• Nenhum resultado encontrado

Limitações, Sugestões para Investigações Futuras e Implicações Práticas

Uma das limitações desta investigação, que está associada à metodologia utilizada, prende-se com os procedimentos específicos de escolha da amostra e de aplicação dos instrumentos de medida. A aplicação de questionários on-line, apesar de trazer muitas vantagens, como a fácil recolha de respostas e permitir aos respondentes maior flexibilidade no seu preenchimento, possui também algumas desvantagens que devem ser consideradas. Associada à maior flexibilidade do respondente, está um maior risco quanto à fiabilidade das respostas. Sendo um questionário respondido on-line, em que o investigador não está presente, existe o risco de o questionário ser preenchido incorretamente, quer por lapso quer por intenção do respondente. Desta forma, e dada a dimensão da amostra obtida, foram tomadas as devidas precauções no sentido de evitar o preenchimento incorreto dos questionários, tendo todas as respostas sido comparadas, de forma a identificar possíveis repetições de resposta (i.e. o mesmo indivíduo preencher o questionário mais de uma vez) e padrões de respostas que se afastassem inequivocamente de um padrão considerado normal. Adicionalmente, dado que os instrumentos de medida utilizados se baseiam em respostas de auto-relato, pode verificar-se a existência de enviesamentos na análise dos resultados, situação comum à generalidade dos instrumentos de medida que se baseiam neste tipo de respostas.

Outra limitação relacionada com a metodologia utilizada prende-se com o facto de alguns sujeitos da amostra não terem indicado a sua idade. Este facto deveu-se, como referido anteriormente, a uma falha no sistema de transformação das respostas em base de dados. Dado que o padrão de respostas do conjunto de sujeitos que não indicou a sua idade não apresenta diferenças significativas em relação ao padrão de respostas da restante amostra, os possíveis efeitos da omissão destes dados nos resultados da investigação foram minorados. Por outro lado, a existência de uma proporção de sujeitos do sexo feminino superior à proporção de sujeitos do sexo masculino é considerada uma limitação, uma vez que a variável género pode exercer influência nos resultados obtidos (Mullen, Kelley &

25

Kelloway, 2008). Tendo em consideração a possível influência desta variável nos resultados obtidos e o seu possível impacto nas variáveis analisadas, sugere-se que em investigações futuras seja estudada a relação da variável género para com estas.

Outro contributo importante em investigações futuras passará pela análise da influência de variáveis relativas às características do trabalho, como sejam as suas exigências e recursos (e.g. sobrecarga de trabalho, a autonomia no trabalho). Investigações já realizadas, sobretudo à luz do modelo das exigências-recursos do trabalho, indicam que os recursos e exigências do trabalho influenciam diretamente a ocorrência do burnout, do conflito e os níveis de engagement. Destaca-se o estudo de Schaufeli, Bakker e Rhenen (2009), o qual demonstrou que as exigências e os recursos funcionam como preditores do burnout e do

engagement. Mais especificamente, quando as exigências (e.g. sobrecarga de trabalho)

aumentam e os recursos (e.g. suporte social) diminuem, regista-se um aumento dos níveis previstos de burnout. Por outro lado, à medida que os recursos no trabalho aumentam, os níveis previstos de engagement tendem também a aumentar. Contudo, as exigências parecem não ter impacto nos níveis de engagement, não funcionando como fatores preditores neste caso. Este facto poderá constituir uma possível explicação para os resultados obtidos na presente investigação, dado que sendo os dois grupos que constituem a amostra diferenciados pela quantidade de horas de trabalho semanais, seria de esperar que o grupo que trabalha mais horas (grupo B) registasse maiores níveis de burnout e menores níveis de

engagement. Contudo, verifica-se que não existem diferenças significativas entres os grupos

no que se refere aos seus níveis de burnout, existindo contudo níveis significativamente superiores de engagement no grupo B. Pode pressupor-se que as horas de trabalho funcionam como preditor do burnout, mas não do engagement, o que está em linha com resultados obtidos por Schaufeli, Bakker e Rhenen (2009).

Outra sugestão para investigações futuras passa pela análise da relação das variáveis investigadas com outras variáveis de interesse a nível organizacional, nomeadamente a satisfação profissional e os comportamentos de cidadania organizacional, no sentido de avaliar o seu impacto não só para o indivíduo, mas também para a organização. A presente investigação assume-se como particularmente relevante para o reconhecimento de que um elevado envolvimento e dedicação ao trabalho não são necessariamente prejudiciais para o individuo, uma vez que mesmo trabalhando muitas horas, o individuo pode revelar elevados níveis de engagement. Inclusive, pode pressupor-se que a quantidade

26

elevada de horas semanais de trabalho pode ser uma consequência indireta do elevado

engagement do individuo em relação ao seu trabalho.

Para as organizações, os resultados da presente investigação são relevantes, embora devam ser analisados cautelosamente, no sentido de evitar que sejam retiradas conclusões indevidas acerca da relação entre as variáveis avaliadas na presente investigação. Por outro lado, os resultados obtidos podem incitar as organizações a procurar estratégias e políticas que permitam aos seus colaboradores conciliar ambos os seus papéis e simultaneamente manter elevados níveis de engagement no trabalho.

Referências Bibliográficas

Allen, T., David, E., Herst, C., Bruck, C., & Sutton, M. (2000). Consequences associated with work-to-family conflict: a review and agenda for future research. Journal of

Occupational Health Psychology, 5 (2), 278-308. doi: 10.1037//1076-8998.5.2.278.

Amstad, F., Meier, L., Fasel, U., Elfering, A., Semmer, N. (2011). A meta-analysis of work- family conflict and various outcomes with a special emphasis on cross-domain versus matching-domain relations. Journal of Occupational Health Psychology, 16 (2), 151- 169. doi: 10.1037/a0022170.

Brauchli, R., Bauer, G., & Hämmig, O. (2011). Relationship between time-based work-life conflict and burnout: A cross-sectional study among employees in four large swiss enterprises. Swiss Journal of Psychology, 70 (3), 165-174. doi: 10.1024/1421- 0185/a000052.

Carlson, D. S., Kacmar, M. K., & Williams, L. J. (2000). Construction and validation of a multidimensional measure of work–family conflict. Journal of Vocational Behavior, 56 (2), 249–276.

Carlson, D. S. & Frone, M. R. (2003). Relation of behavioral and psychological involvement to a new four-factor conceptualization of work-family interference. Journal of Business

and Psychology, 17, 515–535. doi: 0889-3268/03/0600-0615/0.

Carlson, D. S., & Grywacz, J.G. (2008). Reflections and Future Directions on Measurement in Work-Family Research. In K. Korabik, D. S. Lero, & D. L. Whitehead (Eds.),

27

Handbook of Work-Family Integration: Research, Theory, And Best Practices (pp. 57-

73). London: Academic Press.

Chambel, M. (No prelo). A interface entre o trabalho e a família. In M.J. Chambel, M.T. Ribeiro (Eds.), A Relação entre o trabalho e a família: Do conflito ao enriquecimento. Lisboa: RH Editora.

Crawford, E., LePine, J., & Rich, B. (2010). Linking Job Demands and Resources to Employee Engagement and Burnout: A Theoretical Extension and Meta-Analytic Test.

Journal of Applied Psychology, 95, 834-848. doi: 10.1037/a0019364.

Demerouti, E., Bakker, A., Nachreiner, F., & Schaufeli, W. (2001). The job demands- resources model of burnout. Journal of Applied Psychology, 86 (3), 499-512. doi: 10.1037//0021-9010.86.3.499.

Dierdoff, E., & Ellington, J. (2008). It’s the nature of the work: examining behavior-based sources of work–family conflict across occupations. Journal of Applied Psychology, 93 (4), 883–892. doi: 10.1037/0021-9010.93.4.883.

Frone, M. R., Russell, M., & Cooper, M. L. (1992). Antecedents, and outcomes of work- family conflict: testing a model of the work-family interface. Journal of Applied

Psychology, 77 (1), 65-78.

Frone, M., Russell, M., & Cooper, M. (1997). Relation of work-family conflict to health outcomes: A four-year longitudinal study of employed parents. Journal of Occupational

Health Psychology, 70, 325-335. doi: 10.1111/j.2044-8325.1997.tb00652.x.

