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C) Prescrição do Procedimento Criminal

IV. LIGAÇÃO ENTRE O PROCESSO CIVIL E O PENAL

O processo penal por estes crimes, sendo públicos, pode ser iniciado logo que o MP tome conhecimento dos factos.

Se esse conhecimento ocorrer durante o processo de insolvência, o juiz deve dar conhecimento ao MP (art. 36º, nº 1, al. h) CIRE).

Se a denúncia ocorrer no requerimento inicial, as testemunhas são ouvidas sobre a matéria criminal, na audiência de julgamento para a declaração de insolvência (art. 297º, nº 2 e nº 3 CIRE).

A instrução e o julgamento pelos crimes insolvenciais cabe ao tribunal que for o competente segundo as regras processuais penais e LOSJ.

Há, assim, a intenção de “autonomizar, quanto possível, o processamento da ação penal em matéria de insolvência”.238

237 ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de, ob. cit., p. 710.

238 FERNANDES, Luís Carvalho/ João LABAREDA, ob. cit., p. 972. Também SOUSA, Susana Aires de, refere que, embora haja autonomia, permite-se “aproveitar para a fase de investigação penal os elementos recolhidos no processo de insolvência” Cf. Os crimes, ob. cit., p. 51 e 52.

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CONCLUSÃO

Neste trabalho procurou-se compreender a construção dos crimes de insolvência dolosa e negligente.

Porém, tal construção nem sempre é a mais feliz, originando questões controvertidas que procurámos dar resposta.

O bem jurídico protegido é o património dos credores, embora indiretamente também se proteja o bom funcionamento da economia.

Em princípio, o agente do crime é o devedor insolvente. As pessoas coletivas não podem ser agentes do crime, mas apenas os seus administradores de direito ou de facto. Um terceiro, que atue com conhecimento ou em benefício do devedor, também pode cometer o crime do art. 227º.

No crime de insolvência dolosa, os agentes têm de praticar uma das condutas típicas com a intenção de prejudicar os credores.

A situação de insolvência e a sua declaração são condições objetivas de punibilidade. No crime de insolvência negligente, na sua al. a), exige-se que a situação de insolvência, ao contrário do art. 227º, seja causada pelas condutas típicas (nexo de causalidade).

Trata-se de condutas dolosas, exceto na “grave negligência no exercício da atividade” que só pode ser praticada por devedor comerciante.

O estado de insolvência pode ser criado por dolo ou negligência.

A al. b) encontra-se em vigor, se bem que destituída de objeto. É certo que a ideia de recuperação ainda se mantém. Porém, a não adoção do PER, do plano de insolvência ou o não cumprimento do dever de apresentação não a preenchem. Assim, procurou-se, através da análise do CIRE e da sua evolução, descortinar quais os instrumentos de recuperação que podiam preencher este crime, interligando as duas áreas do saber.

Deste modo, justifica-se uma alteração legislativa no sentido de incriminar novamente a omissão do dever de apresentação à insolvência.

Refira-se que não foi objeto de análise a agravação prevista no art. 229º-A do Código Penal.

Portanto, a clarificação destes crimes é essencial para que os agentes tomem consciência do efeito nefasto que as suas condutas provocam quer para o património dos credores, quer para o regular funcionamento da economia.

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