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O Livro IV: Carlos Magno liberta do poder dos sarracenos as terras espanhola e

Livro III do Codex Calixtinus: traslado do corpo do apóstolo Tiago e o surgimento do

3.3 O livro IV do Codex Calixtinus

3.3.2 O Livro IV: Carlos Magno liberta do poder dos sarracenos as terras espanhola e

galega.

Segundo o Livro IV do Codex Calixtinus o apóstolo Tiago predicou na Galiza após a morte do Cristo, como os outros apóstolos predicaram em várias regiões do mundo. Tendo os discípulos de São Tiago trasladado seu corpo para a Hispania e ocultado seu sepulcro nas terras da Galiza, os galegos com o tempo, levados pelos pecados, abandonaram sua fé em Cristo, até os tempos de Carlos Magno.

Carlos Magno após muitas lutas e conquistas, já cansado de tantas guerras, decide dar-se um descanso. Em seguida viu no céu um caminho de estrelas que começava no mar da Frísia, estendendo-se pela Gasconha, Vasconia, Navarra e Hispania, até a Galiza, onde se ocultava desconhecido o corpo de São Tiago. Dessa forma, como Carlos Magno via isso com frequência, começou a pensar no que significava.

23 Aachen foi residência de Carlos Magno na Alemanha.

24 Trata-se de Vienne ou Viena do Delfinado, no atual departamento de Isère, na França, às margens do Ródano.

(Conforme nota do Codex Calixtinus, 2004, p. 408).

25 Refere-se à Chroniques de Saint-Denis, escritas inicialmente em língua latina, e depois, a partir do séc. XIV

continuam já em língua francesa e são chamadas Lês Grandes Chroniques de France (conforme nota do Codex

31 São Tiago Apóstolo apareceu a Carlos Magno vestido de cavaleiro e lhe disse que ele deveria lutar contra os muçulmanos e libertar suas terras desse povo infiel e pagão, pois seu sepulcro, que se encontrava escondido nas terras da Galiza, devia ser descoberto, para que abrisse caminho para a multidão de fiéis que iriam visitar sua tumba e alcançar graças por isso. O Santo exigiu isso do imperador, já que o Senhor lhe deu a fama e o poder de rei era, pois, um dever de Carlos Magno essa ação de libertação do povo hispânico dos sarracenos. São Tiago prometeu acompanhá-lo durante toda a empreitada, dando proteção ao imperador, além de oferecer-lhe glória pela conquista. A aparição de São Tiago a Carlos Magno ocorre três vezes, e o rei confia na promessa do apóstolo.

A primeira cidade sitiada por Carlos Magno foi Pamplona, mas estava muito fortificada, com muralhas inexpugnáveis, assim o imperador pediu em prece que o Senhor Jesus Cristo e São Tiago lhe concedessem a conquista da cidade.

Dessa maneira, as muralhas da cidade foram quebradas pela base, por concessão de Deus e intercessão de São Tiago. Os sarracenos que resolveram se batizar na fé cristã tiveram suas vidas salvas, mas aqueles que se recusaram foram mortos.

Após esse episódio, os sarracenos, ao verem as muralhas ruírem, se submeteram a Carlos Magno em todos os lugares em que ele passava, e entregavam- lhe suas terras pacificamente.

Depois de visitar o túmulo de São Tiago, Carlos Magno cravou sua espada no mar e disse que já não podia ir além26.

Nessa passagem é possível notar uma metáfora, ou seja, o fim da luta. Carlos Magno ao longo de sua empreitada na Galiza conquistou várias cidades e povos da região; dentre elas o Codex Calixtinus cita: Madrid, Guadalajara, Ávila, Salamanca, Astorga, Tudela, Zaragoza, Barcelona, e várias outras. Todas elas fazendo parte da região de Galiza na época das conquistas do grande imperador franco.

Segundo a História Turpini, com o ouro que Carlos Magno deu aos reis e príncipes da Hispania, foi possível enriquecer a Basílica de São Tiago, tendo instituído nela um bispo e cônegos, segundo as regras de Santo Isidoro. O imperador também levantou muitas igrejas na região, como a igreja da Virgem Maria.

Um dado importante que traz o Codex Calixtinus é que de todos os reis e príncipes que vieram antes de Carlos Magno, nenhum deles subjugou e conquistou todo o território hispânico por completo como ele.

No entanto, a história não termina nessa passagem, a Guerra continua, pois quando Carlos Magno volta à Gália, certo rei pagão, Aigolando, tinha invadido a Hispania e foi necessário que o imperador novamente chamasse seus exércitos a retornarem à luta.

Nesses relatos verificamos alguns pontos importantes, como a reconquista da região da Galiza através das Cruzadas, tendo como personagens principais Carlos Magno e São Tiago, o grande protetor do imperador e da região, e também a visão cristã em relação aos muçulmanos.

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Segundo um dos relatos do Codex Calixtinos, os ídolos e imagens que Carlos Magno encontrou na Hispania foram destruídos por ele, exceto o ídolo que estava em terras da Andaluzia, nomeado Salam de Cádiz (Cádis) 27. Sobre essa estátua a História Turpini narra que os sarracenos afirmavam que este ídolo teria sido fabricado pelo próprio Maomé, o Deus adorado pelos muçulmanos. Este símbolo, conforme foi narrado no Livro IV, esconde uma legião de demônios através de uma arte mágica que não pode ser quebrada. E quando um sarraceno chega nessa estátua para adorá-la fica incólume, intacto. E se sobre ela se detém algum pássaro, ele morre instantaneamente. Nessa narrativa percebe-se uma visão sobrenatural também sobre o maligno. Segundo Le Goff (2010, p. 20) o maravilhoso pode ser produzido por forças e seres sobrenaturais inumeráveis, não é uma característica única de Deus. Na visão do homem medieval, o diabo também pode ser autor do maravilhoso, ele tem poderes mágicos, os quais pertencem à ordem do “maligno”. Em relação ao símbolo islâmico, será de autoria do diabo, contrário às coisas de Deus. Nas canções de gesta, os sarracenos são caricaturados como hereges, cheios de maldade e seguidores de uma doutrina contrária aos dogmas da igreja cristã. Na visão medieval, principalmente nas Cruzadas, ser muçulmano significava pertencer ao diabo. Essa narrativa também supõe o islã como uma religião de idolatria.

Por isso, o imperador ordenou que os galegos que haviam esquecido a fé cristã deviam ser regenerados pelo batismo, através do arcebispo Turpim. Os que ficaram indiferentes foram escravizados pelos cristãos.

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