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Limitações do jornalismo televisivo

1. Órgãos de Comunicação Social – O quarto poder

1.3. A televisão

1.3.2. Limitações do jornalismo televisivo

Embora seja inegável o extraordinário potencial do jornalismo televisivo, ele parece estar, mais do que nunca, exposto a algumas limitações. Segundo Jespers (1998) o jornalismo televisivo assenta numa lógica de imediatismo da informação. Desta feita, embora a transmissão das informações seja hoje mais célere do que nunca, é sabido que muito raramente os telejornais têm a possibilidade de fornecer notícias transmitindo acontecimentos em directo, ainda que tal possa acontecer por prévia programação dos acontecimentos ou pelo mero acaso de o jornalista se encontrar no local do acontecimento a noticiar.

Segundo Dias (2005, p.31) os canais de televisão “pretendem apenas a obtenção do lucro e para isso necessitam de captar o maior número possível de audiência. Dessa forma, a aposta é feita nos telejornais de prime-time – os programas televisivos mais conhecidos e mais vistos”. A mesma autora acrescenta que com vista à obtenção desse mesmo lucro, a televisão procura sobretudo emoções e drama, pois são esses factores que mexem com os sentimentos do público e o prendem às imagens. A este propósito refere Brandão (2002, p.85) que “a informação televisiva tem apenas de ser espectacular e sensacional, isto é, deve sempre descrever uma dramatização da actualidade”.

Canavilhas (2001) discorre sobre essas limitações referindo-se ao sensacionalismo, como forma inequívoca das televisões fazerem subir as audiências. Neste âmbito acrescenta Dias (2005) que se tenta ganhar mais audiência a todo o custo, nem que para isso seja preciso distorcer a realidade e confundi-la com a ficção. Aliás, explicita Ramonet (1999) que os jornalistas acabam por procurar o sensacionalismo uma vez que pretendem ser os primeiros a chegar ao terreno e a enviar imediatamente imagens. Outra limitação avançada por Canavilhas (2001) é a uniformização, uma vez

32 que o directo não possibilita formular vários pontos de vista acerca de um acontecimento, já que as imagens são colhidas em bruto, sem uma contextualização do acontecimento, de forma a que resta apenas liberdade para comentários. Efectivamente, a falta de estrutura de suporte conduz a uma uniformização dos comentários e à redundância, de tal forma que as referências históricas são inexistentes. A este propósito Postman e Powers (1992) afirmam que parece existir um esquecimento ou deturpação da função histórica do jornalismo. Outra limitação apontada por Canavilhas (2001) prende-se com o facto de as televisões terem uma enorme ânsia de mostrar cada vez mais, o que leva aos directos e às simulações sem base que as suportem. Uma vez que a informação actual é de tal modo rápida, o telespectador é induzido a efectuar o seu próprio juízo de valor com base naquilo que lhe chega ao conhecimento.

Segundo Canavilhas (2001, p. 9) há a “necessidade de informar mais rapidamente e com mais pormenor [de modo que] a incansável procura de factos faz com que alguma informação se assemelhe perigosamente a uma farsa”.

Outra limitação estrutural que a televisão possui é porventura o seu elemento mais distintivo: a imagem. Essa limitação faz-se sentir quando “para se obter imagens de choque (…) se desvaloriza a necessidade de confirmar informações, de respeitar a privacidade dos indivíduos, de conseguir obter as informações o mais próximo possível daquilo que é a realidade que nós estamos a tratar” (Pinto, cit. in Dias, 2005, p.35).

Outro aspecto importante ligado à imagem prende-se com os enquadramentos que são feitos da realidade. A este propósito afirma Lopes (2007, p.19) que a televisão “poderá não ser o meio que restitui a imagem mais transparente e menos fragmentária do real”. Assim, e no que toca à polícia, Jespers (1998) refere que as próprias notícias sobre a polícia e sobre a actividade por ela desenvolvida tendem a ser desvirtuadas para provocar a adesão do público, onde maioritariamente são vistas imagens dos elementos policiais em acção, numa tentativa de responder à vontade do público. Assim, o mesmo autor explicita um exemplo de um enquadramento muito pouco representativo do real comparando os enquadramentos de dois canais belgas: num, são mostradas imagens de elementos policiais a carregar sobre um manifestante sem motivo aparente, no outro são apresentadas imagens desse mesmo manifestante a atacar previamente esses elementos policiais com uma barra metálica. Como é perceptível, o enquadramento dados às imagens adultera completamente o sentido do acontecimento e por conseguinte, a percepção do que realmente se verificou. Esta é uma realidade preocupante quando “a esmagadora maioria dos portugueses [é] quase totalmente dependente da televisão para a obtenção de informação” (Torres, 2011, p.55), posição essa que é reforçada por Lopes (2007, p.19) quando refere que a televisão “poderá não ser o melhor meio para conhecer a realidade, mas será aquele através do qual um

33 número significativo de pessoas acede ao que se passa”. A isto acresce a ideia defendida por Sartori (2000, p.62) de que

com a televisão, a autoridade está na própria visão, é a autoridade da imagem. Não importa que as imagens possam enganar mais do que as palavras (…) o olho acredita naquilo que vê (…) [pois] surge como real, e isto implica que surge como verdadeiro

Outro grande crítico da televisão em geral e das notícias televisivas em particular é Mander (1999), ao ser da opinião que a televisão distorce a esfera sensorial e altera a percepção do mundo, afirmando igualmente que o meio televisivo, independentemente do uso que dele se faça, é produtor de distorção, ilusão e inversão do real.

Assim se percebe que o potencial informativo da televisão, embora enorme, não consegue fugir a algumas limitações que aqui foram elencadas e que introduzem sérias dificuldades ao trabalho desenvolvido pelos jornalistas. Uma coisa há que ter em conta: “a televisão é alvo de paixões e ódios, mas aquilo com que todos concordam é que a televisão provocou profundas alterações a nível social, económico e político” (Dias, 2005, p.6). Como Marcelo Caetano afirmou “a televisão não é boa nem má, depende do uso que se faça dela” (cit. in Dias, 2005, p.6).