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CAPÍTULO IV CRÍTICAS E COMENTÁRIOS AO NEO-REPUBLICANISMO DE

4.2 Liberalismo

4.2.1 Geoffrey Brennan e Loren Lomasky em “Againt reviving republicanism” (2006)

Esses autores argumentam contra a suposição de que o republicanismo seja uma alternativa superior ao liberalismo. Não estão convencidos do diagnóstico republicano dos liberais e acrescentam que a política republicana sem o melancólico olhar para o passado é menos atraente.

Where republicanism looks appealing in hindsight, the attractiveness is due precisely to the fact that it is indeed a wistful hindsight through which it is being viewed; republican polity up close and personal is distinctly less appealing (BRENNAN E LOMASKY, 2006, p. 221).

Em suas críticas ao conceito de não-dominação, os autores retomam exemplos muito usados pelo autor republicano: a dominação no trabalho entre empregadores e empregados e a dominação em casa entre maridos e esposas, para mostrar que as posições republicanas não são tão distintas das liberais.

O liberalismo, assim como o republicanismo, procura defender esposas e trabalhadores de situações de dominação. Os autores dizem não ver muita diferença entre a posição republicana e a posição liberal da lei doméstica. Já em relação aos trabalhadores, a maior diferença seria apenas que, enquanto os republicanos procuram “promover a voz”, os liberais procuram uma “saída”.

So, for example, in the marital realm republicans will come down heavily against spouse bashing and will also provide mechanisms via which antagonistic parties can separate one from another and equitably settle property divisions. We do not see, however, that this differs in principle from liberalism’s position on domestic law. Of course, particular republicans may differ from particular liberals in their views concerning what sort of social policies ought to be adopted to assist the soon-to-be or recently divorced, but this does not amount to a divide between the two understandings of liberty and the respective politics founded thereon (BRENNAN E LOMASKY, 2006, p. 244).

To invoke once again the Hirschman vocabulary, liberalism sees exit as the primary cure for potential domination; republicanism takes voice to be the more desirable response. (...) The republican’s instincts in any situation in which liberty is an issue is to look for remedies of voice, the liberal’s is for remedies of exit. This can, in principle, be a source of distortion on both sides. Perhaps, liberals overlook institutions of voice too readily in some cases. However, it cannot be too heavily emphasized that voice and exit differ in one critical respect (BRENNAN E LOMASKY, 2006, p. 246).

4.2.2 Charles Larmore em “A critique of Philip Pettit’s Republicanism” (2001)

Apesar dos esforços de Pettit em rivalizar com o liberalismo, sua visão política pode perfeitamente ser considerada liberal. Pettit caracteriza a liberdade típica do liberalismo como a não-interferência, no entanto, o crítico chama a atenção para a inexistência de consenso sobre o significado da não-interferência dentro do campo do liberalismo. Larmore retoma posições de Locke e de Constant que não se enquadram na caracterização liberal articulada por Pettit. São apresentadas passagens destes dois autores como argumento de que, ao contrário do que diz Pettit, há autores liberais que também reconhecem como finalidade da lei a preservação da liberdade.

Além disso, Larmore aponta que Pettit utiliza reconhecidos princípios liberais para definir o conteúdo preciso de sua concepção republicana de liberdade como não-dominação.

First of all, it is not right to suppose that the liberal tradition displays a monolithic allegiance to the notion of freedom as non-interference. The evidence which Pettit adduces to defend this interpretive thesis is unconvincing. But in addition, the exposition which he goes on to give of his republican theory does not really make of non-domination the supreme political value, and the character of this failure is quite significant. He finds himself, in fact, obliged to appeal to recognizably liberal principles in order to define the precise content of his republican conception of freedom. In the end, Pettit belongs to the very liberal tradition that he imagines he has transcended (LARMORE, 2001, p. 231).

O autor também procura mostrar que suas posições ligadas ao conceito de não-dominação não são muito diferentes das de Rawls. Muitos dos argumentos de Rawls sobre a liberdade política mostram afinidades com a convicção de que a liberdade consiste em ausência de dominação.

Whether men are free, he wrote, is determined by the rights and duties established by the major institutions of society. Liberty is a certain pattern of social forms (RAWLS apud LAMORE, p. 237).

