• Nenhum resultado encontrado

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2. Prevenção da Violência na Intimidade Juvenil

2.2.5. Limitações dos programas

Apesar de actualmente existirem diversos programas de prevenção da violência nas relações de namoro a aplicados em contexto escolar, existem também limitações que afectam a sua eficácia.

A maior limitação presente na investigação da prevenção da violência no namoro é a relativa ausência de avaliação dos efeitos que os programas têm na mudança de atitudes e comportamentos (Cornelius & Resseguie, 2007; Hickman et al., 2004), como referido anteriormente. Para além disso, Mihalic e Irwin (2003) salientam que muitas vezes os relatos acerca dos programas incidem apenas sobre os seus resultados, negligenciando o processo envolvido na implementação, incluindo a sua monitorização, duração e estratégias utilizadas. Assim, para além dos resultados obtidos, as autoras salientam que é fundamental explicar o quê e como foi colocado em prática, fornecendo informação relevante para a replicação dos programas em contextos diferentes do original (Mihalic & Irwin, 2003).

De acordo com Crooks e colaboradores (2010), o campo da prevenção da violência no namoro tem-se debatido com algumas questões que dificultam o processo de avaliação dos programas desenvolvidos. Em primeiro lugar, a natureza deste tipo de situações, pouco aceites socialmente e muitas vezes omitidas, dificulta a avaliação dos comportamentos envolvidos, pelo que os resultados obtidos através de medidas de auto- relato não providenciam uma avaliação exacta da mudança, devendo estes ser encarados como estimativas. Por outro lado, os mesmos autores consideram essencial que a avaliação dos programas considere a inclusão de grupos de controlo, selecção aleatória e follow-ups mais adequados, já que as diferenças observadas muitas vezes entre os resultados de pré-testes e pós-testes se devem a mudanças de desenvolvimento e não propriamente aos efeitos da intervenção (Crooks, Jaffe, Wolfe, Hughes & Chiodo, 2010).

A brevidade da maioria das intervenções parece ser outra limitação apontada aos programas de prevenção existentes (e.g. Jaycox et al., 2006; Matos et al., 2006). Neste sentido, alguns autores sugerem que os programas possuam um maior período de

22

intervenção, já que a duração de algumas destas intervenções não permite averiguar com exactidão o nível de aprendizagem dos conhecimentos e competências trabalhadas (e.g. Whitaker et al., 2006). Já em 1998, Hamby recomendava que os programas de prevenção da violência no namoro em contexto escolar possuíssem uma maior duração e maior integração nos currículos escolares.

Outras limitações metodológicas, tais como a não integração de modelos teóricos no desenvolvimento dos programas ou a ausência de medidas psicométricas adequadas para determinar o seu impacto, têm também vindo a ser apontadas, dificultando o alcance de resultados conclusivos acerca da eficácia destes programas de prevenção (Caridade & Machado, 2008). De facto, Whitaker e colaboradores (2006) salientaram na sua revisão de estudos como é crucial que os programas de prevenção avaliem as variáveis mediadoras das mudanças comportamentais, já que alguns programas, ainda que tenha por base teorias feministas ou da aprendizagem social para explicar as mudanças de comportamento, não utilizam componentes essenciais dessas teorias ou efectuam análises aos mediadores para testar os preditores teóricos da mudança comportamental.

Outra limitação dos esforços de prevenção de violência no namoro mais referida relaciona-se com a sistemática falta de atenção às questões da diversidade, incluindo as dimensões de etnia, classe social, cultura, género, idade e as necessidades exclusivas de jovens vítimas de maus tratos (Kerig, Volz, Moeddel, & Cuellar, 2010). De facto, a cultura parece influenciar as definições e significações atribuídas à violência, bem como a manifestação de sintomas, os comportamentos de revelação e a procura de ajuda (Abney, 2002), reforçando a importância de conhecer o contexto cultural no qual os indivíduos pertencentes ao público-alvo de uma intervenção se inserem. A título de exemplo, Jaycox e colaboradores (2006) salientaram como a temática da violência nas relações de intimidade podia representar um assunto tabu para adolescentes provenientes de uma cultura latina (nos Estados Unidos da América) e como, ao mesmo tempo, a família e a igreja assumiam papéis centrais nas suas vidas, funcionando como factores de protecção. Neste sentido, é fundamental que os técnicos responsáveis pela implementação de programas preventivos da violência nas relações de intimidade juvenis procurem desenvolver competências multiculturais que permitam não só uma maior compreensão das necessidades específicas dos diversos elementos que compõem o seu público-alvo, mas que também tornem as intervenções mais eficazes, como já tem

23

vindo ser reforçado no campo dos serviços de atendimento a vítimas (Coelho & Machado, 2010) e nos serviços de saúde mental (Moleiro, Silva, Rodrigues & Borges, 2009).

O’Keefe (2005) procurou sistematizar algumas das principais limitações dos programas de prevenção de violência nas relações de intimidade entre adolescentes, reforçando a importância da prevenção a vários níveis e do compromisso por parte das instituições:

“It is naïve to think a change in attitudes or behavior can occur unless a long

term, integrated, and multi-dimensional approach is launched at all system levels. Prevention of dating violence will require a clear commitment (both financial and otherwise) with the goal of establishing a consistent, coordinated, and integrated approach in every school and community. Dating violence prevention programs need to be incorporated into systems and institutions serving youth including schools, recreational programs, juvenile justice programs, the foster care system, etc.” (p. 9)

Também O’Leary, Woodin e Fritz (2006) apresentaram limitações que deverão ser tidas em conta na avaliação de futuros programas, nomeadamente: efeitos de tecto, já que a maioria dos jovens abrangidos por programas de prevenção primária geralmente apresentam atitudes pouco legitimadoras de formas de violência mais extremas no contexto da intimidade no momento de pré-teste (Wekerle & Wolfe, 1999); necessidade de utilização de medidas mais comportamentais, devendo existir uma maior aposta no treino e desenvolvimento de competências; follow-up de maior duração, na medida em que estes raramente são efectuados após um ano da intervenção; avaliação pormenorizada dos conteúdos, uma vez que são desconhecidos quais os módulos mais eficazes abordados nas intervenções por geralmente serem avaliados como um todo; utilização exclusiva de medidas de auto-relato, não existindo forma de corroborar os dados fornecidos pelos participantes; efeitos do entusiasmo do formador (ou falta de); análise dos conteúdos abordados, uma vez que estes dependem do público-alvo.

24

Documentos relacionados