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2. O DESENVOLVIMENTO PESSOAL COMO TRADUÇÃO DO BEM COMUM

2.2 Liberdade no Mercado de Trabalho como condição para Concretização do

Reitere-se aqui o caráter do desenvolvimento como um processo que gradativamente amplia as liberdades substantivas dos seres humanos, garantindo, assim, uma existência mais digna para os mesmos. Entrementes, percebe-se que para ampliar as liberdades gerais é preciso preservar uma série de liberdades instrumentais cruciais, algumas delas natas ao próprio indivíduo, como a liberdade de expressão e de transação. Nessa rede intricada de interdependência entre as liberdades que servem de instrumentos para alcançar o desenvolvimento, não podemos olvidar a relevância de se tutelar a liberdade de mercados, sobretudo, a liberdade do mercado de trabalho, que resultará na liberdade de escolha e prática de profissões, inclusive, na liberdade de melhor transacionar sobre os moldes e condições de execução dos seus serviços. Em suma, a liberdade é simultaneamente delatada como fim e meio do desenvolvimento.

Direcionando-se a uma análise mais alocada desses conceitos, não é por acaso que nossa Carta Magna, em seu art. 1°, estabelece que a República Federativa do Brasil, constituída por um Estado Democrático de Direito, fundamenta-se: na cidadania, na soberania, na dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e no pluralismo político. Ademais, em seu art. 3°, preconiza que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e igualitária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização e diminuir as desigualdades regionais e sociais, assim como promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

É oportuno notificar que a livre iniciativa guarda sintonia com a liberdade de mercado, e esta, por sua vez, abarca a liberdade de circulação de pessoas, de capital, de informação, de tecnologia, trocas amplamente preservadas nas economias capitalistas, mormente dentre os regimes democráticos, como o que se tem no país. Todavia, assinala-se que o legislador originário cuidou de revestir a livre iniciativa de cunho expressamente social, visto que positivou a fundamentalidade do Estado Democrático de Direito baseada

sua função social6, mas também, a livre iniciativa deve atender a este desiderato. A lógica disto é alicerçada na teoria do bem comum já advertida em item próprio, pela qual São Tomás de Aquino aponta que o bem individual não pode ser alcançado caso seja apartado do bem da sociedade, que, por sua vez, tem por objetivo garantir o bem de cada indivíduo, e nessa interdependência deduz-se que: um bem é tanto mais bem quanto é “bem para mais pessoas”.

Quanto mais bem há para mais pessoas, diz-se estar concretizando o desenvolvimento. A República Federativa do Brasil objetiva garantir o desenvolvimento

nacional; assim, fustigando qualquer interpretação precipitada ou restrita do que venha a

ser o desenvolvimento, anote-se que o termo aparece com dimensões humanas, como a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a redução das desigualdades sociais e regionais, promovendo entre os indivíduos a igualdade substancial e não meramente formal, afastando, assim, a ideia de que desenvolvimento limita-se ao crescimento da renda

per capita, industrialização e riqueza nacional, que poderiam vir a ser perseguidos a

qualquer custo. Destarte, torna-se interessante a visão de Rister (2007), ao preceituar que os direitos econômicos e sociais constantes na Constituição de 1988 devem ser compreendidos como direitos subjetivos públicos, de modo que o Direito ao Desenvolvime nto venha a possibilitar veementes transformações na sociedade.

É nesse contexto de imbricação entre o crescimento econômico e desenvolvimento, que a liberdade do mercado de trabalho merece especial atenção, vez que, quanto maior a liberdade para escolher o exercício da profissão e o modo pelo qual vai desempenhá-las, maior será a capacidade de atuação do homem no crescimento econômico e seu reconhecimento como sujeito ativo do desenvolvimento. Nesse condão, a perda ou restrição à escolha dos trabalhos por motivos como a escassez destes, a falta de valorização dos mesmos, inexistência da qualificação necessária para executá-los, baixos salários, ou pela forma tirânica a que o trabalhador é submetido, deve ser encarada como uma privação fundamental, que, igualmente à exploração do trabalho infantil e a discriminação ou impedimento das mulheres no mercado do trabalho, deve ser eliminada.

Conclui-se, pelo exposto, que o bem comum não é condizente com a jornada laborativa ilimitada, dado que isto se traduz numa subordinação diuturna do trabalhador ao empregador, o que, indubitavelmente, afeta a saúde física e mental do ser humano. Assevera-se, conjuntamente, que tal finalidade perseguida constitucionalmente, também não sintoniza com a invisibilização de uma categoria relegada ao „quartinho dos fundos‟, sem liberdade de expressão, sem direito à privacidade, sem perspectiva de desenvolvimento por, na maioria das vezes, morar na residência onde trabalha. Outrossim, a faculdade concebida ao empregador de incluir seu empregado na malha da segurança protetora do Estado (FGTS), privando-lhe, assim, de uma série de liberdades instrumentais que teriam potencialidade para garantir alguma dignidade enquanto o trabalhador vivenciasse circunstâncias de vulnerabilidade, também não parece convergir para o conceito de bem comum, pois não se trata do bem destinado à maioria, e sim o à minoria. Logo, a liberdade, em sua integralidade, deve ser preservada no Mercado de Trabalho, o que pressupõe a tutela da liberdade intrínseca ao trabalhador e a guarida das garantias mínimas para tanto, a fim de que o trabalhador possa desenvolver-se e assim, desenvolver a sociedade.

CAPÍTULO 3

_________________________________________________________________________ O TRABALHO DOMÉSTICO

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