Há membros com origens diversas e, conseqüentemente, com opiniões e interesses
diferentes dentro do grupo.
O próprio presidente da Associação (Devanir Bissoli) iniciou sua história de ações e
lutas sociais em movimentos populares da periferia de Campinas, na região do Ouro Verde,
coletivo urbano. Também sempre esteve presente nas Pastorais Sociais como na Pastoral da
Criança, nas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica. Hoje, dentro da Sociedade
dos Amigos do Pq. D. Pedro II, desde o ano de 2003, participa também do Conselho Local
de Saúde DIC I, sendo um dos conselheiros usuários desse conselho; participou do
Orçamento Participativo desde o primeiro ano desse programa (2001).
No OP, esta liderança lutou pela reforma e ampliação do Centro de Saúde DIC I no
ano de 2004, pela reforma e ampliação da Escola Estadual Elza Peregrino no bairro Pq. D.
Pedro II no ano de 2002, pelo asfalto em outros bairros da periferia na região do Ouro
Verde, pela construção de creches na região, pela melhoria na iluminação do Pq. D. Pedro
II, segundo seus relatos. Mas suas principais atividades nos últimos anos, desde que se
inseriu no governo como assessor do vereador do PT – Ângelo Barreto –, direcionaram-se
para o trabalho em atividades vinculadas à Prefeitura Municipal de Campinas, como a
participação em eventos, debates, trabalhos como o debate sobre a questão racial, ou seja,
nas ações originadas do trabalho remunerado de assessoria ao vereador Ângelo Barreto,
mas que se juntaram às iniciativas da associação como a “Horta Comunitária”, além de, no
ano de 2004, ter se concentrado nas atividades ligadas às eleições municipais que
resultaram na reeleição do vereador Ângelo Barreto, que havia assumido como suplente o
cargo de vereador.
O trabalho nas eleições demandou muita disponibilidade de tempo do presidente da
Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II e foi um dos motivos da diminuição no número
de reuniões do grupo, e do afastamento, neste período, do papel de demanda desses
encontros e assembléias junto aos demais membros representantes dessa associação.
Os interesses desta liderança do bairro Pq. D. Pedro II concentram-se, portanto, em
como assessor político. Mas também houve uma luta mais ampla, por melhores políticas
públicas de saúde na região, sendo essa a razão pela qual a liderança participa do Conselho
de Saúde e pela qual participou das assembléias do Orçamento Participativo dentro da
temática da Saúde e da Educação, embora no OP não tenha sido representante eleito como é
no Conselho Local de Saúde DIC I. O membro em questão não soube informar exatamente
de quantas e quais assembléias regionais e temáticas participou, do ano de 2001 ao ano de
2004, período de vigência do Orçamento Participativo no município de Campinas.
O presidente da Associação também não soube informar desde quando participa das
Pastorais Sociais e das Comunidades Eclesiais de Base, mas nos relatou que a sua inserção
nas atividades sociais e políticas ocorre através da Igreja Católica:
“Eu sou mais envolvido com a Igreja, né? Minha formação é da Igreja. É por isso” (relato do presidente da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Assim como o presidente da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II, outros
membros também fazem parte das atividades ligadas à Igreja. A quantidade de membros
atuantes nas Pastorais Sociais (Pastoral Social da Saúde, da Criança) e nas Comunidades
Eclesiais de Base não foi definida com exatidão, porque muitos membros não aceitaram
participar das entrevistas. Um dos membros (Aderanir) relatou que participa mais das ações
sociais vinculadas à Igreja, e nunca participou de Conselhos Gestores ou do Orçamento
Participativo, revelando uma participação bem menos diversificada do que as diversas
ações da liderança da associação:
“A gente não pode tá assumindo muitos compromissos, porque eu sou empregado. Eu trabalho. Só tô afastado por motivo de acidente de trabalho. Por isso a gente não pode
tá assumindo muito compromisso, porque de repente a gente pode tá sendo chamado pra retornar ao serviço”
“Do OP, não. Tem o trabalho deles aí, a gente gosta, acha correto. Mas participar mesmo ainda não. De Conselhos, não”
“A gente é católico, participa da Comunidade São Pedro (...)” (Relatos de um dos membros da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Outra integrante da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II (Laurice) revelou que
já participou de assembléias do Orçamento Participativo, mas hoje atua mais em um grupo
de mulheres vinculado à outra associação de moradores da região – a Associação do Núcleo
Iporã. Confidenciou que está um pouco afastada das atividades da associação do Pq. D.
Pedro II, mas ainda não se desvinculou do grupo. Também é representante no Conselho
Local de Saúde DIC I, onde é conselheira usuária suplente.
