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A linguagem formal

No documento Temas em Filosofia Contemporânea II (páginas 140-144)

Lógica, tempo e linguagem natural: um sistema formal para tempos verbais do

1. A linguagem formal

Vamos começar definindo uma linguagemL para o cálculo proposicional clás- sico.

Definição 1.1. O alfabeto proposicional é o conjunto de símbolosA ={ p, q, r, p1,q1,r1,p2,q2,r2,...,→,∼,),(}, onde { p, q, r, p1,q1,r1,p2,q2,r2,...} é um

conjunto denumerável de variáveis proposicionais;→ e ∼ são chamados de ope- radores lógicos, respectivamente, da implicação e da negação, e ) e ( são sinais de pontuação.

Definição 1.2. Uma expressão sobreA é qualquer sequência finita de elementos deA; designamos por E(A) o conjunto de todas as expressões sobre A; generica- mente, para qualquer conjunto de símbolos (alfabeto)X , uma expressão sobre X é uma sequência finita qualquer de elementos de X , e E(X ) é o conjunto de todas as expressões sobreX .

Definição 1.3. A linguagem formal sobreA, que designaremos por L, é o me- nor subconjunto deE(A) que satisfaz as seguintes condições:

i) se α ∈ { p, q, r, p1,q1,r1,p2,q2,r2,...}, então α ∈ L, e dizemos que α é

uma fórmula atômica deL; ii) se α ∈ L, então ∼α ∈ L; iii) se α,β ∈ L, então (α → β) ∈ L.

Um elemento qualquer deL é uma fórmula de L. Agora, vamos estenderL para L+, do modo seguinte:

Definição 1.4. SejaA+o alfabetoA∪ {P,F,I,PC}; a linguagem formal sobre

A+, que designaremos porL+, é o menor subconjunto deE(A+)que satisfaz as

seguintes condições:

i) se α ∈ { p, q, r, p1,q1,r1,p2,q2,r2,...}, então α ∈ L+, e dizemos que α é

uma fórmula atômica deL+

ii) se α ∈ L+, então∼α ∈ L+;

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iv) se α ∈ L+, então P(α), F(α), I(α), PC(α) ∈ L+.

Um elemento qualquer deL+é uma fórmula deL+.

As seguintes convenções notacionais serão adotadas com respeito aL+:

i) em uma fórmula que começa com ‘(’ e termina com ‘)’, esses símbolos poderão ser omitidos

ii) uma fórmula da forma P(α), F(α), I(α) ou PC(α) poderá ser escrita na forma Pα, Fα, Iα e PCα, respectivamente

iii) as seguintes abreviações serão adotadas: α∧β abrevia ∼(α → ∼β); α∨β abrevia∼α → β; α ↔ β abrevia (α → β) ∧ (β → α); Gα abrevia ∼F∼α; Hα abrevia ∼P∼α

iv) uma fórmula da forma (α1∧(α2∧(...∧(αn−1∧αn)...) poderá ser escrita

na forma α1∧α2∧...∧αn−1∧αn; uma fórmula da forma (α1∨(α2∨(...∨

(αn−1∨ αn)...) poderá ser escrita na forma α1∨ α2∨ ... ∨ αn−1∨ αn.

2. Semântica paraL

+

Agora vamos fornecer uma interpretação para a linguagem formalL+. Nosso

objetivo principal será definir o conceito de uma fórmula válida deL+, de modo

a podermos depois introduzir o sistema formalT, e provar que todas e somente

as formulas válidas de L+são teoremas deT. Para tanto, como é costumeiro

em lógica modal, vamos utilizar o conceito de frames, que são pares ordenados que envolvem um conjunto e uma relação sobre esse conjunto. Também é cos- tume, em lógica modal, como é sabido, dizer que uma frame é parcial quando a relação em questão é uma ordem parcial, ou que é densa a frame que inclui uma ordem densa, e por aí vai. Diz-se ainda que possui um máximo a frame cujo conjunto possui um elemento máximo dada a relação que o ordena, e que possui um mínimo aquela cujo conjunto possui um elemento mínimo dada a relação que o ordena. Nossas frames serão todas lineares e discretas, sem um mínimo e nem um máximo, e as fórmulas válidas deL+serão definidas como

sendo aquelas que são válidas sobre o conjunto de todas essas frames. É com o conjunto dessas fórmulas que o conjunto dos teoremas de Tvai coincidir,

conforme vamos provar mais adiante.

Definição 2.1. Uma frameFé um par ordenado (TF,<), onde TFé um con-

Lógica, tempo e linguagem natural 141

creta sem mínimo ou máximo)Fé uma frame (TF,<) onde TFé denumerável,

e < é uma ordem linear discreta sobre TFtal que, para todo t ∈ TF, há um

u∈ TFtal queu < t, e um w ∈ TFtal quet < w.

Definição 2.2. SejaF= (TF,<) uma frame e t um elemento qualquer de TF;

então, set′∈ T

F, a)t′é um sucessor det emFsset < t′; b)t′é um predecessor

det emFsset′< t ; c) t′é o sucessor imediato det emFsset < t′e, para todo

elementot′′∈ T

F, set < t′′, então t′′= t′ou t′< t′′; d) t′é o predecessor

imediato det emFsset′< t e, para todo elemento t′′∈ TF, set′′< t , então

t′′=tout′′< t.

Como as d-frames são discretas, dada uma d-frameF= (TF,<), se um ins-

tantet em TFpossui um sucessor,t deve possuir um sucessor imediato, e se t

possui um predecessor,t deve possuir um predecessor imediato. Assim, como as d-frames não possuem máximos ou mínimos, todo instante t em TFpossui

um sucessor e um predecessor, e logo todo instantet em TFpossui um sucessor

imediato e um predecessor imediato.

