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1. LITERATURA INFANTIL E JUVENIL NA PÓS-MODERNIDADE:

1.4. A CULTURA DAS MÍDIAS E A INFÂNCIA NA PÓS-MODERNIDADE

1.4.2. A CULTURA INFANTIL E JUVENIL

1.4.2.1. LITERATURA INFANTIL E JUVENIL NA PÓS-MODERNIDADE

A literatura infantil e juvenil, na pós-modernidade, faz parte de uma cultura do consumo, apresentando um grande volume de produção editorial, correspondendo em cifras, “aproximadamente, a um sexto da produção editorial mundial” (FRAISSE, 2010, p. 65). Essa produção se dá em uma sociedade que produz inesgotavelmente produtos audiovisuais exclusivos para a infância e que traz no ciberespaço uma variedade imensa de opções de entretenimento para as crianças. Destarte, a literatura infantil e juvenil apresenta uma constante releitura dos seus clássicos na vasta produção de obras literárias e audiovisuais que retratam e brincam com os contos de fadas, levando-os para o cotidiano da pós-modernidade. Vale a pena destacar que até a década de 1990, a literatura infantil e juvenil circulava quase que exclusivamente no ambiente escolar. Apenas com a publicação da série Harry Potter que houve mudança,alcançando um público variado,mundialmente, devido a uma estratégia de marketing específica, circulando pelas livrarias em vez de iniciar a sua divulgação pelas escolas.

Acrescenta-se em relação as estatísticas “o conjunto da literatura infanto- juvenil que, por meio de seus clássicos, ultrapassa, em termos de tradução, todos os outros gêneros literários, compreendidos aí o romance policial, o romance de suspense e o romance sentimental” (FRAISSE, 2010, p. 71). Portanto, afirma-se a relevância dos contos de fadas como clássicos para a literatura infantil e juvenil, inclusive, os contos de fadas servem como inspiração inesgotável para a produção cinematográfica mundial. Exemplo disso está na relevância da Disney Walt

Productions para a produção de literatura infantil e juvenil, com a criação de filmes para o cinema, jogos e parques temáticos. Contudo, apesar da inspiração nos contos de fadas clássicos, a Disney costuma apresentar versões romantizadas que acabam servindo para a manutenção do patriarcado e, atualmente, vem buscando se apropriar dos discursos definidos pelas novas identidades da pós-modernidade. Portanto, deve- se destacar que a produção audiovisual da Disney penetrou na vida social em diversos aspectos, dessa forma, como Giroux evidencia:

As crianças experimentam a influência cultural da Disney através de uma confusão de representações e de produtos [...] Através de propaganda, espetáculos e uso de espaço virtual público, a Disney se insere numa rede de produtos que lhe permite construir um mundo de encantamento total e fechado em si mesmo. (1995, p. 91)

Assim, a Disney constrói e dissemina valores na sociedade, muitas vezes ocupando o lugar das instituições da família e da educação e, utilizando-se de um discurso de prazer, diversão e aventura que acaba conquistando diversos públicos de diferentes faixas etárias.

A importância das narrativas na infância se destaca pela ligação com a brincadeira e com a oralidade, assim, conforme Girardello afirma:

Forma de produção narrativa no cotidiano das crianças, inserida no espaço da brincadeira, o faz-de-conta articula passado, presente e futuro, bem como as formas e os conteúdos narrativos herdados pela criança tanto da tradição oral familiar e comunitária quanto dos meios de comunicação de massa. (GIRARDELLO, 2008, p. 138)

Destarte, as histórias estão no cotidiano das crianças e constroem uma produção de literatura infantil e juvenil extensa a sua disposição em uma fase da vida que se tem liberdade de fantasias infinitamente. Assim, acrescenta-se que essa parcela da literatura “é uma instância de produção incessante, também uma forma de leitura cultural, se tivermos em mente a equivalência qualitativa entre o ato de ler e o de escrever, o de ouvir histórias e o de contá-las” (GIRARDELLO, 2008, p. 138). Portanto, faz parte dos sujeitos a necessidade das narrativas, criando fantasias, entretenimento, diversão, aventura e estimulando reflexões sobre os conflitos do ser humano.

Destaca-se que os contos de fadas nasceram na oralidade entre camponeses ao redor da lareira e foram resgatados e publicados pelos Irmãos Grimm e por Perrault, para citar os autores mais famosos na divulgação e distribuição dos contos

de fadas que chegaram até a literatura infantil e juvenil pós-moderna em uma variedade de releituras. Salienta-se também que os contos de fadas trazem algo familiar da história coletiva humana e foram inicialmente exclusivos dos adultos e transportados para a infância no decorrer do tempo, em que acabam brincando com as fantasias da infância e se tornando um bem cultural clássico que alimenta as mídias na contemporaneidade, além de permitir o diálogo entre as crianças e os adultos sobre as angústias e desencantos da vida.

A literatura infantil e juvenil não está atrelada exclusivamente com uma faixa etária e pode conquistar os leitores de todas as idades, “e essa é, sem dúvida, uma de suas particularidades fundamentais” (FRAISSE, 2010, p. 74), que a torna parte importante da literatura, em relação aos seus aspectos de beleza estética e de qualidade, pois, nem toda a literatura infantil e juvenil se trata de uma produção de mercado com o único objetivo de estar entre os mais vendidos.

Além disso, verifica-se também que a “maioria das mudanças amplamente analisadas na literatura infantil têm sido na mesma direção daquelas da mídia moderna” (POSTMAN, 2012, p. 139), em que se constrói uma literatura que apresenta o desaparecimento da infância e a construção de uma juventude estendida, assim, a literatura para adolescentes “é melhor recebida quando simula no tema e na linguagem a literatura dos adultos e, em especial, quando seus personagens são apresentados como adultos em miniatura” (POSTMAN, 2012, p. 139). Portanto, as tecnologias digitais da informação e comunicação não influenciam apenas a alteração da infância e adolescência, mas também na literatura infantil e juvenil criada para essas faixas etárias.