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2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CONSUMIDOR DE ENERGIA ELÉTRICA

3.1 LITERATURA INTERNACIONAL

O presente estudo se propõe a construir um modelo de análise do comportamento do consumidor brasileiro de energia elétrica em resposta a programas de racionamentos. Para isto é importante revisar as experiências anteriores no Brasil e no mundo.

Segundo a Agência Internacional de Energia – AIE (2003), quase todos os países do mundo já enfrentaram um racionamento de energia elétrica, e alerta os danos causados a aplicação de medidas de corte de energia à economia de um país.

Várias regiões passaram por experiências recentes, tais como: França, Tóquio, Noruega, Nova Zelândia, em 2003; Brasil, Califórnia e Tehran (Iran), em 2001; Chile, em 1998 e 1999; e Argentina, na década de 80. A Tabela 6 descreve as causas de alguns desses eventos que vai desde problemas gerados pelas intempéries, por problemas técnicos do sistema (seja na usina geradora ou linhas de transmissão) até a falta de investimentos. As causas para o racionamento de 2001 no Brasil, segundo a AIE, foram a seca, a mudança regulatória, que não funcionou de forma eficiente para financiar novos investimentos, e o retorno do crescimento econômico. Entretanto, o crescimento da economia não foi uma surpresa, como mostra as projeções do CCPE nas seções seguintes, e, portanto, não poderia ser considerado como causa.

A AIE (2003) classifica dois tipos de medidas para reduzir consumo rapidamente: medidas de eficiência – relativas ao equipamento; e comportamentais – relativas ao seu uso. No estudo deste capítulo e do seguinte, estas duas medidas foram chamadas de medidas técnicas e de uso racional (comportamental), mas ambas são consideradas medidas de eficiência, conforme será fundamentado no estudo do quarto capítulo.

De forma similar aos programas tradicionais de conservação, medidas de investimentos em eficiência, seja técnica ou comportamental, foram amplamente estimuladas na maior parte dos países. MEIER (2004) chama a atenção para a necessidade de combinar essas medidas com políticas de subsídios e restrições de consumo para obter um melhor resultado.

O Brasil adotou políticas de subsídios, tanto por unidade de redução do consumo, com o bônus, como por redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de equipamentos mais eficientes, conforme será descrito nas seções seguintes.

Como maior exemplo das medidas de eficiência, houve a substituição de lâmpadas (CFLs) adotada pelo Brasil, Califórnia e Nova Zelândia. Segundo MEIER (2004), adoção dessa medida representou, na Califórnia, a substituição de 5 milhões de lâmpadas, correspondendo a 500 MW de redução. Nessa região, houve também a substituição de milhões de lâmpadas de semáforos por lâmpadas LED, que representava uma economia por cada substituição de 80W. No Brasil houve o programa Reluz que incentiva os municípios a rever seu sistema de iluminação pública por um mais eficiente.

Tabela 6 - Exemplos de Interrupção Temporárias

Fonte: Agencia Internacional de Energia (2005).

Ainda segundo Meier, a Califórnia estimulou agressivamente a substituição de equipamentos antigos. Esta medida foi adotada no Brasil, mas não gerou um resultado positivo esperado, conforme será exposto nas seções seguintes.

País e Data Causa imediata do déficit Outros aspectos relacionados

Chicago, USA, 1995 Onda de calor causou alta demanda de eletricidade e excesso de impostos Falha na renovação da infraestrutura. Australia, 1998

Explosão na instalação de produção de gás.

Fornecimento de gás limitado para a usina

Possível manipulação do mercado.

Brasil, 2001 Seca e retomada econômica causa aumento da demanda A desregulamentação parcial falhou na tentativa de aumentar o fornecimento de eletricidade.

Suécia, 2001 Onda de frio antecipada combinada com alta demanda esperada A desativação das plantas de pico. desregulamentação levou à California, 2001

Grande número de fábricas fora de serviço; importações reduzidas

Desregulamentação incompleta, falta de gás natural, seca em áreas próximas, manipulação de mercado por geradores independentes.

Nova Zelândia, 2001 Seca Auckland, Nova Zelândia,

2001 Corte na linha de transmissão

Tóquio , 2003 Nuclear plants shut down

Utilities admite preparar relatórios de segurança imprecisos. Severamente limitada as conexões com Utilities vizinhas.

Presque Isle, USA, 2003 A inundação danifica o sistema de refrigeração da usina A localização remota proíbe a substituição por transmissão. Nova Zelândia, 2003 Seca

A incerteza em torno da

desregulamentação desencorajou a construção de nova capacidade de geração.

