rápida e a baixo custo. Contudo, J. Tatto (comunicação pessoal, 7 de dezembro, 2018) enfatiza que, no caso de soluções voltadas ao setor público, deve-se tomar maiores precauções para promover o desenvolvimento de tecnologias abertas.