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CAPÍTULO II- A LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL E O SISTEMA DE

2.1 Linguística Sistêmico-Funcional

Dentre várias obras publicadas por Halliday, a intitulada “An Introduction to Functional Grammar” no ano de 1985, tornou-se a principal fonte teórica a respeito desse tema. A LSF tem como um de seus suportes o contexto sociocultural envolvido, além de analisar a linguagem em uso, partindo de situações cotidianas. A LSF tem como foco o significado e se utiliza da estrutura para chegar ao seu principal objetivo, o aspecto semântico. Essa teoria visualiza na linguagem o estabelecimento e a manutenção das relações sociais entre as pessoas.

Fundamentada no uso da linguagem, a LSF toma como objeto de estudo um texto, composição falada ou escrita resultante das escolhas léxico-gramaticais realizadas por um falante/escritor. De maneira consciente ou não, através dessas escolhas, o falante demonstra sua intencionalidade no discurso, ou seja, a que se propôs comunicar, sendo, portanto, motivadas pelo contexto. Além do contexto envolvido, a teoria de Halliday (1994) se sustenta em mais três dimensões: a semântica, partindo dos significados, as escolhas léxico-gramaticais e a fono-grafológica.

33 Seguindo essas quatro bases mencionadas, têm-se um sistema com partes separadas, interdependentes entre si, mas incapazes de serem realizadas separadamente. Tem-se, em primeiro lugar, a fonologia ou grafologia como a produção linguística dos falantes, os quais fizeram escolhas de elementos léxico-gramaticais (palavras), que são carregados de significados pela semântica, e estão encobertos por um contexto de cultura e situação.

Conceituando, “o contexto de cultura relaciona-se, assim, ao ambiente sociocultural mais amplo, que inclui ideologia, convenções sociais e instituições” (FUZER; CABRAL, 2014, p.28). Já o contexto de situação está ligado às circunstâncias do fato que deu origem ao texto/discurso, e ao “ambiente imediato” de aplicação do texto. É o contexto de situação que determina a aplicação contextual que o leitor faz quando lê sobre um assunto ou situação específica. A este último estão vinculadas as três possíveis variáveis de um discurso: o campo, que explana sobre a atividade, objetivo e finalidade da ação, as relações dos participantes dentro do discurso (a distância social entre eles) e o modo que se vincula à maneira como a mensagem foi transmitida (oral, escrita e etc.).

Adjunto ao campo contextual, o campo semântico da linguagem é visto pela LSF sob três conjuntos de significados: ideacional, interpessoal e textual, nomeados por metafunções.

De acordo com Barbara e Macêdo (2009, p.91) esses

“três grandes grupos de significados são a base para a análise de como os significados são criados e entendidos, porque permitem o estabelecimento de uma relação entre as funções, ou significados, e determinados tipos de estrutura”.

Desse modo, as metafunções são determinadas a partir da finalidade do falante, do contexto da fala e da forma como ele registra o texto. Elas apresentam as funções que a linguagem tem na LSF por meio de escolhas lexicais e gramaticais selecionadas, de um sistema maior, a linguagem.

Por conseguinte, se a oração estiver voltada para as experiências vividas por determinado falante, provavelmente constarão como itens principais os processos, mais conhecidos como verbos, bem como uma circunstância e os participantes que nela estão envolvidos. A metafunção ideacional é marcada por representações de experiências internas, externas e relacionais e tem como desdobramento o sistema de transitividade. Esse sistema se encarrega de identificar e relacionar os três itens básicos que acima foram citados, os quais compõem uma oração: processo, circunstância e participantes, a fim de se compreender os significados experienciais transmitidos por meio da linguagem.

34 De acordo com Fuzer e Cabral (2014, p.42), há três principais tipos de processos que representam grande parte das nossas experiências: materiais, mentais e relacionais. Os materiais dizem respeito ao fazer, atuar e agir, já os mentais estão ligados às “experiências internas”, voltadas, em especial, para os sentimentos e pensamentos. Os processos relacionais dizem sobre a identificação, geralmente se manifestam por verbos de ligação: ser, estar, parecer entre outros.

