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Vancouver, Canada

3. A Governança Colaborativa da Água em Metro Vancouver

3.7. Limites da governança colaborativa no Metro Vancouver

Os limites da governança colaborativa em Metro Vancouver, segundo as entrevistas da pesquisa, envolvem um dilema clássico dos gestores que envolve autonomia local e crescimento regional (ou amalgamação). Dada a dependência dos distritos regionais com a melhoria da quali- dade e eficiência constante dos serviços públicos e de recursos financeiros dos governos seniores (federal e da província) para a infra-estrutura de grande porte, os municípios de Metro Vancouver tem de carregar uma carga de demanda pública considerável por serviços de alto nível e necessi- dades de auto-gestão. Em curto prazo, o distrito regional de Vancouver Metro tem lidar com o

crescimento integrado para toda a região, proporcionando economias de escala de forma colabo- rativa entre os governos locais, as partes interessadas e a população metropolitana.

Kameron (2004) aponta para o fato de que até recentemente, as regiões urbanas canadenses não poderiam ter sido descritas como autogerenciadas:

"A estreita supervisão dos governos municipais pelas províncias e a fragmentação da estrutura do governo local, foram combinadas para im- pedir qualquer esforço para a gestão global dessas entidades. Os sistemas de navegação e controle não eram apenas distribuídos, eles eram de- sconectados. Como resultado do crescente reconhecimento das regiões urbanas como incubadoras da nova economia e da tendência à consoli- dação da governança em cidades amalgamadas ou entidades regionais mais efetivas, há agora uma maior aceitação da necessidade e da capaci- dade das regiões urbanas de gerir os seus próprios assuntos. Deixados a si próprios pelos governos federal e provincial, os governos locais em regiões urbanas têm maior legitimidade política e capacidade de libertar energia e criatividade para seguir suas próprias direções. A autogestão é algo que acontece em qualquer região urbana, em maior ou menor grau. É como governos da região e suas instituições atuam em conjunto para enfrentar e lidar com questões ". (Kameron, 2004).

Distritos regionais, como o Metro Vancouver, tem que lidar com desafios ligados a au- tonomia local, no sentido de que uma gama de serviços necessários para obter economias de es- cala e melhor qualidade dos serviços públicos somente pode ser realizado pelo distrito regional, o que dificilmente manteria as preferências do eleitorado em cada município. Como citado por um dos prefeitos:

"É gerenciável para resolver problemas locais pela proximidade. Uma estrutura maior poderia criar uma distância de serviços prestados (em re- lação ao cidadão). Na água, esgoto, funciona bem". (Prefeito membro do Metro Vancouver, agosto / 2016)

Sobre o desafio de incluir novos participantes no distrito regional da água para garantir uma melhor autogestão para toda a região, um dos prefeitos entrevistados argumentou que algu- mas condições prévias são crucias para manter os investimentos para toda a região metropoli- tana, como a responsabilidade de compartilhar os custos dos serviços com os demais partici- pantes,

"Nós temos um município na área metropolitana chamado White Rock que ainda não é membro. Eles têm um sistema de poço artesiano, então eles usam a água de poços. E custa dinheiro para fazer isso. Porque eles têm que tratar a água. E assim eles estão esperando a decisão de deixar o sistema para aderir ao sistema do Metro Vancouver. Nós dissemos que podemos inclui-los no sistema. Sem problemas. Mas você paga o custo incremental para participar. Então você tem que colocar um novo cano para lá, para criar um novo reservatório e você tem que pagar isso. Eles vão tomar a decisão de quando se juntarem a nós ou se pretendem ficar com o sistema atual de abastecimento de água. Fica cerca de US$ 10 mil- hões mais barato se eles optarem por manterem o sistema atual, mas a longo prazo o custo pode aumentar muito mais. Eles não querem pagar US$ 10 milhões agora”. (Prefeito membro do Metro Vancouver, setembro / 2016)

A dificuldade de replicar a governança da agua do Metro Vancouver para outras reali- dades foi apontada nas entrevistas. Quando perguntamos aos entrevistados quais seriam as bar- reiras e desafios para o Metro Vancouver avançar,

"Acho que se você começar, seria uma barreira enorme, uma barreira muito grande. Mas agora nós trabalhamos juntos, juntando-se a muitos anos atrás, há cem anos celebramos. Os benefícios distantes as barreiras, então ninguém fala sobre sair. Mas existem sempre pessoas falando sobre aderir. Outro município que não tem participação no sistema é Lyons Bay, na costa oeste. Mas isso custa um monte de dinheiro para colocar tubos de água. Milhões. Eles têm apenas três mil moradores. Custa um monte de dinheiro para que eles ainda estão usando o abastecimento de água própria. Mas foi sempre muito confiável, muito seguro, muito alta qualidade. Então eu posso ver um dia eles têm que se juntar, mas não falam sobre sair. Então eu acho que é possível ver um dos maiores custos da cidade trabalhando juntos em água ou águas residuais ou resíduos sólidos. (Prefeito membro do Metro Vancouver, setembro / 2016).