Já outro integrante da associação (Marcelo) mostrou-se mais participativo em
assembléias do Orçamento Participativo na temática da Saúde, onde tentou sem sucesso ser
eleito representante. Também mostrou, neste período, interesse em iniciar o trabalho como
conselheiro no Conselho Local de Saúde DIC I:
“O Devanir tava me passando que, talvez, o Conselho de Saúde da região ali vai ter eleição. Eu talvez tenho curiosidade de tá participando do Conselho. (...) É o que me desperta e me dá interesse” (Relato de um membro da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Esse membro participava ativamente da Associação, como ele próprio relatou,
associação, dedicou-se mais à participação na área da saúde, principalmente no Orçamento
Participativo:
“Do OP só participei da área da saúde. Como eu disse: como estou desempregado, agora eu tenho um tempo maior pra tá participando. Não adianta você estar em lugar onde você sabe que não vai ser coerente. Você não vai poder tá assumindo, carregando essa responsabilidade que você não vai poder ter.”
“Eu sou morador do bairro, né? Em 98, mudei pra lá. Eu tenho o documento, a ata da associação em casa.(...) Eu fiquei em aberto pra qualquer área que tiver precisando de mim. Agora, como estou desempregado, tenho um tempo maior, né? Hoje eu tenho uma participação mais atuante.”
“(...) Há questão de um ano que eu venho realmente procurando me aprofundar um pouco mais nesta atuação, pra associação, pra prestação de serviços na comunidade em geral, né? Na educação, habitação, no que for preciso a minha participação.” (Relatos de um membro da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Outro integrante da associação (Toninho) – que foi, aliás, um dos fundadores da
Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II – participou do movimento sindical, da luta por
infra-estrutura urbana no bairro durante a constituição da associação de moradores e por
moradia e educação:
“Participei do movimento sindical. Sou metalúrgico aposentado. (...) O operário tem que ter uma associação, uma orientação. Não tem como escapar da política, porque tudo envolve educação, moradia” (Relato de um membro da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Esse membro revelou que também participou do Orçamento Participativo nas
“Já participei do OP. Você tem de responder pela área onde você mora, pelos filhos e netos que vão usufruir disso” (Relato de um membro da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Há membros e lideranças mais “atuantes” do que outros representantes da
associação. Portanto, o que ocorre em reuniões e encontros da Sociedade dos Amigos do
Pq. D. Pedro II é justamente a falta de membros oficiais ou mais pessoas interessadas na
continuidade das atividades dessa associação no bairro, assim como também nas discussões
e representação em outros espaços. Há a opinião de membros que divergem dessa posição
ao comentar sobre a necessidade de mais presença e apoio do grupo como um todo nas
ações e propostas da associação:
“A gente aqui, da associação, acha que ficou meio abandonada. Depois, começou a melhorar de novo, mas, assim, não tem contribuído para ajudar. E também não têm pessoas para buscar melhorias, que também são muito poucas: trabalham, então não têm muito tempo pra tá lutando pela associação pra ver se consegue, né?” (Relato de uma integrante da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
A fala, a representação da base, mantém-se com a liderança do grupo e outros
poucos membros que se interessam pelo debate público, pela luta por melhores políticas
públicas não só para o bairro e a região, mas para toda a cidade.
O papel da liderança comunitária na Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II é
extremamente relevante, porque não só garante a representação e a ligação com a base, mas
“Eu penso assim: a gente como liderança aqui no bairro, a gente tem que formar lideranças. Nesse processo, a gente tem que pegar pessoas que se interessam pela associação, pelo debate político, pelo trabalho social. Eu espero que a gente consiga fazer mais lideranças. Eu acho que a associação não tem que fazer só a demanda do bairro, né, do asfalto, do esgoto, né? Ela tem também o compromisso de formar lideranças. À medida que vão as pessoas, né, as pessoas vão se formando automaticamente, né? Pode não servir hoje pra associação aqui no bairro, porque às vezes ela muda, né, mas às vezes ela tá preparada pra tá assumindo em outros lugares” (Relato do Presidente da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Portanto, existem dificuldades de renovação das lideranças e membros da Sociedade
dos Amigos do Pq. D. Pedro II. Isso significa um desafio à continuidade e fortalecimento
do grupo. São sempre os mesmos a participar e liderar a Associação:
