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Limitações do CAR e como superá-las

2.1 Introdução

2.1.5 Limitações do CAR e como superá-las

• Mudança na composição do ganho. Seleção para baixo CAR resultaria em carcaças com menos gordura subcutânea, menos marmoreio e experimentos preliminares também sugerem que animais selecionados apresentariam menores teores de gordura na cavidade abdominal.

• Avaliação da eficiência em confinamento. É preciso confirmar se a avaliação de eficiência feita em confinamento é válida para animais em pastagens.

• O custo para determinar o consumo alimentar individual dos animais é muito mais elevado do que para obtenção do ganho de peso, circunferência escrotal, etc.

A maior parte da literatura consultada (ARCHER et al., 1999; BASARAB et al., 2003; CARSTENS et al., 2002; FERREL; JENKINS, 1998; HERD; ARCHER; ARTHUR, 2003; ROBINSON; ODDY, 2004) afirma que este novo parâmetro de eficiência (CAR) está relacionado com a composição do ganho de peso, onde os animais mais eficientes (CAR negativo) tendem a apresentar carcaças mais magras, com menor acabamento e com menor gordura intramuscular, além de menor teor de gordura na cavidade abdominal.

Entretanto, é relativamente fácil sobrepor esta primeira limitação. Para tanto é necessário estimar o consumo não apenas com base no peso vivo e no ganho de peso, como também pela composição do ganho. Assim classificam-se os animais com base no consumo estimado para a mesma composição do ganho.

Embora este procedimento leve a uma pequena perda na variabilidade entre animais, assegura-se que as diferenças entre animais são devidas ao maior ou menor consumo de energia metabolizável e maiores ou menores custos energéticos com mantença, incremento calórico e atividade física (BASARAB et al., 2003).

A estratégia que ainda precisa ser validada é que ao invés de ajustar o CAR por medições pós-abate, ajustá-lo por parâmetros obtidos por ultra-som no animal vivo. Isto porque a primeira alternativa implica no sacrifício do animal que está sendo considerado para seleção. Já a adoção da espessura de gordura subcutânea, avaliada por ultra-som nas costelas ou na garupa, bem como a atenuação do sinal do ultra-som para estimativa do marmoreio e outras medidas, permitiria ajustar o valor de CAR para composição corporal. Entretanto, esta sugestão deve ser vista com cautela em função dos erros inerentes da avaliação com ultra-som que podem ser elevados e/ou sistemáticos. Outro problema é que não haveria condições de se estimar o teor de gordura interna (LANNA; ALMEIDA, 2004a).

A segunda limitação potencial é quanto ao sistema de produção adotado na avaliação dos animais mais e menos eficientes. É preciso confirmar se a avaliação de eficiência feita em confinamento é válida para animais em pastagens. Em outras palavras, será que há interação genótipo-ambiente para esta característica?

Uma crítica freqüente é que animais eficientes sob condições de confinamento não necessariamente seriam os mais eficientes em condições de pastejo. Várias

pesquisas sugerem não ser o caso. Pesquisadores australianos (HERD et al., 2004) determinaram consumo a pasto de novilhos Angus e Hereford pela técnica de alcanos. Eles demonstraram que animais com avaliação genética favorável para CAR de –1,0 kg/dia (em confinamento) produziram progênie com eficiência alimentar 41% mais alta a pasto. Estes animais cresceram 19% mais rápido, sem aumento no consumo e apresentaram CAR 26% mais baixo. Este trabalho confirma que o uso de touros com avaliações genéticas favoráveis para CAR também trará benefícios econômicos para sistemas de produção de carne bovina a pasto.

Archer et al. (2002) já haviam demonstrado altíssima correlação genética entre a eficiência (CAR) mensurada em fêmeas no período pós-desmama e nestas mesmas fêmeas quando adultas (rg = 0,98). Embora mais estudos devam ser conduzidos, os

resultados destes dois experimentos sugerem que a seleção para eficiência nos machos jovens em confinamento deve ser bem correlacionada à eficiência de vacas adultas a pasto.

A terceira limitação citada é que a determinação do consumo alimentar é de alto custo (HERD; ARCHER; ARTHUR, 2003), portanto os potenciais benefícios obtidos pela inclusão da eficiência alimentar na seleção dos animais devem ser avaliados contra os altos custos associados à coleta dos dados de consumo individual. Esta parece ter sido a maior barreira para a adoção do parâmetro eficiência alimentar como critério de seleção pela indústria da carne bovina.

Archer; Herd e Arthur (2001) concluíram que a mensuração do CAR em tourinhos é economicamente lucrativa para todos os sistemas de produção de carne bovina da Austrália, tanto em condições extensivas de pastejo, como em terminação com dietas ed alto concentrado em confinamento. Os benefícios ao adotar esta tecnologia são mais expressivos onde os custos com alimentação também são maiores. No Brasil, estimativas preliminares (LANNA; ALMEIDA, 2004b) do impacto econômico da seleção para CAR mostram que os benefícios seriam muito maiores do que os custos associados com a coleta dos dados de consumo. Não se sabe ainda, após quantas gerações este ganho genético anual começaria a crescer em menor proporção, mas isto parece ser irrelevante do ponto de vista de custo/benefício. Ressalta-se ainda

que estes números seriam apenas os ganhos econômicos diretos, sem inclusão dos benefícios ambientais.

Uma solução proposta (LANNA; ALMEIDA, 2004b) para minimizar o custo é consolidar um programa nacional de avaliação com centros especializados e uma seleção em duas fases. Isto poderia reduzir o número de tourinhos avaliados para consumo alimentar residual e seu custo. Seria necessário pré-selecionar os touros a serem avaliados com base em características de importância econômica e identificar uma ou mais características que são geneticamente correlacionadas com CAR. Estas últimas poderiam ser usadas na seleção indireta para eficiência alimentar. Essa característica poderia ser um marcador fenotípico, obtido de uma amostra de sangue, ou mesmo um marcador genético.

Segundo pesquisadores australianos (JOHNSTON et al., 2002), uma possibilidade seria a seleção com base na concentração do hormônio IGF-I no sangue para aumentar a taxa de crescimento, eficiência alimentar e percentual de carne magra na carcaça. Animais pré-selecionados contra IGF-I num primeiro estágio seriam definitivamente selecionados por CAR em teste de desempenho numa segunda fase, o que diminuiria os custos por restringir o número de animais avaliados para consumo.

Este capítulo tem três principais objetivos:

• Confirmar que há variabilidade fenotípica entre animais zebuínos para este novo parâmetro de eficiência alimentar, chamado de consumo alimentar residual. • Verificar se há efeitos indiretos, positivos ou negativos, da seleção para ganho

de peso pós-desmame praticada no IZ de Sertãozinho na eficiência alimentar dos animais selecionados.

• Caso haja diferenças significativas na eficiência alimentar entre animais selecionados para crescimento e controle, verificar se estas diferenças podem ser explicadas por diferenças nas estimativas de partição de energia dos dois grupos.

2.2 Desenvolvimento