3.9. Conclusão

As condições para a governança colaborativa da água no Metro Vancouver tem suas ori- gens em um longo processo histórico de colaboração entre os municípios na prestação de serviços regionais de água e no desenho institucional que partilha a responsabilidade pelos custos da água com os demais participantes para fornecer uma auto-gestão do abastecimento de água de qualidade para toda a região.

A longa história de cooperação intermunicipal no Metro Vancouver, remonta aos serviços de gestão regional da água potável e do destino adequado de resíduos sólidos e líquidos, do final do século XIX. Na história do distrito regional de água em Vancouver, alguns momentos críticos onde a cooperação entre os municípios da região foi colocada a prova ou reforçada como forma de gerir o desenvolvimento da região, a exemplo do Grande Incêndio em Vancouver, em 1886, os primeiros distritos regionais em água e esgoto na região no inicio dos anos 1920, a criação do GVRD em 1967, bem como do Metro Vancouver, em 2008. O longo histórico de cooperação metropolitana tem contribuído para reforçar os laços de colaboração e de identidade local co- mum entre os municípios da região.

Um outro recurso crucial para a governança colaborativa no Metro Vancouver são os in- centivos econômicos provindos de economias de escala proporcionadas pelo distrito regional. Distritos consorciados como Metro Vancouver envolvem altos investimentos que não seriam possíveis se não houvesse a cooperação entre os governos. As jurisdições locais que procuram obter ganhos com a cooperação enfrentam problemas de ação coletiva, porque cada unidade gov- ernamental procura se beneficiar do resultado colaborativo, e os demais podem assumir o encar- go de formar a organização, elaborar e realizar um acordo (Ostrom et al, 1961). Há uma tendên- cia da ação coletiva voluntária em grupos menores, porque os custos de transação de coordenar as ações entre os participantes, monitorar seu comportamento subsequente e identificar o des- cumprimento dos acordos é menos difícil para um grupo menor do que para um grande grupo de atores. O Metro Vancouver ocupa esta lacuna na perspectiva dos participantes para a colaboração regional.

Politicamente, os distritos regionais têm que lidar com os desafios da autonomia local como barreira para resolver problemas de ação coletiva, no sentido de que uma gama de serviços que seria necessário para obter economias de escala e melhor qualidade dos serviços públicos para a região, não seriam realizadas por um único município. No caso do Metro Vancouver, na condição de escassa autonomia dos municípios, garantida pela Constituição, o distrito regional ocupa um papel crucial no equilíbrio de poder na arena política, na gestão de conflitos entre as jurisdições através da liderança que ocupa os conselhos setoriais no planejamento regional. A legislação da província fornece uma arranjo institucional importante para os municípios do Metro Vancouver garantindo a segurança jurídica necessária para a prestação de serviços públi- cos regionais, incluindo a legislação ambiental de gestão de recursos comuns (como terra, ar e água), bem como desenvolvendo planos regionais para a gestão comum dos resíduos sólidos e líquidos do Metro Vancouver. O distrito regional desenvolve ainda ações de apoio ao desen- volvimento económico regional, através de infraestrutura e políticas fiscais. Os municípios por meio de distritos regionais administram o orçamento para fornecer uma variedade de serviços regionais públicos, como água potável das bacias hidrográficas nas montanhas, para o planeja- mento regional na gestão do crescimento em nome dos municípios membros (Metro Vancouver, 2008). A receita do Metro Vancouver vem principalmente de taxas de serviço público e do im- posto de propriedade dos municípios membros, e do financiamento dos demais entes da feder- ação, em grande parte, restrito a contribuições para grandes projetos de capital e do orçamento anual federal excedente.

Embora não se tenha uma única liderança orgânica clara em Metro Vancouver, o Consel- ho da Água em Metro Vancouver tem funcionado como um fórum crucial para a governança co- laborativa metropolitana. A comunicação face a face (nos conselhos setoriais) induz a colabo- ração através do intercâmbio de compromissos entre os atores institucionais responsáveis pelo crescimento regional. Reuniões regulares e efetivas para discutir e tomar decisões sobre a água que afetam os municípios, aumentam a confiança entre os líderes locais, diminuem a tendência autárquica dos municípios, ao efeito carona, ou a deserção, distribuem o poder entre os vários

municípios participantes, reforçam as normas cooperativas e o desenvolvimento da identidade coletiva com efeitos sobre a redução dos custos de transação nas situações de ação coletiva insti- tucional. (Feiock, 2013)

Os limites da governança colaborativa no Metro Vancouver envolve o clássico dilema entre autonomia local, crescimento e a fusão regional. Dada a dependência dos distritos regionais para uma melhor qualidade e serviços públicos eficientes e de altos recursos financeiros para grandes infra-estruturas, os municípios do Metro Vancouver tem de carregar uma alta carga de demanda pública de serviços de alto nível e de auto-gestão regional. A longo prazo, o distrito re- gional de Metro Vancouver tem que lidar com o crescimento integrado para toda a região, com a inclusão de novos participantes e do fornecimento de serviços de forma colaborativa entre os governos locais, com as partes interessadas e a comunidade, de forma a garantir a governança colaborativa necessária para o fornecimento de água de qualidade para toda a região.

CAPÍTULO 04

RESULTADOS E ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO: