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2.2. Conceções teóricas

2.2.4. Literacia digital na terceira idade

O desenvolvimento tecnológico que se tem sentido nas últimas décadas tem resultado numa transformação das sociedades modernas. Os aparelhos eletrónicos e tecnológicos têm vindo a ganhar um espaço fundamental para a qualidade de vida de cada indivíduo, provocando novos hábitos e costumes. Coutinho e Lisbôa (2011) referem que “(…) esta nova era pode ser considerada como um fenómeno global por afectar directamente as actividades sociais e económicas” (p. 7).

Coutinho e Lisbôa (2011) consideram que “a ideia subjacente ao conceito de SI é o de uma sociedade inserida num processo de mudança constante, fruto dos avanços na ciência e na tecnologia”(p. 6). Assim, a Sociedade de Informação, alicerçada à tecnologia, promove o processamento e disseminação da informação, originando, por conseguinte, novas fontes de informação e de produtividade face ao processo de globalização (Alonso, Ferneda & Santana, 2010).

Nesta linha de pensamento, é urgente dotar os indivíduos (independente da sua idade, género ou raça) de uma literacia digital, de modo a que estes se sintam integrados e capazes de se incluírem nesta sociedade. A literacia digital é vista como o “el derecho a la alfabetización digital es un aspecto nuevo del derecho a la educación, teniendo en cuenta, sin embargo, que la educación digital ha de extenderse a todas las edades para no dejar fuera a nadie: ancianos, adultos y niños.” (Tornero, citado por Roberto, Fidalgo & Buckingham, 2015, p. 46). Deve-se ainda considerar que a literacia digital “deve implicar não só a utilização do computador, e respetivas aplicações, como também a aprendizagem de capacidades que permitam compreender e dominar a linguagem codificada e subjacente à cibercultura” (Roberto, Fidalgo & Buckingham, 2015, p. 46).

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A inclusão digital surge como principal objetivo da era contemporânea e é vista como “objetiva tão somente o uso livre da tecnologia da informação, com a ampliação da cidadania, o combate à pobreza, a garantia da privacidade e da segurança digital do cidadão, a inserção na sociedade da informação e o fortalecimento do desenvolvimento local.” (Martini citado por Alonso, Ferneda & Santana, 2010, p.158).

Com o surgimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) houve uma transformação na sociedade ao nível de como vivemos, aprendemos e trabalhamos. A promoção da literacia digital acaba por ser um contributo crucial para a diminuição da infoexclusão, promovendo, por conseguinte, uma sociedade participativa que inclui pessoas e grupos nesta grande cultura que são as tecnologias de informação e comunicação.

Todos os cidadãos tendem a interessar-se pela área das novas tecnologias, uma vez que dominam a vida das sociedades modernas, sendo praticamente impossível não nos depararmos com dispositivos tecnológicos a cada passo. Os idosos não são exceção e procuram cada vez estarem incluídos nesta sociedade altamente tecnológica.

Isto resulta na importância de correspondermos com a literacia digital nos idosos, isto é, de os ajudarmos a desenvolver competências básicas sobre o que são os dispositivos tecnológicos e como os manusear, do nível mais básico ao mais complexo. Palma reforça esta ideia dizendo que “exalta-se a importância que deve ser dada a ações que promovam a alfabetização digital, até mesmo porque a realidade é que, no extremo, todos sofremos de um défice de conhecimento das novas tecnologias” (2013, p. 13).

É crucial criar para cada individuo da Terceira Idade

oportunidades para se tornar um aprendiz virtual, fornecendo educação continuada, educação à distância, estimulação mental e bem-estar. Ela possibilita ao indivíduo de ele estar mais integrado em uma comunidade eletrônica ampla; coloca-o em contato com parentes e amigos, num ambiente de troca de ideias e informações, aprendendo junto e reduzindo o isolamento por meio da experiência comunitária (King citado em Goulart, 2007, p.72).

Isto resulta em consequências positivas no processo de envelhecimento de cada idoso, uma vez que emerge na inclusão do idoso na sociedade, através da sua capacitação de aceder e trocar informação e aprendizagens com outras pessoas, de conseguir comunicar com familiares, amigos e/ou qualquer outra pessoa, que, por sua vez, termina com o desenvolvimento da sua autonomia.

A estas consequências positivas podemos acrescentar que “a utilização das TIC aumentou a qualidade de vida das pessoas idosas na medida em que permitiu diminuir a solidão, aumentar a

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frequência da comunicação entre familiares e amigos e o acesso à informação” (Palma, 2013, p.16). A autoestima e a autoimagem do idoso também se modifica de uma forma positiva, os idosos passam a sentir-se mais inteligentes, confiantes e capazes, deixando para trás ideias como a incapacidade, o sentimento de inutilidade e de exclusão.

Na perspetiva de Pereira e Neves (2011) “(…) para que o ensino seja eficaz, é necessário se desenvolver uma metodologia pedagógica que tenha em consideração as características específicas dos alunos (idade, background, meio social e cultural)” (p.17). Com os idosos a metodologia pedagógica não pode ser diferente. Deve ser desenvolvida com os idosos uma metodologia que tenha em conta o ritmo de cada idoso, que respeite o seu processo cognitivo (que pode ser mais lento ou mais rápido, dependendo de cada utente), que tenha em consideração potências limitações físicas e restrições sensoriais e ainda seja capaz de lidar com a falta de recursos (Pereira e Neves, 2011).

Numa tentativa que as TIC tenham um impacto mais positivo na vida dos idosos, estudos elaborados por Kachar (2006), Mariz (2009), e Sei (2009) apresentam um conjunto de estratégias a ser implementadas durante o processo de literacia digital dos idosos. As estratégias a ter em consideração são: a criação de turmas pequenas, tentando dispor um idoso por computador; a sala deve ter uma boa iluminação; os computadores devem estar de acordo com as necessidades dos idosos (tamanho e iluminação do monitor, o teclado e o rato devem ter um design especial, os tipo de letra devem ser grandes); começar por jogos e atividades lúdicas; utilizar experiências de vida dos idosos, trabalhar assuntos que lhes sejam úteis e bem contextualizados com o seu dia-a-dia; respeitar o ritmo de cada idoso, efetuando pequenas paragens sempre que necessário; elaborar sessões tendo em conta pequenas metas/etapas de aprendizagem e repetir a mesma atividade sempre que necessário (Pereira & Neves, 2011).

Com isto, podemos afirmar que “(…) a utilização das TIC oferece ao idoso mais autonomia, maior bem-estar e integração social e, por conseguinte, maior QV” (Pereira & Neves, 2011, p. 22). Esta qualidade de vida assenta na sua participação na Sociedade de Informação, uma vez que não se trata de ter apenas acesso à informação, como também ser um agente ativo de troca de informação e conhecimento, evitando a exclusão do mundo tecnológico/digital.

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C

APÍTULO

III

E

NQUADRAMENTO

M

ETODOLÓGICO DO

E

STÁGIO

3.1. Apresentação e fundamentação da metodologia de intervenção/investigação