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A presença da literatura na vida de uma criança se deve cumprir de maneira alegre, divertida, espirituosa e emocionante, a fim de que por meio disso,

esse pequeno leitor ou ouvinte perceba e interrogue primeiro a si mesmo, para depois, interrogar o mundo que o rodeia. Sobre isso explana Zilberman (2005, p. 88):

Um bom livro é aquele que agrada, e ao livro que agrada se costuma voltar, retornando de preferência àqueles trechos que provocaram prazer particular. A melhor consequência disso se dá quando se é percebido que livros lidos na infância permanecem na memória do adolescente e do adulto.

Além do mais, acreditamos que a palavra (especialmente no que se refere ao domínio da escrita) permite ao sujeito uma nova forma de interação com o mundo do qual faz parte, no entanto, antes disso, não possuía competências para participar dele plenamente. Saber ler e, a partir disso, apoderar-se da escrita, torna o indivíduo mais competente para construir, intermediar e interpretar a vida. Sobre isso, Coelho (1982, p. 93) enfatiza que:

O livro, bem como a palavra escrita, são os maiores responsáveis pela formação da consciência de mundo das crianças e jovens”. Por conta disso, faz-se necessário, o quanto mais isso se puder realizar, colocar boas leituras ao alcance das crianças, pois estão nelas tudo aquilo que uma sociedade incorpora como código de valores ou desvalores, os quais regem o comportamento de seus cidadãos e no qual todo indivíduo deve se orientar para atuar de maneira satisfatória ou não no meio social onde vive.

No entanto, ao invés disso, têm-se cada vez menos adultos interessados em apresentar uma boa leitura às crianças, muito menos fazer disso uma constante em sua vida. Pesquisas feitas em universidades constatam o pouco conhecimento, até mesmo por parte de estudantes pertencentes ao centro de Letras, sobre as histórias escritas por autores renomados da literatura, a exemplo de Monteiro Lobato. Talvez, por isso, muito pouco do poder criativo e discursivo das crianças seja aproveitado e desenvolvido nas escolas, o que por sua vez resultará na formação de sujeitos que pouco domínio tem sobre as competências e habilidades necessárias à formação de leitores proficientes. Belintane (2013, p. 65) nos faz refletir sobre isso, ao assinalar que:

Vejamos um mágico momento na literatura de nosso tempo, em que o narrador de infância (Ramos, 1972) põe-nos diante da dura iniciação de uma criança moderna, que com nove anos ainda tinha dificuldades para enfrentar sozinha a aspereza das letras: após leituras malsucedidas de um pequeno romance diante do pai e com uma síntese na memória que este faz do trecho já lido, o menino tenta continuar sozinho, mas hesita, procura ajuda para acompanhar o restante da narrativa (...). Nesse estado de euforia, a criança volta, nos dias seguintes, a procurar o pai para continuar a história, mas este responde com uma “falta”: “afastou-me com um gesto carrancudo (...)”.

Assim, como professores, não podemos nos fazer ausentes, não podemos nos eximir da responsabilidade de ofertar aos nossos alunos o contato com bons textos. É necessário sim que tenhamos esse papel de intermediador de leitura em suas vidas. Belintane (2013, p. 43), também nos diz que “até os cinco ou sete anos a criança é oralista, mesmo estando diante de adultos profundamente marcados pela escrita”. Por isso, faz-se de extrema importância que as ajudemos neste percurso entre a entrada das comunidades orais na escrita e o modo como esses pequenos leitores conjugam suas histórias e as que ouvem com os textos que, sozinhos, lerão mais adiante.

Diante do exposto, vale observar que, os autores em muito contribuíram para que a proposta pensada para uma turma do 6º ano/9, composta em sua maioria por crianças, fosse se adequando à realidade leitora em que eles se encontravam. Ao passo que os observávamos, compreendíamos sua realidade, para que depois disso, intervíssemos.

Estão nos textos literários diversos motivos que justificam a importância dessa leitura para a formação leitora e social da criança. No entanto, segundo Zilberman (2003, p. 19), a literatura infantil é tão recente quanto a infância, isso porque também é recente o tempo histórico em que se reconheceu a importância de se dar às crianças uma formação diferenciada, o que se tinha de início era uma literatura atrelada à pedagogia. Tempo em que quase nada ou nada se tinha de muito adequado para a criança ler. Nesse sentido, não se pode deixar de observar que é por meio da leitura que a criança tem a oportunidade de ser conduzida ao mundo “desconhecido do outro”, do sujeito com quem se relaciona. Como bem postula Todorov.

Em A literatura em perigo, Tzvetan Todorov, renomado crítico e teórico da literatura, lamenta que o ensino da literatura tenha se perdido em métodos e aplicações de teorias em lugar da leitura das obras. Para ele, a análise das obras literárias na escola deveria ter como tarefa “nos fazer ter acesso ao sentido dessas obras – pois postulamos que esse sentido, por sua vez, nos conduz ao conhecimento do humano, o qual importa a todos” (Todorov, 2010, 89).

A criança à medida que se desenvolve, deve, aos poucos, aprender a se entender melhor, porque disso dependerá a maneira como ela compreenderá o outro com quem precisa se relacionar de forma satisfatória e relevante. O que se vê, entretanto, é uma escola que diante da incumbência de ensinar a ler, introduz a leitura na vida das crianças de um modo mecânico e estático. E como consequência

disso, a maioria dos alunos chegam ao ensino fundamental maior sem saber, efetivamente, ler. Sobre essa realidade, Zilberman (2005, p. 17) afirma que:

A escola dota as crianças do instrumental necessário e automatiza seu uso, através de exercícios que ocupam o primeiro – mas dificilmente o segundo - ano do primeiro grau. Ler confunde-se, pois, com a aquisição de um hábito e tem como consequência o acesso a um patamar do qual não mais se consegue regredir; porém, a ação implícita no verbo em causa não torna nítido seu objeto direto: ler, mas ler o quê? (...) Neste caso, a criança afasta- se de qualquer leitura, mas, sobretudo, dos livros, seja por ter sido alfabetizada de maneira insatisfatória, seja por rever na literatura experiências didáticas que deseja esquecer.

Deste modo, deixou-se de compreender o conhecimento na sua gênese, uma vez que quem se lança a aprender busca desprender-se das “amarras sociais”, ao que Zilberman (1988, p. 16), ainda no século passado, já concebia como a ponte para a liberdade e para a ação libertadora. Nesse sentido, e com base nas minhas vivências de sala de aula compreendi o trabalho pedagógico, aqui representado através de um projeto didático de leitura como um bom aliado no que tange à formação da criança e a relação que ela manterá com o mundo exterior na vida adulta.