“Então eu tento fazer um rodízio assim. Se têm pessoas lá que eu tenho dó de tirar. Elas não são tão atuantes, mas já foram muito atuantes. Hoje estão bastante idosas, mas querem ainda participar. Quando, assim, que vai ter reunião da associação, e não coloca pessoas lá nos últimos cargos, né? E a gente tenta renovar, né, por exemplo, .... Eu, por exemplo, motivo outras pessoas a serem presidente. Eu quando vejo que tá esgotando a liderança, eu retorno novamente como liderança do bairro, né, do Ouro Verde, e passo a trabalhar novamente com pessoas novas, para que estas pessoas novas se tornem lideranças novas também. Por exemplo, daqui um ano vai ter eleição no bairro, e eu tô preparando pessoas para que assumam a presidência, pra que não sobrecarregue a gente que tem outras ocupações” (Relato do Presidente da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Enquanto o próprio presidente da associação diz enfrentar problemas de renovação do
quadro de membros da associação, ele mesmo confessa o seu papel de liderança do grupo,
tendo adquirido mais preparo pelo trabalho de assessoria no governo e pela participação em
demandas dos moradores junto à burocracia, com a qual diz possuir mais familiaridade do
que outros membros da associação:
“No caso da assessoria, ela encaminha e tenta enfrentar a burocracia com os moradores” (Relato do Presidente da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Outros membros revelaram a dificuldade de se dar continuidade ao trabalho junto à
Associação. Muitos voltaram a trabalhar e com isso poucos participam das reuniões e
atividades do grupo. Outros membros participam mais da Igreja e, por razões e interesses
pessoais, não participam de outras atividades, bem como dos Conselhos Gestores de
políticas públicas. Alguns não participaram de nenhuma assembléia do Orçamento
Participativo. Há membros que se interessam apenas pela instituição e suas atividades
recreativas, voltadas para o bairro Pq. D. Pedro II, como este membro que relata o seguinte:
“Não participo. Nesta parte de Orçamento Participativo não, nem de conselho gestor. O meu foco mesmo é a associação(...)”(Relato de um integrante da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II).
Este mesmo membro posteriormente desvinculou-se da Sociedade dos Amigos do Pq.
D. Pedro II graças a divergências com a liderança e com o restante do grupo em relação à
ligação da Associação com partidos e representantes partidários, assim como em relação a
atividades com as quais discordava, como é o caso da Horta Comunitária,18 devido à
ocupação de um terreno baldio que, na verdade, possuía proprietário, e por isso não poderia
ser utilizado pela associação do bairro.
18
Projeto posto em prática com origem no trabalho do presidente da associação e do vereador Ângelo Barreto, apoiado por vários membros da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II. Tal trabalho consiste na ocupação de terrenos baldios, que seriam transformados em lixão, pela própria população do bairro em acordo
Os demais membros, embora não participassem de todas as atividades promovidas
pela associação, concordavam e achavam serem excelentes as idéias da liderança e dos
membros que propunham a maior parte das ações promovidas na Associação.
Entre ex-membros da Associação que ainda são ligados à liderança, mas já não fazem
parte do grupo, está a conselheira usuária do Conselho Local de Saúde DIC I, que também
é conselheira no Conselho Distrital de Saúde (Distrito Sudoeste) e conselheira do
Orçamento Participativo na temática da Saúde de 2003 a 2004. Assim como o presidente da
Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II, ela também é uma liderança na região,
principalmente no bairro DIC I, onde mora. Esta representante também trabalha como
assessora do vereador Ângelo Barreto (PT) na Câmara de Vereadores de Campinas.
A condição de aliada das associações de bairro da região e representante da população
em uma esfera pública – em conselhos gestores de políticas públicas e no Orçamento
Participativo –, também se deve ao trabalho anterior em associação de moradores e no
movimento popular pela saúde. Há um compartilhamento de posição em relação à inserção
institucional, porque assim como o presidente da Sociedade dos Amigos do Pq. D. Pedro II,
ela também está inserida na arena estatal através do trabalho como assessora de vereador no
município de Campinas. Essa mesma pessoa confidenciou que atualmente dá preferência
pela atividade nos espaços de gestão de políticas públicas, seja no Conselho Local de Saúde
DIC I, seja no Conselho Distrital e Municipal de Saúde ou no Orçamento Participativo de
Campinas, mas somente em espaços em que há a discussão de políticas de saúde. Há aqui
uma direção em relação à esfera pública mais ampla que se dirige a um tema em especial
que é o das políticas públicas de saúde.
com o proprietário, onde se recupera o terreno através da limpeza do mesmo e da realização de uma horta comunitária, mantida pelos membros da associação do bairro Pq. D. Pedro II e interessados.
Existe uma diversidade de interesses e opiniões na representação da Sociedade dos
Amigos do Pq. D. Pedro II, onde há caminhos que se direcionam mais para atividades
ligadas a atores como a Igreja Católica, para a participação na arena público-deliberativa e
para a consolidação da inserção na arena estatal via relação com a política institucional.