Há também mais três tipos de processos que são chamados pela autora de “secundários” e estão nas extremidades das categorias supracitadas: existenciais, verbais e comportamentais. Os processos existenciais, como o próprio nome diz, têm a ver com a existência de uma pessoa, sendo representados, por exemplo, por existir e haver. Já os verbais estão voltados para a

“representação dos dizeres: afirmar, declarar, responder (...)”. Por último e não menos importante, os processos comportamentais expressam comportamentos, físicos e psicológicos:

dormir, andar, correr e outros.

Seguindo com as metafunções, tem-se a interpessoal, que abrange as relações/interações estabelecidas entre os indivíduos num meio social. Segundo Halliday (1994), ao utilizar a fala, as pessoas exerceriam a função de dar e solicitar informações, bens e serviços. Através de vocativos, adjuntos, expressões e outros recursos linguísticos, a frase é analisada seguindo a metafunção interpessoal que engloba consigo quatro sistemas: Modo, Negociação, Avaliatividade e Envolvimento. O principal deles é o de modo, pois “é o recurso gramatical para se realizarem os movimentos interativos no diálogo” (MARTIN; MATTHIESSEN; PAINTER, 1997, apud FUZER; CABRAL, 2014, p.28).

Por último, apresenta-se a metafunção textual que, no campo do léxico-gramatical, trata do aspecto organizacional da frase. A construção das informações também apresenta significações no campo da linguagem e a função textual se utiliza da composição Tema/Rema para organizar as experiências e interações em forma de orações. Dessa forma o “tema é o ponto de partida para a mensagem; é aquilo sobre o que a mensagem vai ser” (GOUVEIA, 2009, p.

38). Pode haver uma correspondência entre sujeito e tema (tema não marcado), mas nem sempre o sujeito será o tema de uma oração (tema marcado). O rema é o complemento que vem após o tema, seguindo obrigatoriamente essa ordem.

35 Figura 1- Do contexto de cultura às metafunções

Fonte: Barbara e Macêdo, (2009, p. 94).

De forma geral, a Figura 1 representa um panorama básico dos estratos que compõem a LSF, nos quais o texto é um composto de significados, analisado de acordo com suas estruturas pelo sistema competente, que leva em consideração os fatores linguísticos (campos semântico, léxico-gramatical e fonológico), bem como os extralinguísticos, contexto de cultura e situação.

Além dessas características, Vian Jr. (2013, p.127) destaca a preocupação da LSF com questões de linguagem relacionadas ao meio sociohistórico:

Uma característica diferencial da LSF, ainda, é a sua disseminação entre profissionais de ensino preocupados com questões sociais e o papel fulcral da linguagem em seu cotidiano e como a compreensão dos aspectos linguísticos pode oferecer pistas para se compreender a realidade em que estão inseridos.

Portanto, a LSF vai ao encontro do objetivo deste trabalho que, a partir do discurso dos professores Libras, visa encontrar “pistas” para compreender o ensino de Libras no ensino superior, bem como as questões de atuação docente que permeiam este ambiente. A LSF é uma teoria dinâmica e funcional, interdisciplinar analítica do discurso, sociológica, de ordem sistêmica que focaliza a língua em sua totalidade, isto é, considera aspectos contextuais e semânticos. Dessa forma, este estudo está focado no extrato semântico discursivo, no campo das relações, em prestígio à metafunção interpessoal, sob a perspectiva do Sistema de Avaliatividade.

Contexto de Cultura:

Gênero acima e além das metafunções

Contexto de Situação:

Registro organizado por metafunção

Linguagem organizada por metafunção

Gênero Relações

Modo

Campo

Interpessoal

Textual

Ideacional

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