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4 CADA EMPRESA, UM MUNDO

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5.3 Sobre e-mails e outros gêneros

5.3.10 Ligações telefônicas

Numa perspectiva histórica, podemos afirmar com base em McLuhan(1964:305 ) que a invenção do telefone foi um incidente no sentido em que as pesquisas desenvolvidas pelo pai de Alexander Graham Bell – Melville Bell – eram direcionadas a criação de um alfabeto visual. Pai e filho estavam empenhados em aliviar a situação dos surdos.

A invenção que imortalizou seu idealizador teria nascido, ainda segundo McLuhan(op. cit.:305) da incapacidade de Graham B ell em ler alemão. Isso porque o inventor teria entendido que um determinado pesquisador alemão teria conseguido transmitir vogais pelo fio. Bell acreditou que se prosseguisse nesse campo de pesquisa conseguiria transmitir consoantes. Surge desse equívoco o telefone.

Outra grande coincidência registrada envolve o registro da patente desse invento. Na época(década de 70 do séc. XIX) Elisha Gray e Graham Bell solicitaram registro de projetos de telefone, numa diferença em torno de duas horas entre ambos.

Quando foi inventado, o telefone se destinava a oferecer serviços ao público, paralelamente à telegrafia. Inicialmente houve quem visse nessa tecnologia um forte rival para a imprensa, tal qual alguns afirma m acerca da C MC.

A palavra telefone surgiu em 1840, antes do nascimento de Graham Bell. Era aplicado a um instrumento destinado a transmitir notas musicais através de bastões de madeira. Hoje, o telefone ainda é o meio mais usado nas comunicações tanto pessoais quanto profissionais. Para se ter a noção da importância do uso desse gênero basta observar a sua utilização em bancos, agências de viagens ou mesmo consultórios e clínicas em geral.

De certa forma McLuham(p.304) postula que a natureza intimista e pessoal do telefone acabou ajudando nas “ mudanças psíquicas e sociais... alterando o total de nossas vidas” . Para confirmar tal concepção o autor complementa:

“ a e s t r u tu ra p i r a mi da l d a d i v i s ã o e c a r a c t e r iz a ç ã o do t r a b a l h o e d o s p od e r e s d e l e g a do s nã o p o de m a n te r - s e a n te a ve l o c id a de c o m q ue o t e le f o n e c o n t o r na a s d is p o siç õ e s h i e rá r q u i c a s e e n vo lv e a s p e s s o a s e m p r of u n d i da d e ” .

O autor antecipa uma discussão aq ui fomentada sobre a mudança nas condutas entre chefes e subordinados em suas palavras: “ qualquer um pode entrar no escritório de diretor por telefone.” Uma característica comum a C MC.

A utilização do telefone na dinâmica empresarial, representa um forte aliado para a dinamização das tarefas. Sem o telefone, seria inimaginável o e-mail, netmeting, videoconferência, práticas já cristalizadas na atividade comercial.

Além do aspecto participacional considerado por McLuhan, podemos ressaltar as semelhanças com a conversação face a face, tais como:

sincronia, adequação da linguagem vinculada ao nível de envolvimento com o interlocutor, a possibilidade de variação tópica, fragmentação, hesitação, uso de marcas conversacionais, etc.

A chamada telefônica caracteriza-se por u ma abertura com o uso da palavra alô e diversas formas de encerramento próprias de cada indivíduo.

No tocante às comunidades pesquisadas, o gráfico 17 apresenta o percentual de uso desse gênero na rotina de trabalho de nossos informantes.

Gráfico 17

A análise do gráfico aponta uma situação quase surreal o não uso de ligação telefônica por dois informantes em a mbiente profissional. Um deles trabalha na gráfica, o outro desempenha uma função em que a relação face a face é exigida . No entanto, é difícil supor que essas pessoas não recebam chamadas e solicitações por telefone.

A indicação de uso do telefone em E-1 sofre uma queda pelo fato de contarmos com informantes que trabalham na área da operação da planta e, nessa função, o uso do telefone é bastante reduzido. Como é possível observar, pela mesma razão, E-2 acompanha essa tendência.Porém as demais funções apresentam um uso bastante significativo e espraiado do

Ligações telefonicas - Produção

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Não Abaixo de 5% Entre 5 e 15% Entre 25 e 50% Entre 50 e 75% Acima de 75% E-1 E-2 E-3

Produz Não Abai

xo de 5%

Entre 5 e 15% Entre 25 e 50% Entre 50 e 75% Aci

m

a de 75%

E-1 0% 10% 10% 20% 40% 20% E-2 20% 0% 10% 20% 30% 20% E-3 0% 10% 10% 50% 0% 30%

considerado gênero telefonema. Já em E-3, os informantes são pessoas relacionadas ao trabalho administrativo, o que justifica um uso mais intenso do telefone.

Assim como acontece nos bancos e agências de viagem, també m nas comunidades pesquisadas o uso dessa forma de comunicação não foi superado pelo advento de novas tecnologias, como dissemos até foi intensificado. Entretanto, alguns gêneros foram fortemente afetados pela virtualização nas empresas. Vejamos a seguir o que ocorreu com o me morando.

5.3.11 Memorando

Sobre esse gênero C unha & Matos(op cit; p. 31) apresentam a seguinte definição: “F orma de correspondência interna utilizada numa empresa ou repartição pública por chefes e dirigentes”. É empregado para transmitir mensagens breves e menos solenes, tais como consultas rápidas, obter e/ou prestar informações, transmitir avisos, lembrar providências, fazer solicitações. O me morando possui caráter rotineiro, informa as autoras.

Ora, considerando o estudo apresentado sobre e-mails e demais recursos tecnológicos disponíveis nas três empresas pesquisadas, é possível inferir que a produção desse gênero atualmente não alcance o mesmo status

verificado, por exemplo, na virada do século XIX16. De acordo com Yates e

Orlikowiski os memorandos “ surgem numa estreita relação com mudanças institucionais, novas exigências, formas de relacionamentos e novas tecnologias” . Aliás, os mesmos fatores que provocaram o surgimento de novos gêneros que os substituíram em sua função comunicativa.

As características apontadas por Cunha & Matos são as seguintes: • Clareza, simplicidade e objetividade. Por serem papéis internos não

comportam fórmulas de cortesias e outras formalidades;

16

• Unidade de assunto: não é admissível a mudança de tópico discursivo na produção desse gênero;

• Utilização de modelo já impresso, com formato definido, cabendo ao emissor preenchê-lo.

Se a maioria dos aspectos acima ainda é exigida no atual processo comunicativo empresarial, o que fez com que a produção de memorandos fosse vista como uma prática ultrapassada? Segundo uma secretária- informante, esse gênero representa um passado do qual ninguém sente saudade na esfera profissional. Além disso, o imediatismo e informalidade possibilitados pelo uso do e-mail foram fatores importantes para a decadência registrada no seguinte gráfico.

Gráfico 18

A baixa representatividade registra da no gráfico 18 decorre, como já afirmamos anteriormente, de experiências anteriores com o me morando. Os informantes reconheceram no propósito comunicativo de algumas mensagens o gênero em questão. Tendo em vista que 93% dos entrevistados declararam a não utilização desse gênero somos levados a declarar a

Memorando - Global 0% 20% 40% 60% 80% 100% Não Abaixo de 5% Entre 5 e 15% Entre 25 e 50% Entre 50 e 75% Acima de 75% Produz Lê M e morando Tot al Não Abai xo de 5%

Entre 5 e 15% Entre 25 e 50% Entre 50 e 75% Aci

m

a de 75%

Não Abai

xo de 5%

Entre 5 e 15% Entre 25 e 50% Entre 50 e 75% Aci

m

a de 75%

Produz 30 93% 3% 3% 0% 0% 0% 28 1 1 0 0 0 30 93% 7% 0% 0% 0% 0% 28 2 0 0 0 0

iminente extinção do memora ndo na prática comunicativa dos funcionários das empresas pesquisadas.