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LISANDRO –

Nem ordem nem pedido escutarei: me obrigam tanto quanto o seu pedido. Ameaças nem preces têm valor. Amo-te, Helena. Sim, por minha vida, Por minha vida, Helena, eu a amo; por esta vida que por ti arrisco, Eu juro, e a minha vida arriscarei juro provar que falsidade afirma Contra aquele que nega o meu amor. quem se atreve a dizer que eu não te adoro.

DEMÉTRIO –

Maior que o dele é o meu amor, afirmo-o.

DEMÉTRIO –

Eu digo que eu a amo mais que ele.

LISANDRO – Então vinde comigo. LISANDRO – Pois, então, prove o que disse com a espada.

HÉRMIA –

A que tende, Lisandro, a brincadeira? HÉRMIA – O que é isso, Lisandro?

LISANDRO – Para trás, negra etíope! LISANDRO – Saia você, etíope! DEMÉTRIO – Ele finge DEMÉTRIO – Não, não, ele...

que está furioso mas, realmente,abstém-se Vai parecer lutar. (Para Lisandro) Grita que ataca, de me seguir. Homem pacato, vamos! Mas não ataca! Você é um covarde!

LISANDRO – (a Hérmia) LISANDRO -

Gata, vai te enforcar! Bardana! Monstro! Pra fora, gata, lixo! Larga, droga! Senão, serás tratada como víbora. Ou eu torço você como uma cobra. HÉRMIA –

Por que tão rude assim ficais de súbito? HÉRMIA – Por que tal grosseria? O que mudou, Qual a causa, meu bem, dessa mudança? Meu amor?

LISANDRO –

Teu bem, Tártara escura? Para trás,

LISANDRO –

Seu amor, fora encardida!

vomitório! Veneno odioso, fora! Remédio ruim, veneno amargo, fora! HÉRMIA – Estais brincando? HÉRMIA – Está brincando?

HELENA – Sim, e vós com ele. HELENA – Assim como você. LISANDRO –

Demétrio, manterei minha palavra.

LISANDRO –

Demétrio, eu lhe dou minha palavra. DEMÉTRIO –

Quisera ter a obrigação escrita DEMÉTRIO – Eu preferiria um contrato escrito: por vossa própria mão, pois estou vendo A palavra que dá não vale nada. que obrigação mui fraca ora vos prende.

Vossa palavra para mim não vale. LISANDRO –

Como! Devo bater-lhe? Assassiná-la?

LISANDRO –

Você quer que a espanque, ou que a mate? Embora a odeie, mal não lhe desejo. Isso eu não faço, mesmo que a odeie. HÉRMIA –

Como! É possível maior mal do que isso

HÉRMIA –

E existe mal maior do que o seu ódio? de me odiardes assim? Ódio votardes-me? Odiar-me? Por quê? Que é isso, amor? Por quê? Por quê? Oh Deus! Amor, que

houve?

Eu não sou Hérmia, nem você Lisandro? Hérmia não sou e vós não sois Lisandro? Em tudo eu sou tão bela quanto era. Sou tão formosa agora quanto era antes. Ontem você me amava – e me deixou. Amáveis-me esta noite, e nesta mesma Mas, então, me deixou – Deus me proteja- noite me rejeitais. Serei forçada, A sério, mesmo?

pois, a pensar – oh! Deus tal não permita!- que de caso pensado me deixastes.

Dizei: é isso?

LISANDRO – Sim, por minha vida, LISANDRO – Sim, por minha vida! e não te quero ver nunca jamais. E não desejo vê-la nunca mais. Perde, pois, a esperança; não te iludas, Não tenha dúvida nem esperanças: não me faças perguntas sem sentido. Pode estar certa que não estou brincando; Não é pilhéria, podes estar certa; Eu odeio você e amo Helena.

nada há mais verdadeiro; tenho-te ódio e apaixonadamente a Helena adoro. HÉRMIA –

Ai de mim! Feiticeira! Vil gusano, HÉRMIA – Ai de mim! (para Helena) Saltimbanca! Erva daninha! ladra de amor! Durante a noite viestes Ladra de amor! Você veio, de noite,

para roubar o coração do peito Roubar o coração do meu amor! do meu amado?

HELENA –

Fina, realmente!

HELENA –

É o cúmulo! Você não tem vergonha? Pudor não tendes virginal, modéstia, Nem traço de pudor? Quer provocar resquício de vergonha? Será crível? Minha língua a dizes respostas feias? Quereis forçar-me a gentil boca a dar-vos Arremedo de gente! Sua anã!

respostas impacientes? Oh! Que opróbio! Fora, boneca falsa!

