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Limitações e Ameaças a Validade da Pesquisa  Validade Interna

Consideração Finais

6.3 Limitações e Ameaças a Validade da Pesquisa  Validade Interna

Credibilidade ou validade interna lida com questões de como os achados da investigação são compatíveis com a realidade, ou seja, as descobertas são credíveis com base nos dados apresentados? Para tratar as ameaças a validade esta pesquisa se baseou na perspectiva de Merriam (2009). A autora afirma que: porque os seres humanos são o principal instrumento de coleta de dados e análise na pesquisa qualitativa, interpretações da realidade são acessados diretamente através de suas observações e entrevistas. Utilizando essas técnicas e contando com o rigor aplicado no seu processo de realização, estamos, portanto, "mais perto" de uma “realidade”, que nunca pode ser traduzida em sua totalidade.

O pesquisador reflete sobre a realidade de um fenômeno e a descreve através da relação dos fatores que a compõe. Assim, as diferentes fontes de dados e o rigor empregado no seu processo de execução e análise são utilizados para reforçar a validade interna dos estudos qualitativos. Principalmente porque utilizar diferentes técnicas de coleta permitem a triangulação dos resultados. Isto significa que ao usar, por exemplo, as três técnicas de coleta de dados – entrevistas, observações e questionário – utilizados nesta pesquisa, e através do cruzamento dos dados obtidos, foi possível alcançar resultados mais precisos.

Neste caso, as observações foram especialmente importantes porque elas possibilitaram uma análise complementar. Isto ocorreu porque através das observações foi possível acompanhar as expressões, os diálogos, a estrutura física da empresa, a movimentação dos funcionários, a postura da equipe frente às mudanças solicitadas pelo cliente, ente outros detalhes que não são possíveis de serem captados somente através dos dados obtidos nas entrevistas.

Assim, o período de observações foi imprescindível para apoiar o relato dos resultados obtidos neste estudo de caso, no entanto, houveram limitação que podem ameaçar a validade interna desta pesquisa, são eles: a) não houve possibilidade de observações durante as reuniões de planejamento envolvendo o cliente, b) não houve possibilidades de realização de observações no ambiente organizações do cliente, c) não houve acesso as ferramentas utilizadas para a manutenção da comunicação com o cliente, d) não houve acesso a nenhum documento oriundo de negociações com o cliente, e) não houve acesso a nenhum documento de MSR

(documento a partir do qual os requisitos funcionais são especificados pela equipe) advindo do cliente final.

 Confiabilidade

Strauss e Corbin (2008) alertam que em pesquisas qualitativas, não esperamos poder reproduzir fenômenos sociais sob as mesmas condições originais, pois é impossível reproduzir as mesmas condições em que os dados foram originalmente coletados. Assim, confiabilidade ou consistência refere-se à medida em que os achados de pesquisa podem ser replicados. Em outras palavras, se o estudo é repetido, ele irá produzir os mesmos resultados? Confiabilidade é problemático nas ciências sociais, simplesmente porque o comportamento humano nunca é estático (MERRIAM, 2009).

A pesquisa qualitativa não é realizada de modo a que as leis de comportamento humano possam ser isoladas. Considerando esta situação, há uma forma de repensar a questão da confiabilidade, seguindo os mesmos procedimentos, técnica de coleta de dados e condições semelhantes, os resultados de outros estudos podem chegar a explicações teóricas similares ou idênticas. Assim, como forma para aumentar a confiabilidade desta pesquisa foi elaborado um documento contendo as diretrizes teóricas e os procedimentos adotados para a realização do estudo de caso (APÊNDICE A). Isto possibilita que outros pesquisadores reutilizem e melhorem este documento para sua realização em outros contextos e posterior comparação ou análises entre casos (cross case analysis).

 Validade Externa

A validade externa, a partir da perspectiva de Merriam (2009) está relacionada com a extensão em que as descobertas de um estudo podem ser aplicadas a outras situações. Ou seja, quão generalizável são os resultados de um estudo de investigação? A questão da generalização tem atormentado os investigadores qualitativos em função da dificuldade que reside no pensamento da generalização da mesma maneira como o fazem os investigadores usando dados quantitativos.

Na pesquisa qualitativa, um único caso, não aleatório, é selecionado propositalmente justamente porque o pesquisador deseja entender o particular em profundidade e não descobrir o que geralmente é verdade para muitos casos. Apesar de generalização no sentido estatístico (a partir de uma amostra aleatória para a população) não ocorrer em pesquisa qualitativa, isso

não quer dizer que nada pode ser aprendido a partir de um estudo qualitativo (MERRIAM, 2009). Isto ocorre porque os resultados qualitativos são generalizáveis às proposições teóricas e não às populações ou aos universos.

Nesse sentido, o caso não representa uma amostra estatisticamente significativa de uma população e ao realizar o estudo de caso, a meta é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não inferir probabilidades. Merriam (2009) argumenta que a aplicação de generalizações a partir dos dados agregados de enormes amostras aleatórias, para indivíduos é pouco útil. Sendo impossível reproduzir as mesmas condições em que um estudo qualitativo foi realizado.

Como exposto na subseção 5.4.3, este estudo de caso alcançou resultados que são compatíveis com outros estudos com foco nos fatores humanos da engenharia de software. Como os de França (2014), que estabelece uma diferenciação entre motivação e satisfação, os seus resultados ampliaram nossa percepção sobre os efeitos de ambos os constructos e tornou possível o estabelecimento da relação entre eles e aquilo que é recomendado nos princípios ágeis. Isto possibilitou uma visão crítica sobre esses princípios e uma ampliação da compreensão de como esses princípios podem ser utilizados na prática, apontando as possíveis implicações disso para a eficiência da equipe no atendimento ao cliente. Além disso, nossos resultados são compatíveis com os de Gouveia (2016), que discute os tipos de comportamento do cliente no trato com a equipe e os potenciais efeitos disso no comportamento da equipe e na sua coesão.

Entretanto, evidenciamos que o 13º principio, proposto por nós, precisa ter sua capacidade de generalização verificada na prática por outros estudos. A teoria de nível intermediário proposta nós, a partir dos resultados desta pesquisa, também precisa ter sua capacidade de validade externa melhor investigada e analisada na prática através de estudos complementares. Contudo, a teoria substantiva emergente da pesquisa foi apresentada à direção e gerência de empresa e desencadeou a modificação de alguns processos, bem como a adoção de medidas para mitigar os efeitos negativos da relação mantida com o cliente e para modificar alguns aspectos do ambiente organizacional em busca d e mais agilidade.