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Ao registrarmos o trajeto de leitura no protótipo educativo sob a temática da “Era Vargas”, constatamos que os alunos fizerem escolhas diferentes para iniciar a leitura e percor-reram diferentes trajetos como consta na Figura 10.

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R C . evolução de 1930 onstituição de 1934

Estado Novo O Brasil na 2ª Guerra Mundial Populismo Preconceito Linguístico Lutas ideológicas O último adeus Nº de acesso links iniciais

Figura 10 _ acesso aos links iniciais segundo opção de cada leitor.

Dos 20 alunos que participaram da pesquisa, seis escolheram iniciar a leitura com o tema Brasil na 2ª Guerra Mundial; seis, O último adeus; dois, Preconceito lingüístico; dois,

Estado Novo; dois, Populismo; um, Revolução de 1930; um, Lutas ideológicas, e nenhum

aluno fez opção pelo link Constituição de 1934.

Ao indagar da aluna A1, a razão que a tinha levado a optar por determinado link inicial – 2 – O populismo – ela respondeu:

A1: Ah, eu acho por causa que está mais ligado a nós né, a população, o povo em geral

O link a que a aluna se refere diz respeito à popularidade de Getúlio Vargas junto à população em geral que, em sua política popular, o levou a ser conhecido como o “pai dos pobres” e dos trabalhadores.

No entanto, percebe-se, pela fala de A1 que o link inicial lhe chamou atenção no ato da leitura pela identificação que encontrou com uma palavra que poderia lhe atender às suas expectativas. Tal aspecto encontra eco em Vygotsky, que afirma:

Durante o processo de educação escolar (...) parte de si suas próprias generalizações e significados; na verdade ela não sai de seus conceitos, mas, sim, entra num novo caminho acompanhada deles, entra no caminho da análise intelectual, da compara-ção, da unificação e do estabelecimento de relações lógicas. O educando raciocina, seguindo as explicações recebidas, e então reproduz operações lógicas, novas para ele, de transição de uma generalização para outras generalizações. Os conceitos ini-ciais que foram construídos ao longo de sua vida no contexto de seu desenvolvimen-to social são agora deslocados para novo processo, para nova relação especialmente cognitiva com o mundo e assim, neste processo, os conceitos são transformados e sua estrutura muda. Durante o desenvolvimento da consciência o entendimento das bases de um sistema científico de conceitos assume agora a direção do processo. (2000 p. 174).

O desenvolvimento cognitivo se estabelece na interação do educando, mediado pela ação do próprio signo, aqui apresentado pelo hipertexto. Isto nos leva a considerar a im-portância do desenvolvimento de ambientes de ensino que se aproximem da realidade do alu-no, ambientes em que ele seja instigado a interagir com o ambiente partindo daquilo que lhe é comum por formação e experiência.

Da mesma forma, o Aluno A17 que fez a escolha pelo link Lutas ideológicas, define sua opção inicial ao fato da palavra ter-lhe chamado a atenção.

Ao entrevistarmos a aluna A2 que fez escolha pelo link O último adeus, esta rela-ciona sua opção inicial a um conhecimento prévio sobre o assunto abordado:

A2: eu achei interessante; eu achei que falava sobre a morte dele.

P: (pesquisador) Então você já sabia sobre a morte de Getúlio Vargas, já tinha ouvi-do falar?

A2: já, tinha ouvido falar no Fantástico que antes dele se matar o Leonel Brizola fa-lou com ele.

P: Então quando você leu “O último adeus” logo você lembrou daquilo que já tinha assistido?

O diálogo acima retrata a importância de desenvolver hipertextos que sejam signi-ficantes que despertem a atenção e a curiosidade do aluno, que sejam hipertextos pelos quais o leitor se sinta atraído e, a partir dele, dê continuidade à leitura.

O aluno A7 ao escolher o link Revolução de30, também procura escolher um link inicial segundo o seu conhecimento sobre o assunto.

P: No início, quando eu falei pra você que poderia clicar em qualquer bolinha, que era um link ta, por que você resolveu escolher Getúlio Vargas (Revolução de 30)? A7:Era o que eu tinha mais conhecimento.

P: Algo que você já conhecia e queria saber mais sobre aquilo ali? A7: Sim.

A aprendizagem do aluno está condicionada à busca por referenciais de signifi-cância nos ambientes de ensino mediados pelas novas tecnologias.

Segundo Vygotsky (VEER, 1996, p. 243) a relação entre o sujeito e o mundo passa a ser mediada por elementos tais como um instrumento, um signo. Sua utilização auxilia as atividades psíquicas.

Esta definição é comprovada por um dos alunos (A10) que fez escolha pelo link

Estado Novo. Quando este responde que achou interessante, por que já tinha ouvido falar

so-bre Getúlio Vargas, percebemos como o conhecimento de mundo, a relação cultural do aluno em seu meio, permite maior relação dialógica com o próprio ambiente de ensino, estabelecen-do um diferencial no processo de aprendizagem mediaestabelecen-do pelas tecnologias.

O fator determinante nesta inter-relação entre autor, ambiente e aluno é o signo lingüístico, que define o que deve ser comunicado através da interação do próprio usuário com o meio e da criatividade e visão de leitura do autor do ambiente hipermídia.

Podemos nos perguntar o que despertou a atenção em seis alunos que fizeram op-ção pelo link inicial “O Brasil na 2ª Guerra Mundial”.

A3: Ah, por que, assim, geralmente as pessoas falam na 2ª Guerra, mas às vezes a história não explica o que aconteceu com os pracinhas e o Brasil na 2ª Guerra, eu queria saber...

Segundo a afirmação de A3, e de outros que fizeram opção por determinado link, pode-se depreender que o assunto é instigante e pouco explorado em sala de aula. Nota-se que geralmente os materiais didáticos e de multimídia exploram o assunto numa perspectiva euro-péia, esquecendo a participação do Brasil e de outras nações não européias no conflito.

Nessa linha, questionamo-nos a respeito dos objetivos do ensino de História que deve visar ao reconhecimento do aluno enquanto sujeito que também faz história. Pedagogi-camente, os conteúdos devem estar constituídos de tal forma que o aluno possa, ao se apropri-ar da informação desejada, perceber as transformações decorrentes da ação humana no pró-prio meio, em determinada época.

Através de uma relação contínua, como se os fatos históricos tivessem uma liga-ção e assim estabelecessem uma ponte entre o passado e o presente também vivenciado pelo aluno, é que o ensino de História deve se articular.

Ao clicar no link Preconceito lingüístico, o aluno A4 consegue relacionar o con-teúdo de uma determinada época a acontecimentos ainda vivenciados na sociedade atual.

P: No início, quando você clicou, a primeira palavrinha que você clicou foi precon-ceito lingüístico, lembra o que te levou a clicar aquela bolinha, te chamou a atenção, o que te levou a clicar ali?

A4: Por que é importante saber sobre os preconceitos que tinha antigamente, e as coisaradas, e agora ainda tem.

Através da análise sobre a opção dos alunos aos links iniciais do ambiente hiper-mídia constatamos a importância de estabelecer links significativos, que ao mesmo tempo tenham a função de comunicar, divulgar o que será acessado caso o leitor faça escolha por determinado link, também seja atrativo e desperte o leitor para a leitura dele.

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