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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS E O PERCURSO DA PESQUISA

1.15 Literatura infantil: um levantamento do campo acadêmico

Assim como a literatura infantil brasileira se expande para o mundo, a produção acadêmica no Brasil também se avoluma em torno deste gênero nas duas últimas décadas - sendo este um traço histórico deste tempo. Dessa forma, conhecer as pesquisas realizadas no campo acadêmico que estudam a literatura infantil se tornou parte do processo deste trabalho e constitui esse panorama que chamamos de histórico e acadêmico. Assim, realizamos uma busca utilizando como palavra-chave ―literatura infantil‖, a partir das seguintes questões: o que nos dizem as dissertações, teses e artigos sobre o que vem sendo discutido em literatura infantil? Quais são as semelhanças, divergências e pontos em comum no que se refere ao que será proposto nesta pesquisa? E, diante disso, de que modo ela se propõe a contribuir com este campo de estudo?

Conhecer o que as diversas pesquisas em literatura infantil nos trazem serve para buscar uma compreensão sobre o sentido de nossa própria pesquisa, configurando-se como um procedimento importante, que contextualiza nosso objeto de estudo. Nesta perspectiva, fizemos um levantamento a respeito da pesquisa acadêmica acumulada nesta temática, de 1988 a 2010, a partir dos seguintes locais on-line: Scielo, Capes, Biblioteca Digital da Unicamp, Ceale, Alle, Revista Eletrônica Linha Mestra. E uma busca impressa na Revista Pro-Posições, Revista Leitura Teoria e Prática, Revista Presença Pedagógica, Caderno Cedes (Centro de Estudos Educação e Sociedade) e Caderno de Pesquisa.

Este levantamento nos trouxe os seguintes focos temáticos: literatura infantil e áreas de conhecimento; literatura infantil e personagens negras, consagradas, heróis, bruxas e outros; estudo de adaptações; estudo de diferentes autores; literatura infantil e políticas públicas; panorama histórico; literatura infantil, ensino e formação de professores; literatura infantil e obras específicas de determinados autores; relação da ilustração com o texto; psicanálise na literatura infantil; diferentes temas nas histórias como inclusão, História do Brasil, religião, gênero,

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folclore, medo, velhice, racismo, infância, violência, morte, criança, amor e outros; literatura infantil de outros países e/ou cidades; representações da literatura infantil da realidade brasileira, criança negra, mulher, meio-ambiente, povos indígenas, leitor, doença, bruxa, morte, mãe professora, velhice e outros; contação de histórias; leitura; novas tecnologias; editoras; estudo de diferentes edições de um mesmo livro; mitos, poesias, contos, histórias em quadrinhos na literatura infantil; histórias infantis, aquisição da escrita e alfabetização; recepção da literatura infantil; livro de imagem; a criação literária; discurso visual no cinema e na literatura.

As pesquisas foram desenhadas em diferentes áreas, como: Educação, Biblioteconomia, Arte e Design, Ciência da Informação, Teoria Literária, Letras, Psicologia, Comunicação e Semiótica - tanto em universidades públicas como privadas - e mostram que neste tempo e espaço, o livro não tem fronteiras delimitadas e, muito menos, um único campo que reconheça sua importância. Nessa perspectiva,

[...] Os livros não respeitam limites, [...] quando tratados como objetos de estudos, também se recusam a ficar confinados dentro dos limites de uma única disciplina. Nenhuma delas – a história, a literatura, a economia, a sociologia, a bibliografia é capaz de fazer justiça a todos os aspectos de vida de um livro. (Darnton, 1995, p. 131apud FERREIRA, 2009, p. 9).

Deste conjunto de pesquisas, realizamos a leitura dos resumos, nos quais buscamos identificar alguns dos temas surgidos durante as entrevistas realizadas com Odilon Moraes, Isabel Lopes Coelho e Maria Carolina Sampaio de Araújo, bem como nos dados que já havíamos coletado: ―ilustração do livro infantil‖, ―relação entre texto e imagem‖, ―livros premiados‖, ―relação do design editorial com o texto literário‖, ―produção do livro infantil‖, ―papel do editor‖ e ―projeto gráfico do livro infantil‖.

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As pesquisas aqui citadas tratam de temas voltados à literatura infantil, contando com a contribuição teórica de pesquisadores como Alberto Manguel, Roger Chartier, Regina Zilberman, Marisa Lajolo, Leonardo Arroyo, Perry Nodelman, Maria Nikolajeva, além de muitos outros autores que possibilitam novas abordagens da literatura. Os trabalhos têm em comum o estudo e a investigação sobre as ilustrações, criação e produção dos livros de literatura infantil, calcados em

AUTORES TÍTULO ANO

1. Hanna Talita Gonçalves Pereira de Araújo

Livro de imagem: três artistas narram seus processos de criação

2010

2. Cristiane Dias Martins da Costa

Literatura premiada entra na escola? A presença dos livros premiados pela FNLIJ, na categoria criança, em bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte

2009

3. Rafael Luiz Carvalho Projeto integrado de livro: o design editorial desenvolvido como interpretação visual do texto literário