Geurts, S., Rutte, C., & Peeters, M. (1999). Antecedents and consequences of work-home interference among medical residents. Social Science & Medicine, 48, 1135–1148. Geurts, S., & Demerouti, E. (2003). Work/non-work interface: A review of theories and

findings. In M. Schabraca, J. Winnubst, & C. Cooper (Eds.), The handbook of work &

health psychology (pp. 283-310). East Sussex: John Wiley & Sons.

Grandey, A., & Cropanzano, R. (1999). The conservation of resources model applied to work–family conflict and strain. Journal of Vocational Behavior, 54, 350–370.

28

Greenglass, E. (2000). Work, family and psychological functioning: conflict or synergy? In Dewe, P., Leiter, M., & Cox, T. (Eds.), Issues in Occupational Health: Coping, Health

and Organizations (87-105). Florida: CRC Press.

Greenhaus, J., & Powell, G. (2006). When work and family are allies: A theory of work- family enrichment. Academy of Management Journal, 31 (1), 72-92. doi: 10.5465/AMR.2006.19379625.

Greenhaus, J.H., & Beutell, N.J. (1985) Sources of conflict between work and family roles.

Academy of Management Journal, 10, 76–88.

Greenhaus, J., Collins, K., & Shaw, J. (2003). The relation between work-family balance and quality of life. Journal of Vocational Psychology, 63, 510–531. doi:10.1016/S0001- 8791(02)00042-8.

Greenhaus, J.; Callanan, G., & Godshalk, V. (2010). Intersection of work and family roles: Implications for career management. In J. Greenhaus, G. Callanan, & V. Godshalk (Eds.), Career Management (pp. 286-319). California: Safe Publications.

Grzywacz, J., & Marks, N. (2000). Reconceptualizing the work-family interface: an ecological perspective on correlates of positive and negative spillover between work and family. Journal of Occupational Health Psychology, 5 (1), 111-126. doi: 10.1037//1076- 8998.5.1.111.

Grzywacz, J., & Carlson, D. (2007). Conceptualizing work-family balance: Implications for practice and research. Advances in Developing Human Resources, 4 (9), 455–471. doi: 10.1177/1523422307305487.

Gutek, B., Searle, S., & Klepa, L. (1991). Rational versus gender role explanations for work– family conflict. Journal of Applied Psychology, 76 (4), 560-568.

Hobfoll, S. E. (1989). Conservation of resources: A new attempt at conceptualizing stress.

American Psychologist, 44, 513–524.

Hobfoll, S.E., (2002). Social and psychological resources and adaptation. Review of General

29

Keller, R. (1975). Role conflict and ambiguity: correlates with job satisfaction and values.

Personnel Psychology, 28, 57-64.

Kossek, E, & Ozeki, C. (1998). Work-family conflict, policies, and the job-life satisfaction relationship: A review and directions for organizational behavior-human resources research. Journal of Applied Psychology, 3 (2), 139-149

Lindgard, H., & Francis, V. (2005). Does work-family conflict mediate the relationship between job schedule demans and burnout in male construction professionals and managers? Construction Management and Economics, 23, 733-745. doi: 10.1080/01446190500040836.

Major, V. S., Klein, K. J. & Ehrhart, M. G. (2002). Work time, work interference with family, and psychological distresse. Journal of Applied Psychology, 87, 427-436.

Maroco, J. (2003). Análise estatística com utilização do SPSS. Lisboa: Edições Sílabo.

Marques Pinto, A. (2000). Burnout profissional em professores portugueses: Representações

sociais, incidência e preditores. Dissertação de Doutoramento em Psicologia, Lisboa:

Universidade de Lisboa.

Maslach, C., Schaufelli, W., & Leiter, M. (2001), Job burnout. Annual Review of Psychology,

52, 397-422. doi: DOI: 10.1146/annurev.psych.52.1.397.

Montgomery, A. J., Peeters, M. C. W., Schaufeli, W. B., & Den Ouden, M. (2003). Work– home interference among newspaper managers: Its relationship with burnout and engagement. Anxiety, Stress & Coping, 16, 195–211. doi: 10.1080/1061580021000030535.