Noruega , 2003-2004 Seca, excepcionalmente frio inverno precoce e Supervisão reduzida de suprimentos após desregulamentação. Ontário , 2003 Reinício lento de usinas nucleares após blecaute nos EUA / Canadá Ocorreu durante situação de escassez de fornecimento de longo prazo.

Itália, 2003 Onda de calor combinada com redução inesperada nas importações

Falha em construir nova capacidade de geração por muitos anos. Coincidiu com a redução da disponibilidade de energia dos parques eólicos da Alemanha.

França, 2003 Onda de calor e seca levaram ao aumento da demanda e redução da produção

Ocorreu durante o período em que muitas usinas nucleares foram fechadas para manutenção.

Outras usinas não puderam operar porque os limites térmicos dos rios foram ultrapassados.

Outro exemplo de medidas de eficiência foi a substituição da eletricidade por outras fontes de energias para aquecimento de água e ar, como foi adotado na Noruega e Nova Zelândia. No Brasil, houve a substituição de chuveiros elétricos por sistemas a gás, segundo MEIER (2004). A classe industrial, no Brasil, passou a utilizar em maior escala a cogeração e equipamentos mais eficientes, conforme mostra a pesquisa da CNI, descrita nas seções seguintes. A Califórnia foi um exemplo que adotou amplamente essa medida.

Uma segunda estratégia foi conscientizar a população a respeito do problema. No Brasil e na Nova Zelândia, devido aos baixíssimos níveis dos reservatórios, foi mais fácil justificar o racionamento. Por outro lado, a Califórnia e a Noruega tiveram dificuldades, pois os consumidores eram céticos às causas da crise. Mas, MEIER (2003) afirma que, para o sucesso do programa, é necessário que o consumidor acredite que a crise existe.

A AIE (2003) afirma que, para os casos de programas de rápida redução do consumo, as medidas comportamentais são mais importantes que os investimentos em eficiência de equipamentos, vistos que fornecem resultados mais rápidos. Muitas experiências, incluindo a do Brasil, definiram metas individuais de redução de consumo e esquemas de recompensa para quem ultrapassasse esta meta. Mas, havia a necessidade de educar a população a utilizar, de forma racional, a energia.

As campanhas foram muito importantes, utilizaram como estratégia o humor e a divulgação na televisão, anúncios e impressos (panfletos, jornais, entre outros). Noruega, Nova Zelândia, Brasil e Califórnia utilizaram desse recurso. Tóquio não utilizou o humor, mas, assim como a Califórnia, disponibilizou informações em tempo real da oferta de energia em website.

Segundo a AIE (2003), as políticas para reduzir consumo diferenciavam-se dos programas tradicionais porque era uma redução temporária; as medidas de comportamento se tornavam mais importantes que as medidas de eficiência de equipamentos, vista a necessidade de resposta rápida; o papel limitado do preço, visto não haver tempo suficiente para solucionar problemas logísticos e regulatórios que viabilizem sua aplicação.

DULLECK e KAUFMANN (2004) mostram que o programa Irlandês de redução da demanda de eletricidade, em um contexto de um ambiente, tem focado em redução de demanda. Mostraram, ainda, que programa de Gerenciamento do Lado da Demanda (Demand Side

o consumidor reduzir energia, causou um impacto de 7% comparado a não implantação do programa, e afeta apenas a longo prazo, sendo a curto prazo não influenciado. Os programas de racionalização na classe residencial, no Brasil, vêm apresentando índices abaixo de 5%, segundo LEONELLI (1999).

Segundo SWEENEY (2002), a crise de energia na Califórnia em 2001, após passar por vários blecautes em 2000, teve um sistema de preços ineficiente que não incentivava a correta redução, e ajudou a piorar a crise financeira do setor. Muitas concessionárias de distribuição de energia elétrica, no Brasil, também alegaram que as medidas de bônus e a redução de seu mercado, dado pelo racionamento, levaram as empresas a uma situação financeira difícil.

Um problema levantado pela AIE, em períodos de racionamento, é que os tomadores de decisão têm que tomar decisões baseadas em informações menos confiáveis.

MEIER (2004) chama a atenção para a incerteza de se calcular o quanto foi poupado de consumo de energia com as medidas de racionamento, mas disponibilizou os seguintes dados: o Brasil poupou 20%; Califórnia 15%; Nova Zelândia 10%; Noruega 8%; Suécia 4%; e Tóquio 3%. Comparando os dados atribuídos ao Brasil com os da Eletrobras, estes dados da Agência foram superestimados, todavia, nos fornece um parâmetro comparativo.

3.2 EXPERIÊNCIAS NACIONAIS DE RACIONAMENTOS NAS DÉCADAS DE 40 A

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