2008

4. Anelise Zimmermann As ilustrações de livros infantis: o ilustrador, a criança e a cultura

2008

5. Mariana Cortez Por linhas e palavras: o projeto gráfico do livro infantil contemporâneo em Portugal e no Brasil

2008

6. Barbara Jane Necyk Texto e imagem: um olhar sobre o livro infantil contemporâneo

2007

7. Anna Rosa Imbassahy Amâncio da Silva

A produção do livro infantil - o papel do editor na formação do leitor

2000

8. Graça Lima O design gráfico do livro infantil brasileiro — a década de 70: Ziraldo, Gian Calvi e Eliardo França

1999

9. Luís Hellmeister de Camargo

Poesia e ilustração: estudo sobre Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles

1998

10. Xenia Lacerda

Cordeiro

Produção cultural para criança brasileira: o livro de literatura infantil em seu contexto editorial

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ideias e concepções de editores, autores, ilustradores, designers e produtores gráficos que, ao longo do tempo, estão transformando a maneira de pensar e produzir o objeto milenar denominado livro.

Desse conjunto de pesquisas, cinco trazem estudos sobre o papel da ilustração no livro infantil e a relação entre o texto verbal e a imagem visual, com foco no sistema das imbricações que a ilustração, aplicada ao livro infantil, tende a compor com o texto na construção da narrativa verbo-visual, nas relações estabelecidas entre ilustrador, criança e cultura, nos estudos históricos sobre o livro ilustrado infantil, em que se constatam modificações no conceito de infância e nas interações entre criança, livro e escola (Costa, 2009; Carvalho, 2008; Zimmermann, 2008; Necyk, 2007; Camargo, 1989).

Outras pesquisas (Araújo, 2010; Cortez, 2008; Silva, 2000, Lima, 1999; Cordeiro, 1989) focam determinadas obras, seus projetos gráficos e autores, centrando a investigação no polo de produção para que se tenha um olhar mais aprofundado nas relações existentes ou, em alguns momentos, também inexistentes entre texto literário e seu respectivo projeto gráfico; para discutir questões relacionadas à produção do livro infantil, suas implicações com a formação do leitor, a fim de verificar se existem critérios/cuidados editoriais especiais na fase de preparação industrial do livro de literatura destinado à criança brasileira; para investigar o processo criativo de artistas plásticos que produzem livros de imagem, no sentido de compreender os modos de sua produção poética e criativa da narração visual; para trazer o perfil dos livros premiados pela FNLIJ, apresentando alguns aspectos do projeto editorial que define as formas e o conteúdo das publicações, bem como as características visuais do livro. O formato da publicação, o número de páginas, o tipo de papel, o tamanho das letras, o equilíbrio entre informação verbal e visual fazem parte do conjunto de elementos que compõem um livro, podendo ou não assegurar as condições de legibilidade para um leitor ainda em formação.

Em que esses trabalhos se aproximam e se diferenciam? Que mundos percorrem e investigam? São estudos que utilizam conceitos de autores e estudiosos como lente para estudar o processo de criação e produção do livro de literatura infantil e analisar os livros com suas ilustrações e palavras. Assim, os trabalhos arrolados nos mostram distintas preocupações com as

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quais diferentes áreas olham para o livro de literatura infantil, buscando um melhor entendimento das relações entre palavras e imagens.

Para tanto, pesquisadores adentram as editoras, entrevistam autores e ilustradores, identificam, conhecem, se aproximam e se aprofundam na especificidade do trabalho do editor, produtor gráfico e designer, profissionais diretamente envolvidos na constituição da materialidade do objeto livro, materialidade esta que encarna uma ideia de leitura, com um tempo para se olhar cada página, um ritmo de se ler – elementos instáveis, que se modificam conforme o livro muda.

Com relação aos trabalhos aqui citados, nossa pesquisa se aproxima por escolher um autor, uma editora e algumas obras a fim de discutir a relação entre texto, imagem e suporte, a produção do livro apoiada em concepções de leitor, infância, cultura e literatura e a análise do projeto gráfico em sua totalidade. Contudo, como já citado anteriormente, este trabalho pretende contribuir para a produção cultural voltada às crianças, bem como o que acontece no jogo que este autor e esta editora constroem no polo da produção capaz, neste caso, de questionar o jogo habitual, o jogo usual, no qual as representações delineadas (criança, literatura e arte), além de serem utilizadas para compreender como constituem a produção do livro, são analisadas como modos que constituem este jogo. Um jogo que envolve pessoas onde suas ações individuais dependem de uma série de outras ações, porém, modificando a própria imagem do jogo social, como nos traz Elias (2001, p. 13).

Assim, o que a produção dessa editora e desse autor propõe para a escrita da história da literatura infantil? Como ela se configura no polo de produção de seus objetos? Qual é o jogo construído por este autor e esta editora no polo da produção?

Nessa perspectiva, analisar o processo de criação e produção de Odilon Moraes e da editora Cosac Naify pode nos ajudar na compreensão das questões pontuadas nesta primeira parte do trabalho.

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