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2. Revisão da Literatura

2.3 Cálculo da Pegada Carbónica

2.3.1 Linhas orientadoras do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas

efeito de estufa

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) foi a primeira entidade a fornecer diretrizes para a realização de um inventário de emissões de GEE, criando em 1991, o Programa Nacional de Inventários de Gases com Efeito de Estufa (National Greenhouse Gas Inventories Programme) (IPCC-NGGIP). Este programa foi elaborado conjuntamente com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OECD) e com a Agência Internacional de Energia (IEA em inglês). Em 1996 e após alguns documentos antecedentes, o IPCC apresentou o documento “Linhas orientadoras do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas referentes a inventários nacionais de gases com efeito de estufa” (Guidelines for National Greenhouse Gases Inventories) que fornece a metodologia base para o cálculo das emissões de GEE à escala nacional. Na Conferência das Partes em Quioto em 1997 ficou estipulado que esta metodologia seria a que deveria ser utilizada pelas várias nações para estimar as emissões de GEE de origem antropogénica. Mais tarde, em 1998, na 14ª sessão do IPCC foi estabelecida a equipa de missão para os inventários nacionais de gases com efeito de estufa (Task Force on National Greenhouse Gas Inventories (TFI) com os objetivos de desenvolver e refinar a metodologia e o software para o cálculo e reporte das emissões de GEE dos países e encorajar o uso da metodologia apresentada em 1996 por parte das nações participantes nas sessões do IPCC e signatários da CQNUAC (IPCC, 2020)

A metodologia de cálculo presente nas linhas orientadoras de 1996 contêm três volumes, os quais fornecem instruções para calcular as emissões de GEE:

➢ As Instruções de Reporte - o primeiro volume, apresenta passo-a-passo as instruções para a realização, documentação e obtenção de dados consistentes de um inventário nacional de emissões, de modo a poder existir consistência e comparabilidade nos inventários realizados.

O Manual de Trabalho – constitui o segundo volume e contem sugestões acerca do planeamento e iniciação à realização de um inventário nacional de emissões para países que ainda não tenham realizado nenhum inventário ou que não possuem qualquer experiência na realização de um. Em adição também apresenta instruções para o cálculo do CO2 e CH4, e outros gases poluentes, agrupando as emissões de GEE existentes em seis grandes categorias: Energia, Processos Industriais, Solventes e outro Uso de Produtos, Agricultura, Florestas e Uso do solo e Resíduos.

O Manual de Referência – constitui o terceiro volume e fornece uma miscelânea de informação sobre métodos para estimar as emissões de GEE para outros gases com efeito de estufa e uma lista completa sobre a fonte de cada um deles. Apresenta ainda a base científica para a realização de inventários de emissões.

Em 2006, IPCC apresentou uma versão atualizada do documento de 1996, que teve em consideração o trabalho realizado e acordado pelos países na conferência de Quioto. Este novo documento segue as mesmas diretrizes do anterior uma vez que uma mudança metodológica colocaria dificuldades aos países que já tinham efetuado inventários de emissões, pois teria de existir e obrigaria a uma adaptação à nova metodologia.

O documento das linhas orientadoras de 2006 sofreu algumas alterações em relação ao documento de 1996, como por exemplo a existência de mais dois volumes a serem disponibilizados, perfazendo um total de cinco volumes:

O primeiro volume, Guia Geral e de Reporte apresenta as instruções necessárias para a realização do inventário de emissões para países que ainda não realizaram o seu. Apresenta também diretrizes para recolha de dados para novas atividades não adereçadas no documento anterior.

O volume número dois (Energia) atualiza o setor da energia relativamente ao documento de 1996 e inclui a captura, transporte e sequestro de CO2 por fontes naturais, que devem ser tidas em consideração na realização do inventário de emissões. Também apresenta um método de cálculo para as emissões de CH4 geradas a partir de minas de carvão desativadas.

O terceiro volume denomina-se Processos Industriais e Uso de Produtos, onde são consideradas novas categorias geradoras de emissões e também se consideram novos GEE como o trifluoreto de azoto (NF3) ou o pentafluoreto de trifluorometil sulfato (SF5CF3), assim como outros éteres halogenados. Também são abordadas as emissões geradas pelo uso de combustíveis não utilizados como fonte de energia, que neste documento atualizado passam a ser reportadas em âmbito dos Processos Industriais e Uso de Produtos. O método de cálculo das emissões de GEE associadas aos gases fluorados foi reformulado para obtenção de resultados mais realistas.

O volume Agricultura, Florestas e Outros Usos do Solo integra as emissões de GEE geradas pelas atividades agrícolas, fazendo a ponte para a utilização existente do uso do solo e para as mudanças na cobertura florestal decorrente das atividades antropogénicas. Também apresenta métodos de cálculo das emissões para outras atividades não contempladas no documento anterior.

O quinto e último volume é dedicado às emissões de GEE geradas pela produção de

resíduos. Comparativamente a 1996, foi refinada a metodologia para cálculo das

emissões de CH4 geradas em aterros sanitários e a acumulação de carbono nestes locais. Foram também apresentadas diretrizes para o cálculo das emissões de GEE associadas ao tratamento biológico e queima de resíduos, com uma explicação mais pormenorizada de como estimar as emissões.

Na 44ª sessão do IPCC realizada em Banguecoque, Tailândia, em 2016 ficou acordado por todas as partes interessadas a realização de uma atualização ao documento de linhas orientadoras de 2006, tendo sido oficialmente adotado e divulgado durante a 49ª sessão do IPCC realizada em Quioto no Japão em 2019.

O documento apresentado em 2019 é apenas uma atualização ligeira do documento de 2006, uma vez que segue a estrutura deste, com a existência de cinco volumes, com as mesmas denominações. Foram apenas atualizados os dados científicos, como por exemplo, os fatores de emissão, metodologias suplementares para fontes de emissão onde havia poucas diretrizes e para novas atividades não existentes (IPCC, 2020).