(...) My aim is not to suggest that in his heart of hearts Rawls adhered to the republican conception. A well-defined distinction between the two views of freedom was not available, when he wrote A Theory of Justice or Political Liberalism (LARMORE, 2001, p. 237).

4.2.3 John Ferejohn em “Pettit’s Republic” (2001)

Na visão desse autor, a visão republicana de Pettit é uma construção invertida das formas clássicas de republicanismo, e essa inversão acaba por configurar Pettit no campo do liberalismo. A principal característica das instituições republicanas clássicas é sustentar um governo justo e próspero e defender que o desenvolvimento de uma república estável depende do desenvolvimento de um tipo específico de pessoas, os cidadãos com senso patriótico e de auto-sacrifício. Assim, os republicanos clássicos discutem qual é a melhor maneira de se configurarem as instituições políticas a fim de desenvolver a personalidade republicana.

Pettit, por sua vez, pouco fala sobre a natureza de um bom governo, ou justiça, ou qualquer outra proposta potencial para o governo republicano. Talvez a ausência desses elementos seja pela constatação de uma sociedade moderna e plural o que torna cada vez mais intrincada uma discussão acerca desses valores.

Entretanto, é a ausência desses elementos e o foco na não-dominação como um conceito de liberdade o que caracterizará, para o crítico, o ingresso do republicanismo de Pettit no campo do liberalismo. Se a não-dominação é um tipo de liberdade, e não uma condição ou pré-condição para a realização de outros valores desejáveis, então esse é um valor típico e plausível para as sociedades liberais.

It’s represents [Pettit’s republicanism] a kind of inverted republicanism in which ends and means are reversed. (...) But, whatever produced and sustained the republican personality, that personality is only an ingredient or an instrument to achieve another purpose: good government, however defined. Pettit has turned this relationship upside down: his republicanism aims at creating circumstances of nondomination as its primary end and not as a means to something else (FEREJOHN, 2001, p. 83) .

If nondomination is freedom, then it is the kind of thing that a liberal society can plausibly (perhaps must) maximize (FEREJOHN, 2001, p. 85).

4.2.4 Henry Richardson em “Republicanism and democratic injustice”(2006)

Os comentários desse autor caminham no mesmo sentido dos de outros autores que não vêem o ideal de não-dominação e o fato de este ideal figurar como centro do republicanismo de Pettit como motivos suficientes para tornar a teoria política republicana incompatível com o liberalismo. Mais uma vez, chama-se a atenção para a possível relação entre muitos aspectos da teoria de Pettit e as formulações de justiça econômica de Rawls. “Nonetheless, I and others remain

convinced that republicanism at its best will be integrated with an egalitarian liberalism.” (RICHARDSON, 2006, P. 176)

O ideal de não-dominação, ao reconhecer que as pessoas podem sofrer dominação do Estado (imperium) e do poder privado (dominium) traz implicações de grande alcance para a teoria econômica. Para Richardson, o ideal de não- dominação possui implicações econômicas radicais, e, embora as arquiteturas normativas de Rawls e Pettit sejam diferentes, não há nenhuma incompatibilidade séria entre os dois autores. “In short, there seems to be no fundamental

incompatibility between Rawls’s liberalism and Pettit’s republicanism.”

(RICHARDSON, 2006, P.180)

A crítica de Richardson a Pettit envolve o seu desenho institucional, cujo valor central é a não-dominação. O desenho institucional marcado por mecanismos para checar e dividir o poder não é suficientemente apto para lidar com uma das questões centrais de Rawls: o valor equitativo da liberdade política. “My contention, then, is that Pettit’s neo-republican theory is not well able to handle the central kind of injustice that Rawls is here describing, involving the combined political clout of the wealthy.” (RICHARDSON, 2006, p.183)

Segundo o comentador, a partir da visão de Pettit, só haveria preocupação com o valor equitativo das liberdades se este envolver alguma questão de dominação; porém há situações em que, mesmo não havendo dominação, o poder econômico exerce uma indevida influência na tomada de decisão. “(...) I hope to have convinced you of the point, it is not simply obvious that failures of fair value can exist in the absence of domination.” (RICHARDSON, 2006, p.195)

As we have already seen, there is ample reason to think that liberalism and republicanism can sit well together. In relation to Pettit’s theory, then, my conclusion may be seen as suggesting a friendly amendment, one that accepts that the strongest form of republicanism is a liberal republicanism (RICHARDSON, 2006, p.195).

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