Linguagem gráfica

Se tivéssemos que escolher o meio de expressão como suporte de criação na arquitetura, esse suporte seria o desenho. Antes do projeto e da edificação concluída, existe o rascunho onde são esboçadas as possíveis propostas para o futuro projeto arquitetônico9. Sabemos que o projeto pode ser desenvolvido por meio de outras formas, tão produtivas quanto o desenho, como por exemplo, as maquetes. Porém neste estudo destacamos o desenho como meio de manifestação da criatividade. Para Schunck et.al. (1999), a linguagem pessoal está associada à criatividade que se desenvolve nas peculiaridades com que um indivíduo desenha, colore e expressa as formas e imagens que povoam o universo da sua imaginação. É importante explicar que o material produzido durante o processo projetual criativo nunca é desperdiçado, porquanto as ideias não utilizadas ficam guardadas no inconsciente do criador, para um dia aflorarem para outros projetos, isso porque o processo criativo desenvolvido passa a fazer parte da sua constituição pessoal.

[...] a linguagem gráfica não é um instrumento neutro no cotidiano do arquiteto. Constitui-se, sim, uma forma de expressão que interage no processo projetivo com conteúdos cognitivos, comunicativos, simbólicos e culturais bem mais decisivos que o simples registro de imagens gráficas. (SCHUNCK et. al. 1999, p.51).

Figura 1 - Os pilares para Brasília Fonte: Lemoniteur

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Na figura 1 visualizamos o desenvolvimento criativo dos pilares de Brasília onde Oscar inicia o processo tendo como referência os pilares clássicos.

Figura 2 - Esboços de Oscar Fonte: Diário do Arquiteto

O desenho é a linguagem do arquiteto através da qual comunica as características de seu projeto, seja utilizando a representação geométrica, para especialistas, ou representações gráficas como a perspectiva e o croqui, para leigos [...] o desenho arquitetônico é um meio de representação da obra projetada e não um fim em si. (NEUFERT apud MATOS et al., 2010, p.122 ).

A graficação é uma das práticas pedagógicas utilizada nas salas de aula de projeto arquitetônico, constituindo-se como uma linha tênue onde o mundo da criação e o mundo real tangenciam-se. É nela que se reconhecem os símbolos da arquitetura e é por meio da mediação do professor-arquiteto que o estudante adentra nesses mundos e se desenvolve o processo projetual. Na graficação técnica de um projeto arquitetônico, a representação dos símbolos utilizados é reconhecida mundialmente, isso porque o projeto arquitetônico expressa a linguagem da graficação, como por exemplo, podemos desenha uma porta de várias formas, e isoo se deve a criatividade, porém a função será sempre a mesma, uma porta. O objetivo desta graficação fica explicito pela sua função e esta deve ser reconhecida mundialmente de forma que o projeto proposto seja compreendido por todos profissionais envolvidos na sua execução.(MATOS et al., 2010).

Tudo o que incita os sentidos ou a sensibilidade de seres simbólicos, como os seres humanos, é percebido e interpretado como signo, mensagem ou discurso, sendo parte de um processo de linguagem. Esse é o pensamento semiótico. Por outro lado, a palavra linguagem é um substantivo feminino que indica a “maneira de expressar-se própria de um grupo social, profissional ou disciplinar. (HOUAISS apud MATOS et al., 2010, p.120).

Para os autores, o projeto arquitetônico é composto por símbolos reconhecidos pela área da arquitetura que, utilizados em conjunto, definem a linguagem gráfica.

Observamos três tipos de linguagens reconhecidas mundialmente:

- Iniciamos com processo projetual, quando trabalhamos a linguagem projetiva, é nesta etapa que se desenvolvem a criatividade e as ideias que se pretendem utilizar na concepção do projeto, as ideias são apresentadas por meio dos os croquis que são os registros das primeiras impressões;

- finalizando o processo projetual e tendo o anteprojeto definido, trabalhamos a linguagem gráfica, nesta etapa desenvolvemos o projeto arquitetônico, o qual segue as normas gráficas e os simbolos estabelecidos e reconhecidos mundialmente;

- por fim, a linguagem construtiva, quando o projeto arquitetônico definido é adaptado à execução da obra, tornando-se, então, um projeto executivo,que será a base para o desenvolvimento de outros projetos, como o estrutural, o elétrico o preventivo contra incêndios, o hidráulico, entre outros.