Mullen, J., Kelley, E., & Kelloway, K., (2008). Health and well-being outcomes of the work- family interface. In K. Korabik, D. Lero, & D. Whitehead (Eds.), Handbook of Work-

Family Integration: Research, Theory, And Best Practices (pp. 191-214). London:

Academic Press.

Netemeyer, R., Boles, J., & McMurrian, R. (1996). Development and validation of work- family conflicts and work-family conflict scales. Journal of Applied Psychology, 81, 400- 410.

30

O’Driscoll, M. P., Ilgen, D. R. & Hildreth, K. (1992). Time devoted to job and off--job activities, interrole conflict, and affective experiences. Journal of Applied Psychology,

77, 272-279.

O’Driscoll, M.P. (1996). The interface between job and off-job roles: Enhancement and conflict. In: C.L. Cooper, & I.T. Robertson (Eds). International Review of Industrial and

Organizational Psychology (pp. 279-306). Chichester: Wiley.

Parry, E., & Urwin, P. (2011). Generational diferences in work values: a review of theory and evidence. International Journal of Management Reviews, 13, 79-96. doi: 10.1111/j.1468- 2370.2010.00285.x.

Pinto, A., & Chambel, M. (2008). Burnout e engagement em contexto organizacional:

Estudos com amostras portuguesas. Lisboa: Livros Horizonte, Lda.

Poelmans, S., Stepanova, O., & Masuda, A. (2008). Positive spillover between personal and professional life: Definitions, antecedents, consequences, and strategies. In K. Korabik, D. S. Lero, & D. L. Whitehead (Eds.), Handbook of Work-Family Integration: Research,

Theory, And Best Practices (pp. 141-156). London: Academic Press.

Reis, E. (1997). Estatística multivariada aplicada. Lisboa: Edições Sílabo.

Rupert, P., Stevanovic, P., & Hunley, H. (2000). Work–family conflict and burnout among practicing psychologists. Professional Psychology: Research and Practice, 40 (1), 54-61. doi: 10.1037/a0012538.

Schaufelli, W. & Enzmann, D. (1998). The burnout companion to study and practice: A

critical analysis. London: Taylor & Francis Ltd.

Schaufeli, W., Salanova, M., González-Romá, V., & Bakker, A. (2002). The measurement of engagement and burnout: a two sample confirmatory factor analytic approach. Journal of

Happiness Studies, 3, 71-92.

Schaufeli, W. B., & Buunk, B. P. (2003). Burnout: An overview of 25 years of research and theorizing. In M. J. Schabracq, J. A. Winnubst, & C. L. Cooper (Eds.), Handbook of

31

Schaufeli, W.B., Bakker, A.B., Salanova, M. (2006). The measurement of work engagement with a short questionnaire: A cross-national study. Educational and Psychological

Measurement, 66 (4), 701-716.

Schaufeli, W., Bakker, A., & Thenen, W. (2009). How changes in job demands and resources predict burnout, work engagement, and sickness absenteeism. Journal of Organizational

Behavior, 30, 893-917. doi: 10.1002/job.595

Schaufeli, W., Leiter, M., & Maslach, C. (2009). Burnout: 35 years of research and practice.

Career Development International, 14 (3), 204-220. doi: 10.1108/13620430910966406

Sieber, S. (1974). Toward a theory of role accumulation. American Sociological Review, 39, 567–578.

Sparks, K., Cooper, C., Fried, Y., & Shirom, A. (1997). The effects of hours of work on health: a meta-analytic review. Journal of Occupational Health Psychology, 70, 391-408. Stephens, G.K. & Sommer, S.M. (1996). The measurement of work to family conflict.

Educational and Psychological Measurement,.56 (3), 475-486.

Super, D. (1990). A life-span, life-space approach to career development. In Brown, D., & Brooks, L. (Eds.), Career Choice and Development (pp. 197-261). San Francisco: Jossey-Bass.

Thomas, L. T. & Ganster, D. C. (1995). Impact of family supportive work variables on work- family conflict and strain: a control perspective. Journal of Applied Psychology, 80, 6-15. Westman, M., & Piotrkowski, C. (1999). Work–family research in occupational health

Documentos relacionados