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Capítulo 1 – Introdução

1.4 Liberalização do sector eléctrico

O sector eléctrico pré-liberalizado apresentava características bastante próprias, sendo, tradicionalmente, considerado como um monopólio natural. As razões que levavam a que se mantivesse esta estrutura de mercado consistiam num carácter estratégico e na natureza de serviço público do fornecimento de energia eléctrica. Junto a isto, existiam diversos argumentos que sedimentavam este tipo de mercado, entre os quais: o facto do sector eléctrico apresentar uma economia de escala ao nível da produção, o que levava a que uma só empresa conseguisse servir o mercado a preços mais baixos, ao invés de várias empresas a competirem entre si; a necessidade de evitar a duplicação das redes eléctricas, que estava associado a elevados custos e a uma certa ineficiência.

Este segundo ponto fosse talvez o mais importante. Isto porque, caso se optasse por uma duplicação/reestruturação das redes eléctricas, seria possível envergar por um cenário de importação de energia. O que levaria a uma diminuição da produção interna e a uma, consequente, queda do sistema monopolista (Paiva, 2005).

Ainda neste tipo de sistema, o sector eléctrico apresentava uma estrutura verticalmente integrada. Com isto, uma empresa era responsável pelas actividades de geração, transmissão e distribuição de energia eléctrica.

Assim, no final da década de 80 inícios da década de 90, do século XX, o sector eléctrico conheceu uma profunda alteração estrutural. Esta alteração, genericamente designada por reforma, teve como objectivo a liberalização dos segmentos potencialmente competitivos e pela regulação dos segmentos considerados como monopólios naturais. Neste sentido, pretendeu-se envergar por um sistema de livre concorrência. A passagem de um sistema monopolista para um sistema de livre concorrência, envolveu um conjunto distinto de motivações. Nomeadamente, motivações de índoles económicas e políticas.

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As motivações económicas associadas à passagem do sector eléctrico para um sector liberalizado foram as seguintes:

 Investimento excessivo na produção;

 Extinção das condições de monopólio natural.

O investimento excessivo no serviço de produção foi um dos aspectos mais fortemente contestado no período pré-liberalizado. Este aspecto tanto era evidente em sistemas baseados em empresas públicas como em sistemas baseados em empresas privadas, onde se notava que os níveis de investimento eram demasiado excessivos (Sousa, 2005). O motivo pelo qual se verifica uma situação desta natureza, teve a ver com o facto de que as centrais eléctricas, a actuarem num regime monopolista, não tinham incentivo para operarem de forma eficiente. Assim, a introdução de um sistema de livre-concorrência iria melhorar os custos de investimento e operação das centrais. Com isto, ir-se-ia obter um aumento do bem-estar social e preços de energia eléctrica mais competitivos (Martins, 2009).

A extinção das condições de monopólio foi a principal razão para esta mudança. A implementação de um modelo desagregado (sistema liberalizado) levaria ao aparecimento de novos agentes nos diversos serviços existentes no sector eléctrico, contribuindo, assim, para um aumento da concorrência no mesmo. Com isto, o próprio consumidor passou a desempenhar um papel mais activo, uma vez que pode optar por um leque de novas entidades fornecedoras de energia eléctrica. Com a extinção das condições de monopólio, terminou-se com a ideologia de que a energia eléctrica devia ser produzida por centrais de grande capacidade e, depois, transportada para os centros de consumo através da rede eléctrica. Assim, com a entrada de novos agentes produtores, ou seja, com a entrada de competição no sector, a energia eléctrica passaria a ser produzida mais próximo dos centros de consumo (Lopes, 2002).

Como mencionado anteriormente, para além das motivações económicas, existiram ainda motivações políticas. Este aspecto, embora não seja tão óbvio como os anteriores, teve um papel impulsionador para a reestruturação do sector eléctrico.

Numa fase inicial, a queda do bloco soviético provocou um impacto significativo. O colapso de um sistema que se sustentava num poder interventivo excessivo por parte da identidade do Estado, de possibilitou a entrada de novos intervenientes nas diversas áreas de actividade. Originando uma rápida mudança que

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levou a que se progredisse para uma reestruturação apoiada em ideais de cariz liberal (Sousa, 2005).

Numa fase posterior, na União Europeia (UE) existiu uma vontade política que defendia um aprofundamento do mercado interno, através da sua expansão aos sectores da electricidade e do gás.

A Directiva 96/92 CE, de 19 de Dezembro de 1996, teve um importante papel na introdução de uma maior concorrência nos países membro uma vez que:

 Permitiu a construção de novos centros electroprodutores por qualquer empresa, através de um sistema de autorização ou de um sistema de concurso público;

 Possibilitou o acesso à rede nacional por terceiros, para assim permitir o transporte de electricidade dos produtores para os consumidores;

 Impôs uma separação das contas das empresas verticalmente integradas nas actividades de produção, transporte e distribuição;

 Determinou um calendário de abertura do mercado de concorrência.

Mais tarde, a Directiva 2003/54/CE, de 26 de Junho de 2003, reviu este processo no sentido de acelerar a liberalização e a integração dos mercados. Esta revoga a Directiva 96/92/CE, estabelecendo regras comuns para o mercado interno de energia eléctrica.

No sentido de um melhoramento contínuo destas condições, surgiu a Directiva 2009/72/CE, de 13 de Julho de 2009. Esta revoga a Directiva 2003/54/CE e integra o designado “Terceiro Pacote Energético” da UE. Este novo pacote estabelece medidas que visam o seguinte: um aumento da concorrência, a existência de uma regulamentação eficaz e a consolidação de um mercado que funcione em benefício de todos os consumidores, independentemente da sua dimensão, garantido ao mesmo tempo um fornecimento de energia mais seguro, competitivo e sustentável.

Fora da UE, existiram casos particulares na reestruturação do sector eléctrico. Tendo em conta a configuração do sector nesses mesmos casos, que se reflectia num monopólio público verticalmente integrado, optou-se por programas de privatização das empresas. O que resultou num encaixe financeiro significativo e numa diminuição da dimensão do sector público, em áreas potencialmente competitivas. Exemplos destes casos são: o Reino Unido, o Chile e a Argentina. Em Portugal, este processo teve

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contornos um pouco semelhantes aos casos anteriores. Após a inversão das leis revolucionárias e da eliminação das restrições ao capital privado, em 1982, deu-se início ao processo de liberalização. Em seguida, com a retirada da irreversibilidade das nacionalizações e da reforma agrária, em 1989 da Constituição, abriu-se caminho para o processo de privatização das empresas públicas (Sousa, 2005).

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