A construção arquitetônica é orientada pela leitura do projeto gráfico, que representa a ideia do arquiteto projetista. Isso estabelece a dinâmica arquitetônica como interação semiótica, porque o projetista e o construtor devem dominar e fazer interagir a linguagem projetiva com a linguagem construtiva. O processo projetivo tem início na mente do arquiteto projetista, que deve ser o intérprete de suas próprias ideias. Posteriormente, é necessário o domínio da linguagem gráfica, para a representação das ideias como projeto. Para tanto, também, é necessário o domínio da linguagem construtiva, porque as ideias representadas no projeto devem ser arquitetonicamente exequíveis. (MATOS et al. 2010, p. 127).

Ainda sobre linguagem arquitetônica, Matos et al. (2010) comentaram que esta vai além do projeto arquitetônico. O seu papel nas edificações despertam os sentidos daqueles que irão frequentá-las. Para que isso ocorra, é importante que o frequentador reconheça inconscientemente a intenção de quem projetou, como, por exemplo, símbologias do ambiente que são significativas e familiares para ele, como a cores avermelhadas dos tijolos, que recordam a infância, ou a cerâmica da cozinha, que remete às lembranças de uma viagem, entre outros.

A linguagem do ambiente construído torna-se responsável por conduzir o comportamento de seus usuários e, muitas vezes, da sociedade, além de produzir referências para projetos futuros. Essa dinâmica é estruturada como sistema de comunicação, porque nela “são veiculadas diversas mani- festações do imaginário coletivo”, responsáveis pela produção de “diretrizes para o comportamento social”. (MALARD apud MATOS et al. 2010, p.123).

Com a inserção da tecnologia digital, no projeto arquitetônico, surgiram os ícones de comando dos softwares de graficação. Esses ícones passaram a participar da graficação arquitetônica, compreendendo a função de cada ícone de graficação definimos a espessura das linhas, os tipos de texturas e os contornos das formas, etc tornando os símbolos desses ícones participantes do aprendizado do processo projetual como uma linguagem gráfica de projeto arquitetônico.

Destacamos como exemplo o software de graficação AutoCAD, da tecnologia CAD (computer aided design). Implementar o AutoCAD nos cursos de arquitetura, por meio das disciplinas de projeto arquitetônico, como ferramenta de graficação e suporte de criação, proporcionou o surgimento de mais um meio para os desenvolvimentos cognitivos. Isso porque para a graficação do projeto arquitetônico, é necessário compreender o significado dos símbolos, as normas, como medidas padrão, espessura de linhas, e a função de cada simbolo graficado, como por exemplo, escadas, portas, pilares, etc. Para a compreenção da graficação no AutoCAD, é necessário compreender os símbolos dos ícones de comandos de graficação digital, reconhecer o significado e a função de cada ícone para então utilizá-los conforme a necessidade da graficação, como por exemplo, por meio do comando line10 o qual o simbolo é uma linha, definimos a espessura desta linha pela escolha da cor da mesma, sua dimensão, etc

Sendo assim, ao utilizar o AutoCAD para graficação de projetos arquitetônicos torna-se necessário compreender os símbolos dos ícones de graficação e suas funções para então desenhar os símbolos que representam projeto arquitetônico.

Vygotsky (2001) explanou que a linguagem é a mediação entre os seres humanos para sua comunicação. A linguagem apresenta símbolos que são reconhecidos por uma sociedade, o intercâmbio social. Nas inter-relações estruturais e evolutivas, o discurso e as palavras são a unidade das funções da linguagem e, sendo assim, compreendemos que a simbologia dos ícones dos comandos de graficação digital também participa da linguagem gráfica do projeto arquitetônico.

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O ícone de comando digital line do software AutoCAD, é representado por uma linha na diagonal e representa as linhas utilizadas para a graficação do projeto arquitetônico.

Na tela do software AutoCAD 2009, a qual é utilizada como suporte de criação para desenvolver projetos em 2D e 3D, encontramos os ícones de comando para graficação digital que podem ser ajustados conforme as características de graficação de cada usuário.

Figura 3 - Tela de graficação do software AutoCAD 2009 Fonte: Autora

A linguagem de graficação utiliza símbolos reconhecidos por professores- arquitetos e estudantes para a “leitura” de um projeto arquitetônico. Com a inserção da tecnologia digital, os ícones de graficação dos softwares passaram a participar dessa linguagem, mas, para tanto, torna-se necessário o entendimento da função de cada ícone de graficação.

A figura 4 representa uma planta baixa de um projeto arquitetônico desenvolvido por meio do software AutoCAD 2009.

Figura 4 - Plantas baixas representando a linguagem gráfica para graficação de projetos arquitetônicos

Fonte: autora

A figura 5 representa ícones de comando de graficação do software AutoCAD 2009.

Figura 5 - Ícones dos comandos de graficação do software AutoCAD 2009 Fonte: autora