HÉRMIA –

É assim: boneca!

HÉRMIA –

Anã! Ah, é? Então o jogo é esse? Esclarece-se agora a brincadeira. ’Stou vendo que ela faz comparação

Começo a perceber que ela o confronto Co’a minha altura! E que usou seu tamanho, fez de nossas alturas, insistindo E que foi com a estampa, o tamanhão, no seu porte mais alto, na aparência Foi com a altura que ela o conquistou! mais elevada, em sua alta compostura, E ele? Só a tem em alta conta

e desse modo pode seduzi-lo. Porque eu sou baixa como uma anãzinha? Subistes tanto em sua estima, apenas Eu sou tão baixa, varapau pintado? por eu ser anãzinha e diminuta? Sou baixa? Fale! Baixa, mas não tanto Qual é minha estatura? Vamos, fala, Que não dê para unhar a sua cara! varapau rebocado. Sou pequena,

não é verdade? Mas não tanto, ainda, que com as unhas os olhos não te alcance. HELENA –

Senhores, muito embora estejais todos

HELENA –

Embora vocês dois riam de mim,

de mim fazendo troça, por obséquio Não deixem que me bata. Eu não sou má; não consintais que mal ela me cause. Nunca tive talento pra megera;

nunca fui má, nem queda jamais tive A minha cobardia é feminina.

para essas discussões; mulher me sinto Não deixem que me bata. É bem possível até mesmo na minha covardia. Que pensem, que por ela ser baixinha. Não deixeis que me bata, pois decerto Eu seja igual a ela.

não pensais que por ela ser mais baixa do que eu, serei capaz de dominá-la.

HÉRMIA – Baixa, baixa outra vez. HÉRMIA – Viu? “Baixinha!” HELENA -

Hérmia bondosa,

HELENA –

Hérmia, não fique amarga assim comigo. não vos mostreis zangada assim comigo. Toda a vida a amei, Hérmia querida. Sempre vos tive amor; ofensa alguma Guardei os seus segredos, fui fiel, jamais vos fiz e sempre fui discreta A não ser quando, por amar Demétrio, com relação a vossas confidências. Contei-lhe a sua fuga pra floresta. Sim, por amor, apenas, de Demétrio, Ele a seguiu e eu, por amor, a ele; lhe revelei que havíeis combinado Mas ele me enxotou, me ameaçou fugir para este bosque; ele seguiu-vos; De me bater e até de me matar. eu o segui, também, por amor dele, Se agora você deixa eu ir embora, mas fui por ele repelida, sobre Minha loucura eu levo para Atenas me ver ameaçada de pancada E não a sigo mais. Deixe-me ir: e até mesmo de morte. Mas agora, Verá que eu sou tão dócil quanto boa. se deixardes que em paz eu me retire,

loucura para Atenas. Sim, deixa-me; bem vedes como eu sou simples e dócil. HÉRMIA –

Voltai logo; quem é que vos retém?

HÉRMIA –

Ora essa, pois vá! Quem a impede? HELENA –

O louco coração que atrás eu deixo. HELENA – Meu tolo coração que aqui eu deixo. HÉRMIA – Com Lisandro, não é? HÈRMIA – Ah, deixa? Com Lisandro? HELENA – Não, com Demétrio. HELENA – Com Demétrio.

LISANDRO – Não tenhas medo, Helena; nenhum dano ela te causará.

LISANDRO –

Não tema que ela não lhe fará mal. DEMÉTRIO –

De nenhum modo, DEMÉTRIO – Não fará mesmo; nem com a sua ajuda. senhor, ainda mesmo que do lado

dela vos coloqueis. HELENA –

Quando zangada, HELENA – Ela, zangada, fica que nem fera; sarcástica ela fica e arrebatada. No tempo do colégio era uma peste Verdadeira raposa era na escola; E, embora pequenina, é violenta. apesar de pequena, é perigosa.

HÉRMIA – “Pequena”, sempre; é só “pequena” e “baixa”.

HÉRMIA – De novo? É só “pequena”, é só “baixinha”?

Permitis que me insulte desse modo? Como deixa que ela me ofenda assim? Deixai-me segurá-la um só momento. Se nela eu ponho a mão...

LISANDRO –

Para trás, anãzinha! Dedo mínimo,

LISANDRO –

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