Definição 2.3. Dados uma frameF= (TF,<) e dois elementos ti e tj deTF

tais queti< tj, o intervalo fechado, ou simplesmente intervalo [ti,tj]é o sub- conjunto de TF tal que: i) ti ∈ [ti,tj], ii) tj ∈ [ti,tj]e iii) se ti < t < tj,

entãot ∈ [ti,tj]; chama-se módulo do intervalo [ti,tj]ao cardinal de [ti,tj],

que será denotado pela notação [ti,tj]; dado um intervalo [ti,tj]cujo módulo [ti,tj] =n, se tk∈ TFetj< tk, dizemos quetké um sucessor de [ti,tj]emF,

ou, equivalentemente, que [ti,tj]é um predecessor detk emF, e escrevemos

[ti,tj]< tk; setk ∈ TFetk < ti, dizemos que tk é um predecessor de [ti,tj]

emF, ou, equivalentemente, que [ti,tj]é um sucessor de tk emF, e escreve-

mostk< [ti,tj]; setk∈ TFetké o sucessor imediato detjemF, dizemos que

tk é o sucessor imediato de [ti,tj]emF, ou, equivalentemente, que [ti,tj]é o predecessor imediato detk emFcom módulon; se tk∈ TFe tk é o prede-

cessor imediato deti emF, dizemos quetké o predecessor imediato de [ti,tj] emF, ou, equivalentemente, que [ti,tj]é o sucessor imediato detkemFcom

módulon.

Definição 2.4. Dadas uma frame F = (TF,<) e uma função f definida de

{ p, q, r, p1,q1,r1,p2,q2,r2,...} × TFem{0,1}, uma valoração vFemFé uma

função definida deL+× T

142 Carlos Luciano Manholi

i) se α é atômica, vF(α, t ) = 1 sse f (α, t ) = 1

ii) vF(∼α, t) = 1 sse vF(α, t ) = 0

iii) vF(α → β, t ) = 0 sse vF(α, t ) = 1 e vF(β, t ) = 0

iv) vF(P(α), t) = 1 sse há em TFalgum instanteu < t tal que vF(α, u) = 1

v) vF(F(α), t) = 1 sse há em TFalgum instanteu tal que t < u e vF(α, u) =

1

vi) vF(PC(α), t) = 1 sse há em TFum instanteu < t tal que vF(α, i) = 1

para todo instante de tempoi no intervalo [u, t]

vii) vF(I(α), t) = 1 sse há em TF um instanteu e um instante v, tais que

u < v < t e vF(α, i) = 1 para todo instante de tempo i no intervalo

[u, v].

Como estamos usando expressões da forma α∧β para abreviar fórmulas da forma∼(α → ∼β), expressões da forma α∨β para abreviar fórmulas da forma ∼α → β, expressões forma Gα para abreviar fórmulas da forma ∼F∼α, e ainda expressões forma Hα para abreviar fórmulas da forma ∼P∼α, segue-se diretamente da definição 2.4 que: a)vF(α∧β, t ) = 1 sse vF(α, t ) = vF(β, t ) = 1;

b)vF(α∨β, t ) = 0 sse vF(α, t ) = vF(β, t ) = 0; c) vF(Gα, t) = 1 sse vF(α, u) = 1

para todou∈ TFtal quet < u; e d) vF(Hα, t) = 1 sse vF(α, u) = 1 para todo

u∈ TFtal queu < t.

Definição 2.5. Uma valoraçãovFem uma frameFé um modelo de um con-

junto de fórmulas Γ em um tempo t (em símbolos vF|= (Γ , t)) sse vF(α, t ) = 1

para toda fórmula α ∈ Γ .

Definição 2.6. Um conjunto de fórmulas Γ é satisfatível em uma frameF= (TF,<) sse há ao menos uma valoração vFe um instantet∈ TFtal quevF|=

(Γ , t ); uma fórmula α é satisfatível emFsse{α} é satisfatível emF, ou seja, sse

há ao menos uma valoraçãovFe um instantet∈ TFtal quevF(α, t ) = 1.

Definição 2.7. Um conjunto de fórmulas Γ é satisfatível sobre um conjunto K de frames sse há ao menos uma frameF∈ K com Γ satisfatível emF; uma

fórmula α é satisfatível sobre K sse {α} é satisfatível sobre K.

Definição 2.8. Uma fórmula α é uma consequência lógica de um conjunto de fórmulas Γ em uma frameF = (TF,<) (em símbolos Γ |=F α) sse, dado um

instante qualquer de tempot∈ TF,vF(α, t ) = 1 para toda valoração vFemF

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Definição 2.9. Uma fórmula α é uma consequência lógica de um conjunto de fórmulas Γ sobre um conjunto K de frames (em símbolos Γ |=Kα) sse α é uma

consequência lógica de Γ emFpara toda frameF∈ K.

Definição 2.10. Uma fórmula α é válida em uma frameF= (TF,<) (em sím-

bolos|=Fα) sse vF(α, t ) = 1 para toda valoração vFemFe todo instante de

tempot∈ TF.

Definição 2.11. Uma fórmula α é válida sobre um conjunto K de frames (em símbolos|=Kα) sse α é válida emFpara toda frameF∈ K.

Definição 2.12. Um sistema formalSé correto com relação a um conjuntoK

de frames sse todo teorema deSé uma fórmula válida sobreK;Sé completo

com relação a um conjuntoK de frames sse toda fórmula válida sobre K é um teorema deS.

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