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Portugal de Cartas de um sedutor.

4 LINHA DO TEMPO

Além da mostra dos onze desenhos, HILDA HILST – RESPIROS foi composta também por uma linha do tempo, em três vitrines dispostas horizontalmente. Baseada na cronologia feita por José Luis Mora Fuentes para as publicações da editora Globo, a linha foi adaptada de forma a apresentar sua vida relacionada à sua trajetória literária, com fotografias, livros, anotações e outros desenhos da escritora.

Entre os livros, foram expostos alguns raros, como o primeiro livro de poemas Presságio (1950), pertencente ao Fundo Flávio de Carvalho, na ocasião, recém adquirido pelo Cedae, e Qadós, da edição da Edart, com capa em que figura uma onça, feita por Maria Bonomi, de 1973, cuja matriz em madeira se encontra na sala de estar da Casa do Sol, onde Hilda Hilst viveu e produziu a maior parte de sua obra.

Entre as fotografias, foram reproduzidas fases de sua vida. De sua infância, o carinho da menina de família aristocrática por seus cachorros. De sua adolescência, o encontro entre amigos sentados em uma escada. De sua juventude, o echarpe, acessório a compor o figurino de um retrato em branco e preto num clima de nouvelle vague, provavelmente em São Paulo. De sua maturidade, a botina roceira do início da construção da Casa do Sol, na chácara de sua mãe, em Campinas. Da velhice, a exposição de sua língua ferina à fotojornalista no hall dos funcionários do Correio Popular, jornal para o qual escrevera crônicas.

Pode-se ver também uma fotografia de uma montagem teatral realizada em 1972, na Universidade Estadual de Londrina, Paraná, uma cidade jovem, ali com apenas 38 anos, talvez propícia ao surgimento do interesse por uma escritora tão intensa. Sua grande aceitação pelos jovens é inconteste, quem sabe devido aos sentimentos intensos da obra, mais propensos aos de pouca idade, como observa Alcir Pécora ao se referir a tal observação, feita por Aristóteles (PÉCORA, 2010, p. 07).

Recortes de papel sulfite e de embalagem de cigarros, mais um caderno de espiral dobrado trazem outros desenhos, rabiscos, divagações sobre um título de livro e anotações em que se demonstra a preocupação com dinheiro - contas a pagar e números para a loteria.

A seguir, traçamos essa narrativa, mesmo que tenhamos que passar por pontos já costurados, para dar início ao arremate desta dissertação.

Hilda Hilst nasceu em 1930, em Jaú, filha de fazendeiros. Ainda criança, sua mãe se separou de seu pai, logo diagnosticado como esquizofrênico paranóico. Estudou o primário e o ginasial em colégio de freiras Santa Marcelina, onde nasceram suas primeiras inquietações teológicas. Chegou a se formar em Direito, pela São Francisco, mas abandonou a carreira. Seu primeiro livro, de poesia, foi publicado em 1950, com o título de Presságio, com ilustrações de Darcy Penteado. Outros livros de poemas foram publicados em seguida: Balada de Alzira (1951), com ilustrações de Clovis Graciano; Balada do Festival (1955), Roteiro do Silêncio (1959), Trovas de muito amor para um amado senhor (1960) e Ode fragmentária (1961).

Nos anos 1960, após viagem à Europa e badalações junto a intelectuais de São Paulo, Hilda mudou-se para uma chácara da sua mãe, em Campinas. Na Fazenda São José, construiu a casa onde moraria durante todo o resto de sua vida. Lá viveu com seus inúmeros cachorros. Casou em 1968 e se separou em 1985. Na chamada “Casa do Sol”, começou a escrever teatro, muitas vezes como contestação política, própria da época em país sob a ditadura, com o desejo de se aproximar do público. Escreveu todo seu teatro em poucos anos, de 1967 a 1970. Ganhou alguns prêmios e suas peças foram encenadas esparsamente. Já em 1969 iniciou sua produção em prosa.

Assim, em 1970, publicou seu primeiro livro de prosa de ficção: Fluxo-Floema. O segundo foi publicado em 1973, Qadós, cuja grafia do título foi mudada para Kadosh, por desejo de Hilda, em 2002. Na primeira metade dessa década ainda publicou o livro de poesia Júbilo, memória, noviciado da paixão, de 1974. Aqui sua poesia ganhou intensidade, de acordo com a crítica Nelly Novaes Coelho, haja vista a adquirida experiência de linguagem nos outros dois gêneros, o teatro e a prosa de ficção.

Nos anos 1980, teve extensa produção tanto em prosa quanto em poesia: Da morte. Odes mínimas, poesia publicada em 1980, com aquarelas da autora; A obscena senhora D, prosa de ficção (1982); Cantares de perda e predileção, poesia (1983); Poemas malditos, gozosos e devotos, poesia (1984); Sobre a tua grande face, poesia (1986) com grafismos de Kazuo Wakabayashi; Com os meus olhos de cão e outras novelas, ficção

(1986) com desenhos da autora e Amavisse, poesia (1989). Nessa década, ganhou prêmios e teve algumas obras encenadas. Em 1982, começou a participar do Programa do Artista Residente, da Universidade Estadual de Campinas.

Em 1990, publicou o poema Alcoólicas, por uma empresa do ramo de vinhos “Maison de vins”, em uma edição de 200 mil exemplares numerados e 200 exemplares assinados, com ilustrações feitas por Ubirajara Ribeiro. Nesse mesmo ano, lançou duas ficções de sua “tetralogia obscena”, O caderno rosa de Lori Lamby, ilustrado por Millôr Fernandes, e Contos d’escárnio & Textos grotescos. Para o primeiro, Hilda também fez desenhos, que foram expostos nessa linha do tempo. Em 1991, Cartas de um sedutor foi publicado e, no ano seguinte, o livro de poesias Do desejo e o de poesias satíricas Bufólicas foram lançados, esse último com ilustrações de Jaguar. Peças sobre sua obra foram encenadas e Hilda Hilst foi traduzida para o italiano e o francês. Em 1995, o Centro de Documentação Cultural “Alexandre Eulálio” - Cedae, do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas comprou o arquivo pessoal da escritora. Hilda, que tinha começado a escrever crônicas para o jornal Correio Popular, parou de escrever e foi desligada do Programa do Artista Residente, da universidade. Nessa década, Hilda ainda lançou Cantares do sem nome e de partidas (1995) e Estar sendo. Ter sido (1997), obra com a qual anuncia o fim de seu trabalho literário.

Em 2000, seu Teatro reunido (I) foi lançado e ocorreu a exposição com curadoria da arquiteta e amiga Gisela Magalhães Hilda Hilst 70 anos, no SESC Pompeia, em São Paulo. Em 2001, a editora Globo comprou sua obra e a partir daí a relançou em vinte volumes, com a organização de Alcir Pécora. Em fevereiro de 2004, Hilda Hilst faleceu, em decorrência de infecção generalizada, após uma queda.

A linha do tempo exposta contextualiza HILDA HILST - RESPIROS com os fatos mais relevantes da sua vida e obra literária, ilustrados com documentação do arquivo, inclusive com outros desenhos da escritora.

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